domingo, 28 de março de 2021

Toni Vidigal. O amor pelo O Elvas, o “casamento perfeito” no Varzim e a escolha que lhe negou internacionalizações

Toni Vidigal representou o Varzim entre 2000 e 2004
Um dos cinco irmãos Vidigal que jogaram na I Divisão, Toni jogou no primeiro escalão ao serviço do Varzim, já depois de ter representado o seu O Elvas, Estoril, Vitória de Setúbal e Penafiel.
 
Em entrevista, o antigo extremo passa em revista a carreira de futebolista, revela porque nunca jogou pela seleção angolana, traça as ambições enquanto treinador, recorda a passagem discreta pelo Sporting, aborda as acusações de antijogo às equipas do irmão Lito e também fala sobre o talento do sobrinho André e da grande decisão que o espera: jogar por Portugal ou Angola?
 
ROMILSON TEIXEIRA - Quando falamos em Toni Vidigal, diria que a principal memória das pessoas será provavelmente vê-lo na I Liga com a camisola do Varzim. Quais são as principais recordações que tem desses tempos?
TONI VIDIGAL – O interesse do Varzim surgiu quando eu ainda estava no Penafiel, em 1999-00, através do treinador Rogério Gonçalves. Mostraram muito interesse em mim e assinei contrato. Tínhamos uma equipa maravilhosa, um grupo espetacular. No meu primeiro ano fizemos um campeonato excelente e subimos de divisão.
A Póvoa é uma terra de gente de futebol, os poveiros adoram futebol e vivem o clube 24 horas sobre 24 horas, amam o clube como ninguém. Tive o privilégio de apanhar uma cidade magnífica. Ali não há Benfica, Sporting ou FC Porto: ali há o Varzim. Tive o privilégio de jogar quatro épocas maravilhosas no Varzim. Ainda hoje tenho o privilégio de ir várias vezes à Póvoa e sinto-me em casa, sou muito bem-recebido. Passados 15 ou 20 anos, as pessoas ainda me abordam nas ruas a felicitar o meu regresso à Póvoa. É gratificante e bom ver a gratidão por quem representou o clube do seu coração e para quem dignificou a camisola e as cores da sua cidade. Praticamente todos os anos vou lá, porque deixei lá muitos amigos. Costumo dizer que também sou um lobo do mar, que sou um poveiro.
Póvoa do Varzim e Vila do Conde são duas cidades pegadas uma à outra, com dois clubes, o Varzim e o Rio Ave, que têm uma rivalidade tremenda.
 
 
Em quatro anos nos poveiros festejou uma subida à I Liga e jogou duas temporadas no primeiro escalão. Foram os melhores anos da sua carreira?
Sim. Subimos no meu primeiro ano, estivemos dois anos maravilhosos na I Liga, os melhores da minha carreira em termos desportivos. Foi o casamento perfeito jogar dois anos na I Liga numa cidade em que as pessoas adoram e respiram futebol. Foi muito bom ter representado o Varzim.
 
 

“Fui abordado por Angola mas optei por esperar por Portugal”

Toni Vidigal num jogo frente ao Benfica no Estádio da Luz
Tendo em conta que jogou vários anos nas ligas profissionais portuguesas, o que faltou para se ter tornado internacional angolano? Alguma vez houve essa possibilidade?
Nessa altura, eu jogava no Varzim com o Mendonça, que já representava a seleção principal de Angola. Em conversa com ele, houve essa oportunidade. O treinador era Carlos Alhinho ainda me sondou para saber se eu estava interessado, mas como eu já tinha sido chamado aos sub-16 de Portugal optei por esperar um pouco para ver se surgiria a hipótese de representar a seleção portuguesa. Não se concretizou. Nem a portuguesa nem a angolana. Teria sido maravilhoso representar essa seleção, porque os meus irmãos Lito e Jorge a representaram e o Lito foi selecionador. Foi uma escolha, uma opção.
 
Cinco irmãos Vidigal jogaram na I Liga e o Toni terá sido o mais ofensivo. Quem era o mais talentoso?
Foi excelente jogarmos na I Liga. Foi fantástico. O mais talentoso… isso é um pouco difícil. Mas, dos irmãos, o Beto era o mais talentoso. Era craque. Nos tempos de hoje, estava no Sporting, Benfica ou FC Porto e jogava de caras. Era muito bom. Era tecnicamente bom, forte fisicamente, era tranquilo e inteligente, movimentava-se muito bem. Era impressionante, tinha tudo o que um jogador deve ter, e adaptava-se a qualquer posição. Por isso é que fez a carreira que fez.
 

