Mkhitaryan, Reus e Aubayemang são letais no último terço |
Os sete anos que o carismático Jurgen
Klopp passou em Dortmund deixaram uma marca no clube e no coração dos adeptos:
dois Campeonatos, uma Taça da Alemanha, duas Supertaças, uma final da Liga dos Campeões,
um estilo de jogo bastante atrativo e uma presença bastante carismática no
banco de suplentes.
O ciclo do treinador natural de
Estugarda terminou no final da temporada transata, depois de uma época menos
feliz, na qual a turma amarela chegou a andar na zona de despromoção, mas ainda
a tempo de alcançar um lugar europeu. Para o seu lugar, chegou Thomas Tuchel,
com a curiosidade de ter assinado pelo gigante da Renânia do Norte-Vestfália
proveniente do Mainz e com 41 anos, exatamente no mesmo contexto de Klopp em
2008.
O 2.º lugar que a equipa ocupa
não sugere uma campanha do outro mundo, mas há dados que importa reter: O
Borussia tem, a par do Bayern, o melhor ataque da Bundesliga, com 53 golos;
soma, à 21.ª jornada, 48 pontos, um record
para um segundo classificado; e leva 28 pontos em 30 possíveis nos primeiros
dez jogos caseiros do campeonato, a melhor marca de sempre do clube. Um registo
capaz de fazer tremer o FC Porto, o adversário nos 16 avos de final da Liga
Europa.
E entre a armada amarela, há uma troika que promete impor austeridade ao
dragão: Reus, Mkhitaryan e Aubameyang. Juntos levam 37 golos na Bundesliga em
21 jornadas (média de 1,76/jogo).
Caracterização coletiva
Em
condições normais, os jogos do Dortmund são sempre animados. Porquê? Porque se
trata de uma equipa bastante objetiva, que procura constantemente a progressão
no terreno e, por sua vez, o golo.
Embora
tivesse sido a formação que mais passes efetuou na fase de grupos da Liga
Europa (3767), desengane-se quem pensa que os homens de Tuchel são obcecados
pela posse de bola. Nada disso. Trata-se de uma equipa que não pede licença nem
bate à porta, simplesmente entra. Que não mastiga, engole. Que encurta ao
máximo os preliminares, vai direta ao prazer.
Falar
do Borussia Dortmund é falar de um conjunto que ainda não perdeu a bola e já
está preparado para a recuperar. É falar de quem ainda não recuperou a bola, e
já está preparado para atacar. É, por isso, especialista em transições,
tanto defensivas como ofensivas.
A atacar,
o atual 2.º classificado da Bundesliga pratica um futebol simples e retilíneo,
procurando sempre o espaço vazio. Gosta de ter a bola, porque só com ela pode
marcar, não para se gabar de estatísticas. Tudo começa bem lá atrás: o
guarda-redes (Burki) pode bombear o esférico diretamente para a frente, na
direção de Aubameyang, ou com os defesas a iniciarem a construção de jogo
através de um estilo mais apoiado.
Jogadores do Dortmund procuram o espaço vazio |
Se for
a segunda hipótese, os centrais abrem, o trinco aproxima-se deles e os laterais
projetam-se. A partir de então, começa logo a procura por um passe mortífero: os
médios movimentam-se para receber a bola, os avançados trocam de posição,
arrastam marcações e vão jogando no limite do fora do jogo à procura de um
passe para as costas da defesa e os centrais tentam sobem até ao meio-campo
contrário para gerar desequilíbrios. Quando se dá por isso, Reus exibe a sua
precisão de passe ou remate, Mkhitaryan o seu drible desconcertante e
Aubameyang o seu poder de desmarcação e instinto matador. Se a bola chegar a
esta troika, o perigo está garantido
para a baliza adversária.
Passes para as costas da defesa são muito recorrentes |
E para
que o perigo não chegue à baliza do Dortmund, defensivamente a equipa
prima pela enorme pressão ao portador da bola, com o trio de médios sempre
muito próximos – dos mais coesos do futebol europeu -, a criar superioridade
numérica na zona do esférico. É uma ideia que já vinha do tempo de Klopp e que
Tuchel bem tem aproveitado, com o intuito de recuperar rapidamente a
redondinha. O único inconveniente surge se o adversário tiver capacidade de
colocar a bola longe dessa zona de pressão: aí a defesa ficará muito exposta.
Meio-campo muito próximo em momento defensivo |
Homens nos postes e marcações individuais nos cantos |
Caracterização individual
Weidenfeller?
