Os dragões,
campeões nacionais e europeus em título, até tinham perdido diante do Valência
para a Supertaça Europeia e empatado em Sp.
Braga no arranque do campeonato (1-1) e em
casa com o CSKA Moscovo na primeira jornada da Liga dos Campeões, mas tinham
vencido o rival Benfica
na Supertaça
Cândido de Oliveira e tudo indicava que iam pelo menos manter o nível a que
tinha habituado os adeptos com José
Mourinho no comando técnico.
Hoje, a perspetiva é diferente,
mas na altura os azuis
e brancos tinham conseguido reter figuras como Vítor Baía, Jorge Costa,
Nuno Valente, Costinha, Maniche, Carlos Alberto, Derlei e McCarthy. Saiu Ricardo Carvalho, é verdade, mas Pedro
Emanuel, Ricardo Costa e o reforço Pepe
pareciam dar garantias para o eixo defensivo. Saiu Paulo Ferreira, mas foi
contratado o lateral direito campeão europeu de seleções pela Grécia, há muito
identificado pela estrutura portista,
Giourkas Seitaridis. Saíram médios como Pedro Mendes e Alenichev, mas foram
contratados Hugo Leal e Raul Meireles. Saiu o génio Deco, mas foi contratado
uma das maiores promessas brasileiras daquela altura, o médio ofensivo Diego,
assim como um dos melhores fantasistas portugueses, Ricardo
Quaresma. Hélder Postiga estava de regresso e para o ataque também tinha
sido contratado um dos principais avançados brasileiros da altura, Luís
Fabiano. O futuro parecia assegurado.
Tendo em conta a qualidade do
plantel portista,
orientado pelo espanhol Victor Fernández – que tinha substituído o italiano Del
Neri no final da pré-época –, a onda invicta de 33 vitórias seguidas na
condição de visitado na I
Liga e o facto de o adversário ser um Estoril
com poucas caras conhecidas e que duas épocas antes estava na II Divisão B,
lembro-me que perspetivava que o FC
Porto aplicasse uma goleada à moda antiga.
No entanto, esse jogo começou a dar um cheirinho do que viria a ser a época portista, com os consagrados em sub-rendimento e os reforços mais sonantes sem conseguirem corresponder às expetativas.
Logo aos 13 minutos, o médio
senegalês Ousmane N’Doye recuperou a bola a Seitaridis em terrenos adiantados,
passou por Pepe
como faca quente em manteiga e bateu Vítor Baía.
Contudo, o FC
Porto respondeu pouco depois, através de um golo de Luís Fabiano (o
primeiro de apenas três com a camisola azul
e branca…), a passe de Carlos Alberto, uma das figuras da segunda metade da
época anterior, mas que viria a tornar-se numa eterna promessa adiada.
À beira do intervalo, o Estoril
voltou a gelar o Dragão,
através de um autêntico míssil do médio Pinheiro, na execução de um livre
indireto.
No segundo tempo, Victor
Fernández foi acrescentando pendor ofensivo à equipa do FC
Porto, que esteve perto do empate pouco depois da hora de jogo, na
conversão de uma grande penalidade. Porém, o guarda-redes Jorge Baptista, em
estreia absoluta na I
Liga, revelou ter a lição estudada, ao adivinhar o lado para o qual Derlei
rematou.
Porém, aos 70’ os dragões
empataram mesmo, na sequência de um livre, com Pepe
a rematar à queima-roupa para o fundo das redes.
“Se dúvidas houvesse, e bastava
confirmar pela constituição das equipas, Víctor Fernández confirmava-o segundos
antes do apito inicial. 'Lógico, jogamos em 4x4x2, com o Postiga e o Fabiano',
dizia o treinador, que assim confirmava abdicar do 4x3x3 que pouco entusiasmo
tem provocado. E, talvez mesmo por isso, porque os resultados tardam em surgir,
Víctor lançava a partida com uma evidência: 'Uma vitória vai-nos dar tempo.' O
tempo de que falava o treinador do FC
Porto é um sinónimo de tranquilidade. Um condimento imprescindível para
construir, ou reconstruir, equipas. E como o espanhol já admitiu ter abraçado
um projeto 'de transição', entre um campeão europeu descaracterizado pelos
movimentos de mercado no defeso e uma equipa que siga essa linha de êxito, é
tempo e resultados que se perseguem no Dragão.
Mas o Estoril
foi um contratempo. Trocou a bola, marcou em momentos desconcertantes,
aguentou. Irritou”, escreveu o Diário de
Notícias.
O encontro da segunda volta, na
Amoreira, ficou marcado pela estreia de José
Couceiro no comando técnico do FC
Porto, depois de uma excelente primeira volta à frente do Vitória
de Setúbal. Nessa altura, os dragões
ocupavam o 3.º lugar do campeonato, com os mesmos 34 pontos de Benfica
e Boavista
– a dois do líder Sp.
Braga e a um do segundo classificado Sporting.
Já o Estoril
ocupava o 15.º lugar, o primeiro acima da zona de despromoção.
A chicotada psicológica acabou
por surtir efeito, com os azuis
e brancos a saírem vencedores, graças a dois golos apontados ainda na
primeira metade da primeira parte, por intermédio de Bosingwa (18 minutos) e Quaresma
(22’). Mais tarde, o Estoril
de Litos reduziu a desvantagem, através do franco-argelino Karim Fellahi, na
conversão de uma grande penalidade.
“Pode ser apenas fogo de vista.
Pode ser sorte de estreante. Mas ninguém pode negar que o FC
Porto de José
Couceiro é diferente do 'Porto'
de Fernández, na entrega ao jogo e no rigor tático defensivo que evidenciou na
Amoreira. No campo onde Pinto
da Costa começou o reinado da presidência azul
e branca, em 1982, o outro 'Zé' de Setúbal deu início à terceira vida do dragão
esta época com uma vitória que prometeu ser gorda, mas acabou por ser a
possível. O novo treinador portista
pôde contatar in loco as fragilidades de um ‘Porto
campeão’, desde a baixa de forma de alguns jogadores à falta de criatividade no
miolo. Mas também viu que a equipa respondeu positivamente à adversidade e que
Ricardo Costa deve jogar a central, tal como Quaresma
deve ter liberdade, até para se perder nas jogadas individuais”, resumiu o Diário de Notícias.
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