Federação Angolana abordou André Vidigal através de mim”

Com os manos Vidigal todos retirados, agora é André Vidigal, filho do já falecido Beto, a dar cartas no futebol. O que acha sobre o talento do seu sobrinho? Tem gostado de o ver em ação no Estoril?
O André, graças a Deus, está a fazer um trajeto muito bom na sua carreira. Saiu do O Elvas, esteve na Académica, depois foi para a Holanda, subiu à I Liga, esteve no Chipre e jogou na Liga dos Campeões. Tem vindo a cimentar a sua carreira. Hoje está no Estoril a fazer um excelente campeonato. É muito bom fisicamente, tecnicamente e psicologicamente. É igual ao pai, tem muitas das características que o pai dele tinha. Se tiver sorte e não tiver lesões, fará uma carreira muito boa e de certeza que vai atingir todos os objetivos a que se propôs. É um miúdo bastante talentoso, tem muita vontade de aprender e está um verdadeiro artista. É craque, é mesmo muito bom jogador.
 
Por qual seleção acredita que o André vai jogar?
O André já representou as seleções jovens portuguesas, desde os sub-16 ou sub-17. Acredito que, se continuar a fazer a época que está a fazer e os jogos que tem estado a marcar, não vai ficar no Estoril e irá para um clube onde terá mais oportunidades para chegar à seleção AA. Acredito que para o ano vai estar num clube bom da I Liga e aí terá mais possibilidades de chegar à seleção portuguesa. Mas só ele é que vai decidir, é apenas uma opinião minha. Mas também já foi abordado pela Federação Angolana, e até fui eu que recebi uma mensagem no sentido de falar com ele ou dar o número de telefone dele. Acho que ele vai aguardar e esperar.
 
 

“Lito vai chegar a um clube de dimensão maior”

Os irmãos Jorge, Toni, Lito e Luís Vidigal em Leiria
O seu irmão Lito tem feito carreira de treinador, mas tem sido acusado de ser um técnico defensivo e que aposta em antijogo. Qual é a sua opinião?
[Risos] Há muita gente que fala só por 90 minutos ao domingo, mas não sabem a maneira como se trabalha, o que é melhor ou que é pior, e limitam-se a falar do jogo de domingo. Oiço algumas pessoas dizerem isso, que as equipas do Lito são um pouco defensivas. Se eu treinar o Gil Vicente, sem desprimor para o clube, e for jogar à Luz, ao Dragão e a Alvalade, é lógico que não vou de peito aberto jogar com Benfica, FC Porto ou Sporting. É normal. Irei montar a minha estratégia, analisar a equipa adversária e trabalharei durante a semana para alcançar um resultado positivo, é normal. As pessoas falam daquilo que não veem, é um pouco assim. Acredito no trabalho do Lito, porque já trabalhei com ele e acompanho-o diariamente. Conheço a maneira de ele estar no futebol.  O que é certo é que, se forem analisar a carreira dele e por onde tem passado, de certeza absoluta que irão encontrar mais coisas positivas do que negativas. Sei que é um bom treinador e a cada ano que passa tornar-se-á melhor ainda. Não tenho dúvidas que daqui a uns tempinhos vai chegar a um clube com uma dimensão diferente.
 
