A história de charruas de leão
ao peito não é longa, mas é antiga, uma vez que teve início no final da década
de 1950, numa altura em que a seleção celeste
já tinha conquistado dois Campeonatos do Mundo (1930 e 1950), nove Copas
América (1916, 1917, 1920, 1923, 1924, 1926, 1935, 1942 e 1956) e duas medalhas
de ouro em Jogos Olímpicos (1924 e 1928).
Enrique Fernández |
O primeiro uruguaio vinculado ao Sporting
foi o treinador Enrique Fernández,
um antigo internacional pelo seu país que tinha defendido as cores do Barcelona
enquanto futebolista e técnico. Em 1949 foi mesmo carrasco dos leões,
ao comandar os catalães
na vitória sobre os verde
e brancos na final da Taça Latina.
Em abril de 1957 chegou a
Portugal de barco com a família, após ter sido escolhido pela direção liderada
por Cazal Ribeiro para terminar um jejum de títulos nacionais que durava há
três anos. Começou mal, com a eliminação na Taça
de Portugal aos pés do Vitória
de Setúbal, mas na temporada seguinte conduziu a equipa que ainda tinha os
violinos Travassos e Vasques à conquista do título nacional.
Em 1958-59 apostou em jovens que
viriam a ser importantes para o Sporting
na década que se seguiu, como Hilário, Morato, Mário Lino e Fernando Mendes,
mas os resultados não acompanharam essa aposta na prata da casa, acabando por
ser despedido em março de 1959 após uma derrota no terreno do Sp.
Covilhã, quando já ocupava o quarto lugar em que terminou o campeonato.
Depois voltou a aventurar-se em
Espanha, desta feita no Betis.
Viria a falecer a 6 de outubro de
1985, aos 73 anos.
Apesar de ter sido escolhido pelo
treinador, não foi além de apenas 13 jogos de leão
ao peito e três golos, diante de Torreense
(dois) e Sp.
Covilhã no campeonato,
numa época em que os verde
e brancos não foram além do quarto lugar.
Após a passagem por Lisboa, Caraballo
jogou ainda no Sp.
Braga e no Salgueiros
antes de se aventurar nos espanhóis do Maiorca, nos franceses do Montpellier e
nos belgas do Gent. Mais tarde voltou a Portugal para orientar o Montijo.
O seu neto, Peter Caraballo, esteve
nas camadas jovens do Sporting
entre 2005 e 2010.
Depois de Fernández e Caraballo,
foi necessário esperar mais três décadas para encontrar uruguaios no Sporting
e logo em dose dupla. Nesse hiato, a seleção celeste tinha vencido quatro Copas
América (1959, 1967, 1983 e 1987) e alcançado um quarto lugar no Mundial 1970.
Pedro Rocha |
No verão de 1988, o emblema
leonino anunciou a contratação do treinador charrua Pedro Rocha, que enquanto jogador foi um dos melhores de sempre do
seu país. Após ter trabalhado como técnico em clubes brasileiros de média
dimensão, como Botafogo de Ribeirão Preto, Coritiba, Guarani e Portuguesa,
foi escolhido pelo presidente Jorge Gonçalves para dirigir a equipa de Alvalade.
No entanto, só aguentou meia
época, até fevereiro de 1989, após 16 vitórias, nove empates e seis derrotas em
31 jogos, tendo sido substituído por Vítor Damas. Por altura do afastamento, os
leões
ocupavam o quarto lugar no campeonato
e já tinham sido eliminados da Taça
UEFA pelos espanhóis da Real
Sociedad.
Depois da aventura em Lisboa,
Pedro Rocha comandou o Vitória
de Guimarães em 1990-91 antes de voltar ao Brasil, onde viria a falecer a 2
de dezembro de 2013, um dia antes de completar 71 anos de idade, vítima de
atrofia no mesencéfalo.
Rodolfo Rodríguez |
Quem também não deixou
propriamente grandes recordações aos adeptos sportinguistas
foi o guarda-redes Rodolfo Rodríguez,
que chegou a Alvalade
precisamente na mesma época que o compatriota Pedro Rocha, tendo sido
apresentado como uma das “unhas” do presidente Jorge Gonçalves.
