domingo, 24 de agosto de 2014

Já sem o Pelé, resolve o Mané

Até se pode dizer que começou bem o regresso de Nani. O internacional português mostrava empenho nas tarefas defensivas, ajudando o Jefferson a fechar o flanco esquerdo com afinco. Uma prova de humildade para quem chegava rotulado de estrela e com um estatuto superior ao de qualquer jogador do plantel. O tempo foi passando e fomos vendo o luso-cabo-verdiano com vontade de assumir a iniciativa, de tentar criar dinâmica no ataque, de puxar a bola para o seu pé direito para posteriormente rematar ou de progredir através do drible. Correu bem umas vezes, correu mal em outras.


Notava-se que tem bons índices físicos. Velocidade, robustez e intensidade. Enfim, habituado a outras andanças. Não era possível exigir-lhe tudo. Afinal, ainda não conhece os movimentos dos novos colegas de equipa. Sabia lá ele se Montero se se colava ao central mais distante ou se gostava de aparecer no primeiro poste. Sabia lá ele se Jefferson dava profundidade ou se também aparecia por dentro. Sabia lá ele se Carrillo se desmarcava num trajetória diagonal ou vertical.

Tudo corria com alguma naturalidade na sua exibição até ao minuto 62, altura em que resolve pedir a Adrien para pedir a marcação de uma grande penalidade. E diga-se de passagem, que o número 23 leonino tem revelado uma interessante taxa de acerto na marca dos 11 metros. Ciente da necessidade de Nani relançar a carreira e de que era necessário manter o bem estar no seio leonino, o médio cede à vontade do extremo, embora algo frustrado. Independentemente do que viria a acontecer depois, Nani estaria já a utilizar o seu alegado estatuto superior quando o que deveria existir é apenas o... estatuto de jogador do Sporting, igual para todos. Deu balanço, rematou e acertou no poste. Os corações dividiam-se em Alvalade. Se por um lado não ficou bem na fotografia, por outro não se chama Bojinov (lembram-se?). Aliás, se há denominador comum entre os adeptos dos mais variados clubes portugueses é que os jogadores lusos (e sobretudo os formados localmente) têm maior margem de erro do que os estrangeiros.

Adiante. Minuto 76. Nani é substituído por Tanaka. Faltava um quarto de hora para o final e o Sporting continuava empatado em casa com o modesto Arouca. O candidato ao título estava na eminência de deixar fugir os rivais, sobretudo com um derby na próxima jornada e a vedeta sai a... passo. Outros jogadores, que na mesma noite e no mesmo relvado saíram em tal velocidade, mas vestidos de amarelos e azul, foram assobiados. Dá que pensar.

Mas foi um boa demonstração de força de Marco Silva, que perante um resultado negativo, retirou a coqueluche dos adeptos. Arriscou assobios, mas mostrou que não age conforme o que ouve nas bancadas. Há que aplaudir.

Foi já sem o seu Pelé que os leões conseguiram o golo da vitória, por Mané. Depois de um bom final de época em 2013/14, Carlos Mané estava abaixo das expectativas durante a recente pré-temporada. Mas frente ao Arouca entrou bem após o intervalo, mexeu com a equipa, entrou com vontade e mais importante que tudo, tomou boas decisões, quer no passe ou no drible. Foi o abre-latas que fez sonhar os adeptos no segundo tempo e acabou por materializar a boa exibição na resolução do encontro. O golo que marcou não está na base desta justificação. Foi apenas uma recarga. Até o pior jogador em campo o poderia ter feito. Mas que mexeu no encontro, lá isso mexeu!


Sem confiança, sem titularidade!

Um candidato ao título não se pode dar ao luxo de colocar no onze um avançado sem confiança e que não marca golos há vários meses. Poderia-se até esquecer os recentes registos de Montero é função de exibições bem conseguidas, mas tal nem ocorreu no encontro com o Arouca, como não aconteceu diante da Académica. Sem confiança, o colombiano também não teve um desempenho conseguido e a sua margem de erro começa a ficar mais reduzida. E se há um Tanaka que deu boas indicações na pré-época...