O Toni foi orientado pelo Lito no Portosantense em 2004-05 e 2005-06 e no O Elvas em 2007-08. Como foi ser orientado por um irmão?
O meu irmão estava a começar a carreira dele, na II Divisão B, e eu vinha de uma saída complicada do Varzim, porque no meu quarto ano de Varzim a direção mudou. O novo presidente era Lopes de Castro reuniu comigo, mostrou interesse na minha permanência, chegámos a acordo para um contrato de dois e como tínhamos descido de divisão sensibilizaram-me para a redução de receitas e para ter de receber menos do que no ano anterior. Prontamente disse que podiam contar comigo e ficou apalavrada a minha continuidade, mas essa reunião foi a um sábado e como ia a Elvas de férias, ficou combinado passar pelo notário quando voltasse de férias e assinar. Fui de férias e a 15 de junho, o Quim Berto ligou-me a perguntar se eu sabia quem era o treinador e a alertar-me que o meu nome não está na lista. O novo treinador era o Abílio, que tinha estado no Leixões, e liguei-lhe para tirar as dúvidas, e ele disse-me que tinha uma lista de jogadores a dispensar feita pela direção, não por ele, e que o meu nome estava na lista. Desliguei e liguei para o presidente, que não me atendeu. Antes disso ter acontecido, recusei vários convites de clubes da II Liga.
Depois a situação resolveu-se, fiquei quatro meses sem jogar e em dezembro o Lito estava no Portosantense, a fazer um bom campeonato, e ele convidou-me para ir jogar para lá. Acabei por ir seis meses para a Madeira. Fui muito bem-recebido pela direção, pelos adeptos, fizemos uma época muito boa, renovei por mais um ano e depois o Lito recebeu um convite e deixou o clube. A partir daí ele começou a treinar clubes de II Liga e depois de I Liga. Tem feito uma carreira sustentada de treinador, é um treinador muito bom e tem feito trabalhos muito bons. Tem feito uma gestão muito boa da sua carreira.
Não é fácil ter um irmão como treinador. Podes ser a estrela da companhia, mas tens que estar na frente em tudo: no trabalho, na personalidade e não podes facilitar nada. Foi uma grande aprendizagem. Houve situações… posso contar que o Portosantense só tinha praticamente jogadores que tinham passado pelos distritais, III Divisão e II B e um ou outro que tinham jogado na II Liga. Eu era o único que já tinha jogado na I Liga, mas sabia que não ia ser fácil, tinha que dar o exemplo. Trabalhava, mas muito mais do que os colegas e eles perguntavam-me como era possível o meu irmão dar-me essas tareias. Eu queria baixar o ritmo, mas não podia. Tinha que dar o exemplo. Se perdêssemos e eu jogasse mal, havia logo algumas especulações. Para nem sequer dar azo a que falassem, tinha que jogar e marcar muito, mas mesmo assim o Lito tirava-me quase sempre a 15 minutos do fim.
 

O Elvas é o clube do meu coração. Dói vê-lo nos distritais”

Antigo extremo Toni Vidigal com a camisola do "O Elvas"
Voltemos atrás no tempo. O Toni já nasceu em Portugal ou ainda em Angola? Como foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Nasci em Sá da Bandeira, Angola, e vim para Portugal com três meses. Éramos uma família numerosa e fomos viver para Trás-os-Montes, uma zona fria. Saímos de Angola em setembro, com 37º ou 38º C e chegámos a Trás-os-Montes com 12º e 15º C. Ficámos três anos em Vidago e depois viemos para Elvas, cidade onde reside a maior parte da minha família. Foi no O Elvas em que demos os primeiros passos como jogadores de futebol e fizemos a nossa formação: eu, o Lito, o Luís e o Beto.
Isto começou com o Beto, que era o mais velho, que começou no O Elvas os seus primeiros passos no futebol. Quando chegou a sénior, O Elvas estava na I Divisão. Então o Beto, como o mais velho, foi o que nos impulsionou e fez acreditar que seria possível, porque o gosto pelo futebol era vincado em nós. Era o que nos fazia sentir felizes. Através do Beto foi o Lito, depois o Luís, eu e o Jorge.
 
Começou a jogar futebol nas camadas jovens do histórico O Elvas, que na altura se encontrava a disputar a I Divisão. Que recordações tem desse início de trajeto futebolístico?
Comecei na formação do O Elvas, fiz todos os escalões. No segundo ano de juvenil e primeiro de júnior fui chamado à seleção portuguesa de sub-16 e fiz mais um aninho de juniores e comecei logo a jogar nos seniores do clube, na altura a jogar na II Divisão. Assinei contrato profissional, fiz uma época nos seniores.
 
