sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Onze ideal de jogadores que passaram por Vitória FC e Torreense

Vitória de Setúbal e Torreense medem forças na Liga 3
Dois clubes que já andaram entre a elite do futebol português e que estão entre os principais candidatos a discutir os primeiros lugares da fase regular da Zona Sul da Liga 3, Vitória de Setúbal e Torreense coincidiram em cinco temporadas na I Divisão, todas nas décadas de 1950 e 1960.
 
Embora os sadinos tenham um peso histórico muito maior, ambos os emblemas fazem parte do restrito lote de participantes em finais da Taça de Portugal e perfilam-se como o expoente máximo das respetivas regiões – Península de Setúbal e Oeste.
 
Ao longo desse percurso, o Vitória tem tido nos seus quadros jogadores que já tinham pertencido ao Torreense e vice-versa. Vale por isso a pena conferir o nosso onze ideal de futebolistas que passaram pelos dois clubes, distribuídos em campo num sistema de 4x4x2 losango.
 

Nélson (guarda-redes)

Nélson
Não foi fácil escolher o guarda-redes deste onze. O antigo guardião internacional português Pedro Espinha também representou os dois clubes, tendo tido no Torreense o clube que o catapultou para a I Divisão e no Vitória de Setúbal a última aventura da carreira.
Porém, não está tão associado a um dos emblemas como Nélson ao conjunto de Torres Vedras. Com toda a formação feita no Torreense, transitou para a equipa principal em 1994-95 e na temporada seguinte conquistou a titularidade, tendo em 1997 reforçado o Sporting.
“Entrei no clube aos 10 anos e saí para o Sporting com 21. O Torreense era a referência na nossa região e qualquer miúdo ambicionava jogar aqui. Por isso, o clube conseguia recrutar os melhores jovens jogadores da zona Oeste. Até os nossos pais estavam descansados porque, depois dos treinos e jogos, iam-nos levar a casa. Fazíamos sempre equipas muito competitivas e mesmo nos jogos com os grandes de Lisboa, tínhamos grandes prestações. A nossa região sempre teve muito talento e o Torreense foi sabendo aproveitar”, afirmou ao portal Curiosidades Sobre o Torreense em novembro de 2020.
Em Alvalade sagrou-se campeão nacional por duas vezes, venceu uma Taça de Portugal e catapultou-se para a seleção nacional, tendo somado três internacionalizações e marcado presença no Mundial 2002.
Após nove anos no Sporting, ficou livre e acabou por assinar pelo Vitória de Setúbal já com a época 2006-07 a decorrer. No espaço de três meses atuou em oito jogos e sofreu 16 golos em todas as competições.
 
 
 

Dito (defesa central)

Dito
Mais um internacional português, que neste caso representou tanto o Vitória como o Torreense já na curva descendente da carreira. Após despontar no Sp. Braga, chegar à seleção nacional e vestir as camisolas de Benfica e FC Porto, foi titularíssimo no eixo da defesa sadina entre 1989 e 1991, tendo jogado 72 vezes pelo clube, embora não tivesse conseguido evitar a despromoção à II Liga em 1991.
Mais tarde, em 1994-95, assinou pelo emblema de Torres Vedras, numa fase em que já tinha 32 anos. Na única temporada que passou no Campo Manuel Marques participou em 20 encontros na II Liga e marcou um golo ao Felgueiras, mostrando-se impotente para impedir a despromoção à II Divisão B.
 
 

Paulo Filipe (defesa central)

Paulo Filipe
Jogador polivalente, capaz de atuar como central, lateral direito e médio defensivo, entra nestas contas enquanto jogador do eixo da linha mais recuada.
Produto da formação sadina e internacional sub-18 por Portugal, transitou para a equipa principal em 1997-98, mas foi na época seguinte, que ficou marcada pelo primeiro apuramento do Vitória para as competições europeias em um quarto de século, que se conseguiu afirmar. Nas duas temporadas que se seguiram perdeu algum espaço, mas entre 1997 e 2001 amealhou 71 jogos e dois golos com a camisola verde e branca, a maior parte na I Liga.
Após uma passagem pelo Sp. Espinho, representou o Torreense entre 2002 e 2005, tendo atuado em 62 encontros e apontado seis golos em todas as competições pela formação da região Oeste, que na altura militava na II Divisão B.
 