Sim, ainda está no clube – é o segundo atleta com mais jogos na história do BVB
(339) -, renovou recentemente até junho do próximo ano, mas, pela primeira vez
em oito temporadas, enfrenta a condição de suplente. O guarda-redes titular dá
pelo nome Roman Burki, tem 25 anos, é internacional suíço e chegou ao Westfalenstadion
após… ter descido de divisão no Friburgo. Embora tenha sentado no banco um dos ícones do
Borussia, não é o mais seguro dos guardiões, especialmente nas saídas aos
cruzamentos. Um fator que pode ser aproveitado pelo FC Porto.
Outro
histórico que Tuchel relegou para o banco foi Subotic. Quem ocupa o seu lugar
como central do lado direito é o grego Sokratis Papastathopoulos, que se
tem revelado como um dos jogadores mais completos da Europa na sua posição. É
agressivo, ágil, rápido, sentido posicional e com qualidade a jogar com os pés.
O outro
elemento no eixo defensivo continua a ser Mats Hummels, um dos mais
conceituados futebolistas do Borussia Dortmund, assumindo inclusivamente o
papel de capitão. É um dos centrais com melhor saída de bola do futebol europeu
– embora por vezes arrisque em demasia… -, aparecendo no meio-campo contrário a
fazer passes de rotura, fazendo lembrar o compatriota… Franz Beckenbauer. Dotado
de elevada estatura (1,91 m) e de bom poder de impulsão, é também muito forte
no jogo aéreo.
Nas
laterais, os super ofensivos e experientes Lukasz Piszczek e Marcel
Schmelzer. O polaco de 30 anos assume o corredor direito, enquanto o germânico
de 28 ocupa o lado canhoto. Ambos já levam vários anos no plantel – cinco e oito,
respetivamente -, tendo participado na conquista dos títulos nacionais de
2010/11 e 2011/12.
O onze-tipo de Thomas Tuchel |
No
meio, um setor que prima pela coesão. Num 4x3x3 clássico, a posição de centrocampista
mais recuado vinha a ser interpretada pelo jovem Julian Weigl, 20 anos,
que no verão tinha chegado a Dortmund proveniente do 1860 Munique. Trata-se de
um jogador com capacidade técnica, visão de jogo e qualidade de passe, mas nos
últimos jogos tem vindo a ser preterido em detrimento do polivalente Matthias
Ginter, que também pode fazer de central e lateral e oferece mais equilíbrio
e agressividade defensiva.
Ligeiramente
mais adiantados, como médios interiores, geralmente atuam Gundogan e Castro.
O primeiro está a viver uma segunda vida futebolística, depois de ter estado 14
meses parado (entre agosto de 2013 e outubro de 2014) devido a uma grave lesão
na coluna. É ele quem gere os ritmos de jogo através do passe, a sua
especialidade, aparecendo também na área para fazer assistências ou até para
finalizar. O segundo, reforço para 2015/16 após onze anos de Leverkusen, também
prima pela qualidade de passe e colocação de bola, funcionando praticamente
como um organizador de jogo, até porque é o homem do miolo que mais se aproxima
dos avançados.
Na
frente de ataque, a troika acima
citada. Embora Aubameyang seja preferencialmente o ponta de lança e Reus
e Mkhitaryan se encarreguem das alas, não é certo que assim o seja. Também
há jogos em que é Reus que aparece mais no centro do ataque e Aubameyang num
flanco, embora as trocas posicionais entre as unidades mais ofensivas sejam uma
constante no BVB.
O
gabonês, eleito melhor jogador africano em 2015, é um extremo de origem, mas
face às desilusões que foram as contratações de Immobile e Adrián Ramos, tem
sido utilizado sobretudo como ponta de lança, oferecendo profundidade, largura,
velocidade, poder de impulsão e instinto goleador. Não se fixa na área,
apresentando grande mobilidade e também disponibilidade defensiva, uma vez que
é o primeiro homem a pressionar quando a equipa não tem a bola.
Já o
internacional alemão, a atravessar um grande momento de forma e a ser cobiçado
pelos colossos do futebol europeu, destaca-se pelo seu fino recorte técnico e
precisão de passe e remate. Não é nenhum fantasista, mas tem uma qualidade de
execução tremenda, que lhe permite fazer assistências e golos em catadupa. Apesar
do seu gabarito, Reus não tem tido grande sorte no preenchimento do seu
palmarés, uma vez que chegou ao Dortmund após o bicampeonato e falhou o
Mundial-2014, que a Alemanha viria a vencer, devido a uma lesão num tornozelo.
Por
último, o arménio que em 2013 tornou-se a contratação mais cara do Dortmund,
que desembolsou €27,5 milhões para adquirir o craque ao Shakhtar. Depois de duas temporadas abaixo das
expetativas com Jurgen Klopp, Thomas Tuchel conseguiu extrair o melhor de Henrikh
Mkhitaryan. Hoje é um jogador decisivo para a equipa, fazendo valer o seu
drible, bom jogo com os dois pés e qualidade de remate para se afirmar em
definitivo na Renânia do Norte-Vestefália.
