O egípcio do Benfica que decidiu dois clássicos e levou uma dura pública de Mourinho. Quem se lembra de Sabry?
Sabry somou nove golos em 42 jogos de águia ao peito
Jogava com a gola para cima e
tinha um pé esquerdo calibrado, que fazia dele um especialista na execução de
livres diretos – Peter
Schmeichel que o diga. Esteve dois anos no Benfica
e quatro no futebol português, mas foram nos primeiros meses que deixou
realmente uma marca, ao decidir a favor das águias
então orientadas por Jupp Heynckes um clássico
na Luz com o FC Porto e um dérbi
em Alvalade com o Sporting.
Internacional egípcio nascido no
Cairo e que atuava preferencialmente como extremo esquerdo ou médio ofensivo,
cresceu futebolisticamente no El Mokawloon, que o catapultou para a seleção
do Egito, pela qual se estreou em 1995 num jogo frente a Angola.
No ano seguinte ajudou o seu clube a vencer a Taça das Taças de África e marcou
presença na Taça das Nações Africanas. Em janeiro de 1998 transferiu-se
para os austríacos do Tirol Innsbruck e no mês que se seguiu conquistou a Taça
das Nações Africanas, tendo participado em cinco jogos no decorrer da
competição, incluindo a final diante da África
do Sul. Numa fase de alguma instabilidade
na carreira, mudou-se para os suíços do FC Aarau em abril de 1999 e para os
gregos do PAOK cerca de três meses depois. Pelo meio marcou presença na Taça
das Confederações, tendo apontado um golo num jogo frente à Bolívia.
Ao serviço do clube de Salónica
destacou-se ao longo da primeira metade da temporada 1999-00, tendo marcado um
golo ao Benfica
no Estádio
da Luz numa eliminatória da Taça
UEFA, em novembro de 1999.
Em janeiro de 2000 acabou mesmo
por reforçar os encarnados.
Apesar de ter desfalcado a equipa no início desse ano devido à participação na
CAN, foi a tempo de somar cinco golos – incluindo os tais no clássico
com o FC Porto na Luz (1-0) e no dérbi
com o Sporting em Alvalade (0-1) – até ao final dessa época. Mais de um mês
depois de ter
feito a bola entrar no ângulo superior da baliza do portista Hilário a 1 de
abril, deixou
Schmeichel pregado ao relvado e gelou os adeptos leoninos na execução de um livre
direto aos 88 minutos. Em 2000-01 começou como titular,
ainda às ordens de Jupp Heynckes, mas entrou em rota de colisão com o sucessor
do alemão, José
Mourinho. Tudo começou durante um Paços
de Ferreira-Benfica,
a 21 de outubro de 2000. “A meio do jogo, Mourinho
disse-me para calçar as botas porque ia entrar. Como estava muito frio, demorei
algum tempo. Atei uma bota, esfreguei as mãos de frio e, quando ia a calçar a
outra bota, ele disse-me para ficar quieto. Já não valia a pena. Não percebi
nada”, contou o egípcio à imprensa, antes de o então
jovem treinador explicar a sua versão em conferência de imprensa: “Não é
fácil para um treinador gostar de um jogador que tem uma média absurda de
foras-de-jogo, que não sabe que quando a bola está em posse do adversário no
lado contrário, ele tem de fechar o espaço interior e não ficar aberto, que não
sabe o que é relação posicional e ocupação equilibrada do espaço e que fora de
casa quando lhe mostram os dentes foge. Que contra o Halmstads, Belenenses
e Boavista
esteve três vezes na cara do guarda-redes e não fez um golo. Que ao intervalo,
quando sou um bocadinho mais agressivo, vai fazer queixas ao secretário técnico
a dizer que sou muito agressivo tem medo de mim. Não é fácil para um treinador
gostar de um jogador destes, de facto. (…) Em Paços de Ferreira, jogou pouco
tempo porque levou oito minutos a preparar as botas e as caneleiras. Eu só
quero deixar uma mensagem ao Sabry: Isto é o Sport
Lisboa e Benfica, não é o PAOK Salonica.”
Duas semanas depois, Sabry voltou
à equipa e saltou do banco para dar a vitória ao Benfica
em Campo Maior. Pazes feitas? Nem por isso, porque o egípcio voltou à
comunicação social para fazer queixinhas: “Foi num treino. Ele dizia-me para
passar a bola e eu fazia aquilo. Aí, ele passava-se e começava aos berros
comigo. O Mozer [adjunto], mais simpático, pedia-me para ter calma. Eu não
entendia Mourinho.
Os outros passavam a bola, eu fazia o mesmo e ouvia berros. Uma vez, mandou-me
embora a meio do treino. Mourinho
não tratava todos os jogadores da mesma maneira.” Entretanto, Toni
substituiu Mourinho
no comando técnico das águias
em dezembro de 2000, mas a sorte de Sabry não se alterou muito, continuando a
alternar entre a titularidade e o banco de suplentes até ao final da época, quando
foi dispensado, ao fim de um total de 42 jogos e nove golos pelo Benfica.
Ainda assim, ficou por colocar
até janeiro de 2002, quando assinou pelo Marítimo.
Reforço de luxo para os madeirenses?
Nada disso, uma vez que não foi além de 18 jogos e dois golos – um deles ao Sporting
em Alvalade…
– no espaço de um ano e meio.
Seguiu-se uma temporada no Estrela
da Amadora, 2003-04, na qual apontou dois golos em 21 jogos, mostrando-se
impotente para impedir a despromoção dos tricolores
à II
Liga.
Depois voltou ao Egito para
representar ENPPI e El Geish. Pendurou as botas em 2010, aos 36 anos, e tornou-se
treinador, mas tem quase sempre exercido as funções de adjunto: foi assim no El
Geish, no El-Entag El-Harby, no El-Shorta e na seleção
do Egito.
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