Vitória de Setúbal e Torreense medem forças na Liga 3 |
Dois clubes que já andaram entre
a elite
do futebol português e que estão entre os principais candidatos a discutir
os primeiros lugares da fase regular da Zona Sul da Liga 3, Vitória
de Setúbal e Torreense
coincidiram em cinco temporadas na I
Divisão, todas nas décadas de 1950 e 1960.
Embora os sadinos
tenham um peso histórico muito maior, ambos os emblemas fazem parte do restrito
lote de participantes em finais da Taça
de Portugal e perfilam-se como o expoente máximo das respetivas regiões – Península
de Setúbal e Oeste.
Ao longo desse percurso, o Vitória
tem tido nos seus quadros jogadores que já tinham pertencido ao Torreense
e vice-versa. Vale por isso a pena conferir o nosso onze ideal de futebolistas
que passaram pelos dois clubes, distribuídos em campo num sistema de 4x4x2
losango.
Nélson (guarda-redes)
Nélson |
Não foi fácil escolher o
guarda-redes deste onze. O antigo guardião internacional português Pedro
Espinha também representou os dois clubes, tendo tido no Torreense
o clube que o catapultou para a I
Divisão e no Vitória
de Setúbal a última aventura da carreira.
Porém, não está tão associado a
um dos emblemas como Nélson ao conjunto
de Torres Vedras. Com toda a formação feita no Torreense,
transitou para a equipa principal em 1994-95 e na temporada seguinte conquistou
a titularidade, tendo em 1997 reforçado o Sporting.
“Entrei no clube aos 10 anos e
saí para o Sporting com
21. O Torreense era
a referência na nossa região e qualquer miúdo ambicionava jogar aqui. Por isso,
o clube conseguia recrutar os melhores jovens jogadores da zona
Oeste. Até os nossos pais estavam descansados porque, depois dos treinos e
jogos, iam-nos levar a casa. Fazíamos sempre equipas muito competitivas e mesmo
nos jogos com os grandes de Lisboa, tínhamos grandes prestações. A nossa região
sempre teve muito talento e o Torreense foi
sabendo aproveitar”, afirmou ao portal Curiosidades
Sobre o Torreense em novembro de 2020.
Em Alvalade
sagrou-se campeão nacional por duas vezes, venceu uma Taça
de Portugal e catapultou-se para a seleção nacional, tendo somado três
internacionalizações e marcado presença no Mundial
2002.
Após nove anos no Sporting,
ficou livre e acabou por assinar pelo Vitória
de Setúbal já com a época 2006-07 a decorrer. No espaço de três meses atuou
em oito jogos e sofreu 16 golos em todas as competições.
Dito (defesa central)
Dito |
Mais um internacional português,
que neste caso representou tanto o Vitória
como o Torreense
já na curva descendente da carreira. Após despontar no Sp.
Braga, chegar à seleção nacional e vestir as camisolas de Benfica
e FC
Porto, foi titularíssimo no eixo da defesa sadina
entre 1989 e 1991, tendo jogado 72 vezes pelo clube, embora não tivesse
conseguido evitar a despromoção à II
Liga em 1991.
Mais tarde, em 1994-95, assinou
pelo emblema
de Torres Vedras, numa fase em que já tinha 32 anos. Na única temporada que
passou no Campo
Manuel Marques participou em 20 encontros na II
Liga e marcou um golo ao Felgueiras,
mostrando-se impotente para impedir a despromoção à II Divisão B.
Paulo Filipe (defesa central)
Paulo Filipe |
Jogador polivalente, capaz de
atuar como central, lateral direito e médio defensivo, entra nestas contas
enquanto jogador do eixo da linha mais recuada.
Produto da formação
sadina e internacional sub-18 por Portugal, transitou para a equipa
principal em 1997-98, mas foi na época seguinte, que ficou marcada pelo
primeiro apuramento do Vitória
para as competições europeias em um quarto de século, que se conseguiu afirmar.
Nas duas temporadas que se seguiram perdeu algum espaço, mas entre 1997 e 2001
amealhou 71 jogos e dois golos com a camisola
verde e branca, a maior parte na I
Liga.
Após uma passagem pelo Sp.
Espinho, representou o Torreense
entre 2002 e 2005, tendo atuado em 62 encontros e apontado seis golos em todas
as competições pela formação
da região Oeste, que na altura militava na II Divisão B.
Janício (lateral direito)
Janício |
Lateral direito cabo-verdiano,
entrou no futebol português pela porta no Estrela
da Amadora, mas foi no Torreense
que começou a jogar com regularidade, na altura na antiga II Divisão B. Ao
longo de três temporadas amealhou 84 jogos em todas as competições pelo emblema
de Torres Vedras.
