Rivais desde a década de 1930,
Palmeiras e São
Paulo
promoveram já quase três centenas de clássicos marcados por futebol bonito, mas
também por quezílias, o que levou a que o jornalista Tomaz Mazzoni, de A Gazeta Esportiva, apelidasse o dérbi
de Choque-Rei.
Um dos pontos mais altos da
rivalidade surgiu, porém, longe dos estádios. Durante a Segunda Guerra Mundial,
o Palmeiras ainda se chamava Palestra
Itália, e Itália era precisamente um dos países do Eixo (juntamente com
Alemanha e Japão), aos quais o então presidente brasileiro Getúlio Vargas
declarou guerra. O Palestra
Itália foi obrigado a mudar de nome e, segundo alguns relatos, dirigentes
do São
Paulo foram dos que mais pressionaram as autoridades nacionais para que o
rival mudasse de nome.
Entre os muitos jogos,
destacam-se os quatro que contaram com a presença de mais de 100 mil pessoas no
Estádio do Morumbi e disputas diretas de títulos no Campeonato Paulista e até
por uma vez no Campeonato Brasileiro, mas também eliminatórias renhidas na Copa
do Brasil e na Libertadores.
Veja aqui a nossa seleção de dez encontros mais marcantes entre Palmeiras e São
Paulo, por ordem cronológica.
26 de março de 1939 – Campeonato
Paulista (8.ª jornada)
O São
Paulo foi fundado em 1930, interrompeu a atividade em 1935 e regressou ao
ativo em dezembro desse mesmo ano. Desde esse ressurgimento que o tricolor não
vencia o Palestra
Itália, mas cinco jogos depois, esse tabu foi quebrado em forma de goleada,
ainda hoje a mais expressiva nos confrontos entre os dois rivais.
Armandinho (3), Elyseo, Paulo e
Araken foram os autores dos golos nesse clássico disputado no antigo campo
são-paulino da Antárctica Paulista, o Estádio Antônio Alonso, na Rua da Mooca.
17 de setembro de 1944 – Campeonato
Paulista (18.ª jornada)
Como já começava a ser hábito
nesta altura, os dois rivais chegavam bastante próximos um do outro à reta
final do Campeonato Paulista. Os são-paulinos procuravam repetir o título do
ano anterior, enquanto o verdão queria chegar à décima conquista.
Para este jogo os palmeirenses
debatiam-se com a ausência de Dacunto, uma das estrelas da equipa, mas que
ficou a cumprir suspensão, suspensão essa que terá sido obra da influência do São
Paulo junto da Federação Paulista.
Porém, dentro de campo o Palmeiras
venceu por 3-1 – golos de Caxambu (dois) e Villadoniga para o verdão e de Pardal para o tricolor - e os torcedores fizeram a festas nas ruas da cidade, carregando um
caixão tricolor e cantando em coro: “Com Dacunto ou sem Dacunto, o São
Paulo é um defunto!”.
28 de janeiro de 1951 –
Campeonato Paulista (22.ª jornada)
Clássico que ficou conhecido por
“O Jogo da Lama”. O São
Paulo era bicampeão e liderava o campeonato, mas na penúltima jornada foi
ultrapassado pelo Palmeiras
antes de as duas equipas se defrontarem na derradeira ronda, com o empate a
servir para o verdão conquistar o
título.
Nesse dia, São
Paulo foi palco de uma forte tempestade que deixou o relvado do Pacaembu
num lamaçal. Ainda assim, o tricolor não demorou muito tempo a adaptar-se,
abrindo o ativo logo aos quatro minutos, por Teixeirinha. O são-paulinos
estiveram mesmo muito perto do segundo golo ainda na primeira parte, mas
esbarraram numa exibição fantástica do guarda-redes Oberdan Cattani.
No segundo tempo, após uma dura
de Jair da Rosa Pinto, o Palmeiras
reagiu e chegou mesmo ao empate, por Aquiles, e garantiu o título, apesar do
estado impraticável do relvado.
27 de junho de 1971 –
Campeonato Paulista (22.ª jornada)
Mais um título que se decidiu na
última jornada, para a qual o São
Paulo partiu com um ponto de vantagem. Logo aos cinco minutos, Toninho
Guerreiro inaugurou o marcador para os são-paulinos, mas daí em diante só deu Palmeiras.
A meio da segunda parte, Leivinha
apontou um golo que não foi validado pelo árbitro Armando marques, que entendeu
que o futebolista palmeirense jogou a bola com a mão. Porém, as imagens
televisivas comprovam que o golo foi com a cabeça, embora Leivinha tivesse
esticado os dois braços.
Frustrados, os jogadores do
verdão explodiram quando um funcionário são-paulino errou ao devolver a bola
para dentro de campo, deixando-a escapar para dentro de campo. Aí, os atletas
do Palmeiras
correram atrás do funcionário com o intuito de o agredir, mas ninguém o apanhou
e Eurico e Fedato acabaram expulsos.
3 de setembro de 1972 –
Campeonato Paulista (22.ª jornada)
Mais uma última jornada
escaldante, com os dois rivais a defrontarem-se na última jornada no jogo que
decidia o título. As duas equipas entraram invictas e separadas por um ponto
para a derradeira ronda, com vantagem para o verdão, e assim continuaram.
No Pacaembu, os dois rivais não
foram além de um empate a zero que serviu aos palmeirenses e deixou os
são-paulinos em lágrimas, até porque o extremo Paulo atirou uma bola à trave,
na melhor oportunidade do tricolor.
Nos festejos do título, os
jogadores do Palmeiras
deram uma volta olímpica ao estádio, numa altura em que se comemorava o 150.º
aniversário da Independência do Brasil.
