sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

O lateral raçudo que furou a greve no pós-Saltillo. Quem se lembra de Álvaro Magalhães?

Álvaro Magalhães somou 20 internacionalizações pela seleção A
Os mais novos lembram-se dele só como treinador, nomeadamente como adjunto de José Antonio Camacho e depois de Giovanni Trapattoni num Benfica que venceu a Taça de Portugal em 2003-04 e o título nacional na época seguinte. Mas os mais velhos recordam-no como um lateral esquerdo raçudo e ofensivo, o melhor do seu tempo no futebol português e um dos mais capacitados também a nível europeu.
 
Nasceu em Cambres, concelho de Lamego, distrito de Viseu, numa família de quatro irmãos filhos de um pai militar e de uma mãe doméstica. O pai era portista, o irmão mais velho benfiquista, mas era o Sporting que mais mexia com o coração de Álvaro Magalhães, apesar de idolatrar Eusébio.
 
Aos 14 anos ingressou nos Cracks de Lamego, tendo feito parte de uma equipa que surpreendeu tudo e todos ao sagrar-se campeã nacional de juvenis em 1977-78. Dois anos antes, a mesma geração havia sido vice-campeã nacional de iniciados, tendo perdido a final frente ao Belenenses.
 
Valorizado, deu o salto para a Académica aos 17 anos, no verão de 1978, tendo concluído a formação e iniciado o percurso como sénior ao serviço dos estudantes. Em 1980 ajudou a briosa a subir à I Divisão, mas no ano seguinte não conseguiu impedir a despromoção à II Divisão.
 
Apesar da descida de divisão, valorizou-se e captou o interesse dos maiores clubes portugueses. O Sporting e FC Porto tentaram levá-lo, mas a boa relação entre o então conselheiro e observador benfiquista Toni e os responsáveis da Académica, nomeadamente Mário Wilson, foi decisiva para levar o lateral esquerdo para a Luz.
 
Bem recebido no balneário do Benfica, onde pontificavam nomes como Bento, Humberto Coelho, Shéu, João Alves ou Chalana, Álvaro foi ganhando progressivamente o seu espaço na equipa titular. Entre 1981 e 1990 amealhou 263 jogos e oito golos de águia ao peito, tendo vencido quatro campeonatos (1982-83, 1983-84, 1986-87 e 1988-89), quatro Taças de Portugal (1982-83, 1984-85, 1985-86 e 1986-87) e duas Supertaças Cândido de Oliveira (1985 e 1989), tendo ainda sido finalista vencido da Taça UEFA em 1982-83 e da Taça dos Campeões Europeus em 1987-88.

 
Pelo meio marcou presença no Euro 1984 e no Mundial 1986. No Campeonato da Europa disputado em França formou com Fernando Chalana uma das melhores alas esquerdas do torneio, enquanto no Campeonato do Mundo realizado no México tentou manter-se um pouco à parte das polémicas em Saltillo, tendo até sido um dos poucos jogadores que estiveram nessa fase final a não fazer greve à seleção nos meses que se seguiram. “Eu estava focado para ajudar sempre Portugal a ganhar jogos e nunca me preocupei com as guerras individuais que existem não só nos clubes, como na seleção. O que eu queria era jogar, estando sempre atento ao que se passava”, contou à Tribuna Expresso em setembro de 2020.
 
A partir da época 1988-89, quando tinha apenas 28 anos, lesionou-se num músculo da perna esquerda, foi operado e quando voltou não conseguiu recuperar o protagonismo que havia perdido. Sven-Göran Eriksson, que tanto tinha apostado em Álvaro Magalhães durante a sua primeira passagem pelo Benfica, foi deixando-o repetidamente de fora das suas escolhas. “O Eriksson já não era a mesma pessoa de quando chegou pela primeira vez. Porque da primeira vez ainda era pobre, da segunda já era rico e como era rico já não era a mesma coisa e deixou-se influenciar por algumas pessoas. No primeiro dia de apresentação, eu como andei a recuperar com um homem do FC Porto [José Neto], um ser humano de excelência, houve gente dentro do Benfica que ficou ofendida. (…) A partir daí, já sabe como é isto do futebol, fizeram tudo para que eu não jogasse. Deram uma informação errada ao Eriksson (…), que eu tinha sido operado e ainda não estava recuperado”, recordou o antigo lateral esquerdo, que não foi além de dois jogos disputados em 1989-90.

 
Nessa época ainda foi reintegrado no plantel e chegou a ser preparado para jogar a final da Taça dos Campeões Europeus diante do AC Milan, mas “em cima da hora” Eriksson decidiu adaptar o central Samuel ao lado esquerdo da defesa.
 
Apesar de ter mais um ano de contrato com o Benfica, rescindiu e assinou pelo Estrela da Amadora, clube que representou em 1990-91, temporada marcada por uma fratura num braço e pela despromoção à II Liga.
 
Após esse ano na Reboleira ainda chegou a ter tudo acertado para um regresso à Académica, mas o treinador José Rachão prescindiu dos seus serviços, pelo que Álvaro acabou por assinar pelo Leixões, tendo pendurado as botas em 1993, aos 32 anos, após dois anos com a camisola dos matosinhenses na II Liga.
 
 
Um ano depois de encerrar a carreira de futebolista, tornou-se treinador, tendo assumido o comando técnico do Lusitânia de Lourosa. Não atingiu o mesmo nível do que como jogador, mas fez alguns bons trabalhos: deixou o Santa Clara em primeiro lugar na sua série da II Divisão B quando saiu para o Desp. Chaves a meio da época 1997-98, sagrou-se campeão da II Liga pelo Gil Vicente em 1998-99 e levou os barcelenses a conseguir um fantástico quinto lugar na I Liga na temporada seguinte, guiou a Naval às meias-finais da Taça de Portugal em 2002-03 e venceu o campeonato angolano ao leme do Interclube em 2010. Como adjunto (bastante ativo) no Benfica, venceu uma Taça de Portugal com Camacho em 2003-04 e o título nacional com Trapattoni em 2004-05.







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