O operário alentejano que virou goleador da CUF. Quem se lembra de Capitão-Mor?
Capitão-Mor marcou 40 golos em 170 jogos pela CUF entre 1967 e 1975
Avançado alentejano natural de
Santiago, concelho de Beja, mudou-se para o Barreiro
em tenra idade e foi na então “moderna vila industrial e operária” que começou
a jogar futebol, nos juniores do Luso, em 1960-61.
Foi também no emblema do já
demolido Campo da Quinta Pequena que fez as primeiras quatro épocas de sénior,
na altura na II Divisão Nacional. Em 1966-67 representou o Sp.
Espinho, também no segundo escalão, mas na temporada seguinte voltou ao Barreiro
para vestir a camisola da CUF,
clube pelo qual se notabilizou entre 1967 e 1975. Durante esse período contabilizou
162 jogos e 37 golos na I
Divisão, registo que faz dele o 13.º jogador com mais partidas e o sexto
com mais remates certeiros pelos cufistas
no patamar
maior do futebol português. Coletivamente contribuiu para
façanhas como a obtenção do quarto lugar no campeonato em 1971-72 e as
caminhadas até às meias-finais da Taça
de Portugal em 1968-69 e 1972-73, tendo ainda participado em três jogos da Taça
UEFA em 1972-73, depois de ter competido na percursora Taça das Cidades com
Feiras em 1967-68.
Paralelamente, conseguiu melhorar
a própria vida e a da sua família quando chegou ao clube-empresa.
“Bem-dita a hora porque passei de operário a empregado da CUF.
O meu pai era soldador e passou a chefe. A minha mãe era empregada têxtil,
andava com bata preta, e passou a pagadora”, contou ao Correio
da Manhã em setembro de 2008, numa reportagem na qual também recordou
os bons desempenhos da turma
do Lavradio: “Éramos fortes, estávamos sempre classificados em 5.º, 6.º
lugar.” Porém, só quando Fernando Caiado
chegou ao comando técnico do clube, em 1971, é que se tornou profissional de
futebol na verdadeira aceção da palavra. “Eu trabalhava oito horas a empurrar
carros e no final do dia ia treinar. Só quando o Fernando Caiado chegou é que
eu e outros colegas deixámos de ir para a fábrica, porque treinávamos de manhã
e de tarde. Mas continuávamos com esse estatuto”, recordou ao Maisfutebol
em novembro de 2020. A segurança que sentia no
clube-empresa levou a que nunca tivesse dado o salto. “Podia ter ido para o Benfica
na altura do Fernando
Riera e para o Sporting
uns anos antes do Manuel
Fernandes. Um dia, o Mário João, que tinha voltado do Benfica
para a CUF
para não perder o trabalho na fábrica, disse-me: ‘Porque é que queres ir embora
daqui? Eu vim para cá, o Espírito Santo, o Monteiro e o Vieira Dias também e tu
queres ir embora?’ Todos eles eram jogadores de primeira água. (…) Estávamos
num clube com condições ímpares. Estreámos a sauna, tínhamos tanque de banhos e
massagens de agulheta. É verdade! Tudo de bom num tempo que era de vacas gordas”,
prosseguiu.
Numa fase em que já tinha mais de
30 anos e começava a entrar na curva descendente da carreira, regressou ao
norte do país para vestir a camisola do Paços
de Ferreira (entre 1975 e 1978), chegando a exercer as funções de
jogador-treinador. O seu filho, Rui Capitão-Mor, também
jogou futebol, tendo também representado o Fabril
(antiga CUF),
assim como o rival Barreirense,
entre outros.
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