Valorizado, tornou-se
internacional A por Cabo
Verde em junho de 2004 e deu o salto para o Vitória
de Setúbal um ano depois, numa altura em que os sadinos
tinham perdido de uma assentada as três opções para a lateral direita (Éder,
Ricardo Pessoa e Manuel José).
O lateral africano chegou ao Bonfim
como um desconhecido, mas foi titular indiscutível durante as quatro temporadas
que passou no clube, participando na caminhada até ao Jamor em 2005-06 e na
conquista da Taça
da Liga em 2007-08. Saiu para os cipriotas do Anorthosis no verão de 2009,
despedindo-se sem qualquer golo marcado com a camisola
verde e branca. “Ainda hoje tinha lugar no Vitória
de Setúbal, não fosse um mal-entendido e nunca tinha saído de lá. Até hoje
ainda não vi ninguém melhor. Recusei o FC
Porto quando estava lá”, afirmou ao Maisfutebol em
abril de 2017.
Rui André (lateral esquerdo)
Rui André |
Defesa nascido na localidade
francesa de Créteil, radicou-se em Bragança quando ainda era uma criança e foi
precisamente do Grupo Desportivo Bragança que saiu para o Torreense
no verão de 1994, numa altura em que a formação
da região Oeste militava na II
Liga.
Maioritariamente titular,
amealhou 64 partidas e um golo pelo clube
de Torres Vedras ao longo de três temporadas, as duas últimas já na II
Divisão B.
Entretanto voltou a
Trás-os-Montes para representar Vila Real e Bragança, tendo regressado às ligas
profissionais para vestir a camisola do Varzim e, posteriormente, a do Vitória
de Setúbal, clube que lhe deu a oportunidade de jogar na I
Liga.
Entre 2001 e 2004 totalizou 43
partidas pelos sadinos
em todas as provas, embora tivesse vivido maioritariamente na sombra de jogadores
como Fernando Mendes, Nélson ou Bruno Ribeiro. Em 2002-03 mostrou-se impotente
para evitar a descida à II
Liga, mas na época seguinte contribuiu para o regresso ao primeiro
escalão.
Teixeira (médio defensivo)
Teixeira |
Jogador polivalente, capaz de
atuar como lateral direito e médio defensivo, nasceu em Luanda, mas radicou-se
em Portugal ainda em tenra idade. Em termos futebolísticos fez a formação no Vitória
de Setúbal, tendo transitado para a equipa principal em 1982.
Embora nem sempre muito
utilizado, atuou em mais de 30 encontros oficiais até 1986 e tornou-se
internacional sub-21 e olímpico, despedindo-se do Bonfim
com uma descida à II Divisão que interrompeu uma sequência de 24 anos
consecutivos no primeiro
escalão.
Entretanto viveu os melhores anos
da carreira ao serviço do Belenenses
entre 1986 e 1995, tendo conquistado uma Taça
de Portugal e jogado nas competições europeias.
Já na fase descendente da
carreira e depois de uma aventura no Felgueiras,
vestiu a camisola do Torreense
entre 1996 e 1999, tendo participado em mais de 90 jogos, apontado 13 golos,
feito parte da história eliminação do FC
Porto em pleno Estádio das Antas e vivido uma subida à II
Liga e uma descida à II Divisão B.
Haveria de falecer em maio de
2017, aos 53 anos, vítima de doença prolongada.
Roçadas (médio centro)
Roçadas |
Médio nascido em Leiria, chegou à
formação do Torreense
em 1974 e integrou a equipa principal em 1976-77, época em que ainda tinha
idade de júnior e em que a formação
de Torres Vedras desceu da II Divisão à III Divisão Nacional.
Após passagens por Vasco
da Gama de Sines e Portimonense,
ingressou pela primeira vez no Vitória
de Setúbal em 1983 e teve impacto imediato na equipa, ao ponto de ter sido
utilizado em cerca de 50 partidas e apontado mais do que dez golos no espaço de
duas épocas.
Em 1985-86 representou o
Marítimo, mas na temporada seguinte voltou ao Bonfim
para contribuir com 13 golos para a subida dos sadinos
à I
Divisão – numa campanha que lhe valeu chamadas às seleções sub-21 e
olímpica –, patamar em que disputou 68 encontros e marcou sete golos no primeiro
escalão.
No verão de 1989 emigrou para
Inglaterra, onde representou o Sheffield Wednesday. Foi dos primeiros jogadores
portugueses a atuar no futebol britânico.
Rui Esteves (médio centro)
Rui Esteves |
Médio formado no Real Benfica,
assinou pelo Torreense
na primeira época de sénior, 1985-86, mas não chegou a ser utilizado em jogos
oficiais.
