O central brasileiro que Artur Jorge acusava de ter a “bunda grande”. Quem se lembra de Zé Carlos?
Zé Carlos festejou 25 golos em 101 jogos pelo FC Porto entre 1989 e 1995
Um central brasileiro que passou
pelo FC
Porto na primeira metade da década de 1990 com grande faro para o golo. E,
segundo Artur
Jorge, com mais coisas grandes: “Quando me dispensou disse que eu era
‘bundudo’. Que tinha a bunda muito grande.”
Formado no Flamengo,
surgiu na equipa principal do mengão
em 1983, tendo vencido o Brasileirão em 1987 antes de se mudar para o FC
Porto em 1989, numa altura em que o treinador Artur
Jorge, de regresso ao clube após uma passagem pelos franceses do Matra
Racing, estava a promover uma revolução no plantel. Em termos de defesas centrais,
saíram Lima
Pereira, Eduardo
Luís, Dito e Nkongolo, tendo permanecido Paulo Pereira e sido contratados Stéphane
Demol, Morato
e Zé Carlos. Geraldão também esteve bastante perto para ir embora, mas foi resgatado
à última hora. “Ele ia sair do FC
Porto, já estava com tudo tratado. Veja bem, era até eu que ia ficar com a
casa dele. Estava tudo preparado para o substituir, porque além de mim também
tinha chegado o Demol. Pensámos: ‘ok, vamos montar aqui a nossa zaga’. Que
nada! O Artur
Jorge não foi com a minha cara, sofri uma lesão, o FC
Porto hesitou e acabou por ir resgatar o Geraldão, que ainda ficou esse ano
e mais outro”, contou Zé Carlos ao Maisfutebol
em maio de 2016.
O recém-contratado central
brasileiro até teve um arranque de sonho nas Antas, com um golo ao Nacional
na estreia de dragão
ao peito, mas sofreu uma lesão em novembro de 1989 e ficou afastado dos
relvados até maio de 1990, não indo além de oito jogos (e dois golos) nessa
época. Paralelamente, teve problemas de adaptação: “O futebol era muito
diferente. Estava habituado ao estilo do Brasil, um futebol mais tranquilo em
que pediam mais qualidade. Em Portugal era muito mais disputado cada lance. Era
mais à base da força, principalmente para os defesas. Tínhamos de ser mais
bruscos. Um xerife como nós dizemos cá. Foi difícil adaptar.”
O treinador Artur
Jorge foi outro problema. “Acho que ele não gostava era do meu estilo de
jogo. Dizia que não se adequava ao estilo que ele queria. Depois também sofri
uma lesão na pior altura, quando até estava perto de ir à seleção
do Brasil. (…) Lesionei-me numa quarta-feira. Na quinta foi folga e na
sexta quando voltámos ao treino disse ao médico que não estava em condições de
treinar. O Artur
Jorge não gostou. Disse que ele é que decidia quem treinava ou não. Que com
ele todos tinham de fazer o que ele manda. Enfim. Era muito duro, ele”,
lembrou. Na temporada seguinte, Zé Carlos
foi emprestado ao Gil
Vicente, então a fazer a estreia na I
Divisão. Na altura, os gilistas
eram orientados por uma figura do FC
Porto, Rodolfo
Reis, e tinham no plantel alguns jogadores portistas em início de carreira,
nomeadamente Folha
e Rui Filipe. “A ida para o Gil
Vicente foi decisiva. Aprendi muito lá. As coisas correram muito bem e
depois o próprio Artur
Jorge indicou que voltasse ao FC
Porto. Jogávamos naquele campo pequeno, em brincadeira até dizíamos que se
nos esticássemos muito estávamos a jogar no cemitério, que era lá ao lado”,
recordou, em alusão ao Estádio Adelino Ribeiro Novo, o central especialista em
penáltis que amealhou oito golos em 35 jogos oficiais pelos barcelenses.
Em 1991-92, Zé Carlos voltou ao FC
Porto e já não encontrou Artur
Jorge, apesar de ter sido o obreiro
do título europeu de 1986-87 a indicar o seu regresso às Antas. Era um
compatriota, Calos Alberto Silva, o treinador, mas o central brasileiro não
teve a vida fácil, uma vez que os principais concorrentes diretos se chamavam Aloísio,
Fernando Couto e Jorge Costa. Apesar de apresentar veia goleadora, não foi além
de seis jogos (e dois golos) em 1991-92, 16 (e cinco golos) em 1992-93 e 18 (e
cinco golos) em 1993-94.
Em 1994-95, com Bobby
Robson, fez a melhor época de sempre no FC
Porto, até porque tinha saído Fernando Couto, libertando algum espaço.
Nessa temporada foi utilizado em 38 encontros e amealhou dez golos, um número
invejável para um defesa central. “Foi o melhor treinador que tive. Era um paizão.
Tanto para mim como para o Emerson.
Dizia-nos muitas vezes: ‘boys, estou a deixar jogadores de seleção de
fora para vocês jogarem. Têm de dar tudo’. Ele participava bastante nos
treinos, conversava muito. Até o Mourinho
aprendeu muito com ele…”, afirmou sobre o técnico
inglês.
Um dos dez golos que apontou
nessa época foi ao Benfica
de… Artur
Jorge. E não faltou um festejo personalizado: “Quando marquei aquele golo a
primeira coisa que me lembrei foi apontar para a bunda. Bem, que confusão que
foi… O Mozer saiu do banco, veio direito a mim. Foi uma daquelas provocações
que fazem parte do futebol. Hoje é até uma boa lembrança, rio sempre…”
Depois de 15 jogos e um golo na
primeira metade de 1995-96, voltou ao Brasil para representar um dos maiores
rivais do seu Flamengo,
o Vasco
da Gama, despedindo-se da Invicta com um palmarés engrossado pela conquista
de cinco campeonatos (1989-90, 1991-92, 1992-93, 1994-95 e 1995-96), uma Taça
de Portugal (1993-94) e duas Supertaças
(1993 e 1994).
Na época seguinte, porém,
regressou a Portugal pela porta do Marítimo,
mas não foi particularmente feliz, tendo apenas sido utilizado em 16 partidas,
numa fase em que já era trintão. Seguiu-se a reta final de
carreira em modestos emblemas brasileiros como XV de Piracicaba, União São
João, CRB e Cabofriense, com uma passagem pelos mexicanos do Toluca pelo meio,
tendo pendurado as botas em 2000.
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