Principais alternativas: Roman Weidenfeller (Guarda-redes), Neven Subotic
(Central), Erik Durm (Lateral/Extremo), Park Joo-ho (Lateral
esquerdo), Sven Bender (Médio defensivo), Nuri Sahin (Médio
centro), Moritz Leitner (Médio centro), Shinji Kagawa (Médio
ofensivo), Christian Pulisic (Extremo) e Adrián Ramos (Ponta de
Lança/Extremo).
Thomas Tuchel: A herança pesada não assustou
Imagem típica de Tuchel: De fato de treino, de pé e a intervir |
Jurgen
Klopp ficou na história do Mainz quando o levou pela primeira vez à Bundesliga,
em 2004. Entretanto, o clube foi despromovido, voltou a subir e Thomas Tuchel
encarregou-se de o estabilizar no primeiro escalão. Logo na temporada de
estreia, em 2009/10, conseguiu a então melhor classificação de sempre do
emblema na I divisão, o 9.º lugar. Não satisfeito, melhorou esse registo na
época seguinte, alcançando a 5.ª posição.
Depois
de cinco anos de Mainz, com dois apuramentos para a Liga Europa pelo meio,
Tuchel resolveu entrar num ano sabático em 2014/15, à espera de um convite de uma
das principais equipas da Bundesliga. Valeu a pena a espera. O ciclo de Klopp
tinha chegado ao fim no Dortmund e abriu-se uma janela de oportunidade para o
antigo defesa dos Stuttgarter Kickers e do SSV Ulm.
A
herança era pesada mas TT não se atemorizou. Está a agarrar a oportunidade com
unhas e dentes, mas mantendo-se fiel ao seu estilo. Sempre de fato de treino
vestido, estar sentado no banco ou calado não é para ele. Gosta de assistir aos
encontros de pé e sempre a intervir.
Embora
o Dortmund esteja a fazer uma temporada extraordinária, há um todo-poderoso e
praticamente invencível Bayern que não larga o 1.º lugar. Aos 42 anos, a fama
de competente ninguém lha tira, mas a glória terá de esperar.
Parede amarela é um autêntico 12.º jogador
Quer
esteja a lutar pelo título ou para não descer, há um denominador comum nos
jogos do Dortmund: um fortíssimo e incondicional apoio dos seus adeptos. Com
capacidade para 81.356 espetadores (65.829 em jogos internacionais), o Westfalenstadion
é o maior estádio da Alemanha, tendo sido inaugurado em abril de 1974 mas
sofrido já quatro renovações.
No topo
sul fica a maior bancada da Europa, a Sudtribune,
com capacidade para 25.000 pessoas. É de lá que assistem aos jogos os mais
fervorosos adeptos da equipa, sempre a entoar cânticos de apoio e a mostrar as
suas bandeiras. A imagem dessa bancada cheia é tão impressionante que ganhou a
alcunha de Yellow Wall (Parede
Amarela). Um autêntico 12.º jogador que tudo fará para intimidar os jogadores
portistas nesta quinta-feira.
Imagem incrível da Yellow Wall, a maior bancada da Europa |
Mas este
clube do oeste germânico não é apenas famoso pelo apoio que recebe dos adeptos.
O que os seus jogadores fizeram dentro de campo durante décadas concederam ao
BVB o estatuto de um dos emblemas mais respeitados da Europa.
Embora
tenha sofrido fortes oscilações ao longo dos seus 106 anos de existência, os
períodos de maior relevo do Borussia foram nas décadas de 1960, 1990 e 2010. Na
primeira fase, ganhou um Campeonato (1963), uma Taça (1964/65) e uma Taça das
Taças (1965/66). Na segunda, conquistou por duas vezes a Bundesliga (1994/95 e
1995/96) e a Supertaça (1995 e 1996) e ainda a Liga dos Campeões (1996/97), com
Paulo Sousa na equipa. Mais recentemente, foi bicampeão (2010/11 e 2011/12),
venceu a Taça (2011/12), a Supertaça (2013 e 2014) e chegou à final da
Champions (2012/13).
Entre tantas
estórias para contar, registam-se três vitórias sempre que recebeu equipas
portuguesas, frente a Benfica (1963/64, para a Taça dos Clubes Campeões
Europeus) e Boavista (1999/00 e 2001/02, ambos para a Champions), mas três
derrotas quando se deslocou a Portugal para as enfrentar.
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ResponderEliminarAbraços e continuação de um bom trabalho