A Champions é um autêntico sucesso comercial |
O futebol, hoje em dia, é cada
vez mais um espetáculo. Os jogadores são vistos como autênticas estrelas, que
dão a cara (a troco de muito dinheiro) para promover determinada marca. Os
clubes, sobretudo os de maior dimensão, são muito mais do que tecidos no
movimento associativo: vendem caro bilhetes para os jogos da equipa principal,
atraem patrocínios e aproveitam qualquer acessório para encaixar uns euros em venda
de merchandising. As federações,
ligas e até as associações internacionais, como a UEFA e a FIFA, são muito mais
do que organismos que tutelam o futebol continental e mundial: são atualmente multinacionais
de organização de eventos.
Com tantos canais televisivos
abertos a transmitir partidas de futebol, há muito que os principais encontros
de uma jornada deixaram de se disputar há mesma hora, por vezes estando até
dependentes dos horários de partidas internacionais que podem roubar
protagonismo. Por isso, raramente se vê Sporting, Benfica e FC Porto a atuar à
mesma hora ou até no mesmo dia.
O mesmo se aplica no calendário
internacional. As jornadas da Liga dos Campeões estão divididas entre os blocos
de jogos de terça e quarta-feira, e as da Liga Europa entre os das 18:00 e
20:05 de quinta-feira. Este ajustamento permite a que o adepto possa assistir
a, no mínimo, quatro desafios em três dias. E digo no mínimo porque, devido à
diferença horária, os encontros disputados na Rússia, Azerbaijão e Cazaquistão
iniciam-se, por norma, mais cedo que os restantes.
Do ponto de vista do adepto e da
venda do futebol como espetáculo, é o cenário perfeito. Mas o futebol não se
pode esquecer que, mais do que um espetáculo, é sobretudo um desporto. E sendo
um desporto, convém não cair no esquecimento que os protagonistas são, acima de
tudo, desportistas, que se devem apresentar num jogo ao mais alto nível.
No mundo da música, é comum ver
bandas/artistas em digressões onde têm de atuar um elevado número de vezes num
curto espaço de dias. O espetáculo do futebol tende a seguir esse caminho.
Calendário apertado tem prejudicado ingleses na UEFA |
Olhemos para o que aconteceu com
o Sporting na semana passada: Jogou na Albânia na quinta-feira das 20:05 até às
22:00 e iniciou a partida em Arouca, no domingo, às 20:30, não completando as
72 horas de descanso. Pelo meio, chegada a Lisboa na sexta de manhã cedo e treino
no sábado, antes de seguir novamente viagem. Porque não a partida na
segunda-feira? Porque os leões têm no seu plantel jogadores que se tiveram de
apresentar nesse mesmo dia na seleções nacionais, algumas nos quais
concentradas noutros continentes.
Jorge Jesus optou por apresentar
um onze diferente em cada um dos jogos, mas e se não o tivesse feito? Teria a
equipa capacidade física para dar boa resposta no relvado algo pesado do Municipal
de Arouca? Teria argumentos para marcar nos últimos minutos?
Benfica e FC Porto, que tinham
jogado para a Liga dos Campeões na terça e na quarta, respetivamente, só
disputaram os seus encontros do campeonato no domingo. Os encarnados,
inclusivamente, realizaram as duas partidas no Estádio da Luz. Noutras semanas,
o prejudicado pode até ser outro, mas não porque haja alguém que se preocupe
com isso.
É caso para perguntar: onde está
a verdade desportiva? Além de promover espetáculos, que fazem as entidades que
regem o futebol para que duas equipas (ou dois adversários diretos, em partidas
diferentes) entrem em campo em igualdade de circunstâncias?
Dirão que em Inglaterra o
calendário é bem mais apertado, mas convém recordar que por algum motivo (entre
os quais o do pouco tempo de descanso) os clubes ingleses, com a notoriedade,
orçamentos gritantes e condições de trabalho fantásticas de que dispõem, não
têm conseguido ombrear com Real Madrid, Barcelona e Bayern na luta pela Liga
dos Campeões. A Premier League é colossal, mas nem tudo o que se faz em terras
de sua majestade serve de exemplo… pela positiva.
Sem comentários:
Enviar um comentário