O “Ruço” que queria ser médico e “era o único jogador à Benfica” no… Sporting. Quem se lembra de Artur Correia?
Artur Correia passou seis anos no Benfica e três no Sporting
Defesa direito lisboeta conhecido
pela alcunha de “Ruço” devido ao visual, mas também pelo seu estilo impetuoso,
começou a praticar futebol nas camadas jovens do Futebol
Benfica, o popular “Fofó”, como avançado, mas ao fim de um ano já estava a
jogar nos juniores do Benfica
como médio, tendo vencido o título nacional da categoria em 1967-68 ao lado de
Humberto Coelho, Vítor
Martins e Nené.
Quando transitou para sénior,
colocou os estudos à frente da bola e mudou-se para a Académica
para ter a possibilidade de estudar medicina em Coimbra. Se na primeira época
pouco jogou, entre 1969 e 1971 afirmou-se de tal maneira na equipa principal da
briosa,
já como lateral direito, que teve de deixar de lado o sonho de ser médico. Em
1969-70 contribuiu para a caminhada dos estudantes
até aos quartos de final da Taça
das Taças e na temporada seguinte para a obtenção de um honroso 5.º lugar
na I
Divisão. Bastante cobiçado, recusou
convites de Sporting,
FC
Porto e Belenenses,
mas não resistiu a uma proposta de Borges Coutinho para regressar ao Benfica,
tendo vivido os melhores anos da carreira de águia ao peito, entre 1971 e 1977. Nesse período amealhou um total
de 160 jogos e dois golos pelos encarnados,
tendo conquistado seis campeonatos (1971-72, 1972-73, 1974-75, 1975-76 e
1976-77) e uma Taça
de Portugal (1971-72). Com naturalidade chegou também à seleção
nacional A, tendo somado a primeira de 34 internacionalizações – depois de
quatro pelos sub-21
– numa vitória em Chipre em maio de 1972 (1-0).
No decorrer da época 1976-77 sofreu
uma pleurisia que pôs em risco a sua carreira. Embora tivesse conseguido
recuperar, os dirigentes do Benfica
hesitaram em lhe renovar o contrato, o que o levou a aceitar a proposta de João
Rocha para se transferir para o Sporting
no verão de 1977. “Nunca pensei jogar naquela equipa, mas o Benfica
mandou-me embora. Na prática, foi assim. Durante seis anos estive sempre a
ganhar o mesmo: 34 contos por mês. Em 1974, o presidente Borges Coutinho
prometeu-me 500 contos e uma festa de homenagem quando renovasse o contrato, em
1977. Ora em 1977 fomos campeões, com o Mortimore, e o [diretor desportivo]
Romão Martins ofereceu-me uma festa de homenagem de 200 contos e 27 contos de
ordenado. Onde é que já se viu passar de 34 para 27 contos? Como é possível
baixar de ordenado? Ameacei com a saída e disseram-me que, como eu era
benfiquista, nunca sairia. Mas estavam a empurrar-me para fora do meu clube e
saí. O João Rocha apanhou-me descontente e fui parar ao outro lado da Segunda
Circular”, lembrou. Com todas as faculdades intactas,
foi titular indiscutível em Alvalade
durante as três temporadas que passou de leão ao peito, tendo atuado em 83
jogos e conquistado uma Taça
de Portugal (1977-78) e um campeonato (1979-80). Pelo meio teve curtas
experiências nos Estados Unidos, ao serviço dos New England Tea Men, pelos quais atuou em meados de 1979 e no
início de 1980.
Em setembro de 1980, quando se
preparava para a quarta época no Sporting,
sofreu um acidente cardiovascular que lhe colocou em risco de vida e pôs logo
ali termo à carreira de futebolista, quando tinha 30 anos. A 3 de junho de 1981, Sporting
e Benfica
juntaram-se para se defrontar num jogo de homenagem, no Estádio
José Alvalade. Nessa ocasião, Toni
definiu-o numa frase: “No Sporting,
era o único jogador à Benfica.”
Também o próprio Artur Correia tinha uma frase que o caracterizava: “Comigo, ou
passava a bola ou passava o homem… os dois, não.”
Após pendurar as botas
aventurou-se como treinador no comando técnico do Sesimbra
e do Centro Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL), tendo trabalhado ainda durante
18 anos, a recibos verdes, no departamento de Desporto da Câmara Municipal de
Lisboa. Viria a morrer em julho de 2016,
aos 66 anos, vítima de um AVC.
Sem comentários:
Enviar um comentário