sexta-feira, 11 de outubro de 2024

O goleador do Tirsense que ainda deu um ar de sua graça no Benfica. Quem se lembra de Marcelo?

Marcelo deu o salto para o Benfica após brilhar no Tirsense
O melhor marcador de sempre do Tirsense na I Divisão, com 17 golos, e uma das figuras da boa equipa que o emblema de Santo Tirso tinha na década de 1990. Um avançado nascido em Niterói, no Brasil, mas desde tenra idade radicado em Portugal, o que levou até que o seu nome fosse falado para a seleção portuguesa, o que só não aconteceu porque António Oliveira não queria ter na equipa das quinas jogadores nascidos em terras de Vera Cruz.
 
Filho de pais portugueses, veio viver para o nosso país aos 12 anos e fez grande parte da formação no Beira-Mar, de onde se mudou para a Académica ainda júnior. Porém, sempre sentiu dificuldades para se afirmar na equipa principal dos estudantes.
 
Só quando se transferiu para o Feirense, em 1991-92, é que começou a mostrar veia goleadora nas ligas profissionais, tendo nessa época apontado 12 golos na II Liga.
 
Seguiu-se o salto para o Gil Vicente, então na I Divisão, mas Marcelo também não conseguiu afirmar-se. Um mal que veio por bem, pois no verão de 1993 rumou ao clube que lhe mudou a carreira, o Tirsense.
 
Em 1993-94 apontou nove golos que ajudaram os jesuítas a conquistar o título de campeão da II Liga. Na temporada seguinte ainda fez melhor no primeiro escalão, com 17 remates certeiros no campeonato – apenas Hassan (do Farense, com 21) e Domingos (do FC Porto, com 19) fizeram melhor – que contribuíram para o honroso 8.º lugar que a turma de Santo Tirso alcançou. “A época de 1994-95 foi o grande embalo da minha carreira”, recordou ao Maisfutebol em abril de 2016.
 
 
“Havia muita qualidade nos jogadores. Paredão, Batista, que passou pela seleção brasileira, Cabral, Rui Manuel, Evandro, Giovanella, Porfírio, Caetano… E depois, além de bons jogadores tínhamos grandes homens. Jogadores de equipa. Formamos ali um grupo liderados por um grande treinador, o Eurico Gomes”, prosseguiu, sublinhando que “era muito difícil a qualquer equipa” passar no campo do Tirsense. “O Tirsense diz-me muito, marcou uma época muito produtiva da minha vida”, vincou.
 
Na altura, o avançado foi associado a uma possível chamada à seleção, o que não chegou a avançar por decisão ideológica do selecionador: “O António Oliveira, que, curiosamente, tinha sido meu treinador na Académica, achou por bem não convocar um jogador nascido no Brasil. Três anos antes tive de ir à inspeção militar! Portanto, tinha de cumprir os deveres em Portugal, mas não tinha os direitos dos outros só porque nasci no Brasil? Na altura fiquei um pouco magoado. A minha situação era diferente de outros jogadores. Mesmo outros que vieram a jogar pela seleção mais tarde não tinham nada a ver com o meu caso. O Dimas nasceu na África do Sul e até veio para Portugal depois de mim e já para jogar futebol. E sempre foi convocado. Eu quando vim nem sequer sabia que ia ser jogador de futebol…”
 
 
Nem tudo foram obstáculos. A excelente temporada em Santo Tirso levou-o para o Benfica, pela mão do empresário Manuel Barbosa. Na altura, o presidente Manuel Damásio e o treinador Artur Jorge “estavam apostados em fazer uma mudança brusca no plantel que não tinha ganho nada no ano anterior”, mas as coisas não correram bem, o que motivou a saída precoce do técnico.
 