Apesar de um currículo que incluía
passagens por Nacional de Montevideu e Santos,
presença no Mundial 1986, conquista de uma Copa América (1983), uma Libertadores
(1980) e uma Taça Intercontinental (1980), não conseguiu tornar-se num titular
indiscutível da baliza leonina.
Em 20 partidas, sofreu 18 golos, mas foi várias vezes suplente do então já
veterano Vítor Damas e de Vital.
O último jogo que disputou de leão
ao peito foi numa derrota no Restelo, nas meias-finais da Taça
de Portugal, e teve responsabilidades nos três golos marcados pelo Belenenses.
“Instabilidade emocional de um
clube ligeiramente desorientado. Eu não me queixo, a minha vida era boa, a da
minha família também, sobretudo a dos meus filhos na escola. Foram
verdadeiramente tempos felizes e tranquilos entre Oeiras e Alvalade,
mas a equipa falhou. O Pedro [Rocha, treinador] também saiu, veio o Manuel José.
Tudo isto influi no rendimento das pessoas, dos jogadores. Dos adeptos, nem uma
crítica. Apoiaram-nos sempre. Mesmo na rua. Sempre fui muito acarinhado”,
contou ao Jornal I em janeiro de
2012.
Carlos Bueno |
17 anos depois, mais um uruguaio
reforçou o Sporting,
o avançado Carlos Bueno. À procura do
parceiro ideal para Liedson no 4x4x2 losango que Paulo Bento herdou de José
Peseiro e Fernando Santos, os leões
contrataram o internacional charrua por empréstimo do Paris
Saint-Germain, além do brasileiro Alecsandro.
Em 18 encontros com a camisola verde
e branca em todas as competições, apenas marcou em três, o que não foi
propriamente bueno, mas compactou
nesses três encontros um total de sete golos: um ao Spartak Moscovo na Liga
dos Campeões, quatro ao Nacional
(em apenas 32 minutos em campo) na I
Liga e dois ao Pinhalnovense
na Taça
de Portugal.
“Lembro-me sempre dessa noite [jogo
frente ao Nacional]
e todos me falam dela. Nunca tinha marcado quatro golos num jogo, muito menos
em 15 minutos! É um jogo que nunca esquecerei e que fica para toda a vida”,
afirmou ao Record
em setembro de 2010.
No final dessa época foi
convocado para a Copa América e depois rumou ao Boca
Juniors.
Sebastián Ribas |
Na esperança de que também
pudesse desatar a marcar golos, o Sporting
recebeu por empréstimo do Génova o avançado Sebastián Ribas em janeiro de 2012, na altura para concorrer com o
holandês Van Wolfswinkel, poucos meses após se ter sagrado melhor marcador da
II Liga francesa, com 24 golos ao serviço do Dijon.
No entanto, este jogador que
chegou a estar vinculado ao Inter
de Milão não foi além de sete jogos e zero golos de leão
ao peito.
Sebastián Coates |
Por último, mas nem por isso
menos importante – bem pelo contrário –, o atual capitão de equipa Sebastián Coates. Defesa central de
elevada estatura (1,96 m) que tinha no palmarés a conquista da Copa América de
2011 e no currículo uma passagem sem grande sucesso pelo Liverpool,
chegou a Alvalade
por empréstimo dos ingleses do Sunderland em janeiro de 2016, por indicação de Jorge
Jesus, que anteriormente o quis levar para o Benfica.
De pedra e cal no onze leonino
desde então, já conquistou um campeonato,
uma Supertaça,
uma Taça
de Portugal e três Taças
da Liga desde que chegou a Lisboa, contabilizando já 242 jogos e 23 golos
de verde
e branco. Em 2020-21 somou cinco remates certeiros que se revelaram
decisivos para a conquista do título nacional que escapava há 19 anos e nessa
época venceu ainda o prémio de melhor jogador da I
Liga.
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