Miguel Oliveira ocupa o 74.º lugar do ranking mundial de padel |
Joga-se
com uma raquete, mas não é ténis. É uma modalidade praticada entre quatro
paredes, mas não é de pavilhão. Tem nome parecido com uma modalidade aquática
(stand up paddle), mas quem a pratica diz que o seu boom deve-se muito à
facilidade em não meter água. O principal nome do padel português é Miguel
Oliveira. A modalidade está em franco crescimento em Portugal, estimando-se que
o número de praticantes (federados e informais) esteja a aumentar na ordem dos
80% a cada ano, perfazendo já um total de cem mil.
"É uma modalidade relativamente recente
em Portugal, embora em Espanha se pratique há muito tempo e haja cerca de cinco
milhões de praticantes. Em Espanha tem um impacto financeiro superior ao do
ténis, apesar do Rafa Nadal e de todos aqueles outros grandes tenistas
espanhóis. Em Portugal estamos longe disso, mas já haverá qualquer coisa como
cem mil praticantes e não para de crescer.
À medida que os campos são construídos, o número de praticantes vai crescendo,
na ordem dos 80% ao ano. É certamente a modalidade desportiva em Portugal que
mais tem crescido", explicou ao DN João Lagos, empresário ligado há
décadas à produção de eventos desportivos e que está a organizar o torneio internacional
Oeiras Valley Padel Masters, que vai decorrer entre este sábado e o dia 23 no
Estádio Nacional, no Jamor.
Mas,
afinal, o que leva tanta gente a praticar padel? "Acho que é um desporto
bastante agradecido, no sentido da facilidade com que se pode começar a jogar.
Ou seja, mesmo alguém que nunca tenha jogado desportos de raquete, consegue
perceber a dinâmica e sentir a evolução após três ou quatro vezes. O facto de a
bola estar sempre perto de ti também te ajuda a que possas sempre querer
melhorar e aceitar que a próxima vais conseguir bater bem. Noutros desportos,
podes não conseguir fazer a bola passar por cima da rede e sentes-te frustrado.
Depois tem também uma componente social, em que as pessoas podem disputar
torneios mas depois ficar no final a beber alguma coisa", considera o
melhor português do ranking mundial (74.º), Miguel Oliveira, em declarações ao
DN.
João Lagos vai organizar o Oeiras Valley Padel Masters |
Esse
crescimento também se reflete no número de clubes filiados na Federação
Portuguesa de padel. Eram 52 no início de 2017. São 120 nos dias de hoje.
Mais homens federados, paridade entre praticantes informais
Segundo dados da Federação Portuguesa de
Padel (FPP), existem 6500 atletas filiados, um bolo em que os homens ficam com
a fatia maior. Ainda assim, é nesta modalidade que muitas mulheres encontram o
espaço ideal para praticar desporto.
"O número de federados tem muito que ver com o número de pessoas que faz
competição. Aí há uma percentagem maior de homens filiados. Mas, no geral,
olhando para os tais cem mil praticantes que há de norte a sul do país e até
nas ilhas, há uma paridade muito grande entre homens e mulheres. Deve ser uma
das poucas modalidades deste país em que há tantos homens como mulheres",
assegura João Lagos, que chegou ao padel há cerca de dois anos, quando Portugal
organizou os Campeonatos Mundiais masculinos e femininos por seleções em
Cascais.
O
elevado número de mulheres a praticar a modalidade, crê o empresário, está
relacionado com a facilidade em "bater bem" as bolas e a diversão que
provoca: "Há muitas senhoras que nunca tinham praticado qualquer
modalidade e que descobriram o padel. De repente, aquilo para elas é um mundo
novo e divertem-se imenso. Uma das razões para esse sucesso é que é
relativamente fácil conseguir bater bem umas bolas, o que gera um grande
entusiasmo."
Antigo
praticante de ténis e ex-organizador do Estoril Open, João Lagos é da opinião de que o alegado elitismo associado a esta
modalidade já foi há muito "desmistificado". E acredita que no padel
também é assim, regulando-se apenas pela "lei da oferta e da
procura". "Os preços estão ela por ela entre as duas modalidades. Mas
o padel é muito rentável porque é jogado em duplas num curto espaço. Num court
de ténis cabem três ou quatro campos de padel", salienta o empresário,
acerca de uma modalidade que "tem vindo a internacionalizar-se".
"Espanha é o país mais forte, mas a Argentina e outros países da América
Latina também têm tradição. Há um boom em França, Inglaterra e nos países
nórdicos. Existe uma Federação Internacional de Padel, mas está iminente a
criação da Federação Europeia de Padel", acrescentou.
Miguel Oliveira num torneio realizado no Porto em 2014 |
Do ténis a melhor português do ranking mundial
Miguel Oliveira tinha "22 ou 23
anos" quando entrou para uma modalidade que lhe mudou a vida.
