sábado, 8 de janeiro de 2022

A minha primeira memória de… um jogo entre Barreirense e Olhanense

Marco Soares tenta proteger a bola dos jogadores algarvios
Não estive no estádio nem vi qualquer vídeo relativo ao encontro em questão, mas tenho bem presente qual a minha primeira memória de um jogo entre Barreirense e Olhanense. A 8 de fevereiro de 2004 as duas equipas defrontaram-se no Campo Dom Manuel de Mello, no centro do Barreiro, numa partida que opunha os dois primeiros classificados da II Divisão B – Zona Sul. No entanto, nesse dia desloquei-me desde a zona dos Casquilhos, onde residia, até ao Estádio Alfredo da Silva, no Lavradio, para assistir a um Fabril-Atlético da III Divisão – Série F.
 
No regresso a casa, feito a pé, não precisei de perguntar a alguém o resultado nem de ouvir na rádio. As buzinadelas de pessoas com adereços alusivos ao Barreirense dentro dos seus carros, junto ao antigo cruzamento do Hospital do Barreiro – atualmente existe no mesmo local, felizmente, uma rotunda –, explicavam o óbvio: os alvirrubros tinham vencido.
 
A euforia tinha razão de ser. O Barreirense, então orientado por Daúto Faquirá, estava a fazer uma grande época e passava assim a liderar o campeonato com oito pontos de vantagem sobre os homens de Olhão, então comandados por Paulo Sérgio (atual treinador do Portimonense). É verdade que ainda faltavam jogar 15 jornadas, mas parecia haver unanimidade em considerar que a turma do Barreiro tinha acabado de colocar um pé na II Liga, patamar em que já não competia desde a edição inaugural da prova, em 1990-91.
 
O único golo da partida foi apontado a meio da segunda parte, por Vítor Moreno, na sequência de um lance de contra-ataque.
 
Moreno, que haveria de jogar no Vitória de Guimarães, no Estrela da Amadora e na União de Leiria, foi um dos jogadores que atuaram neste jogo que viriam a atingir a I Liga, alguns dos quais após já terem jogado no primeiro escalão na fase inicial da carreira. Torres (Estoril), Ricardo Jorge (Rio Ave), Bruno Veríssimo (Olhanense), Jorge Vidigal (Beira-Mar), Sérgio Marquês (Estrela da Amadora) e Livramento (Boavista, Leixões, Rio Ave e Paços de Ferreira) também chegaram à elite.
 
“Num estádio completamente cheio, a recordar os bons velhos tempos, o Barreirense deu um passo gigante em direção à Liga de Honra. A partir de agora, a vantagem da formação do Barreiro é já de oito pontos em relação ao Olhanense, pelo que só uma hecatombe impedirá a equipa da Daúto Faquirá de conseguir os seus objetivos. Fazendo valer a sua condição de líder, o Barreirense, que apenas cedeu um empate em casa, nos 11 jogos lá disputados, começou a partida ao ataque, instalando-se, com relativa facilidade, no meio-campo algarvio. Contudo, apesar da preponderância ofensiva, os locais não conseguiram criar situações de perigo junto à baliza de Bruno Veríssimo, exceção feita a um remate de Carioca (12') e outro de Moreno à barra (30'). O Olhanense, que revelou algum atrevimento ao colocar dois pontas-de-lança - Edinho e Afonseca -, mostrou-se também ineficaz e, na primeira vez que chegou à baliza contrária, ‘arrumou’ o guardião Paulo Silva, que teve de ser substituído após choque com Évora. Na segunda parte, o Olhanense entrou com outra disposição e remeteu o Barreirense para o seu meio-campo. Mas como a pressão não surtiu efeito, Paulo Sérgio lançou Brito e Rui Loja, passando para um 4x3x3. Os locais mantiveram a concentração defensiva e chegaram mesmo ao golo num lance de contra-ataque. Os algarvios aumentaram o domínio, mas voltou a ser o Barreirense mais perigoso, com carioca a rematar ao poste já no final do jogo”, escreveu o Record.
 
“Na maior enchente dos últimos tempos no Estádio D. Manuel de Mello, o Barreirense, líder da II Divisão B, Zona Sul, bateu ontem o Olhanense por 1-0. Assim, a turma de Paulo Sérgio viu fugir o seu principal adversário e com oito pontos de atraso pode ter hipotecado a promoção. A equipa algarvia apostou numa dupla de pontas-de-lança constituída por Edinho e Afonseca, mas estes mostraram-se sempre muito estáticos na frente de ataque, dando pouco trabalho à defesa adversária. Aliás, durante a primeira metade, os algarvios não fizeram um único remate perigoso à baliza contrária. Com o apoio do seu público, o Barreirense teve mais tempo a bola, embora sem conseguir criar lances de verdadeira aflição para a baliza de Bruno Veríssimo, à exceção de um lance de Moreno, jogador que, ao tentar fazer um chapéu ao guarda-redes, levou o esférico a embater na barra. Os futebolistas de Olhão regressaram melhor das cabinas, com mais rapidez na zona ofensiva. No entanto, e contra a corrente de jogo, foi o Barreirense a marcar, aos 66’, por Moreno, concluindo com sucesso um passe de morte do então recém-entrado Adriano. Carioca teve nos pés a última grande oportunidade de golo, a três minutos dos 90, mas com a baliza aberta atirou ao poste. Nessa altura era imerecido 2-0, pois após o golo o Olhanense instalou-se no meio campo adversário a correr atrás do prejuízo, limitando-se o Barreirense a controlar as operações e a gerir os minutos até ao apito final”, podia ler-se no jornal O Jogo.
 
Apesar da vantagem confortável de oito pontos que construiu, o Barreirense mostrou-se incapaz de segurá-la, uma vez que não foi além de sete vitórias, três empates e cinco derrotas nas 15 jornadas finais (24 pontos). Já o Olhanense mostrou-se quase imparável até ao fim, ao somar 11 vitórias, três empates e uma derrota (36 pontos), acabando por festejar a subida à II Liga.
 
Na altura, corria nas ruas do Barreiro o rumor de que os alvirrubros não quiseram subir, por motivos financeiros. Porém, a promoção veio a ser consumada na época seguinte, ainda que logo a seguir o clube tenha entrado numa crise da qual ainda não conseguiu verdadeiramente recuperar.












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