Frechaut e Pedro Barbosa num clássico no final do século XX |
Um clássico pintado em tons de
verde e branco. Para uns às riscas horizontais, para outros às listas
verticais, mas são essas as cores de Sporting e Vitória
de Setúbal, dois clubes de diferentes dimensões, mas que em comum têm o
estatuto de históricos do futebol português.
No total, são quase duas dezenas
de jogos, a maior parte na I Divisão, mas muitos e bons também na Taça
de Portugal e na Taça
da Liga, incluindo finais.
Do Campeonato de Lisboa em 1919 à
Taça
da Liga em 2018, do Campo dos Arcos ao novo Estádio José Alvalade, das
chuvas de golos às traições de Fernando
Tomé e Manuel
Fernandes, o mais difícil é escolher os confrontos que mais deram que
falar.
Vale a pena recordar os grandes
clássicos entre os dois clubes. Veja aqui a nossa seleção de dez mais
marcantes, por ordem cronológica.
25 de fevereiro de 1940 – I
Divisão (6.ª jornada)
De regresso à I Divisão, o Vitória
teve um arranque de campeonato complicadíssimo, com cinco derrotas nas cinco
primeiras jornadas. Na sexta ronda, os sadinos
deslocaram-se ao Lumiar para defrontar o Sporting do treinador húngaro Joseph
Szabo, desfalcado de Peyroteo.
Ainda assim, os leões foram
esmagadores e chegaram aos dois dígitos. Ao intervalo, havia apenas 3-0, mas no
segundo tempo o vendaval ofensivo dos lisboetas rendeu mais nove golos.
Marcaram Armando Ferreira (28 minutos), Manuel Soeiro (36’, 74’ e 84’), João
Cruz (39’, 62’ e 70’), Adolfo Mourão (55’) e Pedro Pireza (66’, 77’, 79’ e
80’).
O Sporting discutiu o título até
ao fim, mas não evitou que o FC Porto fosse campeão. Já o Vitória
terminou o campeonato no 10.º e último lugar.
27 de junho de 1954 – Taça
de Portugal (final)
Com dois dos cinco violinos em
campo, Travassos e Vasques, o Sporting era novamente orientado por Joseph Szabo
e tinha conquista o tetracampeonato nessa época, tornando-se no único clube a
sagrar-se campeão por quatro épocas consecutivas, algo só se voltaria a
acontecer em Portugal na década de 1990.
Porém, o Vitória
não se deu por vencido e lutou até ao fim para levar a Taça
para Setúbal pela primeira vez. Após João Martins (15 minutos) e Fernando
Mendonça (18’) terem adiantado os leões, Soares bisou para os sadinos
(24’ e 40’) e deixou o jogo empatado ao intervalo. No entanto, Fernando
Mendonça fez o 3-2 para o Sporting aos 54’, mas os setubalenses
alegaram que o golo foi marcado em fora de jogo escandaloso.
Por sentirem que os jogadores
dignificaram o clube e foram prejudicados no Jamor, os sócios e adeptos
receberam a equipa em festa em Setúbal, mandaram fazer na Ourivesaria Pedroso
um troféu ao qual chamaram Taça Recompensa e entregaram-no àqueles que
consideraram ser os justos vencedores da final.
17 de junho de 1973 – Taça
de Portugal (final)
O Sporting disputava a final da Taça
de Portugal pela quarta época consecutiva, mas tinha acabado o campeonato
em quinto lugar, duas posições abaixo do Vitória,
que vivia um dos últimos anos do seu momento áureo.
Perspetivava-se um jogo
equilibrado, mas os leões de Mário Lino chegaram ao intervalo a vencer por 2-0,
com golos de Nélson Fernandes aos 23 minutos e Hector Yazalde aos 34’. Na
segunda parte, coube a Fernando
Tomé, um produto da formação vitoriana, fazer o 3-0 (66’). Os sadinos
de José Maria Pedroto ainda reduziram por Duda (76’) e Vicente (86’), mas não
conseguiram atirar a decisão para prolongamento e o Sporting confirmou a
conquista da oitava Taça
de Portugal do seu palmarés.
