Hoje faz anos o pistoleiro do Boavista campeão que não vingou no Sporting. Quem se lembra de Elpídio Silva?
Elpídio Silva brilhou no Boavista mas não no Sporting
Ficou conhecido em Portugal por “o
pistoleiro”, devido à forma como festejava os golos, simulando disparos. Essa
imagem tornou-se célebre durante a temporada 2000-01, quando foi o melhor
marcador do Boavista
campeão, tendo contribuído com onze golos para a inédita conquista dos axadrezados,
naquele que foi o seu primeiro ano no Bessa.
Mas a história da carreira de Elpídio
Silva não se esgota nessa época. Foi um avançado desenvolvido nas camadas
jovens do Atlético
Mineiro que ainda numa fase bastante precoce da carreira experimentou o
futebol japonês, onde representou o Kashiwa Reysol em 1997 e 1998. “Tinha-me
destacado nas camadas jovens do Atlético
Mineiro, marcando muitos golos, e houve um japonês que gostou muito de um
vídeo que o meu empresário fez”, recordou ao Diário
de Notícias em dezembro de 2017. O mesmo empresário, João Baptista
Feijó, colocou-o… no Benfica.
“Eu tinha tudo acertado com o Benfica,
em 1998. Contudo, o presidente [Vale
e Azevedo] não me enviou um fax com a documentação necessária. Já estava no
aeroporto e irritei-me com o meu empresário, porque o Benfica
não fez o que estava certo, mas naquele momento ele ligou para o Sp.
Braga, que enviou o fax na hora”, lembrou o avançado brasileiro, que vestiu
a camisola arsenalista
entre 1998 e 2000 e concluiu o campeonato de 1998-99 no pódio dos goleadores,
com 16 golos, apenas atrás do portista Mário
Jardel (36) e do benfiquista Nuno Gomes (24).
O presidente dos bracarenses,
João Gomes, resistiu ao assédio de clubes como FC
Porto, Alavés
e Atlético
Madrid, mas Elpídio
Silva não conseguiu manter a bitola da época anterior: “Tive uma pubalgia e
problemas com o treinador, Manuel
Cajuda. Não consegui ter um rendimento tão bom e as pessoas pensavam que
era de propósito.” Contudo, o Boavista
lembrou-se dos bons desempenhos do brasileiro em 1998-99 e recrutou-o no verão
de 2000. Silva
não se fez rogado e, logo numa das primeiras entrevistas que concedeu enquanto
jogador dos axadrezados,
disse que foi para o Bessa para ser campeão. “O grupo era mesmo muito bom, e
com o presidente [João Loureiro] e [o treinador] Jaime
Pacheco, remávamos todos para o mesmo lado. Logo nos primeiros meses, o meu
contrato foi revisto e eu disse ao presidente: ‘Coloca aí que se eu for
campeão, você tem que me dar x’. Ele riu-se e disse que eu estava louco, mas no
final da época pagou tudo certinho. Eu estava convicto. E no segundo ano [2001-02]
só não fomos campeões porque perdemos um jogo frente ao Varzim.
O Jaime
Pacheco tirava o máximo de nós, até à exaustão, e dava certo”, contou o atacante. É nessa fase de grande fulgor do Boavista
que o atacante começou a festejar golos a simular disparos, uma brincadeira que
começou no seio da fação canarinha do plantel: “Tínhamos um grande grupo de
brasileiros e sempre gostei de filmes antigos. Achava engraçados aqueles gestos
e disse ao Duda
que ia passar a festejar os golos assim, a fingir que lhe dava um tiro e ele a
cair no relvado.” Depois do título nacional de
2000-01, a passagem à segunda fase de grupos da Liga dos
Campeões e o segundo lugar no campeonato em 2001-02 e a caminhada até às
meias-finais da Taça
UEFA em 2002-03, Elpídio
Silva despediu-se do Boavista
ao fim de 40 golos em 108 jogos e assinou pelo Sporting.
Embora quase sempre titular (24
vezes em 32 jogos disputados) às ordens de Fernando Santos em Alvalade
em 2003-04, não foi além de um total de apenas cinco golos, o seu pior registo
de sempre uma época completa em Portugal. “O único clube em que não me
destaquei foi o Sporting.
Não tive sorte e houve muitas questões fora dos relvados. (…) A minha mulher
não se adaptou a Lisboa, passei três ou quatro meses num hotel enquanto
encontrava casa e tive uma lesão grave na cabeça. Foram coisas pelas quais não
passei nos outros clubes, onde já tinha casa e escola para os meninos. Tudo era
complicado no Sporting”,
recordou. Na temporada 2004-05 esteve uns
furos acima ao serviço do Vitória
de Guimarães (sete golos em 26 jogos), contribuindo para o primeiro
apuramento europeu do clube em quase uma década, o que lhe valeu o bilhete de
regresso a Alvalade.
Recomeçou a aventura com José
Peseiro, mas foi às ordens de um antigo companheiro de equipa que a sua
passagem pelo Sporting
conheceu um ponto final: “No meu regresso, apanhei o Paulo
Bento, que tinha sido meu colega na primeira época no Sporting
e não me encaixava bem como treinador e pessoa. Achava que ele era muito
arrogante e tinha atritos com brasileiros. Explicou-me que não contava comigo.”
Seguiu-se um regresso ao Brasil
para representar o Corinthians Alagoano e experiências ao serviço dos ingleses
do Derby
County, dos coreanos do Suwon Bluewings e dos cipriotas do Alki e do AEK
Larnaca antes de pendurar as botas em 2009, aos 34 anos. Após encerrar a carreira voltou
ao Brasil para montar vários negócios: aluguer de um terreno e organização de
eventos como casamentos e batizados, restaurante português e escola de futebol.
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