 

Janício (lateral direito)

Janício
Lateral direito cabo-verdiano, entrou no futebol português pela porta no Estrela da Amadora, mas foi no Torreense que começou a jogar com regularidade, na altura na antiga II Divisão B. Ao longo de três temporadas amealhou 84 jogos em todas as competições pelo emblema de Torres Vedras.
Valorizado, tornou-se internacional A por Cabo Verde em junho de 2004 e deu o salto para o Vitória de Setúbal um ano depois, numa altura em que os sadinos tinham perdido de uma assentada as três opções para a lateral direita (Éder, Ricardo Pessoa e Manuel José).
O lateral africano chegou ao Bonfim como um desconhecido, mas foi titular indiscutível durante as quatro temporadas que passou no clube, participando na caminhada até ao Jamor em 2005-06 e na conquista da Taça da Liga em 2007-08. Saiu para os cipriotas do Anorthosis no verão de 2009, despedindo-se sem qualquer golo marcado com a camisola verde e branca. “Ainda hoje tinha lugar no Vitória de Setúbal, não fosse um mal-entendido e nunca tinha saído de lá. Até hoje ainda não vi ninguém melhor. Recusei o FC Porto quando estava lá”, afirmou ao Maisfutebol em abril de 2017.
 
 
 

Rui André (lateral esquerdo)

Rui André
Defesa nascido na localidade francesa de Créteil, radicou-se em Bragança quando ainda era uma criança e foi precisamente do Grupo Desportivo Bragança que saiu para o Torreense no verão de 1994, numa altura em que a formação da região Oeste militava na II Liga.
Maioritariamente titular, amealhou 64 partidas e um golo pelo clube de Torres Vedras ao longo de três temporadas, as duas últimas já na II Divisão B.
Entretanto voltou a Trás-os-Montes para representar Vila Real e Bragança, tendo regressado às ligas profissionais para vestir a camisola do Varzim e, posteriormente, a do Vitória de Setúbal, clube que lhe deu a oportunidade de jogar na I Liga.
Entre 2001 e 2004 totalizou 43 partidas pelos sadinos em todas as provas, embora tivesse vivido maioritariamente na sombra de jogadores como Fernando Mendes, Nélson ou Bruno Ribeiro. Em 2002-03 mostrou-se impotente para evitar a descida à II Liga, mas na época seguinte contribuiu para o regresso ao primeiro escalão.
 
 

Teixeira (médio defensivo)

Teixeira
Jogador polivalente, capaz de atuar como lateral direito e médio defensivo, nasceu em Luanda, mas radicou-se em Portugal ainda em tenra idade. Em termos futebolísticos fez a formação no Vitória de Setúbal, tendo transitado para a equipa principal em 1982.
Embora nem sempre muito utilizado, atuou em mais de 30 encontros oficiais até 1986 e tornou-se internacional sub-21 e olímpico, despedindo-se do Bonfim com uma descida à II Divisão que interrompeu uma sequência de 24 anos consecutivos no primeiro escalão.
Entretanto viveu os melhores anos da carreira ao serviço do Belenenses entre 1986 e 1995, tendo conquistado uma Taça de Portugal e jogado nas competições europeias.
Já na fase descendente da carreira e depois de uma aventura no Felgueiras, vestiu a camisola do Torreense entre 1996 e 1999, tendo participado em mais de 90 jogos, apontado 13 golos, feito parte da história eliminação do FC Porto em pleno Estádio das Antas e vivido uma subida à II Liga e uma descida à II Divisão B.
Haveria de falecer em maio de 2017, aos 53 anos, vítima de doença prolongada.
 
 
 

Roçadas (médio centro)

Roçadas
Médio nascido em Leiria, chegou à formação do Torreense em 1974 e integrou a equipa principal em 1976-77, época em que ainda tinha idade de júnior e em que a formação de Torres Vedras desceu da II Divisão à III Divisão Nacional.
Após passagens por Vasco da Gama de Sines e Portimonense, ingressou pela primeira vez no Vitória de Setúbal em 1983 e teve impacto imediato na equipa, ao ponto de ter sido utilizado em cerca de 50 partidas e apontado mais do que dez golos no espaço de duas épocas.
Em 1985-86 representou o Marítimo, mas na temporada seguinte voltou ao Bonfim para contribuir com 13 golos para a subida dos sadinos à I Divisão – numa campanha que lhe valeu chamadas às seleções sub-21 e olímpica –, patamar em que disputou 68 encontros e marcou sete golos no primeiro escalão.
No verão de 1989 emigrou para Inglaterra, onde representou o Sheffield Wednesday. Foi dos primeiros jogadores portugueses a atuar no futebol britânico.
 
