sábado, 7 de junho de 2025

O carrasco de Portugal que conseguiu brilhar no “Vietname” do Benfica. Quem se lembra de Poborsky?

Poborsky somou 112 jogos e 17 golos pelo Benfica entre 1998 e 2001
Apresentou-se aos adeptos portugueses com um chapéu a Vítor Baía que eliminou Portugal no Euro 1996 e, depois de uma passagem pelo Manchester United, conseguiu tornar-se numa das raras boas recordações que os benfiquistas têm do “Vietname”, o período negro de onze anos sem qualquer título nacional entre 1994 e 2005.
 
Karel Poborsky nasceu a 30 de março de 1972 em Jindrichuv Hradec, na antiga Checoslováquia, e começou por jogar profissionalmente no modesto Ceské Budejovice, clube pelo qual se estreou como sénior e na primeira liga checoslovaca em 1991-92. Já internacional A pela então recém-formada seleção da República Checa, mudou-se para o Viktoria Zizkov em meados de 1994, um ano antes de se transferir para o mais conceituado Slavia Praga.
 
Na primeira época no emblema da capital, em 1995-96, o extremo teve o primeiro contacto com o estrelato: sagrou-se campeão checo e esteve em evidência na caminhada até às meias-finais da Taça UEFA. E, mais importante ainda, no final dessa temporada brilhou no percurso da República Checa até à final do Euro 1996: fez a assistência para um golo na vitória sobre Itália na fase de grupos, fez o famoso chapéu a Baía que eliminou Portugal nos quartos de final, foi um dos jogadores que converteram penáltis no desempate por grandes penalidades com a França nas meias-finais e sofreu uma falta que resultou num penálti e venceu o prémio de homem no jogo na derrota com a Alemanha na final.
 
 
Eleito, sem surpresa, para a equipa ideal desse Campeonato da Europa, valorizou-se de tal forma que foi imediatamente contratado pelo Manchester United, que pagou cerca de quatro milhões de euros pelo seu passe. No entanto, sentiu dificuldades para se impor em Old Trafford, até porque na sua posição preferencial, na ala direita do meio-campo, pontificava David Beckham.
 
 
Após vencer a Charity Shield [Supertaça] em 1996 e a Premier League em 1996-97 e também depois de ter ajudado a seleção checa a alcançar um honroso 3.º lugar na Taça das Confederações 1997, transferiu-se para o Benfica nos últimos dias de 1997. A mudança revelou-se polémica porque os encarnados, então presididos por Vale e Azevedo, não pagaram o valor da transferência, o que motivou uma queixa dos red devils à FIFA.
 
Desportivamente, e apesar da instabilidade que o clube atravessava, Poborsky conseguiu mostrar a sua genialidade, tendo assinado 17 golos e mais de 20 assistências em 112 jogos de águia ao peito entre janeiro de 1998 e janeiro de 2001. Não ganhou qualquer título, mas proporcionou momentos de magia, como o golo maradoniano ao Sp. Braga a 15 de novembro de 1998.
 
 
“Os anos que passei em Lisboa foram os melhores da minha carreira. Não apenas por causa do futebol, mas pela própria vida que tinha em Lisboa. Foram três anos fantásticos e ainda hoje tenho saudades”, admitiu ao Maisfutebol em março de 2012, lamentando apenas não ter sido campeão.
 
 
Enquanto jogador do Benfica marcou presença no Euro 2000, um torneio que não correu particularmente bem à República Checa, eliminada na fase de grupos atrás de França e Países Baixos. Ainda assim, Poborsky marcou um golo na derrota diante da seleção gaulesa na segunda jornada e fez uma assistência na vitória sobre a Dinamarca no jogo de despedida.
 
Em janeiro de 2001 assinou por ano e meio pela Lazio, numa altura em que o contrato com o Benfica estava a seis meses de expirar, tendo ainda rendido pouco mais de um milhão de euros aos cofres dos encarnados, num processo que também envolveu uma queixa à FIFA, por atraso no pagamento da transferência por parte dos italianos. “Mudei-me no inverno, a meio da época, e inicialmente não queria sair do Benfica. Mas o interesse deles era enorme”, confessou o extremo ao Flashscore em maio de 2025.
 
Em Roma ainda coincidiu alguns meses com o compatriota Pavel Nedved – “foi a primeira vez que a jogar no estrangeiro tinha outro checo no balneário” –, que depois se transferiu para a Juventus. O ponto alto da sua passagem pelo emblema laziale foi precisamente o seu último jogo, ao bisar numa vitória sobre o até então líder Inter de Milão (4-2), na última jornada da Serie A em 2001-02, o que permitiu a Juve de Nedved ultrapassar os nerazzurri e arrecadar o scudetto. “Até falámos no dia anterior. Ele disse-me que o título seria decidido no dia seguinte e que, por isso, devia dar o meu melhor. Respondi-lhe em tom de brincadeira: 'Não te preocupes, amanhã ganhamos, faço dois golos e o scudetto é teu'. E depois aconteceu mesmo! Não me lembro de ter marcado dois golos num jogo em qualquer outra altura, muito menos na Serie A. O Pavel ligou-me logo a seguir ao jogo, do autocarro da equipa, onde estavam a festejar o título”, recordou.
 
 
Com saudades de casa, mas ainda com muito futebol nas pernas, voltou à República Checa durante o verão de 2002, aos 30 anos, para assinar a custo zero pelo Sparta Praga, tornando-se na altura no futebolista mais bem pago da liga checa. Em pouco mais de três anos no clube totalizou 33 golos em 113 jogos e venceu dois campeonatos (2002-03 e 2004-05) e uma taça (2003-04). Ainda com todas as qualidades intactas, não só foi convocado para o Euro 2004 como ajudou a seleção checa, com quatro assistências, a atingir as meias-finais do torneio.
 
No final de 2005 regressou ao seu primeiro clube, o Ceské Budejovice, então na II Liga checa. Ainda assim, manteve-se nas escolhas do selecionador e foi convocado para o Mundial 2006, prova na qual a República Checa não foi além da fase de grupos.
 
 
Despediu-se da seleção após esse Campeonato do Mundo, na altura como recordista de internacionalizações pelo país (118), e retirou-se cerca de um ano depois, no final de maio de 2007, aos 35 anos.
 
Após pendurar as botas tem trabalhado como dirigente. Já foi diretor técnico da seleção checa, presidente da Associação Checa de Jogadores de Futebol e presidente do Ceské Budejovice. 



 
 
 



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