O Toni cresceu com O Elvas na I Divisão, mas nos últimos anos o clube chegou a extinguir o futebol sénior, tendo-o reativado no ano passado. O que este histórico emblema alentejano tem de especial e o que lhe falta para ser mais pujante?
Esses tempos do O Elvas na I Divisão foram um espetáculo. Eu a começar na formação, com 12 anos, e ver o clube na I Divisão a jogar com o Benfica, o FC Porto e o Sporting no estádio completamente cheio… foi muito bom. E eu ainda era mais privilegiado, porque o Beto fazia parte dessa equipa. Foram tempos maravilhosos. O Elvas foi o clube que me abriu portas para fazer a carreira que fiz hoje. Se eu não começasse aqui iria começar noutro lado, mas O Elvas é um clube que tem um significado enorme na minha família. Todos os meus irmãos que foram profissionais de futebol passaram pelo O Elvas. Fomos tratados e ainda hoje somos tratados de maneira maravilhosa. Os meus sobrinhos também passaram pelo clube. O Elvas é o clube do meu coração. Dói ver O Elvas no campeonato distrital, mas Elvas é uma cidade que gosta de futebol e que tem de ter um clube pelo menos no Campeonato de Portugal. Chegámos a não ter futebol sénior em Elvas, mas este ano já temos, está-se a criar uma SAD e creio que O Elvas está a fazer um bom campeonato e vai subir de divisão. Acredito que O Elvas terá novamente futebol profissional e que as pessoas possam voltar aos estádios para ver o clube da sua terra. É um clube que eu amo e que não esqueço. O que sou hoje devo a esse grande clube que é O Elvas Clube Alentejano de Desportos.
O Elvas é um clube do interior de Portugal, onde não há indústria e patrocínios e onde os clubes são sustentados maioritariamente pelas autarquias, então torna-se difícil aguentar com tantas despesas. Elvas é uma cidade fronteiriça, que faz fronteira com Badajoz, mas é uma cidade do interior de Portugal, onde a indústria é escassa. E com as crises que têm aparecido, tornou-se insustentável. Felizmente houve um investidor que decidiu investir no clube da cidade e que criou uma equipa sénior que está a fazer uma boa época no campeonato distrital da AF Portalegre. Por este andar, acredito que vão subir de divisão. No Campeonato de Portugal já será mais a sério. Acredito que a direção do O Elvas está a preparar esses altos voos e que ainda vou ver na minha cidade o clube do meu coração a voltar ao futebol profissional.
 
 

Quatro elementos da família Vidigal jogaram no Estoril

Toni Vidigal representou o Estoril durante quatro épocas
Em 1994 rompe o cordão umbilical com O Elvas e ruma ao Estoril, clube por onde também passaram os seus irmãos Luís e Jorge e agora o seu sobrinho André. É coincidência terem passado os três pelo emblema canarinho? E como correram os quatro anos que passou no António Coimbra da Mota?
No segundo ano nos seniores do O Elvas fui emprestado ao Estoril, que tinha descido à II Liga. Fui um pouco assustado, porque ainda fui para lá quando estavam na I Liga, para me ambientar e conhecer a localidade e os jogadores. Fizemos um bom campeonato nesse ano, ficámos em 5.º lugar, foi uma excelente experiência, quando eu tinha 19/20 anos. Foi muito bom ver-me daqueles jogadores que só via pela televisão. Graças a Deus esse dia chegou. Fui encontrar um clube mais sério, mais organizado e com mais andamento e qualidade.
Falaram de mim ao treinador, que era o Carlos Manuel, e ele veio ver-me num jogo com o Sintrense num domingo. Depois do jogo ele veio ter comigo, juntamente com um diretor, e eu disse ‘claro que sim’, mas que tinham de falar primeiro com a minha mãe. Meteram-me super à vontade e disseram que já tinham falado com O Elvas e que iam a casa dos meus pais falar com eles.
Voltei ao Estoril em 1996-97 por empréstimo do Sporting e fiz uma época espetacular. Estava previsto regressar ao Sporting, mas no último jogo do campeonato parti a perna num jogo em Coimbra frente à Académica e compliquei a minha vida. Estive nove meses parado e regressei a 1 de março do ano seguinte, no dia do meu aniversário, num jogo em casa frente ao Moreirense - entrei e fiz um golo.
É uma coincidência o Luís ter ido comigo, o Jorge ter jogado depois no Estoril e o André estar lá agora.
 