28 de novembro de 1987 – I
Divisão (12.ª jornada)
Porém, Manuel
Fernandes não teve só boas memórias desse encontro, uma vez que saiu de
maca aos 24 minutos devido a uma fratura no maxilar. E pouco depois, o Sporting
chegou ao empate por intermédio do sucessor dele em Alvalade, o avançado
brasileiro Paulinho Cascavel (30’). A igualdade resistiu durante uma hora, mas
já ao cair do pano o veterano Vítor Madeira aproveitou uma bola perdida na área
leonina para bater Damas e dar o triunfo aos sadinos
(90’), que na altura ultrapassaram o adversário dessa jornada e saltaram para o
quarto lugar.
24 de março de 1991 – I
Divisão (28.ª jornada)
Com o Vitória
de Quinito a precisar de ganhar para fugir aos lugares de despromoção e o
Sporting de Marinho Peres proibido de perder pontos para continuar na luta pelo
título, as duas protagonizaram um jogo aberto e espetacular, com três golos
para cada lado, mas também polémico, com o árbitro José Pratas a assinalar três
grandes penalidades.
Os sadinos
nunca estiveram em desvantagem e abriram o ativo aos 13 minutos por Jorge Silva,
de cabeça, após cruzamento de Crisanto. Fernando Gomes empatou aos 25’ de
grande penalidade, mas Nunes devolveu a vantagem à equipa da casa ainda antes
do intervalo (42’), também de penálti.
Já na segunda parte o
recém-entrado Mladenov
fez o 3-1 para o Vitória
a um quarto de hora do fim, mais uma vez de penálti, e acreditava-se que
poderia ter resolvido o jogo. Porém, Balakov reduziu a diferença na conversão
de um livre direto (80’) e Careca fez o empate pouco depois (85’).
No final da época, os setubalenses
acabaram mesmo por descer de divisão, enquanto os leões não foram além do
segundo lugar.
29 de agosto de 1993 – I Liga
(2.ª jornada)
O Vitória
acabava de regressar ao patamar maior do futebol português após dois anos na II
Liga e procurava continuar a somar pontos depois de um empate na Amadora na
jornada inaugural, enquanto o Sporting pretendia continuar invicto após um
triunfo na receção ao Salgueiros no arranque do campeonato.
Quando as equipas se defrontaram
logo na segunda ronda, houve chuva de golos no Bonfim. Tal como dois anos e
meio antes, o Vitória
voltou a ser o primeiro a marcar, à passagem do primeiro quarto de hora, com
Yekini a aproveitar uma fífia do guarda-redes Costinha para atirar para a
baliza deserta.
A resposta do Sporting só se fez
sentir no segundo tempo, mas valeu a pena à espera, tendo em conta a
genialidade do golo do empate, apontado por Balakov, que recuperou a bola ainda
no meio-campo leonino e foi cavalgando até à baliza adversária, deixando tudo e
todos pelo caminho antes de atirar para o fundo das redes (55’). Ainda hoje há
quem considere esse um dos melhores golos de sempre apontados no campeonato
português.
Logo a seguir o Vitória
esteve perto de se recolocar em vantagem, com Valckx a impedir o golo sobre a
linha de baliza, mas imediatamente depois são os leões que chegam ao segundo
golo, por Cherbakov (58’), poucos meses antes da tragédia que o atirou para uma
cadeira de rodas. Contudo, o encontro
atravessava uma fase diabólica e a pujança de Yekini voltou a fazer-se sentir à
passagem da hora de jogo, tendo o nigeriano fuzilado Costinha após grande
cruzamento de Rui Esteves.
Depois do 2-2, só deu Sporting.
Após algumas ameaças, o conjunto orientado por Bobby Robson chegou ao terceiro
golo por intermédio de Pacheco (77’), extremo que nesse verão quente tinha
trocado o Benfica pelo emblema de Alvalade juntamente com Paulo Sousa.