20 de fevereiro de 1974 –
Campeonato Brasileiro (última jornada do quadrangular final)
Novo jogo decisivo entre os
rivais, desta vez a valer a edição de 1973 do Brasileirão, embora o jogo já se
tivesse disputado em 1974. Depois de terem vencido os respetivos grupos da 2.ª
fase, os dois rivais entraram na última jornada separados por dois pontos, com
vantagem para o verdão.
O São
Paulo precisava de vencer no Morumbi, mas não foi além de um empate a zero,
que serviu as pretensões do Palmeiras,
que então se sagrou bicampeão brasileiro, naquela que foi a única decisão
nacional entre as duas equipas.
16 de março de 1985 –
Campeonato Brasileiro (13.ª jornada da 1.ª fase)
Nem foram só os clássicos
decisivos que ficaram para a história, também os que ficaram marcados por
grandes espetáculos, mesmo que pouco ou nada tivessem contado para a decisão de
um título. No Brasileirão de 1985, São
Paulo e Palmeiras
andaram afastados dos lugares cimeiros, mas nem por isso deixaram de ter
jogadores de grande qualidade.
Os são-paulinos abriram o ativo
no Pacaembu aos 11 minutos, por Pita. O verdão empatou por Jorginho Putinatti
(40’), mas Müller devolveu a vantagem ao tricolor
ainda antes do intervalo (45’) e Careca aumentou para 3-1 logo no início do
segundo tempo (48’). Os palmeirenses chegaram ao empate através de um bis de
Mendonça (62’ e 65’), mas Oscar voltou a colocar a equipa da casa na frente
(73’). Careca desperdiçou uma grande oportunidade para fazer o 5-3, porém,
quando a torcida do Palmeiras já se preparava para ir embora, o
lateral Ditinho empatou nos minutos finais (90’) e colocou o resultado em 4-4.
4 de dezembro de 1993 –
Campeonato Brasileiro (Quadrangular semifinal)
O São
Paulo vinha de uma fase hegemónica, coroada com a conquista de cinco
campeonatos paulistas e dois brasileiros entre 1985 e 1992. O Palmeiras,
por seu lado, tinha passado a década de 1980 em branco, mas apresentava-se
revigorado com a chegada da Parmalat como cogestora dos destinos do clube.
À entrada para o penúltimo jogo
do Palmeiras
e último do São
Paulo no quadrangular semifinal, o tricolor tinha dois pontos de vantagem e
podia carimbar o acesso à final em caso de vitória, mas foi derrotado em pleno
Morumbi, com dois golos nos derradeiros 25 minutos da segunda parte. Edmundo
fez o primeiro aos 68 minutos, mas foi o segundo, de César Sampaio, que deu que
falar: o volante começou a conduzir a bola ainda no seu meio-campo, foi
deixando adversários para trás, tirou o guarda-redes do caminho e atirou para a
baliza deserta (84’).
Depois desse encontro, o Palmeiras
assegurou o apuramento para a final após um empate em casa com o Remo (0-0) e
bateu o Vitória a duas mãos para conquistar o título brasileiro, que lhe fugia
há 20 anos.
30 de outubro de 1994 –
Campeonato Brasileiro (1.ª jornada da 2.ª fase)
Nem só de jogos decisivos nem de
excelentes espetáculos de futebol é feito o Choque-Rei. Quando São
Paulo e Palmeiras
se defrontaram no arranque da 2.ª fase do Brasileirão em 1994, pouco estava
ainda em jogo, mas nem por isso os nervos deixaram de estar à flor da pele.
Ao minuto 88, registava-se um
empate a dois golos no Morumbi – Müller (59’) e Cafu (69’) marcaram para os são-paulinos
e Edmundo bisou para os palmeirenses (39’ e 82’) – quando, após ter visto um
cartão amarelo, Edmundo deu um tapa em
Juninho Paulista, num incidente que motivou a expulsão dos dois. Após ter visto
o vermelho, Edmundo agrediu André Luiz, o que desencadeou uma autêntica batalha
campal, com troca de agressões entre os jogadores das duas equipas.
“Juninho para mim é um meio-homem.
Para brigar com ele, eu só preciso de chamar o meu sobrinho”, disse Edmundo
após o encontro, sobre o adversário que media 1,67 m e que alegadamente lhe
terá cuspido. “Ele não é super-homem”, respondeu Juninho, sobre o avançado que
media mais dez centímetros.
Vários meses depois, a 31 de maio
de 1995, Edmundo e Juninho Paulista reencontraram-se ao serviço da seleção
brasileira.
4 de maio de 2006 – Libertadores
(2.ª mão dos oitavos de final)
Pela quarta vez, os dois rivais
mediram forças na Libertadores.
E pela quarta vez, o São
Paulo levou a melhor.
Na primeira-mão, no Parque
Antárctica, houve empate a um golo – Aloísio marcou para o tricolor (23’), Edmundo de grande penalidade para o verdão (39’).
No segundo jogo, no Morumbi, os
são-paulinos voltaram a marcar primeiro, mais uma vez por Aloísio (13’), mas
Washington empatou antes da hora de jogo (58’). O Palmeiras
dispôs de uma oportunidade para virar a eliminatória, numa jogada de contra-ataque,
mas o defesa tricolor Leandro matou o
lance com uma falta e foi expulso. Apesar de estar a jogar com menos um, o São
Paulo chegou ao 2-1 através de uma grande penalidade convertida pelo
guarda-redes Rogério Ceni e confirmou a tradição de eliminar o rival na maior
prova de clubes da América do Sul.
Ainda antes do apito final, os
jogadores envolveram-se numa briga e os palmeirenses Thiago Gomes, Marcinho
Guerreiro e Paulo Baier acabaram expulsos.
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