 
“A época anterior já tinha sido negativa e com uma mudança brusca de jogadores demora algum tempo a haver uma certa simbiose e automatismos entre todos. E depois acho que as coisas já não começaram bem porque havia uma certa ideia negativa por causa do Artur Jorge. Os sócios já não estavam de bem com o treinador. Só isso explica que à terceira jornada o Artur Jorge tenha sido despedido. É inconcebível, como se despede um treinador à terceira jornada? Ganhámos um jogo, que até foi em Santo Tirso, e empatámos dois e ele foi logo despedido”, lamentou, ainda que reconhecendo melhorias na equipa sob a orientação de Mário Wilson.
 
 
“Na segunda parte da temporada a equipa começou a jogar bem e a ter resultados. Só que nessa altura o FC Porto já tinha uma vantagem considerável. Mas ficámos em segundo, na Taça UEFA fomos eliminados pelo Bayern Munique, que iria ganhar a prova e que tinha jogadores como o Lothar Matthäus e o Klinsmann. E ganhámos a Taça de Portugal, frente ao Sporting. É sempre um orgulho que tenho, porque fui o melhor marcador do Benfica dessa época na Taça”, lembrou o luso-brasileiro, autor de cinco golos na prova rainha em 1995-96.
 
 
“Sentimos muitas dificuldades. Repare, os treinos eram todos abertos. E não era aos sócios, era a quem quisesse lá entrar. A imprensa sempre junto à linha de campo, qualquer situação, positiva ou negativa, vinha logo nos jornais. Havia uma instabilidade muito grande e nós jogadores sentimos isso. Sobretudo os jovens e os que vinham de clubes menores, apanharam ali com a dimensão do Benfica, com o grau de exigência e com a falta de proteção. Tornava-se complicado haver performances positivas no campo. (…) Com uma mudança tão grande de jogadores, é normal que os resultados não aparecessem logo. Não houve paciência, não houve defesa dos jogadores contratados, sobretudo aqueles que vieram de clubes de menor dimensão. Eu e o Paredão do Tirsense, o Hassan do Farense, que tinha sido o melhor marcador do campeonato, outros do Belenenses, o Ricardo Gomes e o Valdo voltaram, mas já numa fase terminal da carreira. Outros do estrangeiro, como Panduru e Iliev. Com a falta de paciência dos sócios, havia muita pressão sobre os jogadores que, na verdade, não estavam preparados para aquilo”, recordou.
 
 
No início da temporada seguinte, a chegada de Paulo Autuori colocou um ponto final à passagem de Marcelo pela Luz. “Ele queria os seus jogadores. Trouxe o Pringle para a minha posição. Queriam emprestar-me, eu disse que se era para sair queria ser vendido e fui para o Alavés. O Hassan ainda ficou e veio o Pringle. Acho que não ficou a ganhar. Ele [Pringle] esteve umas duas ou três épocas no Benfica e todos os golos somados não chegaram aos que eu marquei só num ano”, afirmou Marcelo, que somou 13 remates certeiros de águia ao peito, contra oito do sueco.
 
 
A aventura no Alavés, então na II Liga espanhola, não correu particularmente bem. Seguiram-se cinco épocas relativamente bem-sucedidas no segundo escalão de Inglaterra, o Championship. Começou pelo Sheffield United, clube pelo qual marcou 32 golos em 83 jogos ao lado de vultos como Ian Rush e Steve Bruce.
 
 
Depois esteve dois anos no Birmingham, emblema pelo qual faturou por 26 vezes em 91 partidas. E, por fim, esteve meia temporada no Walsall, com menos sucesso.
 
 
No verão de 2002, numa altura em que estava à beira de comemorar o 33.º aniversário, regressou a Portugal pela porta da Académica. Em duas épocas não foi além de um total de cinco golos em 35 encontros, mas ajudou os estudantes a assegurar a permanência tanto em 2002-03 como em 2003-04.
 
 
Depois pendurou as botas, terminou o curso de engenharia civil e entrou na Ordem dos Engenheiros, mas em 2006 decidiu enveredar pela carreira de agente de futebolistas.
 
 



 




Sem comentários:

Enviar um comentário