24 de maio de 2003 – I Liga
(33.ª jornada)
Um jogo histórico não pelos sete
golos nem por ter tido caráter decisivo, porque não teve – o Sporting tinha o
3.º lugar garantido e o Vitória
já tinha a despromoção confirmada -, mas por ter sido o último jogo de sempre
do velhinho Estádio José Alvalade, que era a casa dos leões desde 1956.
Os sadinos
até se viram obrigados a fazer três substituições forçadas devido às lesões de
Sandro, Rui André e Marco Tábuas, mas nunca estiveram em desvantagem. Meyong
abriu o ativo aos 13 minutos, mas Paulo Bento empatou aos 15’. Porém, um
autogolo de Beto (21’) e um remate certeiro de Jorginho (24’) colocaram a
equipa orientada por Carlos Cardoso com dois golos de vantagem. João Pinto
(26’) reduziu pouco depois e Ricardo
Quaresma empatou a meio da segunda parte (67’), mas em tempo de compensação
Meyong
marcou aquele que viria a ser o último golo de sempre do antigo estádio do
Sporting.
22 de março de 2008 – Taça
da Liga (final)
35 anos depois, os dois clubes
voltaram a defrontar-se numa final, desta feita na edição inaugural da Taça
da Liga.
Embora gerido por uma comissão de
gestão e com problemas de salários em atraso, o Vitória
de Carlos Carvalhal estava a fazer uma temporada fantástica, tendo passado todo
o campeonato na primeira metade da tabela, chegado às meias-finais da Taça
de Portugal e feito um percurso sensacional na Taça
da Liga, deixando para trás Sp. Braga e Benfica antes de ter ficado em
primeiro lugar num grupo que continha Sporting, Penafiel e Beira-Mar.
Já o Sporting de Paulo Bento, que
desde muito cedo se atrasou na corrida ao título no campeão, procurou salvar a
época nas taças. Na caminhada até à final da Taça
da Liga, disputada no Estádio do Algarve, sentiu dificuldades para
ultrapassar Vitória de Guimarães e Fátima nas eliminatórias que antecederam o
grupo quadrangular.
A final pautou por um futebol não
muito bem jogado, o que culminou num empate ao fim dos 90 minutos. No desempate
por grandes penalidades, o guarda-redes sadino Eduardo foi decisivo ao defender
três penáltis, ajudando os vitorianos
a vencer por 3-2.
27 de janeiro de 2018 - Taça
da Liga (final)
No 10.º aniversário da Taça
da Liga, quis o destino que se defrontassem na final os finalistas da
primeira edição, com apenas um jogador como resistente: o guarda-redes leonino Rui
Patrício. Tal como dez anos antes, o vencedor só foi conhecido após o
desempate por grandes penalidades, que desta feita sorriu ao Sporting, que arrecadou
o troféu pela primeira vez.
O Vitória,
que sonhava com a segunda conquista numa temporada em que passava por tremendas
dificuldades para sair dos lugares de despromoção, até inaugurou o marcador
logo aos quatro minutos, por Gonçalo
Paciência, que haveria de se despedir dos sadinos
após esse encontro. Porém, Bas
Dost empatou de penálti aos 80 e atirou a decisão para os pontapés da marca
dos onze metros.
Naquela que foi a primeira final
de sempre para o técnico vitoriano José
Couceiro, quem sorriu foi o timoneiro
sportinguista Jorge Jesus, que nessa noite ganhou em Braga a Taça
da Liga pela sexta vez.
Para trás ficou um percurso
meritório dos setubalenses,
que na fase de grupos deixaram para trás os favoritos Benfica e Sp. Braga, além
do Portimonense, e na meia-final eliminaram com tremenda eficácia a
Oliveirense. Já o Sporting confirmou o favoritismo num grupo que também contava
com Marítimo, Belenenses e União da Madeira e superou o FC Porto no desempate
por penáltis na outra meia-final.
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