Entretanto rumou ao Algarve,
tendo representado Olhanense,
Louletano
e Farense
antes de voltar a Torres Vedras em 1992-93, afirmando-se numa equipa que tinha
acabado de descer à II
Liga, tendo atuado em 32 jogos (30 a titular) e apontado sete golos em
todas as competições.
Os bons desempenhos
permitiram-lhe dar o salto para o Vitória
de Setúbal. “Evidenciei-me no Torreense,
eu e vários atletas e cada um foi para seu sítio. Para o Vitória
veio comigo o Rosário. E há uma situação muito engraçada, porque nesse ano para
subir de divisão estavam o Estrela
da Amadora e o Vitória
de Setúbal. E o último jogo do Torreense
é aqui em Setúbal com o Vitória,
que tinha de ganhar para subir à I
Divisão. Eu já tinha assinado com o Vitória
e na semana antes do jogo chamei o presidente do Torreense
e o treinador, prof. Rui Mâncio, e disse-lhes: ‘Eu não quero jogar este jogo.
Vocês multem-me, tirem-me o salário, eu não quero receber o meu ordenado, mas
estou a ser sincero, eu no próximo ano quero jogar na I
Divisão por isso quero que o Vitória
ganhe o jogo. Querem que eu vá para o estádio fazer figura de quê se eu quero
que o Vitória
ganhe ao Torreense?’.
Expus de tal maneria o problema que eles entenderam perfeitamente. Disse a
verdade. E pronto, rescindi o contrato na hora e fui-me embora. Fui honesto”,
revelou à Tribuna
Expresso em outubro de 2018.
Embora só tenha estado um ano a
vestir de verde
e branco, aproveitou muito bem a temporada 1993-94 e o início da que se
seguiu, ao participar em 32 encontros e faturar por três vezes, ajudando os sadinos
a concluir o campeonato de 1993-94 da I
Divisão em 6.º lugar.
No verão de 1994 deu o salto para
o Benfica,
mas nunca se impôs de águia
ao peito.
Em 1995-96 esteve perto de voltar
a jogar pelo clube
de Setúbal, cidade onde continuou a viver, mas um volte-face de última hora
empurrou-o para o Belenenses.
“Estava já aqui e chego a acordo com o Vitória
de Setúbal. Era o Quinito o diretor do futebol. Entretanto, estava no
Algarve de férias, sossegadinho, e aparece num jornal: ‘Rui Esteves já não fica
no Vitória’.
Por causa de uma entrevista qualquer que eu tinha dado. Já não sei o que disse
nessa entrevista, mas as pessoas interpretaram mal as coisas porque eu sempre
quis voltar ao Vitória.
Cheguei aqui e percebi que não era bem isso, que utilizaram a situação porque o
treinador na altura não queria ficar comigo. Havia um jogador que era o
Stepanovic, que vinha do Farense,
e o treinador dizia que eu era igual a ele. Foi por aí. Mas arranjaram a
desculpa da entrevista. Tudo bem, tranquilo. O João Alves soube o que se tinha
passado e convidou-me para o Belenenses”,
contou.
Mais tarde, como treinador,
orientou o Torreense
entre março e dezembro de 2007. “No Torreense
saio de treinador porque o presidente queria mandar meia dúzia de jogadores
embora, os que ele achava que não tinham qualidade. Recebi a ameaça de que no
treino a seguir tinha que mandar seis jogadores embora e, como não concordei,
nem sequer apareci no treino. Foi mesmo assim: ‘Vai ficar a falar sozinho’. E
ficou. Depois quis reunir comigo, mas eu não quis”, recordou.
Baltazar (médio ofensivo)
Baltazar |
Médio ofensivo natural de Castelo
Branco, internacional jovem português e que jogou ao lado de Fernando Mendes,
Litos e Futre
na formação do Sporting,
mudou-se para o Vitória
de Setúbal em 1985-86, tendo participado em 16 jogos e marcado um golo em
todas as competições numa época marcada pela descida à II Divisão após 25 anos
no primeiro
escalão.
Entretanto passou por União da
Madeira, Académica
e Olivais e Moscavide antes de ingressar no Torreense
no verão de 1989. Se no Bonfim
ficou associado a uma despromoção que há muito não acontecia, em 1991 ficou
ligado ao regresso do emblema
de Torres Vedras à I
Divisão ao fim de 26 anos de ausência. Ao longo de quatro temporadas no emblema
da região Oeste, totalizou 141 encontros e 23 golos nas várias competições
(II Divisão, II
Liga, I
Divisão e Taça
de Portugal).
