A “Gazela de Benguela”. Quem se lembra de Rui Jordão?
Jordão representou Benfica, Sporting e Vitória de Setúbal em Portugal
Há cinco anos o futebol português
ficou mais pobre, com a morte de um dos seus melhores avançados de todos os
tempos, Rui Manuel Trindade Jordão, o quase-herói da seleção
nacional na meia-final diante de França
no Euro 1984 e um dos elementos de um dos tridentes ofensivos mais demolidores
já vistos no nosso país, juntamente com António Oliveira e Manuel
Fernandes no Sporting.
O percurso desportivo de Rui
Jordão até começou num Sporting,
mas o de Benguela, onde também praticava atletismo. Os leões
de Lisboa tinham-no debaixo de olho, mas uma lesão contraída numa corrida
esfriou o interesse. Quem aproveitou foi o Benfica
que, num processo a fazer lembrar o de Eusébio,
recrutou-o à filial leonina de Angola por 30 contos. Por isso, mas também pelas
semelhanças físicas e técnicas, recebeu logo a alcunha de “novo Eusébio”. A verdade é que o avançado, que
começou pelos juniores dos encarnados,
não defraudou as expetativas, tendo sido lançado por Jimmy Hagan em setembro de
1971, a tempo de jogar ao lado de… Eusébio.
Nessa época conquistou a dobradinha, estreou-se pela seleção
nacional A e brilhou na Taça da Independência do Brasil, na qual Portugal
foi derrotado na final pelo escrete. Apesar de a ascensão ter sido
travada por uma grave lesão no menisco sofrida num lance com o portista
Gabriel num clássico disputado na Luz
em outubro de 1974, com uma rotura nos ligamentos e diversas fraturas, regressou
em grande em 1975-76, temporada na qual se sagrou melhor marcador da I
Divisão, com 30 golos.
Bastante cobiçado, este felino
goleador transferiu-se para os espanhóis do Saragoça
no verão de 1976, num negócio que rendeu nove mil contos aos cofres das águias,
despedindo-se dos encarnados
com quatro campeonatos nacionais e uma Taça
de Portugal na bagagem.
Contudo, Jordão não se adaptou ao
clube
de Aragão e regressou a Portugal pela porta do clube do coração, o Sporting,
aceitando o repto lançado pelo presidente João Rocha. O Benfica
ainda tentou desviá-lo para a Luz,
oferecendo uma proposta mais alta, mas o presidente leonino
subiu a parada. Em Alvalade,
o atacante formou uma dupla letal com Manuel
Fernandes entre 1977 e 1986, à qual se juntou António Oliveira entre 1981 e
1985. Nesse período conquistou dois campeonatos, outras tantas Taças
de Portugal e uma Supertaça.
Em 1979-80, época do primeiro título nacional de leão
ao peito, voltou a sagrar-se melhor marcador do campeonato português, com 31
golos.
Mais uma vez, Jordão mostrou toda
a sua resiliência, ao renascer das cinzas após lesões graves. Em fevereiro de
1978, num dérbi na Luz,
Alberto fraturou-lhe a tíbia da perna direita e ouviu em coro a acusação de “assassino”.
No segundo jogo após o regresso aos relvados, numa receção ao Famalicão,
uma entrada do futuro companheiro de equipa José Eduardo fraturou-lhe o perónio
da perna esquerda e rompeu-lhe os ligamentos da tibiotársica. Em termos de seleção
nacional, pela qual contabilizou 43 internacionalizações e 15 golos, viveu
o ponto alto no Euro
1984. Marcou dois golos na meia-final diante de França,
mas não evitou a derrota (2-3) e consequente eliminação da equipa
das quinas.
Após o Campeonato
da Europa esteve perto de se transferir para o FC
Porto, mas o coração verde e branco de Jordão e o esforço financeiro de
João Rocha para segurar o avançado fizeram-no continuar em Alvalade. A “gazela de Benguela” haveria de
deixar o Sporting
em 1986, numa altura em que o treinador Manuel José não contava com ele. Depois de época e meia de inatividade,
regressou aos relvados em dezembro de 1987, com a camisola do Vitória
de Setúbal, tendo voltado a ser orientado por Malcolm
Alisson, treinador leonino aquando da dobradinha de 1981-82, e a jogar ao
lado de Manuel
Fernandes. Mais: numa fase em que estavam castigados todos os futebolistas
que tinham estão envolvidos na greve em Saltillo, durante o Mundial 1986, regressou
à seleção
em outubro de 1988, tendo participado em dois particulares e numa partida da
fase de qualificação para o Mundial 1990, quando já tinha 36 anos. Em ano e meio no Bonfim
somou 62 jogos e 12 golos, ajudando os sadinos
a conseguir um honroso 5.º lugar em 1988-89, na última temporada carreira de
Jordão.
Após pendurar as botas deixou o
futebol para sempre e dedicou-se à pintura e o desenho. Licenciou-se em
História da Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa e fez na Sociedade de Belas Artes o Curso de Belas-Artes em
Pintura, Desenho e Modelagem. Algumas das suas obras estão expostas em galerias
de arte, museus, Câmaras Municipais e outros locais. Viria a falecer a 18 de outubro
de 2019, aos 67 anos, após algumas semanas internado devido a problemas
cardíacos.
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