No início do século XX, um grupo
de aprendizes das oficinas dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste fundaram uma
agremiação a que deram o nome de Sport Recreativo Operário Barreirense,
que foi crescendo e beneficiando da extinção de outras coletividades para
aumentar o número de sócios. No entanto, dificuldades financeiras levaram o
clube a proceder a uma profunda reorganização interna e, em assembleia geral
realizada a 11 de abril de 1911, foi decidido que tendo como base esse clube
nascesse o Foot-Ball
Club Barreirense.
Hoje nos campeonatos distritais,
o Barreirense
já foi um dos clubes mais importantes do futebol nacional. Na década de 1930,
foi duas vezes finalista do Campeonato de Portugal, perdendo em 1930 para o Benfica
no prolongamento e em 1934 para o Sporting.
Na I Divisão também foi presença
assídua nos anos 1950, 1960 e 1970, tendo como melhor classificação o quarto
lugar obtido em 1969-70, que valeu a qualificação para a Taça
das Cidades com Feiras, precursora da antiga Taça
UEFA e atualmente Liga
Europa, em que defrontou o Dínamo Zagreb: 2-0 no Barreiro,
1-6 na Croácia.
Se olharmos aos craques que se
formaram e passaram pelo Barreirense,
dava para construir um plantel histórico de fazer inveja a muitos clubes
portugueses. As faces mais visíveis foram o guarda-redes Bento, o médio Carlos
Manuel, os extremos José Augusto e Fernando Chalana e mais recentemente o
lateral direito João Cancelo. Mas há mais: Adolfo Calisto, Carlos Gomes, Frederico,
Nelinho, Neno ou Arsénio. O treinador Paulo
Fonseca também fez grande parte da formação e da carreira de futebolista
profissional no clube, assim como o atual capitão do Belenenses
SAD, Gonçalo Silva.
Em 24 presenças na I Divisão,
foram mais de duas centenas os futebolistas que jogaram pelo Barreirense
no primeiro escalão. Vale por isso a pena recordar os dez que o fizeram por
mais vezes.
10. Ricardo Vale (131 jogos)
Ricardo Vale |
18 anos de carreira, um só clube:
Barreirense.
Embora tivesse nascido em Vialonga, chegou em tenra idade ao Barreiro,
onde começou a trabalhar como caldeireiro, primeiro na CUF
e depois nos caminhos de ferro.
Produto da formação alvirrubra, este
médio começou a jogar na equipa principal aos 18 anos, na longínqua época de
1940-41, estreando-se na I Divisão com uma auspiciosa vitória sobre o Benfica
no Barreiro
(1-0). Nessa época foi utilizado em quatro jogos e na temporada seguinte em 14.
Seguiu-se um longo trajeto de
nove temporadas II Divisão, em que a promoção ao patamar maior foi escapando
até 1951, ano da conquista do título do segundo escalão.
Depois, Cadocha, como era
apelidado, ainda foi a tempo de competir mais sete épocas entre a elite, tendo
disputado 103 jogos e marcado cinco golos, o último dos quais num dérbi frente
à CUF
em dezembro de 1955.
Capitão de equipa, fez parte das
equipas que chegaram às meias-finais da Taça
de Portugal em 1947-48, 1951-52 e 1956-57 e levou o amor à camisola além
dos relvados, ao contribuir enquanto servente de pedreiro para a construção do
ginásio-sede, inaugurado em 1956. Um ano depois, em outubro de 1957, pendurou
as botas e foi alvo de uma festa de homenagem.
Em 1999 recebeu o diploma de Barreiro
Reconhecido por parte da Câmara Municipal e em agosto de 2008 faleceu no
Hospital do Barreiro,
aos 85 anos.
9. António Pinto (143 jogos)
António Pinto |
Irmão dos internacionais
portugueses Manuel Pinto e Custódio Pinto, chegou ao Barreirense
em 1952, proveniente do Montijo, clube da terra-natal, e ficou no Barreiro
durante nove temporadas, oito das quais na I Divisão. A exceção foi a de
1959-60, que culminou com a conquista do título do segundo escalão.
Defesa central de posição,
apontou quatro golos em 143 jogos no patamar maior do futebol português, um
deles ao Benfica
em janeiro de 1956. Paralelamente, integrou as equipas que chegaram às
meias-finais da Taça
de Portugal em 1956-57 e 1957-58.
Pendurou as botas em 1961, à
beira de completar 37 anos, e depois tornou-se treinador das camadas jovens do
clube, tendo orientado Fernando Chalana. Paralelamente, trabalhou na Câmara
Municipal do Barreiro
como servente e fiscal do mercado.
Viria a falecer a 25 de setembro
de 2010, aos 86 anos.
