quarta-feira, 19 de março de 2025

O central brasileiro que Artur Jorge acusava de ter a “bunda grande”. Quem se lembra de Zé Carlos?

Zé Carlos festejou 25 golos em 101 jogos pelo FC Porto entre 1989 e 1995
Um central brasileiro que passou pelo FC Porto na primeira metade da década de 1990 com grande faro para o golo. E, segundo Artur Jorge, com mais coisas grandes: “Quando me dispensou disse que eu era ‘bundudo’. Que tinha a bunda muito grande.”
 
Formado no Flamengo, surgiu na equipa principal do mengão em 1983, tendo vencido o Brasileirão em 1987 antes de se mudar para o FC Porto em 1989, numa altura em que o treinador Artur Jorge, de regresso ao clube após uma passagem pelos franceses do Matra Racing, estava a promover uma revolução no plantel.
 
Em termos de defesas centrais, saíram Lima Pereira, Eduardo Luís, Dito e Nkongolo, tendo permanecido Paulo Pereira e sido contratados Stéphane Demol, Morato e Zé Carlos. Geraldão também esteve bastante perto para ir embora, mas foi resgatado à última hora. “Ele ia sair do FC Porto, já estava com tudo tratado. Veja bem, era até eu que ia ficar com a casa dele. Estava tudo preparado para o substituir, porque além de mim também tinha chegado o Demol. Pensámos: ‘ok, vamos montar aqui a nossa zaga’. Que nada! O Artur Jorge não foi com a minha cara, sofri uma lesão, o FC Porto hesitou e acabou por ir resgatar o Geraldão, que ainda ficou esse ano e mais outro”, contou Zé Carlos ao Maisfutebol em maio de 2016.
 
 
O recém-contratado central brasileiro até teve um arranque de sonho nas Antas, com um golo ao Nacional na estreia de dragão ao peito, mas sofreu uma lesão em novembro de 1989 e ficou afastado dos relvados até maio de 1990, não indo além de oito jogos (e dois golos) nessa época. Paralelamente, teve problemas de adaptação: “O futebol era muito diferente. Estava habituado ao estilo do Brasil, um futebol mais tranquilo em que pediam mais qualidade. Em Portugal era muito mais disputado cada lance. Era mais à base da força, principalmente para os defesas. Tínhamos de ser mais bruscos. Um xerife como nós dizemos cá. Foi difícil adaptar.”
 
 
O treinador Artur Jorge foi outro problema. “Acho que ele não gostava era do meu estilo de jogo. Dizia que não se adequava ao estilo que ele queria. Depois também sofri uma lesão na pior altura, quando até estava perto de ir à seleção do Brasil. (…) Lesionei-me numa quarta-feira. Na quinta foi folga e na sexta quando voltámos ao treino disse ao médico que não estava em condições de treinar. O Artur Jorge não gostou. Disse que ele é que decidia quem treinava ou não. Que com ele todos tinham de fazer o que ele manda. Enfim. Era muito duro, ele”, lembrou.
 
Na temporada seguinte, Zé Carlos foi emprestado ao Gil Vicente, então a fazer a estreia na I Divisão. Na altura, os gilistas eram orientados por uma figura do FC Porto, Rodolfo Reis, e tinham no plantel alguns jogadores portistas em início de carreira, nomeadamente Folha e Rui Filipe. “A ida para o Gil Vicente foi decisiva. Aprendi muito lá. As coisas correram muito bem e depois o próprio Artur Jorge indicou que voltasse ao FC Porto. Jogávamos naquele campo pequeno, em brincadeira até dizíamos que se nos esticássemos muito estávamos a jogar no cemitério, que era lá ao lado”, recordou, em alusão ao Estádio Adelino Ribeiro Novo, o central especialista em penáltis que amealhou oito golos em 35 jogos oficiais pelos barcelenses.
 
 
 
Em 1991-92, Zé Carlos voltou ao FC Porto e já não encontrou Artur Jorge, apesar de ter sido o obreiro do título europeu de 1986-87 a indicar o seu regresso às Antas. Era um compatriota, Calos Alberto Silva, o treinador, mas o central brasileiro não teve a vida fácil, uma vez que os principais concorrentes diretos se chamavam Aloísio, Fernando Couto e Jorge Costa. Apesar de apresentar veia goleadora, não foi além de seis jogos (e dois golos) em 1991-92, 16 (e cinco golos) em 1992-93 e 18 (e cinco golos) em 1993-94.
 
    
 
Em 1994-95, com Bobby Robson, fez a melhor época de sempre no FC Porto, até porque tinha saído Fernando Couto, libertando algum espaço. Nessa temporada foi utilizado em 38 encontros e amealhou dez golos, um número invejável para um defesa central. “Foi o melhor treinador que tive. Era um paizão. Tanto para mim como para o Emerson. Dizia-nos muitas vezes: ‘boys, estou a deixar jogadores de seleção de fora para vocês jogarem. Têm de dar tudo’. Ele participava bastante nos treinos, conversava muito. Até o Mourinho aprendeu muito com ele…”, afirmou sobre o técnico inglês.
 
 
Um dos dez golos que apontou nessa época foi ao Benfica de… Artur Jorge. E não faltou um festejo personalizado: “Quando marquei aquele golo a primeira coisa que me lembrei foi apontar para a bunda. Bem, que confusão que foi… O Mozer saiu do banco, veio direito a mim. Foi uma daquelas provocações que fazem parte do futebol. Hoje é até uma boa lembrança, rio sempre…”
 
 
Depois de 15 jogos e um golo na primeira metade de 1995-96, voltou ao Brasil para representar um dos maiores rivais do seu Flamengo, o Vasco da Gama, despedindo-se da Invicta com um palmarés engrossado pela conquista de cinco campeonatos (1989-90, 1991-92, 1992-93, 1994-95 e 1995-96), uma Taça de Portugal (1993-94) e duas Supertaças (1993 e 1994).
 
 
Na época seguinte, porém, regressou a Portugal pela porta do Marítimo, mas não foi particularmente feliz, tendo apenas sido utilizado em 16 partidas, numa fase em que já era trintão.
 
Seguiu-se a reta final de carreira em modestos emblemas brasileiros como XV de Piracicaba, União São João, CRB e Cabofriense, com uma passagem pelos mexicanos do Toluca pelo meio, tendo pendurado as botas em 2000. 



 




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