Sinal + para Sarr

Rui Patrício esteve bem das raras ocasiões em que foi chamado a defender as redes leoninas e não complicou quando teve de jogar com os pés.

Maurício não evitou um outro chutão mas também não comprometeu. Ao seu nível, portanto.

Sarr melhorou o seu desempenho relativamente ao encontro com a Académica. Mostrou mais segurança foi cirúrgico no corte e procurou simplificar quando teve a bola nos pés.

Ricardo Esgaio vale mais do que aquilo que mostrou. Falta confiança. Mas também não era titular desde a época do 7.º lugar. Tem de ser mais eficaz e rápido nas decisões.

Jefferson esteve em bom plano, como já é usual. Poderá formar uma dupla interessante com Nani no flanco esquerdo assim que se conheçam melhor.

Oriol Rosell foi talvez a unidade mais apagada dos leões. Nem se revelando propriamente decisivo na manobra defensiva nem trazendo a capacidade de passe que lhe é apontada. Saiu com justiça ao intervalo.
 
Adrien foi o patrão da equipa e tentou levar o seu conjunto para a frente. Tentou não criar problemas quando Nani lhe pediu para cobrar a grande penalidade.

André Martins voltou a não estar ao nível da pré-época. E João Mário começa a ficar com as orelhas a arder...


Carrillo teve vontade mas não foi tão irrequieto como contra a Académica. Terá sentido a ameaça Nani?


Exige-se mais

O Sporting esteve à beira de ceder pontos pela segunda vez consecutiva logo à segunda jornada. Foram dois jogos de sofrimento. O que conta são os três pontos e é importante que haja coração quando não houver engenho e arte, mas para um candidato ao título essa deve ser a solução de recurso e não a situação sistémica. Falta Slimani. Verdade que não há outro como ele, mas a um candidato ao título exige-se outras armas. O Arouca praticou um anti-jogo do mais miserável que se assistiu? Verdade, mas houve tempo para fazer mais e melhor. O Arouca foi demasiado defensivo? Verdade, mas um candidato ao título irá deparar-se com muitos autocarros ao longo da época e tem que ter recursos para os contornar. Em Alvalade, os quase 40.000 que apoiaram os leões não mereciam tanto sofrimento e deverão exigir que a sua pulsação esteja menos acelerada da próxima vez que saírem do seu estádio.

10 comentários:

  1. Belíssima crónica, amigo David. Na mouche. Acredito que a equipa saiba retirar as ilações adequadas e que possa aproveitar este susto para crescer! Estou convencido que sim! Abraço!

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  2. Um belo post que roça quase a perfeição daquilo que se passou em Alvalade neste jogo tão sofrível como se assistiu devido a vários casos onde o principal é assistir-se muita vez ao jogo de certas equipas que entram em campo apenas para não perder seja a que preço for e isto viu-se na equipa do Arouca que a par de outras equipas que andam por aí só jogam para não perder fazendo jogos miseráveis que até dão vómitos.
    Sobre o Sporting, para mim gostei da equipa que practicamente durante o jogo todo jogou a um ritmo alto sempre na pressão mas, como por vezes do outro lado o anti jogo funcionou eis aí a causa de uma vitória sofrida.
    Sobre Nani confesso que não gostei nada dele devido ao seu comportamento quando foi substituído onde se viu a forma em que ele saiu do campo e também aquilo que se viu quando ele estava sentado no banco de suplentes.
    Para mim acho que o nome não é tudo mas sim, as acções que se praticam nos momentos decisivos e ele Nani (para mim) esteve mal pois o Sporting é um todo e não um só.
    Maus costumes, vedetismo e maiorais não cabe na cabeça de quem assistiu a isto e possa tirar uma conclusão daquilo que poderá vir aí em outros jogos.
    Oxalá eu me engane mas, assim deste jeito e com este feitio nada feito.
    O Sporting merece respeito assim como todos aqueles que fazem parte da família Sportinguista e muito sofrem por ele.
    Um abraço David e Sporting sempre.