"Descobri o padel através de um dos meus melhores amigos, o Vasco Pascoal,
que também é um grande jogador. Na altura eu estava no ténis e ele convidou-me
para participar num torneio. Foi uma paixão à primeira vista. Consegui começar a jogar bem e a gostar de competir, da
dinâmica de aprender a modalidade e de entendê-la", começou por contar o
atleta português, de 30 anos.
A
transição de uma modalidade para a outra, frisa, contempla facilidades e
dificuldades. "Em termos de facilidades, manusear a raquete. O contacto da
pala com a bola e os movimentos são parecidos. Em termos de dificuldades, a
principal é a parte das paredes. No padel, como tens as paredes, que fazem que
a bola volte a ficar no teu raio de ação e à frente do teu corpo, tens de
perceber o timing adequado para lhe bater", explicou o atual n.º 74 do
ranking mundial.
Passados
nove meses da primeira experiência, em 2012, Oliveira já estava a representar
Portugal no Mundial do México, onde se apercebeu de que o seu futuro passava
pelo manuseamento de uma raquete, sim, mas com um parceiro ao lado e entre
quatro paredes de vidro. "Voltei
com a certeza de que já não queria ténis e que queria padel, deixei de dar
aulas de ténis e passei a dar de padel. Mas, quando ia começar a dar aulas
de padel, tive uma proposta através da FPP para ir trabalhar para Bilbau, dar
aulas num clube e treinar, ter o padel presente na minha vida. Falei com os
meus pais e eles aconselharam-me a ir. Fui numa perspetiva de Erasmus e passado
um mês apercebi-me de que tinha de ficar lá um ano e passados três meses
descobri que tinha de ficar lá três ou quatro anos. Quando fui para Espanha, o
meu principal objetivo foi aprender e receber e beber informação e conhecimento
que já lá existe, porque lá o padel existe há muitos mais anos do que aqui,
para depois passá-lo para cá", narrou o jogador, que voltou a Portugal no
ano passado.
"Este
ano comecei por ir a Espanha treinar, até porque o meu parceiro [António
Fernandez] é de Madrid e é importante que haja treino de equipa e estarmos
juntos várias vezes. Desde que o novo selecionador veio para cá, o brasileiro
Gervásio del Bono, senti que era importante estar em Portugal. Tem-me ajudado
muito na muita evolução nos últimos seis meses, é uma pessoa espetacular",
elogiou Oliveira, vice-campeão mundial de duplas em 2016 (com Diogo Rocha),
vice-campeão da Europa de equipas pela seleção nacional em 2017 e semifinalista
do Cabrera de Mar Challenger em 2018 - o melhor resultado de sempre de um
português num torneio internacional.
Jamor acolhe torneio master equiparado aos Grand Slams
Apesar de Portugal ainda não ser um país de
grande tradição no ténis, o Oeiras Valley Padel Masters, que vai decorrer entre
este sábado e o dia 23 no Estádio Nacional, no Jamor, é um dos eventos mais
importantes do circuito mundial. "É um dos três maiores e mais importantes
torneios de padel do mundo. Faz parte do circuito profissional da modalidade, o
World Padel Tour. É uma réplica do ATP
Tour no ténis. Há quatro torneios masters, que podem equiparar-se aos Grand
Slams do ténis: o nosso, Valência, Barcelona e Buenos Aires. Mas é um dos três
mais importantes porque só três é que têm homens e mulheres. No ano passado
fizemos só homens, mas agora, na segunda edição, quisemos incluir
senhoras", explica João Lagos, entusiasmado por promover "muitas
horas de padel na televisão".
No
entanto, assegura o empresário, "isto ao vivo é espetacular e
entusiasmante, mesmo para quem não está a perceber nada do que se está a
passar". "Ainda por cima, o sistema de scoring é rigorosamente igual ao do ténis, à melhor de três sets", realça, à procura de levar o
maior número de pessoas possível a "esta catedral do nosso desporto que é
o Estádio Nacional".
"Espero
que os bilhetes estejam esgotados e que o Estádio Nacional possa receber o
melhor torneio do mundo. No ano passado correu bem, nos últimos dias esteve
cheio e muita gente falou sobre isto. Penso que a presença do quadro feminino
vai melhorar o torneio, até porque vamos ter a participação da melhor jogadora
portuguesa de todos os tempos, a Ana Catarina Nogueira", acrescenta Miguel
Oliveira, acerca da atual n.º 21 do ranking mundial.
"Temos
um sítio próprio para as crianças e um espaço de street food, para que as pessoas possam ter uma experiência
gastronómica simpática", finaliza João Lagos.
Os
primeiros três dias da segunda edição do Oeiras Valley Padel Masters terão
entrada gratuita e vão ser dedicados às qualificações para os quadros
principais, que vão realizar-se entre terça-feira e domingo.
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