Marco Soares tenta proteger a bola dos jogadores algarvios |
Não estive no estádio nem vi
qualquer vídeo relativo ao encontro em questão, mas tenho bem presente qual a
minha primeira memória de um jogo entre Barreirense
e Olhanense.
A 8 de fevereiro de 2004 as duas equipas defrontaram-se no Campo
Dom Manuel de Mello, no centro do Barreiro,
numa partida que opunha os dois primeiros classificados da II Divisão B – Zona
Sul. No entanto, nesse dia desloquei-me desde a zona dos Casquilhos, onde
residia, até ao Estádio Alfredo da Silva, no Lavradio, para assistir a um Fabril-Atlético
da III Divisão – Série F.
No regresso a casa, feito a pé,
não precisei de perguntar a alguém o resultado nem de ouvir na rádio. As
buzinadelas de pessoas com adereços alusivos ao Barreirense
dentro dos seus carros, junto ao antigo cruzamento do Hospital do Barreiro
– atualmente existe no mesmo local, felizmente, uma rotunda –, explicavam o
óbvio: os alvirrubros
tinham vencido.
A euforia tinha razão de ser. O Barreirense,
então orientado por Daúto Faquirá, estava a fazer uma grande época e passava
assim a liderar o campeonato com oito pontos de vantagem sobre os homens
de Olhão, então comandados por Paulo
Sérgio (atual treinador do Portimonense).
É verdade que ainda faltavam jogar 15 jornadas, mas parecia haver unanimidade
em considerar que a turma
do Barreiro tinha acabado de colocar um pé na II
Liga, patamar em que já não competia desde a edição inaugural da prova, em
1990-91.
O único golo da partida foi
apontado a meio da segunda parte, por Vítor Moreno, na sequência de um lance de
contra-ataque.
Moreno, que haveria de jogar no Vitória
de Guimarães, no Estrela
da Amadora e na União
de Leiria, foi um dos jogadores que atuaram neste jogo que viriam a atingir
a I
Liga, alguns dos quais após já terem jogado no primeiro escalão na fase
inicial da carreira. Torres (Estoril),
Ricardo Jorge (Rio
Ave), Bruno Veríssimo (Olhanense),
Jorge Vidigal (Beira-Mar), Sérgio Marquês (Estrela
da Amadora) e Livramento (Boavista,
Leixões,
Rio
Ave e Paços
de Ferreira) também chegaram à elite.
“Num estádio completamente cheio,
a recordar os bons velhos tempos, o Barreirense
deu um passo gigante em direção à Liga
de Honra. A partir de agora, a vantagem da formação
do Barreiro é já de oito pontos em relação ao Olhanense,
pelo que só uma hecatombe impedirá a equipa da Daúto Faquirá de conseguir os
seus objetivos. Fazendo valer a sua condição de líder, o Barreirense,
que apenas cedeu um empate em casa, nos 11 jogos lá disputados, começou a
partida ao ataque, instalando-se, com relativa facilidade, no meio-campo algarvio.
Contudo, apesar da preponderância ofensiva, os locais não conseguiram criar
situações de perigo junto à baliza de Bruno Veríssimo, exceção feita a um
remate de Carioca (12') e outro de Moreno à barra (30'). O Olhanense,
que revelou algum atrevimento ao colocar dois pontas-de-lança - Edinho e
Afonseca -, mostrou-se também ineficaz e, na primeira vez que chegou à baliza
contrária, ‘arrumou’ o guardião Paulo
Silva, que teve de ser substituído após choque com Évora. Na segunda parte,
o Olhanense
entrou com outra disposição e remeteu o Barreirense
para o seu meio-campo. Mas como a pressão não surtiu efeito, Paulo
Sérgio lançou Brito e Rui Loja, passando para um 4x3x3. Os locais
mantiveram a concentração defensiva e chegaram mesmo ao golo num lance de
contra-ataque. Os algarvios
aumentaram o domínio, mas voltou a ser o Barreirense
mais perigoso, com carioca a rematar ao poste já no final do jogo”, escreveu o Record.
“Na maior enchente dos últimos
tempos no Estádio
D. Manuel de Mello, o Barreirense,
líder da II Divisão B, Zona Sul, bateu ontem o Olhanense
por 1-0. Assim, a turma de Paulo
Sérgio viu fugir o seu principal adversário e com oito pontos de atraso
pode ter hipotecado a promoção. A equipa
algarvia apostou numa dupla de pontas-de-lança constituída por Edinho e
Afonseca, mas estes mostraram-se sempre muito estáticos na frente de ataque,
dando pouco trabalho à defesa adversária. Aliás, durante a primeira metade, os algarvios
não fizeram um único remate perigoso à baliza contrária. Com o apoio do seu
público, o Barreirense
teve mais tempo a bola, embora sem conseguir criar lances de verdadeira aflição
para a baliza de Bruno Veríssimo, à exceção de um lance de Moreno, jogador que,
ao tentar fazer um chapéu ao guarda-redes, levou o esférico a embater na barra.
Os futebolistas de Olhão regressaram melhor das cabinas, com mais rapidez na
zona ofensiva. No entanto, e contra a corrente de jogo, foi o Barreirense
a marcar, aos 66’, por Moreno, concluindo com sucesso um passe de morte do
então recém-entrado Adriano. Carioca teve nos pés a última grande oportunidade
de golo, a três minutos dos 90, mas com a baliza aberta atirou ao poste. Nessa
altura era imerecido 2-0, pois após o golo o Olhanense
instalou-se no meio campo adversário a correr atrás do prejuízo, limitando-se o
Barreirense
a controlar as operações e a gerir os minutos até ao apito final”, podia ler-se
no jornal O Jogo.
Apesar da vantagem confortável de
oito pontos que construiu, o Barreirense
mostrou-se incapaz de segurá-la, uma vez que não foi além de sete vitórias,
três empates e cinco derrotas nas 15 jornadas finais (24 pontos). Já o Olhanense
mostrou-se quase imparável até ao fim, ao somar 11 vitórias, três empates e uma
derrota (36 pontos), acabando por festejar a subida à II
Liga.
Na altura, corria nas ruas do Barreiro
o rumor de que os alvirrubros
não quiseram subir, por motivos financeiros. Porém, a promoção veio a ser
consumada na época seguinte, ainda que logo a seguir o clube tenha entrado numa
crise da qual ainda não conseguiu verdadeiramente recuperar.
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