“Ano que passei no Vitória de Setúbal foi maravilhoso. Adeptos são muito bons”

Plantel do Vitória com Toni Vidigal em 1995-96
Em 1995-96, depois do primeiro ano de Estoril, assina pelo Vitória de Setúbal, e acaba por subir à I Liga. Que recordações guarda dessa temporada e como foi lidar com os exigentes adeptos sadinos?
Depois de ter estado emprestado ao Estoril, O Elvas emprestou-me ao Vitória de Setúbal, um histórico do futebol português, com grandes conquistas a nível nacional. Foi mais um ano maravilhoso, em que voltei a fazer um campeonato muito bom. Cresci como jogador. Ter estado no Estoril e no Vitória de Setúbal funcionou como uma montra para eu chegar a um grande de Portugal, o Sporting.
Os adeptos sadinos são muito bons, vivem e respiram futebol e são apaixonados pelo seu clube. Tínhamos um plantel brutal, uma equipa recheada de craques. Fizemos uma grande época com o mister Quinito.
 

“Fiz pré-época no Sporting mas tinha Sá Pinto e Pedro Barbosa à minha frente…”

Toni Vidigal com a camisola do Sporting em 1996
Após um ano no Bonfim, assina pelo Sporting
No final dessa época em que estive no Vitória de Setúbal voltei ao O Elvas e O Elvas vendeu-me ao Sporting, clube pelo qual assinei por quatro épocas, um ano depois de ter vendido o Luís ao Sporting. Fiz a pré-época com o Sporting em França. O plantel era vasto e recheado de grandes jogadores. Como era extremo direito, tinha na minha posição o Sá Pinto e o Pedro Barbosa, não era fácil concorrer com eles. Foi mais uma experiência maravilhosa, fui crescendo como jogador. Tinha o objetivo de chegar a um grande de Portugal e consegui. Como não jogava muito, fui emprestado ao Estoril.
 
Depois do Estoril e antes do Varzim, passou pelo Penafiel. Como correu a aventura no emblema rubro-negro?
O Penafiel apresentou-me um projeto com ambições bastante acentuadas e um treinador que me fez acreditar no projeto, o Luís Campos, que é agora diretor desportivo do Lille. Infelizmente não conseguimos subir, mas fizemos uma época muto boa, ficámos e 6.º lugar.
 

“Fiquei felicíssimo em ver a fusão do Sintra Football com o Estrela

Depois de passar pelo Varzim, de ser orientado pelo seu irmão no Portosantense e de voltar ao seu O Elvas, encerrou a carreira em 2009-10 com a camisola do Sintra Football, clube que recentemente se fundiu com o Estrela da Amadora. Como viu a ascensão meteórica do Sintra Football e a recente fusão com o Estrela?
Vou contar um pouco dessa história… Hoje estou felicíssimo em ver o Sintra fundido com o Estrela da Amadora, foi a cereja no topo do bolo. O presidente do Sintra Football, o meu grande amigo Dinis [Delgado], telefonou-me quando eu ainda não sabia quem ele era, apresentou-se e convidou-me para ser jogador-treinador. Eu disse que queria começar e acabar no O Elvas, mas o Dinis ligou-me a perguntar se eu estaria interessado e eu, como queria seguir a carreira de treinador e tinha concluído o curso de segundo nível na Universidade de Évora, essa hipótese veio a calhar. Fui para lá como jogador-treinador e na primeira conversa que tenho com ele, vi as condições e que era um bocado complicado, porque o campo era sintético e nem sequer era do Sintra Football, mas do 1º Dezembro. O Dinis conseguiu termos um espaço horário para treinarmos e fazia tudo: lavava roupa dos jogadores, fazia os cestos, levava as bolas… Um dia perguntei-lhe como é que ele tinha tempo para aquilo e se não tinha falta de tempo para a família e disse-lhe que a mulher dele o ia despachar, porque ele trabalhava num restaurante e quando saía do restaurante ia para o clube. E ele dizia-me que só ia parar quando conseguisse meter o clube na I Divisão. Ouvia-o e dizia para mim que ele tinha muita força de vontade, mas que estava doido. À medida que o tempo ia avançado, eu via o que ele fazia, a paixão que tinha pelo clube e a forma como se movimentava, conseguindo patrocínios e gente com disponibilidade financeira para se aproximar do clube, comecei a acreditar que ele iria conseguir atingir o seu objetivo. Estive um ano no Sintra e depois fui orientar os juniores do 1º Dezembro, mas fui sempre acompanhando até hoje e falo com o Dinis. Fiquei felicíssimo quando se fundiram com o Estrela e hoje acredito plenamente que o Dinis só vai parar quando chegar à I Liga
 
