quinta-feira, 8 de julho de 2021

Toni Pereira. Um comandante à moda antiga para dirigir a nau sadina

Toni Pereira é o novo treinador do Vitória de Setúbal
Afinal, a experiência de ligas profissionais e a potenciação de jovens, requisitos exigidos ao novo treinador do Vitória de Setúbal pelo novo investidor da SAD, esgotam-se em 55 jogos na II Liga distribuídos por duas épocas e um número residual de futebolistas catapultados para a alta-roda do futebol ao longo dos últimos anos.
 
A escolha para novo treinador sadino recaiu sobre Toni Pereira, um experiente técnico de 64 anos e que abraçou a profissão há mais de três décadas, depois de uma discreta carreira de jogador em que representou clubes como Almada, Trafaria, Seixal, Grandolense, Monte de Caparica e Desp. Beja.
 
No futebol atual, o treinador que na época passada orientou Cova da Piedade e Alverca prima por não embalar na ditadura do futebol de posse, da construção a partir de trás e de um mastigado jogo interior, mantendo-se fiel a um estilo em vias de extinção, mas que já lhe deu várias alegrias.
 
A expressão “aí não se brinca!”, que caiu em desuso, mas que não assim há tanto tempo era empregada sempre que os jogadores de uma equipa corriam riscos, com bola, no seu meio-campo defensivo, faz parte do léxico de Toni Pereira, um treinador à moda antiga, o que não é necessariamente sinónimo de um treinador antiquado. “Só pela certa”, é uma expressão que o define e que utilizou durante um encontro em que o Canal 11 o acompanhou.
 
 
O modelo de jogo das equipas deste experiente técnico assenta num futebol direto à procura do ponta de lança ou na exploração do espaço nas costas da defesa adversária. A utilização de extremos à antiga, mais rápidos e verticais do que criativos, com mais apetência para ir à linha e cruzar do que para aparecer por dentro, é algo que o novo comandante da nau sadina também privilegia – para se ter a noção, na temporada transata teve o antigo extremo vitoriano Arnold a desempenhar essa função no Cova da Piedade.

Outra característica das suas equipas é que defendem homem-a-homem nas bolas paradas, mesmo numa altura em que quase os treinadores optam por uma marcação individual ou mista.
 
Ainda que as características dos jogadores que tem à sua disposição possam motivar nuances, o sistema predileto de Toni Pereira é o 4x2x3x1, com um organizador de jogo nas costas do ponta de lança. Em organização defensiva, esse médio mais ofensivo junta-se habitualmente ao homem mais adiantado num 4x4x2. Na época passada, chegou a implementar um sistema de três centrais no Cova da Piedade, mas que, ao contrário do que o que está na moda, pretendia mais reforçar o eixo defensivo do que dar liberdade aos laterais.
 
Para dar uma ideia, o estilo de jogo do novo treinador do Vitória é bastante idêntico ao de Lito Vidigal – antijogo à parte –, com o pragmatismo e a segurança a serem priorizados em relação à estética.
 
 

Seis subidas no currículo

Em 34 anos de carreira, Toni Pereira, também conhecido com o “Mourinho dos pobres”, almejou seis subidas de divisão, um registo que terá agudizado o interesse da administração da SAD do Vitória.
 
A primeira promoção foi alcançada logo na primeira época como treinador, em 1987-88, ao leme do Sertanense, clube que guiou pela primeira vez aos campeonatos nacionais após se sagrar campeão distrital da AF Castelo Branco.
 
Cinco anos depois, levou os madeirenses da Camacha pela primeira vez à II Divisão B, depois de alcançar o 2.º lugar na Série E da III Divisão.
 
Depois, Toni Pereira teve de esperar mais de uma década por novas promoções, mas acabou por alcançar duas em anos consecutivos, tendo levado tanto o Rio Maior como o Atlético da III à II Divisão B, em 2005 e 2006. Ao serviço do emblema da Tapadinha viveu ainda um momento de enorme mediatismo a 7 de janeiro de 2007, quando eliminou o FC Porto da Taça de Portugal em pleno Estádio do Dragão.
 
 
Em 2011 subiu o Atlético à II Liga e quatro anos depois levou o Mafra também ao segundo escalão, ainda que só tivesse orientado os mafrenses durante a fase de promoção, tendo substituído Jorge Simão, que na altura se transferiu para o Belenenses.

Agora, vai tentar levar o Vitória à II Liga.
 

Um homem do distrito

Nascido em Grândola a 27 de setembro de 1956, António Joaquim Conceição Pereira foi viver ainda jovem para a zona designada como margem sul, residindo atualmente em Corroios.
 
Além de ter representado vários clubes do distrito de Setúbal como jogador, conforme referido acima, orientou Amora (1995-96), Montijo (2005-06), Pinhalnovense (2007-08) e Cova da Piedade (2020-21) antes de chegar ao emblema mais representativo da região.



















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