O goleador do Tirsense que ainda deu um ar de sua graça no Benfica. Quem se lembra de Marcelo?
Marcelo deu o salto para o Benfica após brilhar no Tirsense
O melhor marcador de sempre do Tirsense
na I
Divisão, com 17 golos, e uma das figuras da boa equipa que o emblema
de Santo Tirso tinha na década de 1990. Um avançado nascido em Niterói, no
Brasil, mas desde tenra idade radicado em Portugal, o que levou até que o seu
nome fosse falado para a seleção
portuguesa, o que só não aconteceu porque António Oliveira não queria ter
na equipa
das quinas jogadores nascidos em terras de Vera Cruz.
Filho de pais portugueses, veio
viver para o nosso país aos 12 anos e fez grande parte da formação no Beira-Mar,
de onde se mudou para a Académica
ainda júnior. Porém, sempre sentiu dificuldades para se afirmar na equipa
principal dos estudantes. Só quando se transferiu para o Feirense,
em 1991-92, é que começou a mostrar veia goleadora nas ligas profissionais,
tendo nessa época apontado 12 golos na II
Liga. Seguiu-se o salto para o Gil
Vicente, então na I
Divisão, mas Marcelo também não conseguiu afirmar-se. Um mal que veio por
bem, pois no verão de 1993 rumou ao clube que lhe mudou a carreira, o Tirsense. Em 1993-94 apontou nove golos que
ajudaram os jesuítas
a conquistar o título de campeão da II
Liga. Na temporada seguinte ainda fez melhor no primeiro
escalão, com 17 remates certeiros no campeonato – apenas Hassan (do Farense,
com 21) e Domingos (do FC
Porto, com 19) fizeram melhor – que contribuíram para o honroso 8.º lugar que
a turma
de Santo Tirso alcançou. “A época de 1994-95 foi o grande embalo da minha
carreira”, recordou ao Maisfutebol
em abril de 2016.
“Havia muita qualidade nos
jogadores. Paredão, Batista, que passou pela seleção
brasileira, Cabral, Rui Manuel, Evandro, Giovanella,
Porfírio, Caetano… E depois, além de bons jogadores tínhamos grandes homens.
Jogadores de equipa. Formamos ali um grupo liderados por um grande treinador, o
Eurico Gomes”, prosseguiu, sublinhando que “era muito difícil a qualquer equipa”
passar no campo do Tirsense.
“O Tirsense
diz-me muito, marcou uma época muito produtiva da minha vida”, vincou. Na altura, o avançado foi
associado a uma possível chamada à seleção,
o que não chegou a avançar por decisão ideológica do selecionador: “O António
Oliveira, que, curiosamente, tinha sido meu treinador na Académica,
achou por bem não convocar um jogador nascido no Brasil. Três anos antes tive
de ir à inspeção militar! Portanto, tinha de cumprir os deveres em Portugal,
mas não tinha os direitos dos outros só porque nasci no Brasil? Na altura
fiquei um pouco magoado. A minha situação era diferente de outros jogadores.
Mesmo outros que vieram a jogar pela seleção
mais tarde não tinham nada a ver com o meu caso. O Dimas
nasceu na África do Sul e até veio para Portugal depois de mim e já para jogar
futebol. E sempre foi convocado. Eu quando vim nem sequer sabia que ia ser
jogador de futebol…”
Nem tudo foram obstáculos. A
excelente temporada em Santo Tirso levou-o para o Benfica,
pela mão do empresário Manuel
Barbosa. Na altura, o presidente Manuel Damásio e o treinador Artur
Jorge “estavam apostados em fazer uma mudança brusca no plantel que não
tinha ganho nada no ano anterior”, mas as coisas não correram bem, o que
motivou a saída precoce do técnico.