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogadores com os quais jogou.
Elaborar um onze com colegas com quem joguei é muito difícil, tive o prazer de jogar com muitos bons jogadores, mas vou tentar fazer o melhor onze possível. Na baliza Ferreira, lateral direito Quim Berto, lateral esquerdo Jorge Luís, centrais Rui Carlos e Alexandre, trinco Luís Vidigal, interior direito Gilmar, interior esquerdo Paulo Piedade, extremo direito Toni Vidigal, extremo esquerdo Marco Freitas e ponta de lança Paulo Sérgio.
 
E que treinadores mais o marcaram e porquê?
Costumo dizer que todos os treinadores que tive foram importantes. Com uns aprendi a não fazer tudo aquilo que eles faziam, com outros a dar seguimento ao que faziam. Tive Luís Campos, que me levou para Penafiel, aprendi muito com ele, é bom treinador, uma pessoa bastante tranquila e consciente daquilo que queria. Trabalhei com ele durante apenas um ano mas já o conhecia por ter jogado contra ele e do que alguns colegas me falavam.
Gostei de trabalhar com Rogério Gonçalves, que me levou para o Varzim e foi importante para a minha carreira; José Alberto Costa, que tinha sido adjunto de Vítor Manuel, também aprendi muito com ele; e com o Lito [Vidigal], o senhor Alexandre, o Mário Alberto e tantos outros com quem trabalhei na minha formação. Todos foram importantes.
 
Do que mais sente saudades do tempo em que era jogador?
Sinto saudades de tudo: dos estágios, das concentrações, das viagens, do acordar de manhã para ir treinar, descansar um pouco ao almoço e voltar a treinar à tarde, das conversas de balneário, da amizade, do cheiro da relva, de pisar a relva... de tudo que envolve o futebol.
 
Desde que pendurou as botas que teve algumas experiências como treinador. É algo a que pretende dar continuidade? Tem que nível?
Antes de ter terminado a carreira de jogador já tinha tirado o primeiro nível. Na altura jogava no Varzim e fiz o curso na AF Braga, e depois, em 2007, tirei o segundo nível do curso de treinador de futebol (UEFA B) na Universidade de Évora e é o nível que tenho. O objetivo é ser treinador de futebol e fazer carreira. Sei que não é fácil, têm surgido alguns projetos, mas não considerei serem aliciantes. Ainda assim, acredito que surgirá uma oportunidade para poder mostrar o meu trabalho e as minhas capacidades.
 
O que tem feito desde que deixou de estar ligado ao futebol?
Nunca deixei de estar ligado ao futebol de forma integral. Também treinei os juniores do 1º Dezembro e a escolinha do Elvenses durante dois anos.  Obviamente que aguardo por um projeto interessante, não tenho tido muito tempo fora do futebol, mas além do futebol tenho uma cafeteria, um snack-bar, então vou passando o meu tempo ocupado com outras coisas que não o futebol.
 
Continua a acompanhar o futebol angolano? Como analisa o nível e qualidade do Girabola e da seleção angolana?
Vejo alguns jogos do Girabola, mas confesso que não acompanho muito o campeonato. O jogador africano é tecnicamente muito evoluído, mas falta a questão da responsabilidade e da tática. O jogador africano é magia e aqui na Europa não se liga muito para esse lado, importam-se muito mais com a tática e outros aspetos. Infelizmente isso tira muita magia e muita iniciativa aos miúdos, se os rapazes com idade entre os 10 e 15 anos de idade tentaram mostrar alguma arte, o treinador intervém logo. Para mim, nestas idades é importante que se deixe os rapazes divertirem-se e desfrutarem do futebol, mas em Portugal já se leva logo para a parte tática, mas o jogador africano é talentoso e muito forte fisicamente, tem tudo para singrar no futebol mundial, como já têm feito. A nossa seleção está recheada de talentos e à medida que o tempo vai passando, acredito que tornar-se-á melhor.
 
Entrevista realizada por Romilson Teixeira











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