Jardel e Ricardo Rocha foram protagonistas no 2-2 de Alvalade |
Já perdi a conta ao número de
jogos da I Liga que assisti ao vivo, mas jamais me esquecerei do primeiro. Ainda
me recordo mais ou menos daquele sábado, 2 de março de 2002, em que o meu pai
me levou ao velhinho Estádio José Alvalade para assistir a um Sporting – Sp.
Braga, tinha eu 10 anos. O meu pai bem quis esperar por um horário mais
apetecível, como um sábado ou um domingo às 16.00, mas as transmissões
televisivas já aí insistiam em empurrar os encontros dos três grandes para a
noite – nesta caso, para as 20.00.
Lembro-me vagamente de termos
ficado instalados na curva sul do antigo anfiteatro leonino, perto da estação
de metro do Campo Grande, e de ter comido um cachorro ainda antes do jogo
iniciar.
Chegámos cedo ao estádio, para
não perder pitada do que envolve um jogo de I Liga. Na altura, estávamos mais
habituados a acompanhar os campeonatos distritais e a antiga III Divisão, e a
diferença de ambiente entre o vazio Estádio Alfredo da Silva – casa do Grupo
Desportivo Fabril, ex-CUF e Quimigal - e um repleto Estádio de Alvalade –
levava cerca de 40 mil pessoas naquela noite – era colossal.
O Sporting liderava o campeonato
com mais um ponto do que o Boavista, mas a festa começou a fazer-se no estádio ainda
antes do apito inicial. O rival Benfica sofreu uma derrota caseira por 0-2 ante
o União de Leiria nas horas que antecederam o encontro de Alvalade.
Talvez inspirados pela
surpreendente notícia, os jogadores do Sporting não perderam tempo e marcaram
dois golos nos primeiros seis minutos, ambos por Mário Jardel, aquela incomparável
máquina goleadora. Infelizmente para mim, os verde e brancos atacavam para o
lado norte durante a primeira parte, pelo que tive alguma dificuldade em
visionar e perceber os lances.
Tinha uma vaga ideia de um dos golos
ter sido de penálti, e eis que as crónicas e as fichas de jogo online assim o confirmam: foi o 1-0, aos
cinco minutos. “Grande penalidade convertida por Mário Jardel, que soma o 29º
golo do campeonato. Isto depois de ter considerado mão na bola de Artur Jorge
(que vê o cartão amarelo), ao tentar cortar um cabeceamento de Beto”, pode
ler-se no minuto
a minuto do Record.
Quanto ao segundo golo, até
julgava ter sido apontado de cabeça, mas o Record
voltou a elucidar-me - infelizmente, não encontrei vídeos no Youtube referentes a este encontro. “Rápido
contra-ataque dos leões, com João Pinto a isolar-se pela esquerda e a colocar a
bola no meio, onde surge Jardel, sem qualquer marcação, a aumentar a contagem.
Os bracarenses ficam a reclamar um fora-de-jogo posicional do brasileiro,
aquando da arrancada de João Pinto”, descreve o diário
desportivo na sua edição online.
Aparentando o Sporting estar em
dia sim, já me passava uma goleada pela cabeça, o que seria a cereja no topo do
bolo para quem se estreava na I Liga a assistir a jogos ao vivo. Nada mais
errado. Houve mais golos, é verdade, mas para o Sp. Braga, que chegou ao empate
ainda na primeira parte – pelo menos isso, porque se fosse apenas no segundo
tempo lá eu teria de os ver ao longe.
Passados todos estes anos, ainda
tenho presente o lance do 2-1: um cabeceamento certeiro do central Ricardo
Rocha – já comprometido com o Benfica para a época seguinte – na sequência de
um canto, aos 12 minutos. “Pontapé de canto no flanco esquerdo do ataque
bracarense, com Ricardo Rocha a surgir no coração da área, sem qualquer
oposição, a cabecear para o fundo das redes de Tiago”, confirma o Record.
Mais uma disputa de bola entre Jardel e Ricardo Rocha |
Da jogada do 2-2, confesso, já
não me recordava. “Livre direto em zona frontal marcado por Barroso, em força,
Tiago defende para a frente e Barata, mais rápido que toda a gente, efetua a
recarga com êxito, restabelecendo o empate”, narra o Record.
Depois de quatro golos nos
primeiros 45 minutos, esperava que a segunda parte também fosse produtiva, mas
o resultado terminou mesmo empatado a dois. As várias crónicas puxam pela minha
memória, recordando que foi um encontro em que o Sporting se queixou do
desempenho da equipa de arbitragem. Lembro-me também que o Sp. Braga, que tinha
vencido o jogo da primeira volta por 2-1 – na única derrota doméstica dos leões
nessa época com Jardel em campo -, estava desfalcado de Quim, suspenso devido a
doping, pelo que teve de ir ao
mercado recrutar Pedro Roma por empréstimo da Académica – ainda assim, o dono
da baliza neste jogo foi um guarda-redes chamado Marco.
Ao apito final do árbitro
bracarense Augusto Duarte, seguiu-se uma viagem de metro, barco e autocarro até
casa, no Barreiro.
No dia seguinte, o Boavista tinha
via verde para consumar a ultrapassagem e saltar para a liderança do
campeonato, mas não foi além de um nulo caseiro diante do Vitória de Guimarães.
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