O lateral raçudo que furou a greve no pós-Saltillo. Quem se lembra de Álvaro Magalhães?
Álvaro Magalhães somou 20 internacionalizações pela seleção A
Os mais novos lembram-se dele só
como treinador, nomeadamente como adjunto de José Antonio Camacho e depois de Giovanni
Trapattoni num Benfica
que venceu a Taça
de Portugal em 2003-04 e o título
nacional na época seguinte. Mas os mais velhos recordam-no como um lateral
esquerdo raçudo e ofensivo, o melhor do seu tempo no futebol português e um dos
mais capacitados também a nível europeu.
Nasceu em Cambres, concelho de
Lamego, distrito de Viseu, numa família de quatro irmãos filhos de um pai
militar e de uma mãe doméstica. O pai era portista, o irmão mais velho
benfiquista, mas era o Sporting
que mais mexia com o coração de Álvaro Magalhães, apesar de idolatrar Eusébio. Aos 14 anos ingressou nos Cracks
de Lamego, tendo feito parte de uma equipa que surpreendeu tudo e todos ao
sagrar-se campeã nacional de juvenis em 1977-78. Dois anos antes, a mesma
geração havia sido vice-campeã nacional de iniciados, tendo perdido a final frente
ao Belenenses. Valorizado, deu o salto para a Académica
aos 17 anos, no verão de 1978, tendo concluído a formação e iniciado o percurso
como sénior ao serviço dos estudantes.
Em 1980 ajudou a briosa
a subir à I
Divisão, mas no ano seguinte não conseguiu impedir a despromoção à II
Divisão. Apesar da descida de divisão,
valorizou-se e captou o interesse dos maiores clubes portugueses. O Sporting
e FC
Porto tentaram levá-lo, mas a boa relação entre o então conselheiro e
observador benfiquista Toni
e os responsáveis da Académica,
nomeadamente Mário Wilson, foi decisiva para levar o lateral esquerdo para a Luz.
Bem recebido no balneário do Benfica,
onde pontificavam nomes como Bento, Humberto Coelho, Shéu, João
Alves ou Chalana, Álvaro foi ganhando progressivamente o seu espaço na
equipa titular. Entre 1981 e 1990 amealhou 263 jogos e oito golos de águia ao
peito, tendo vencido quatro campeonatos (1982-83, 1983-84, 1986-87 e 1988-89),
quatro Taças
de Portugal (1982-83, 1984-85, 1985-86 e 1986-87) e duas Supertaças
Cândido de Oliveira (1985 e 1989), tendo ainda sido finalista vencido da Taça
UEFA em 1982-83 e da Taça
dos Campeões Europeus em 1987-88.
Pelo meio marcou presença no Euro
1984 e no Mundial 1986. No Campeonato da Europa disputado em França formou com
Fernando Chalana uma das melhores alas esquerdas do torneio, enquanto no
Campeonato do Mundo realizado no México tentou manter-se um pouco à parte das
polémicas em Saltillo,
tendo até sido um dos poucos jogadores que estiveram nessa fase final a não
fazer greve à seleção
nos meses que se seguiram. “Eu estava focado para ajudar sempre Portugal
a ganhar jogos e nunca me preocupei com as guerras individuais que existem não
só nos clubes, como na seleção.
O que eu queria era jogar, estando sempre atento ao que se passava”, contou à Tribuna
Expresso em setembro de 2020.
A partir da época 1988-89, quando
tinha apenas 28 anos, lesionou-se num músculo da perna esquerda, foi operado e quando
voltou não conseguiu recuperar o protagonismo que havia perdido. Sven-Göran
Eriksson, que tanto tinha apostado em Álvaro Magalhães durante a sua primeira
passagem pelo Benfica,
foi deixando-o repetidamente de fora das suas escolhas. “O Eriksson já não era
a mesma pessoa de quando chegou pela primeira vez. Porque da primeira vez ainda
era pobre, da segunda já era rico e como era rico já não era a mesma coisa e
deixou-se influenciar por algumas pessoas. No primeiro dia de apresentação, eu
como andei a recuperar com um homem do FC
Porto [José Neto], um ser humano de excelência, houve gente dentro do Benfica
que ficou ofendida. (…) A partir daí, já sabe como é isto do futebol, fizeram
tudo para que eu não jogasse. Deram uma informação errada ao Eriksson (…), que eu
tinha sido operado e ainda não estava recuperado”, recordou o antigo lateral
esquerdo, que não foi além de dois jogos disputados em 1989-90.
Nessa época ainda foi reintegrado
no plantel e chegou a ser preparado para jogar a final da Taça
dos Campeões Europeus diante do AC
Milan, mas “em cima da hora” Eriksson decidiu adaptar o central Samuel ao
lado esquerdo da defesa.
Apesar de ter mais um ano de
contrato com o Benfica,
rescindiu e assinou pelo Estrela
da Amadora, clube que representou em 1990-91, temporada marcada por uma fratura
num braço e pela despromoção à II
Liga. Após esse ano na Reboleira ainda
chegou a ter tudo acertado para um regresso à Académica,
mas o treinador José Rachão prescindiu dos seus serviços, pelo que Álvaro
acabou por assinar pelo Leixões,
tendo pendurado as botas em 1993, aos 32 anos, após dois anos com a camisola
dos matosinhenses
na II
Liga.
Um ano depois de encerrar a
carreira de futebolista, tornou-se treinador, tendo assumido o comando técnico
do Lusitânia
de Lourosa. Não atingiu o mesmo nível do que como jogador, mas fez alguns
bons trabalhos: deixou o Santa
Clara em primeiro lugar na sua série da II Divisão B quando saiu para o Desp.
Chaves a meio da época 1997-98, sagrou-se campeão da II
Liga pelo Gil
Vicente em 1998-99 e levou os barcelenses
a conseguir um fantástico quinto lugar na I
Liga na temporada seguinte, guiou a Naval às meias-finais da Taça
de Portugal em 2002-03 e venceu o campeonato angolano ao leme do Interclube
em 2010. Como adjunto (bastante ativo) no Benfica,
venceu uma Taça
de Portugal com Camacho em 2003-04 e o título
nacional com Trapattoni em 2004-05.
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