 
 

Rui Esteves (médio centro)

Rui Esteves
Médio formado no Real Benfica, assinou pelo Torreense na primeira época de sénior, 1985-86, mas não chegou a ser utilizado em jogos oficiais.
Entretanto rumou ao Algarve, tendo representado Olhanense, Louletano e Farense antes de voltar a Torres Vedras em 1992-93, afirmando-se numa equipa que tinha acabado de descer à II Liga, tendo atuado em 32 jogos (30 a titular) e apontado sete golos em todas as competições.
Os bons desempenhos permitiram-lhe dar o salto para o Vitória de Setúbal. “Evidenciei-me no Torreense, eu e vários atletas e cada um foi para seu sítio. Para o Vitória veio comigo o Rosário. E há uma situação muito engraçada, porque nesse ano para subir de divisão estavam o Estrela da Amadora e o Vitória de Setúbal. E o último jogo do Torreense é aqui em Setúbal com o Vitória, que tinha de ganhar para subir à I Divisão. Eu já tinha assinado com o Vitória e na semana antes do jogo chamei o presidente do Torreense e o treinador, prof. Rui Mâncio, e disse-lhes: ‘Eu não quero jogar este jogo. Vocês multem-me, tirem-me o salário, eu não quero receber o meu ordenado, mas estou a ser sincero, eu no próximo ano quero jogar na I Divisão por isso quero que o Vitória ganhe o jogo. Querem que eu vá para o estádio fazer figura de quê se eu quero que o Vitória ganhe ao Torreense?’. Expus de tal maneria o problema que eles entenderam perfeitamente. Disse a verdade. E pronto, rescindi o contrato na hora e fui-me embora. Fui honesto”, revelou à Tribuna Expresso em outubro de 2018.
Embora só tenha estado um ano a vestir de verde e branco, aproveitou muito bem a temporada 1993-94 e o início da que se seguiu, ao participar em 32 encontros e faturar por três vezes, ajudando os sadinos a concluir o campeonato de 1993-94 da I Divisão em 6.º lugar.
No verão de 1994 deu o salto para o Benfica, mas nunca se impôs de águia ao peito.
Em 1995-96 esteve perto de voltar a jogar pelo clube de Setúbal, cidade onde continuou a viver, mas um volte-face de última hora empurrou-o para o Belenenses. “Estava já aqui e chego a acordo com o Vitória de Setúbal. Era o Quinito o diretor do futebol. Entretanto, estava no Algarve de férias, sossegadinho, e aparece num jornal: ‘Rui Esteves já não fica no Vitória’. Por causa de uma entrevista qualquer que eu tinha dado. Já não sei o que disse nessa entrevista, mas as pessoas interpretaram mal as coisas porque eu sempre quis voltar ao Vitória. Cheguei aqui e percebi que não era bem isso, que utilizaram a situação porque o treinador na altura não queria ficar comigo. Havia um jogador que era o Stepanovic, que vinha do Farense, e o treinador dizia que eu era igual a ele. Foi por aí. Mas arranjaram a desculpa da entrevista. Tudo bem, tranquilo. O João Alves soube o que se tinha passado e convidou-me para o Belenenses”, contou.
Mais tarde, como treinador, orientou o Torreense entre março e dezembro de 2007. “No Torreense saio de treinador porque o presidente queria mandar meia dúzia de jogadores embora, os que ele achava que não tinham qualidade. Recebi a ameaça de que no treino a seguir tinha que mandar seis jogadores embora e, como não concordei, nem sequer apareci no treino. Foi mesmo assim: ‘Vai ficar a falar sozinho’. E ficou. Depois quis reunir comigo, mas eu não quis”, recordou.
 
 

Baltazar (médio ofensivo)

Baltazar
Médio ofensivo natural de Castelo Branco, internacional jovem português e que jogou ao lado de Fernando Mendes, Litos e Futre na formação do Sporting, mudou-se para o Vitória de Setúbal em 1985-86, tendo participado em 16 jogos e marcado um golo em todas as competições numa época marcada pela descida à II Divisão após 25 anos no primeiro escalão.
Entretanto passou por União da Madeira, Académica e Olivais e Moscavide antes de ingressar no Torreense no verão de 1989. Se no Bonfim ficou associado a uma despromoção que há muito não acontecia, em 1991 ficou ligado ao regresso do emblema de Torres Vedras à I Divisão ao fim de 26 anos de ausência. Ao longo de quatro temporadas no emblema da região Oeste, totalizou 141 encontros e 23 golos nas várias competições (II Divisão, II Liga, I Divisão e Taça de Portugal).
 
