domingo, 18 de dezembro de 2022

A minha primeira memória de… um jogo entre Belenenses e Académica

Paulo Sérgio festeja o segundo golo da Académica
21 de fevereiro de 2004. Tinha 12 anos e encontrava-me a passar umas miniférias de Carnaval na aldeia alentejana de onde os meus pais são naturais. Não havendo muito mais que fazer nesse sábado à noite, recordo-me de ter ido com alguns familiares para um café ver o jogo que a Sport TV – na altura a estação resumia-se a um só canal – estava a transmitir, o Belenenses-Académica.
 
Os azuis do Restelo até vinham de boas épocas na I Liga, com um 7.º lugar em 2000-01, um 5.º em 2001-02 e um 9.º em 2002-03, mas em 2003-04 estavam com dificuldades em manter o nível. Augusto Inácio era o homem do leme, mas já era o terceiro treinador da época, depois de Manuel José e do jugoslavo Vladislav Bogicevic. Futebolistas míticos do Belenenses no século XXI, como Marco Aurélio, Filgueira, Wilson, Tuck e Marco Paulo, começavam a aproximar-se do final da carreira, enquanto uma das principais figuras da equipa nas épocas anteriores, Neca, estava a atravessar uma das piores temporadas da carreira.
 
À entrada para a 23.ª jornada do campeonato, o emblema da Cruz de Cristo era 13.º classificado (entre 18 equipas), com 23 pontos, mais quatro do que a Académica de João Carlos Pereira, que se encontrava no 16.º lugar, o primeiro abaixo da chamada linha de água. Pedro Roma, Lucas e Paulo Adriano, no clube há várias épocas, davam uma mística a uma briosa com jovens valores como Tonel e Paulo Sérgio um goleador brasileiro chamado Joeano que dava os primeiros passos no futebol português.
 
Esperava-se um jogo equilibrado, com favoritismo do Belenenses, mas aquilo a que se assistiu foi precisamente o contrário: desequilíbrio e goleada (0-5) da Académica no Restelo, onde já não ganhava desde 1986.



 
O golo inaugural foi apontado por Tonel, aos 13 minutos, após passe de cabeça de Paulo Adriano, na sequência de uma bola parada ofensiva.
 
Entretanto, pouco antes da meia hora de jogo Hélder Rosário agrediu Flávio em plena área do Belenenses e foi expulso. Marco Aurélio defendeu o penálti de Nuno Luís, mas apenas adiou o descalabro.
 
Ainda antes do intervalo, Paulo Adriano cruzou para a zona do segundo poste, onde o baixinho Paulo Sérgio cabeceou para o 0-2 (42’). Já no derradeiro quarto de hora do segundo tempo, num lance com algumas semelhanças com o do segundo golo, Flávio serviu Joeano de trivela para o terceiro (76’). E em tempo de compensação, Fábio Felício recuperou a bola e assistiu Flávio para o 0-4 (90’), enquanto Lucas picou a bola sobre Marco Aurélio para, a passe de Tixier, fechar as contas ao cair do pano (90+3’). Um autêntico escândalo!
 
“Foi necessário calcorrear uma longa travessia de dezoito anos para os academistas voltarem a festejar uma vitória no Estádio do Restelo. E, não satisfeitos com o cometimento, proporcionaram um autêntico recital ao anfitrião, que entrou perdido e saiu atónito do campo de batalha. Não obstante o desiderato, nas franjas do enxovalho, o Belenenses abeira-se perigosamente da linha de água, enquanto a Académica evolui pela linha contrária, a ascendente. E agora o hiato, entre ambos, é de um mísero ponto, sendo que os academistas levam vantagem no confronto direto. Esta estrondosa (leia-se, escandalosa!) vitória não estaria, certamente, nos planos do estudante mais arrojado ou sonhador. Ambos os emblemas provinham de triunfos moralizadores. O Belenenses vencera, na Maia, os vimaranenses, ao passo que a Briosa derrotava a sempre temível pantera axadrezada. Perante este cenário animador, não se perspetivavam desequilíbrios de monta, ainda que o favoritismo fosse confiado aos da casa, não só por atuarem no seu burgo, mas também por não perderem com a Académica desde o longínquo fevereiro de 1986”, escreveu o jornal O Jogo.
 







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