O promissor defesa que pertenceu ao Chelsea e não vingou no Benfica. Quem se lembra de Alcides?
Alcides disputou 34 jogos pelo Benfica entre 2004 e 2006
Polivalente defesa capaz de atuar
como central, lateral direito e até esquerdo embora fosse destro, era alto
(1,92 m), leve e rápido, características que fizeram dele, em tempos, um
jogador bastante promissor. Formado no Vitória
da Bahia, clube pelo qual se estreou no Brasileirão aos 17 anos, foi
titularíssimo na caminhada vitoriosa do Brasil rumo ao título mundial de sub-20
em 2003, tendo atuado os 90 minutos em todos os sete encontros do torneio, ao
lado de futuros internacionais A como Dani Alves, Adriano e Fernandinho.
No segundo semestre de 2003
esteve cedido pelos baianos
ao Schalke
04, da Alemanha, mas Jupp Heynckes não deu muitas hipóteses ao jovem
defesa, que depois de meio ano de escassa utilização foi cedido ao Santos,
clube pelo qual se sagrou campeão brasileiro em 2004 apesar de não ser
propriamente um habitual titular. Entretanto, num negócio com
contornos algos estranhos, o Chelsea
adquiriu os direitos desportivos do jogador e cedeu-o ao Benfica
durante cinco anos, reservando o direito de chamar Alcides para Stamford
Bridge caso se confirmasse todo o seu potencial futebolístico. A 25 de abril de 2004, quando já
tinha acertada a transferência para a Luz,
sofreu uma rotura dos ligamentos anterior e cruzado do joelho direito devido a
uma entrada duríssima de Têti durante um Santos-Botafogo. “O Benfica
para mim é amor. Tenho um respeito gigante pelo clube. O Benfica
foi uma mãe que me adotou, criou-me e depois soltou-me para o mundo do futebol.
Eu era do Chelsea,
fui emprestado ao Santos
e sofri uma lesão gravíssima no joelho. Rasguei ligamentos, menisco, rótula,
cartilagem, rebentei tudo. Isso foi em 2004. Eu fiz os primeiros três meses de
recuperação no Brasil. Quando ainda estava internado no Hospital Albert
Einstein, em São Paulo, recebi a visita do presidente Luís
Filipe Vieira, do meu empresário Giuliano Bertolucci e de um assessor do
presidente – não me recordo do nome. Tinham um contrato de quatro anos para
mim, quando eu estava lesionado e arrasado devido à lesão. Nem sabia se podia
voltar a jogar e o Benfica
faz isso comigo. ‘Temos uma ótima notícia para si, Alcides. Quando recuperar, o
Benfica
está à sua espera.’ A partir daí tive o objetivo de respeitar e dar o máximo
pelo Benfica,
como se fosse um filho a defender a mãe ou o pai”, recordou ao Maisfutebol
em março de 2021. Foi operado a 12 de maio,
recuperou já sob a supervisão do departamento médico dos encarnados
e viu pela primeira vez o seu nome numa convocatória do treinador Giovanni
Trapattoni no final de novembro, embora só tivesse ido a jogo pela primeira
vez em meados de dezembro.
“Passei meses a correr à volta do
relvado, depois comecei a fazer 15/20 minutos nos treinos. O Trapattoni
foi um paizão. Via-me a correr, a correr, a correr e um dia virou-se e disse: ‘Luisão,
que cosa fare com esse atleta daí? Só corre, corre.’ O Luisão lá disse
que eu era o Alcides, pertencia ao Chelsea
e ao mesmo empresário dele, o Bertolucci, e estava a voltar aos relvados. O
Luisão tinha muita moral no grupo e deu-me força, mesmo para eu jogar. Até que
um dia o mister chegou ao Rodolfo [Moura, fisioterapeuta] e perguntou se me
podia colocar no treino da equipa. E assim comecei a jogar, devagarinho”, contou. Mesmo tapado por Luisão e Ricardo
Rocha ainda foi a tempo de disputar onze jogos (oito como titular,
incluindo a final da Taça
de Portugal perdida para o Vitória
de Setúbal) até ao final da temporada 2004-05, marcada pela conquista
do título nacional que escapava há onze anos. Na época seguinte teve mais
oportunidades, às ordens de Ronald Koeman, tendo sido titular em jogos
marcantes da Liga
dos Campeões como o triunfo
sobre o Manchester United na Luz que carimbou o apuramento para os oitavos de
final (2-1), as vitórias
sobre o Liverpool em Lisboa (1-0) e Anfield (2-0) e o clássico com o FC
Porto decidido com um golo de livre de Laurent Robert (1-0). No entanto,
problemas físicos impediram-no de atuar em mais de 18 encontros em 2005-06. “Acho
que atuei mais vezes como lateral do que como central, tive de levar com o Cristiano
Ronaldo e o Wayne Rooney na Liga
dos Campeões”, lembrou.
Para quem Alcides verdadeiramente
não contou foi para Fernando Santos, treinador do Benfica
em 2006-07, um homem “muito sério, muito exigente, naquele jeitão carrancudo”,
mas um “excelente” técnico.
Depois de ter disputado apenas
cinco jogos na primeira metade da época, o Chelsea
resgatou-o para o emprestar ao PSV
Eindhoven, onde o defesa reencontrou Koeman. “Ele é um grande reforço para
a defesa e ele pode jogar em várias posições na defesa. Ele é alto, muito magro
e extremamente rápido”, afirmou o técnico neerlandês aquando da contratação. Em ano e meio nos Países Baixos
amealhou um total de 40 encontros, a esmagadora maioria (31) em 2007-08, e
sagrou-se bicampeão.
Embora muito utilizado pelo PSV,
cortou finalmente o cordão umbilical pelo Chelsea,
clube pelo qual nunca jogou, para se transferir para os ucranianos do Dnipro em
agosto de 2008, iniciando aí a curva descendente da carreira, numa fase em que
tinha apenas 23 anos. Depois de quatro anos de escassa
utilização, “frio” e “solidão” na Ucrânia regressou ao Brasil para representar
clubes como Náutico,
Ferroviária, Atlético
Paranaense, Criciúma e Matonense e… acumular vários problemas dos relvados,
tendo sido sequestrado por 18 vezes e detido, em agosto de 2012, por porte ilegal
de arma, “precisamente por andar cheio de medo” no próprio país. Viria a pendurar as botas em
2017, aos 32 anos, para se dedicar à sua fazenda e à família.
Sem comentários:
Enviar um comentário