 

Rosário (avançado)

Rosário
Extremo de baixa estatura (1,65 m) natural de Castanheira do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, chegou pela primeira vez ao Torreense no verão de 1987, proveniente do Monte Agraço, saltando assim dos distritais da AF Lisboa para um clube importante na II Divisão Nacional.
Em 1990-91, sete anos após ter deixado de jogar na III Divisão Distrital, ajudou com onze golos o emblema de Torres Vedras a regressar à I Divisão depois de quase três décadas de ausência. Na temporada seguinte apontou idêntico número de golos no patamar maior do futebol português, mas sofreu uma lesão na fase final da época e foi impotente para evitar a descida à II Liga.
Haveria ainda de realizar uma boa época no segundo escalão para encerrar um bonito ciclo de 172 jogos e 64 golos em seis anos na formação da região Oeste antes de se mudar para o Vitória de Setúbal no verão de 1993.
No Bonfim não foi tão feliz, não indo além de 38 encontros e seis remates certeiros ao longo de duas temporadas, não conseguindo evitar a descida à II Liga em 1995, na despedida do clube.
 
 
 

João Mendonça (avançado)

João Mendonça
Avançado nascido em Luanda e irmão dos também avançados Fernando Mendonça, que jogou no Sporting, no Torreense e no Sp. Braga, e Jorge Mendonça, que passou por Sp. Braga, Atlético Madrid e Barcelona, ingressou no Vitória de Setúbal em 1953-54, temporada em que causou boa impressão ao apontar 13 golos na I Divisão e participar na caminhada até à final da Taça de Portugal.
Apesar do bom registo, foi para a II Divisão ajudar o Torreense a subir pela primeira vez à I Divisão, tendo apontado um dos golos na vitória fora sobre o Leões de Santarém (2-0) que garantiu a promoção à elite do futebol português.
Seguiram-se mais duas épocas de bom nível ao serviço da formação de Torres Vedras no primeiro escalão, contribuindo para as melhores classificações de sempre do clube – o 7.º lugar em 1955-56 e 1956-57 – com um total de 24 golos, o que lhe dá a liderança na lista de melhores marcadores de sempre com a camisola grená na I Divisão. Em 1955-56 voltou a contribuir para um dos momentos mais altos da história do emblema do Oeste, a caminhada até à final da Taça de Portugal.
Após uma passagem de um ano pelo Sp. Braga, voltaria a representar o Vitória de Setúbal entre 1958 e 1960 no patamar maior do futebol nacional, não conseguindo evitar a descida à II Divisão em 1959-60.
 
 

José Rachão (treinador)

José Rachão
Antigo médio, chegou a jogar pelo Vitória de Setúbal em 1977-78, numa altura em que os sadinos ainda estavam de pedra e cal na I Divisão, apesar de estarem a perder algum do fulgor ganho na década anterior.
Na década seguinte tornou-se treinador, mas teve de esperar para 20 anos para treinar Torreense e Vitória de Setúbal. A Torres Vedras chegou em 2003-04, tendo ficado perto de subir à II Liga.
A meio da época seguinte, quando a formação da região Oeste até nem vinha a fazer um grande campeonato, foi recrutado pelo Vitória de Setúbal para suceder a José Couceiro, que tinha rumado ao FC Porto. Em termos de campeonato limitou-se a confirmar a permanência, que estava bastante encaminhada, mas foi na Taça de Portugal que fez história, ao guiar os setubalenses à conquista do seu terceiro troféu, com vitória sobre o recém-coroado campeão nacional Benfica no Jamor (2-1). “Ninguém ganha nada sozinho. Enalteço o valor dos jogadores, a administração, os sócios – disse sempre que esta vitória era para os sócios do Vitória. Divido este êxito também com os jogadores que não subiram ao relvado no Jamor e também com o José Couceiro que fez três eliminatórias, pois bateu o Pedras Rubras, o Académico Viseu e o Vitória de Guimarães… Eu fiz os três melhores bês do campeonato: Sp. Braga, Boavista e Benfica”, contou ao Record.
Após o triunfo no Estádio Nacional, foi-lhe proposto o comando técnico da… equipa B, acabando por deixar o Vitória para dar o lugar a Luís Norton de Matos. “Saio sentido, magoado não. É verdade que já sabia que provavelmente não ia continuar, ainda para mais depois de tudo o que se disse no último mês e meio. Mas depois de tudo aquilo que conquistei e sabendo que os treinadores normalmente estão dependentes de resultados… Se eu os consegui, não fazia sentido que saísse. Daí ter alimentado a esperança que pudesse continuar como treinador do Vitória. Agora, dizer que estou magoado? Com o Vitória nunca. Só posso agradecer ao Vitória tudo o que me deu. Isto para mim é um até já, porque quando o clube voltar a precisar de mim volto a correr. Depois do que vivi no Estádio Nacional, na Praça do Bocage, o Vitória ficou para sempre gravado no meu coração”, confessou.
 
 















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