O carrasco de Portugal que conseguiu brilhar no “Vietname” do Benfica. Quem se lembra de Poborsky?
Poborsky somou 112 jogos e 17 golos pelo Benfica entre 1998 e 2001
Apresentou-se aos adeptos
portugueses com um chapéu a Vítor
Baía que eliminou Portugal
no Euro
1996 e, depois de uma passagem pelo Manchester
United, conseguiu tornar-se numa das raras boas recordações que os
benfiquistas têm do “Vietname”, o período negro de onze anos sem qualquer
título nacional entre 1994 e 2005.
Karel Poborsky nasceu a 30 de
março de 1972 em Jindrichuv Hradec, na antiga Checoslováquia, e começou por
jogar profissionalmente no modesto Ceské Budejovice, clube pelo qual se estreou
como sénior e na primeira liga checoslovaca em 1991-92. Já internacional A pela
então recém-formada seleção
da República Checa, mudou-se para o Viktoria Zizkov em meados de 1994, um
ano antes de se transferir para o mais conceituado Slavia
Praga. Na primeira época no emblema
da capital, em 1995-96, o extremo teve o primeiro contacto com o estrelato:
sagrou-se campeão checo e esteve em evidência na caminhada até às meias-finais
da Taça
UEFA. E, mais importante ainda, no final dessa temporada brilhou no
percurso da República
Checa até à final do Euro 1996:
fez a assistência para um golo na vitória sobre Itália
na fase de grupos, fez o famoso chapéu a Baía
que eliminou Portugal
nos quartos de final, foi um dos jogadores que converteram penáltis no
desempate por grandes penalidades com a França
nas meias-finais e sofreu uma falta que resultou num penálti e venceu o prémio
de homem no jogo na derrota com a Alemanha
na final.
Eleito, sem surpresa, para a
equipa ideal desse
Campeonato da Europa, valorizou-se de tal forma que foi imediatamente
contratado pelo Manchester
United, que pagou cerca de quatro milhões de euros pelo seu passe. No
entanto, sentiu dificuldades para se impor em Old Trafford, até porque na sua
posição preferencial, na ala direita do meio-campo, pontificava David Beckham.
Após vencer a Charity Shield
[Supertaça] em 1996 e a Premier
League em 1996-97 e também depois de ter ajudado a seleção
checa a alcançar um honroso 3.º lugar na Taça das Confederações 1997,
transferiu-se para o Benfica
nos últimos dias de 1997. A mudança revelou-se polémica porque os encarnados,
então presididos por Vale
e Azevedo, não pagaram o valor da transferência, o que motivou uma queixa
dos red
devils à FIFA. Desportivamente, e apesar da
instabilidade que o clube atravessava, Poborsky conseguiu mostrar a sua
genialidade, tendo assinado 17 golos e mais de 20 assistências em 112 jogos de
águia ao peito entre janeiro de 1998 e janeiro de 2001. Não ganhou qualquer
título, mas proporcionou momentos de magia, como o golo maradoniano ao Sp.
Braga a 15 de novembro de 1998.
“Os anos que passei em Lisboa
foram os melhores da minha carreira. Não apenas por causa do futebol, mas pela própria
vida que tinha em Lisboa. Foram três anos fantásticos e ainda hoje tenho
saudades”, admitiu ao Maisfutebol
em março de 2012, lamentando apenas não ter sido campeão.
Enquanto jogador do Benfica
marcou presença no Euro
2000, um torneio que não correu particularmente bem à República
Checa, eliminada na fase de grupos atrás de França
e Países
Baixos. Ainda assim, Poborsky marcou um golo na derrota diante da seleção
gaulesa na segunda jornada e fez uma assistência na vitória sobre a Dinamarca
no jogo de despedida. Em janeiro de 2001 assinou por
ano e meio pela Lazio,
numa altura em que o contrato com o Benfica
estava a seis meses de expirar, tendo ainda rendido pouco mais de um milhão de
euros aos cofres dos encarnados,
num processo que também envolveu uma queixa à FIFA, por atraso no pagamento da
transferência por parte dos italianos.
“Mudei-me no inverno, a meio da época, e inicialmente não queria sair do Benfica.
Mas o interesse deles era enorme”, confessou o extremo ao Flashscore
em maio de 2025. Em Roma ainda coincidiu alguns
meses com o compatriota Pavel Nedved – “foi a primeira vez que a jogar no
estrangeiro tinha outro checo no balneário” –, que depois se transferiu para a Juventus.
O ponto alto da sua passagem pelo emblema
laziale foi precisamente o seu último jogo, ao bisar numa vitória
sobre o até então líder Inter
de Milão (4-2), na última jornada da Serie
A em 2001-02, o que permitiu a Juvede Nedved ultrapassar os nerazzurri
e arrecadar o scudetto. “Até falámos no dia anterior. Ele disse-me que o
título seria decidido no dia seguinte e que, por isso, devia dar o meu melhor.
Respondi-lhe em tom de brincadeira: 'Não te preocupes, amanhã ganhamos, faço
dois golos e o scudetto é teu'. E depois aconteceu mesmo! Não me lembro
de ter marcado dois golos num jogo em qualquer outra altura, muito menos na Serie
A. O Pavel ligou-me logo a seguir ao jogo, do autocarro da equipa, onde
estavam a festejar o título”, recordou.
Com saudades de casa, mas ainda
com muito futebol nas pernas, voltou à República Checa durante o verão de 2002,
aos 30 anos, para assinar a custo zero pelo Sparta
Praga, tornando-se na altura no futebolista mais bem pago da liga checa. Em
pouco mais de três anos no clube totalizou 33 golos em 113 jogos e venceu dois
campeonatos (2002-03 e 2004-05) e uma taça (2003-04). Ainda com todas as qualidades
intactas, não só foi convocado para o Euro 2004
como ajudou a seleção
checa, com quatro assistências, a atingir as meias-finais do torneio. No final de 2005 regressou ao seu
primeiro clube, o Ceské Budejovice, então na II Liga checa. Ainda assim,
manteve-se nas escolhas do selecionador e foi convocado para o Mundial
2006, prova na qual a República
Checa não foi além da fase de grupos.
Despediu-se da seleção
após esse
Campeonato do Mundo, na altura como recordista de internacionalizações pelo
país
(118), e retirou-se cerca de um ano depois, no final de maio de 2007, aos 35
anos. Após pendurar as botas tem
trabalhado como dirigente. Já foi diretor técnico da seleção checa, presidente
da Associação Checa de Jogadores de Futebol e presidente do Ceské Budejovice.
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