8. Correia (146 jogos)
Correia |
Avançado natural do Barreiro,
jogou no Luso antes de ter antes de em 1952 ter passado a envergar a camisola
do clube mais popular da cidade. Fê-lo até 1961, quase sempre na I Divisão. A
exceção foi em 1959-60, quando ajudou o Barreirense
a conquistar o título nacional do segundo escalão.
Nesse período, além de ter
contribuído para as caminhadas até às meias-finais da Taça
de Portugal em 1956-57 e 1957-58, apontou 31 golos em 146 jogos no patamar
maior do futebol nacional. A sua época mais produtiva foi em 1955-56, na qual
apontou nove golos, entre os quais um a cada um dos chamados três grandes e
outro à rival CUF.
Em 1952-53 e 1953-54 também esteve em bom plano, ao marcar sete e oito golos.
7. Faia (148 jogos)
Faia |
O melhor marcador de sempre do Barreirense
na I Divisão, com 72 golos. João Júlio de Almeida e Silva, natural do Barreiro,
entrou para o clube em 1947-48, então na II Divisão, tendo contribuído para a
caminhada até às meias-finais da Taça
de Portugal nessa época e para a conquista do título nacional do segundo
escalão e consequente promoção à I Divisão em 1951.
Haveria de continuar no clube até
1954, tendo apontado 35 golos em 70 jogos no patamar maior do futebol português
e contribuído para mais uma campanha até às meias-finais da Taça,
em 1951-52.
Depois mudou-se por dois anos para
a Académica, mas haveria de voltar em 1956 para mais três épocas com a camisola
encarnada e branca. Nesta segunda passagem impôs-se de tal maneira que
disputou a totalidade dos minutos (2340) nos campeonatos de 1956-57, 1957-58 e
1958-59, tendo apontado 17 golos no primeiro, 13 no segundo e sete no terceiro,
amealhando um total de 37 golos em 78 jogos.
Por essa altura ajudou o Barreirense
a chegar por duas vezes às meias-finais da Taça,
em 1956-57 e 1957-58, e somou duas internacionalizações pela seleção nacional
B, frente a Espanha e à região alemã de Sarre.
Após a despromoção de 1959
mudou-se para a rival CUF,
encerrando em 1969 noutro clube do Barreiro,
o Luso. Em 1966-67 teve uma curta experiência como treinador da CUF.
6. José João (154 jogos)
José João |
De uma geração posterior à dos
quatro atletas já referidos, o médio esquerdo José João nasceu em Sarilhos
Pequenos e chegou ao Barreirense
no verão de 1967 proveniente do 1º Maio Sarilhense. Logo na época de estreia
criou boa impressão, apesar da descida de divisão, ao participar em 23 jogos e
marcar dois golos.
No ano seguinte ajudou o Barreirense
a sagrar-se campeão nacional da II Divisão e no regresso à I Divisão contribuiu
para a melhor classificação de sempre do clube, o 4.º lugar, e consequente
apuramento para a Taça
das Cidades com Feiras, tendo participado em ambos os encontros da
eliminatória com o Dínamo Zagreb: 2-0 no Barreiro
e 1-6 na Croácia.
Entre 1969 e 1974 disputou 126
jogos (116 a titular) na I Divisão e apontou 11 golos, tendo vivido em 1972-73
a época mais produtiva da carreira, ao somar quatro remates certeiros. Continuou no D.
Manuel de Mello em 1974-75, após a queda para a II Divisão, mas depois
rumou ao Paços
de Ferreira.
Após dois anos na Mata
Real regressou em 1977 para ajudar o Barreirense
à I Divisão, patamar em que haveria de patamar mais cinco jogos (dois a
titular) em 1978-79, naquela que foi a última presença dos alvirrubros
entre os grandes do futebol português.
Depois dessa temporada prosseguiu
a carreira nas divisões secundárias com as camisolas de União de Tomar,
Montijo, Seixal e Luso.
Entretanto radicou-se no Canadá,
onde é fadista amador.
5. Vasques (155 jogos)
Vasques |
Médio algarvio natural de Vila
Real de Santo António, chegou ao Barreirense
no verão de 1948 depois de ter despontado no Glória e de se ter estreado na I Divisão
ao serviço do Lusitano VRSA, dois clubes da terra-natal.
As três primeiras épocas no Barreiro
foram passadas na II Divisão, mas em 1950-51 ajudou a equipa não só a ascender
à elite do futebol português como também a vencer o título nacional do segundo
escalão.
Seguiram-se oito temporadas
consecutivas no patamar maior do futebol nacional, nas quais participou em 155
encontros e marcou sete golos no campeonato. Paralelamente, ajudou os alvirrubros
a atingir as meias-finais da Taça
de Portugal em 1951-52, 1956-57 e 1957-58.