Rosário (avançado)
Em 1990-91, sete anos após ter
deixado de jogar na III Divisão Distrital, ajudou com onze golos o emblema
de Torres Vedras a regressar à I
Divisão depois de quase três décadas de ausência. Na temporada seguinte
apontou idêntico número de golos no patamar
maior do futebol português, mas sofreu uma lesão na fase final da época e
foi impotente para evitar a descida à II
Liga.
Haveria ainda de realizar uma boa
época no segundo
escalão para encerrar um bonito ciclo de 172 jogos e 64 golos em seis anos
na formação
da região Oeste antes de se mudar para o Vitória
de Setúbal no verão de 1993.
No Bonfim
não foi tão feliz, não indo além de 38 encontros e seis remates certeiros ao
longo de duas temporadas, não conseguindo evitar a descida à II
Liga em 1995, na despedida do clube.
João Mendonça (avançado)
João Mendonça |
Avançado nascido em Luanda e
irmão dos também avançados Fernando Mendonça, que jogou no Sporting,
no Torreense
e no Sp.
Braga, e Jorge Mendonça, que passou por Sp.
Braga, Atlético
Madrid e Barcelona,
ingressou no Vitória
de Setúbal em 1953-54, temporada em que causou boa impressão ao apontar 13
golos na I
Divisão e participar na caminhada até à final da Taça
de Portugal.
Apesar do bom registo, foi para a
II Divisão ajudar o Torreense
a subir pela primeira vez à I
Divisão, tendo apontado um dos golos na vitória fora sobre o Leões de
Santarém (2-0) que garantiu a promoção à elite
do futebol português.
Seguiram-se mais duas épocas de
bom nível ao serviço da formação
de Torres Vedras no primeiro
escalão, contribuindo para as melhores classificações de sempre do clube –
o 7.º lugar em 1955-56 e 1956-57 – com um total de 24 golos, o que lhe dá a
liderança na lista de melhores marcadores de sempre com a camisola
grená na I
Divisão. Em 1955-56 voltou a contribuir para um dos momentos mais altos da
história do emblema
do Oeste, a caminhada até à final da Taça
de Portugal.
Após uma passagem de um ano pelo Sp.
Braga, voltaria a representar o Vitória
de Setúbal entre 1958 e 1960 no patamar
maior do futebol nacional, não conseguindo evitar a descida à II Divisão em
1959-60.
José Rachão (treinador)
José Rachão |
Antigo médio, chegou a jogar pelo
Vitória
de Setúbal em 1977-78, numa altura em que os sadinos
ainda estavam de pedra e cal na I
Divisão, apesar de estarem a perder algum do fulgor ganho na década
anterior.
Na década seguinte tornou-se
treinador, mas teve de esperar para 20 anos para treinar Torreense
e Vitória
de Setúbal. A Torres Vedras chegou em 2003-04, tendo ficado perto de subir
à II
Liga.
A meio da época seguinte, quando
a formação
da região Oeste até nem vinha a fazer um grande campeonato, foi recrutado
pelo Vitória
de Setúbal para suceder a José
Couceiro, que tinha rumado ao FC
Porto. Em termos de campeonato limitou-se a confirmar a permanência, que estava
bastante encaminhada, mas foi na Taça
de Portugal que fez história, ao guiar os setubalenses
à conquista do seu terceiro troféu, com vitória sobre o recém-coroado campeão
nacional Benfica
no Jamor (2-1). “Ninguém ganha nada sozinho. Enalteço o valor dos jogadores, a
administração, os sócios – disse sempre que esta vitória era para os sócios do Vitória.
Divido este êxito também com os jogadores que não subiram ao relvado no Jamor e
também com o José
Couceiro que fez três eliminatórias, pois bateu o Pedras Rubras, o Académico
Viseu e o Vitória
de Guimarães… Eu fiz os três melhores bês do campeonato: Sp.
Braga, Boavista
e Benfica”,
contou ao Record.
Após o triunfo no Estádio
Nacional, foi-lhe proposto o comando técnico da… equipa B, acabando por deixar
o Vitória
para dar o lugar a Luís Norton de Matos. “Saio sentido, magoado não. É verdade
que já sabia que provavelmente não ia continuar, ainda para mais depois de tudo
o que se disse no último mês e meio. Mas depois de tudo aquilo que conquistei e
sabendo que os treinadores normalmente estão dependentes de resultados… Se eu
os consegui, não fazia sentido que saísse. Daí ter alimentado a esperança que
pudesse continuar como treinador do Vitória.
Agora, dizer que estou magoado? Com o Vitória
nunca. Só posso agradecer ao Vitória
tudo o que me deu. Isto para mim é um até já, porque quando o clube voltar a
precisar de mim volto a correr. Depois do que vivi no Estádio Nacional, na
Praça do Bocage, o Vitória
ficou para sempre gravado no meu coração”, confessou.
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