“A época anterior já tinha sido
negativa e com uma mudança brusca de jogadores demora algum tempo a haver uma
certa simbiose e automatismos entre todos. E depois acho que as coisas já não começaram
bem porque havia uma certa ideia negativa por causa do Artur
Jorge. Os sócios já não estavam de bem com o treinador. Só isso explica que
à terceira jornada o Artur Jorge tenha sido
despedido. É inconcebível, como se despede um treinador à terceira jornada?
Ganhámos um jogo, que até foi em Santo Tirso, e empatámos dois e ele foi logo
despedido”, lamentou, ainda que reconhecendo melhorias na equipa sob a
orientação de Mário Wilson.
“Na segunda parte da temporada a
equipa começou a jogar bem e a ter resultados. Só que nessa altura o FC
Porto já tinha uma vantagem considerável. Mas ficámos em segundo, na Taça
UEFA fomos eliminados pelo Bayern
Munique, que iria ganhar a prova e que tinha jogadores como o Lothar
Matthäus e o Klinsmann.
E ganhámos a Taça
de Portugal, frente ao Sporting.
É sempre um orgulho que tenho, porque fui o melhor marcador do Benfica
dessa época na Taça”,
lembrou o luso-brasileiro, autor de cinco golos na prova
rainha em 1995-96.
“Sentimos muitas dificuldades.
Repare, os treinos eram todos abertos. E não era aos sócios, era a quem
quisesse lá entrar. A imprensa sempre junto à linha de campo, qualquer
situação, positiva ou negativa, vinha logo nos jornais. Havia uma instabilidade
muito grande e nós jogadores sentimos isso. Sobretudo os jovens e os que vinham
de clubes menores, apanharam ali com a dimensão do Benfica,
com o grau de exigência e com a falta de proteção. Tornava-se complicado haver
performances positivas no campo. (…) Com uma mudança tão grande de jogadores, é
normal que os resultados não aparecessem logo. Não houve paciência, não houve
defesa dos jogadores contratados, sobretudo aqueles que vieram de clubes de
menor dimensão. Eu e o Paredão do Tirsense,
o Hassan do Farense,
que tinha sido o melhor marcador do campeonato, outros do Belenenses,
o Ricardo Gomes e o Valdo voltaram, mas já numa fase terminal da carreira.
Outros do estrangeiro, como Panduru e Iliev. Com a falta de paciência dos
sócios, havia muita pressão sobre os jogadores que, na verdade, não estavam
preparados para aquilo”, recordou.
No início da temporada seguinte,
a chegada de Paulo Autuori colocou um ponto final à passagem de Marcelo pela Luz.
“Ele queria os seus jogadores. Trouxe o Pringle para a minha posição. Queriam
emprestar-me, eu disse que se era para sair queria ser vendido e fui para o Alavés.
O Hassan ainda ficou e veio o Pringle. Acho que não ficou a ganhar. Ele
[Pringle] esteve umas duas ou três épocas no Benfica
e todos os golos somados não chegaram aos que eu marquei só num ano”, afirmou
Marcelo, que somou 13 remates certeiros de águia
ao peito, contra oito do sueco.
A aventura no Alavés,
então na II Liga espanhola, não correu particularmente bem. Seguiram-se cinco
épocas relativamente bem-sucedidas no segundo escalão de Inglaterra, o
Championship. Começou pelo Sheffield United, clube pelo qual marcou 32 golos em
83 jogos ao lado de vultos como Ian Rush e Steve Bruce.
Depois esteve dois anos no
Birmingham, emblema pelo qual faturou por 26 vezes em 91 partidas. E, por fim, esteve
meia temporada no Walsall, com menos sucesso.
No verão de 2002, numa altura em
que estava à beira de comemorar o 33.º aniversário, regressou a Portugal pela
porta da Académica.
Em duas épocas não foi além de um total de cinco golos em 35 encontros, mas
ajudou os estudantes
a assegurar a permanência tanto em 2002-03 como em 2003-04.
Depois pendurou as botas,
terminou o curso de engenharia civil e entrou na Ordem dos Engenheiros, mas em
2006 decidiu enveredar pela carreira de agente de futebolistas.
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