Em 1959 deixaria o clube rumo ao
Paio Pires, onde encerrou a carreira em 1962, nos distritais da AF
Setúbal. Paralelamente foi funcionário bancário e funcionário da Câmara
Municipal do Barreiro,
tendo falecido a 10 de maio de 2012, a poucos dias de comemorar 86 anos.
O seu filho, que herdou o nome do
pai, jogou no Barreirense
no final da década de 1970 e assumiu o comando técnico da equipa principal em
2001 e 2002.
4. Mira (161 jogos)
Luís Mira |
Natural do Barreiro,
só vestiu a camisola
encarnada e branca durante o seu trajeto futebolístico. Um médio que
prometeu muito desde tenra idade, ao ponto de ter feito parte da seleção
nacional de sub-18 que venceu o título europeu da categoria em 1961, ao lado de
nomes como António Simões, Serafim ou Fernando Peres.
Foi precisamente depois desse
torneio que se estreou pela equipa principal do Barreirense,
aos 18 anos, mas sem conseguir evitar a descida à II Divisão. Apesar das
despromoções em 1961, 1964, 1966 e 1968, manteve-se sempre ao serviço do clube
que o formou, revelando uma lealdade ímpar.
Em dez épocas de I Divisão
realizou 161 jogos, 149 dos quais na condição de titular, e apontou 19 golos. Foi
um dos esteios da equipa que em 1969-70 obteve a melhor classificação de
sempre, o 4.º lugar, tendo participado em 10 minutos da eliminatória europeia
diante do Dínamo Zagreb.
Penduraria as botas em 1974, após
a quinta despromoção da carreira. Voltaria ao clube enquanto treinador em
1981-82, numa temporada em que os alvirrubros
obtiveram o 7.º lugar na II Divisão – Zona Sul.
3. Silvino (162 jogos)
Silvino Preto |
Mais um caso de um jogador
natural do Barreiro,
formado no Barreirense
e com um longo trajeto ao serviço da equipa principal. No caso deste defesa, o
trajeto no futebol sénior foi iniciado em 1949 e encerrado em 1964.
Em 1950-51, 1959-60 e 1961-62
conquistou o título nacional da II Divisão ao serviço dos alvirrubros.
E nas nove épocas em que esteve no patamar maior do futebol português efetuou
162 jogos e marcou um golo, e logo ao FC Porto, numa derrota caseira (1-3) a 13
de fevereiro de 1955. Paralelamente contribuiu para as campanhas até às
meias-finais da Taça
de Portugal em 1951-52, 1956-57 e 1957-58.
Funcionário da Câmara Municipal
do Barreiro,
faleceu a 24 de abril de 2004, aos 73 anos.
2. Bandeira (179 jogos)
Bandeira |
Outro futebolista natural do Barreiro,
formado no Barreirense
e com um longo percurso no clube mais popular da cidade. Defesa central de
posição, estreou-se pela equipa principal aos 17 anos, numa derrota caseira com
o Belenenses em maio de 1961.
Seguiram-se mais 13 anos no
plantel. Além dos 179 jogos e seis golos no patamar maior do futebol português,
ajudou o emblema alvirrubro a conquistar o título nacional da II Divisão em
1961-62, 1966-67 e 1968-69.
Em 1969-70 foi um dos esteios da
equipa que logrou a melhor classificação de sempre da história do clube no
primeiro escalão, o 4.º lugar, ao participar nos 26 jogos do campeonato. Na
época seguinte disputou os 180 minutos da eliminatória europeia com o Dínamo
Zagreb.
Deixou o clube em 1974, após mais
uma descida de divisão, para rumar ao Amora, então na III Divisão.
É cunhado de Serra, que foi
jogador do Barreirense
entre 1969 e 1983.
1. Faneca (198 jogos)
Faneca |
Nasceu em Montemor-o-Novo, no Alentejo,
mas foi no Barreirense
que fez grande parte do seu trajeto como futebolista, incluindo vários anos na
formação. Lateral capaz de atuar nos dois flancos, estreou-se pela equipa
principal aos 20 anos, em 1955, e só deixou o clube década e meia depois, tendo
disputado 194 jogos (190 a titular) e marcado dois um golos – um deles ao Benfica
de Eusébio em 1962-63 – no patamar maior do futebol português.
Participou nas caminhadas até às
meias-finais da Taça
de Portugal em 1956-57 e 1957-58, nas conquistas do título nacional da II
Divisão em 1959-60, 1961-62, 1966-67 e 1968-69 e, na derradeira temporada, no
4.º lugar e consequente apuramento europeu em 1969-70. Por outro lado, desceu
de divisão por cinco vezes.
Em 1970 mudou-se para o Luso,
onde haveria de encerrar a carreira em 1976, aos 41 anos. Porém, pelo meio passou
pelo Vasco
da Gama de Sines (1971 a 1974).
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