Jorge Jesus e Rúben Amorim têm estilos muito opostos |
Os papéis de Jorge
Jesus no Benfica
e de Rúben
Amorim no Sporting
não podiam ser mais contrastantes. É verdade que um tem um currículo cheio de
títulos e uma maior independência financeira, que legitimam e permitem uma
postura (bastante) exigente para com a administração da SAD, enquanto outro
está a dar os primeiros passos e tem ainda que engolir uns sapos para progredir
na carreira, mas não deixa de parecer exagero a forma como um vê satisfeitas
vontades que prejudicam o clube e o outro não tem receio de se prejudicar para
satisfazer as necessidades do clube.
Como é sabido, Jorge
Jesus gosta de plantéis extensos, com uma média de três jogadores já com
algumas provas dadas para cada posição. E basta olhar para a imprensa
desportiva e para o desfecho do mercado para perceber que chega mesmo a travar
as saídas de jogadores que, em princípio, serão as últimas opções para as suas
opções. Mesmo que esses atletas sejam jovens e já tenham não só atingido a
convocatória da seleção nacional A, mas também a dezena de milhões no que
concerne ao valor de mercado, como Ferro e Gedson
Fernandes, que tinham propostas tentadoras de clubes periféricos da Europa.
Num clube que será sempre mais
vendedor do que comprador, como é o caso do Benfica,
e tendo em conta que contabilisticamente os jogadores da formação pouco ou nada
contam em termos de ativo, mas que podem e muito reduzir o passivo em caso de
uma transferência, é incrível que tal aconteça. Não estamos a falar do Rodrigo
Pinho contratado a custo zero ao Marítimo, do André Almeida que já não vai para
novo e vem de uma lesão grave nem de um Pizzi ou de um Taarabt que dificilmente
vão dar algum dinheiro à SAD, mas sim de dois jovens que, em determinados
momentos das suas carreiras, revelaram imensa qualidade e potencial para
atingir um nível superior.
A dada altura, parece que o
projeto do Benfica
se confunde com Jorge
Jesus, focadíssimo (somente) no objetivo de ver a equipa principal a ganhar
o máximo de jogos e troféus durante a vigência do seu contrato, como se não
existisse vida para lá de junho de 2022.
Em contraste absoluto, temos o
altruísta Rúben
Amorim no Sporting,
que para zelar pelo projeto do clube pretende trabalhar com um plantel curto, em
cada lesão ou castigo constitui uma oportunidade para lançar um jovem da cantera.
Em ano e meio em Alvalade,
o jovem
técnico tem-se dado bem com esta política, uma vez que se sagrou campeão
nacional quando poucos acreditavam e tem ajudado a valorizar alguns atletas,
como Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, João Palhinha, Matheus Nunes e Pedro Gonçalves.
E para que estes tivessem via verde para a valorização, Amorim
riscou Acuña,
rejeitou Adrien
Silva e, segundo se diz, não fez muita força para reter João
Mário.
O antigo médio do Benfica
vive uma espécie de estado de graça no reino do leão, porque foi campeão e vai
ganhando, mesmo que pelo magro e sofrido 1-0 do costume. Os adeptos sportinguistas,
por enquanto, não se importam. Mas todos sabemos que no futebol e na sociedade
a memória é muito curta. A sensação que dá é que daqui a alguns meses a bola
poderá embater no poste e sair em vez de entrar, a mensagem poderá deixar de
passar ou duas ou três lesões em jogadores importantes fragilizarem a equipa. E
aí Amorim poderá experimentar um pouco do que Fernando Santos foi experienciando
à medida que a euforia pela conquista do Euro 2016 foi passando ou do que Bruno
Lage vivenciou não muito tempo depois de conquistar um título que muitos já
davam como impossível e com goleadas atrás de goleadas.
Se as vitórias vierem a diminuir
de cadência, até o magro e sofrido 1-0 do costume deixará de ser suficiente, a
contestação surgirá de forma natural e a saída poderá ser inevitável pela porta
das traseiras, tal como Augusto Inácio em 2000. Futurologia a mais? Talvez. Mas
este altruísmo excessivo de Rúben
Amorim poderá trazer-lhe dissabores no futuro. Se o próprio não se defender
– internamente, a exigir melhor mão-de-obra –, ninguém o irá defender.
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