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    1. Posso dizer que o Arouca teve em Alvalade uma das piores atitudes a que já assisti em termos de anti-jogo (e vi-o ao vivo). Mas quando se falha tanto no último terço e o Nani sai a passo, isso não pode ser desculpa.

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  3. " quando não houver engenho e arte"

    Esse é o principal motivo!
    Falta engenho e arte, por outras palavras falta qualidade, capacidade, ou se quisermos de outra forma, isto é o que o jogadores podem dar, isto é o normal deles.
    O nosso craque, sim ele é mesmo craque, faz lembrar o que se passa na selecção, onde temos dois a três jogadores muito bons, e o resto são jogadores que estão num nível abaixo.Aquando da substituição, mostrou desagrado, o que apesar de ter razão, pois estava a ser o elemento mais desequilibrador, não o deveria ter feito, daquela forma.
    Não temos equipa para lutar pelo título,nem de perto nem de longe, é só conversa.
    Em relação ao Arouca, nada a apontar fez o que pode, quase sempre pressionado, sem espaço para jogar.
    Aliás esta foi a diferença do sporting em relação a eles, a capacidade física, porque em termos de futebol, pouco jogou.
    Diria que os jogadores andam a tomar as vitaminas, se é que entendem, na primeira correram mais de 57 km,o que é muito, muitíssimo.
    Em relação ao árbitro, temos tido sorte, perdoou uma expulsão clara, ao marcador de penaltis, e marcou um penalti, que na semana passada, num lance igual, o árbitro nada assinalou.

    " Um candidato ao título não se pode dar ao luxo de colocar no onze um avançado sem confiança e que não marca golos"

    Este rapaz não é um goleador, tirem isso da cabeça, isto é o normal dele, tirem as estorias da carochinha, que têm sido inculcadas na cabeça dos adeptos.
    Este jogador foi dispensado da mls, conheço um empresário, que tinha informações sobre ele, e confirma-se precisamente o que ele tinha dito.

    Em relação aos seus artigos, gostaram de debater outros temas
    como o que disse em relação ao Mou.
    Sem duvida que este ano as desculpas serão possivelmente pouco toleradas.
    Ele está lá para ganhar, e não para arranjar fait divers, para os insucessos, parece que ele está a querer assumir o papel de analista de futebol, de relações públicas do clube, em que tenta descartar os insucessos, desviar o foco.
    Será ele ainda o special one?
    Quero que sim, apesar de a escolha que ele fez ter sido pouco sensata.

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    1. O Montero já mostrou que é um goleador. Mas desde há muito que está em subrendimento. Quando ele na época passada entrou a marcar tanto, não se pode dizer que é coisa da nossa cabeça. Ele já mostrou mais e melhor

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    2. É um jogador que marca, mas está a léguas de ser qualquer coisa parecido com isso.
      Aliás, ele nem sequer tem características de avançado.
      Tirando os dois golos em fora de jogo, e os penaltis, quantos golos de bola corrida marcou? Em quantos jogos?
      Mas quando se opta pela emoção, tenta-se arranjar justificação para tudo.

      Um goleador é um jogador que marca no mínimo por época entre quinze a vinte golos de bola corrida.

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    3. Na época passada o Montero marcou 16 golos, entre os quais 14 de bola corrida. No mínimo, não há a legitimidade de esperar um pouco mais dele?

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    4. Em quantos jogos marcou no campeonato? Contra que equipas? Em quantos jogos não marcou?
      Está-se a esquecer do histórico dele, e nos campeonatos onde jogava.
      Pode continuar a argumentar que ele é um goleador ou um craque, mas as estatísticas, já que não quer levar em conta as análises, evidenciam o contrário.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Boas David! Li o seu comentário que deixou no blog Sporting Adeptos e decidi passar por cá. Gostei bastante da crónica e dou-lhe os parabéns para excelente blog que aqui tem!

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