O goleador do pior Benfica da história. Quem se lembra de Pierre van Hooijdonk?
Van Hooijdonk apontou 23 golos pelo Benfica em 2000-01
Nem tudo foi mau no pior Benfica
da história, aquele que em 2000-01 ficou em sexto lugar no campeonato, foi
eliminado logo na primeira ronda da Taça
UEFA pelos suecos do Halmstads, não passou dos oitavos de final da Taça
de Portugal e teve dois presidentes (Vale
e Azevedo e Manuel Vilarinho) e três treinadores (Jupp Heynckes, José
Mourinho e Toni).
Numa altura em que os encarnados
recebiam vários flops do norte e centro da Europa, o ponta de lança neerlandês
Pierre van Hooijdonk foi uma contratação certeira, apesar de ter chegado à Luz
já com 30 anos. Foi o melhor marcador da equipa, com 23 golos em todas as
competições, mais cinco do que João Tomás, e fez esquecer o antecessor Nuno
Gomes. Era possante (1,93 m), dotado de instinto matador e um exímio executante
de livres diretos. Criado pela mãe, depois de o pai biológico, um marroquino, os ter
abandonado ainda antes do nascimento, cresceu numa pequena aldeia no sul dos
Países Baixos, começou a jogar futebol nas camadas jovens do SC Welberg, tendo
passado para a formação do clube do coração, o NAC Breda, quando tinha 11 anos.
No entanto, foi dispensado aos 14, tendo passado pelos amadores do VV
Steenbergen antes de despontar nos seniores do RBC Roosendaal entre 1989 e
1991. Apesar do interesse de vários clubes, não hesitou em voltar ao NAC Breda,
ajudando o clube a subir à I
Liga dos Países Baixos em 1993. Em 1993-94 estabeleceu um recorde de onze
jogos consecutivos a marcar no campeonato
neerlandês e em dezembro de 1994 foi convocado pela primeira vez para a seleção
principal do seu país.
Os bons desempenhos captaram o interesse de clubes de maior dimensão,
tendo assinado pelos escoceses do Celtic
em janeiro de 1995, tendo tido um impacto imediato na equipa
de Glasgow, ao bisar no jogo de estreia, diante do Hearts em Hampden Park. Nessa
época de 1994-95 conquistou a Taça da Escócia, o primeiro troféu dos católicos
em seis anos. Na temporada seguinte sagrou-se melhor marcador da liga escocesa, com 26 golos,
mas em 1996-97 caiu de produção e chegou mesmo a tornar-se suplente, o que
levou o selecionador dos Países
Baixos, Guus Hiddink, a pedir-lhe para encontrar outro rumo para a
carreira.
A solução encontrada foi o transferir-se no início de 1997 para o Nottingham
Forest, equipa da Premier
League, mas com dificuldades na luta pela permanência. Van Hooijdonk não
conseguiu reverter a situação, apesar de ter assinado um golo e duas assistências
em oito jogos, e o histórico
emblema inglês acabou mesmo por descer de divisão. Apesar da despromoção, o ponta de lança neerlandês continuou no City
Ground e ajudou o Forest
a sagrar-se campeão do Championship, tendo apontado 34 golos em toda a
temporada 1997-98. Apesar de jogar num segundo escalão, a boa forma exibida
valeu-lhe a convocatória para o Campeonato do Mundo disputado em França, tendo
mesmo marcado um golo no torneio, diante da Coreia
do Sul.
Ainda assim, Van Hooijdonk estava infeliz no clube, tendo pedido para ser
transferido. Recebeu propostas de PSV,
Newcastle
e Trabzonspor, mas o Nottingham
Forest não o deixou sair. Chegou a fazer greve e a treinar no NAC Breda
para manter a forma, mas o ponta de lança neerlandês voltou ao Forest
em novembro de 1998, a tempo de marcar seis golos até final de uma época que
uma vez mais culminou em despromoção. No entanto, os companheiros de equipa
nunca o perdoaram, ao ponto de, após um remate certeiro diante do Derby
County, se terem recusado a festejar com ele, preferindo congratular o
jogador que havia feito o cruzamento, Scot Gemmill.
No verão de 1999 o treinador Ralf Rangnick quis levá-lo para o Estugarda,
mas o presidente dos alemães,
Gerhard Mayer-Vorfelder, recusou, sentindo que Van Hooijdonk era demasiado caro
para um jogador com quase 30 anos. Acabou então por voltar aos Países Baixos
para representar o Vitesse, reencontrando-se com os golos: apontou 25 no
campeonato e ajudou a equipa de Arnhem a concluir a liga em quarto lugar (à
frente do Ajax),
garantindo assim o apuramento para a Taça
UEFA, e a chegar às meias-finais da Taça nacional.
Depois de participação no Euro
2000, ainda que sem jogar, mudou-se para o Benfica,
tendo apontado 23 golos em 35 jogos que não impediram uma temporada desastrosa
a nível coletivo. “Claro que ninguém me precisou de explicar o que era o Benfica.
Qualquer pessoa que conheça um pouco de futebol conhece o Benfica.
Quando assinei, o presidente disse-me que iria fazer dupla de ataque com Nuno
Gomes. E Nuno teve um Euro
2000 fantástico. Marcou golos fantásticos. Olhei para as qualidades do Nuno
e pensei: ‘Pode ser uma combinação fantástica’. Nuno tinha velocidade,
desmarcava-se atrás dos defesas, eu era um jogador que gostava mais de aparecer
e de ter a bola para finalizar. A perspetiva era fantástica. Quando cheguei a
Portugal pela primeira vez depois do Euro,
fui ao Estádio
da Luz e entrei no balneário. O Nuno estava lá, apresentei-me a alguns
jogadores e disse-lhe: ‘Prazer em conhecer-te, espero que possamos fazer uma
parceria fantástica’. Mas ele respondeu-me logo: ‘Desculpa, amigo, mas estou de
saída para o aeroporto. Vou para a Fiorentina’.
Essa parceria nunca chegou a tornar-se realidade, infelizmente. Sem dúvida
teria sido uma combinação fantástica”, recordou, lembrando um ano “com muitos
problemas para o clube”: “Entraram muitas pessoas, saíram muitas, entraram
treinadores novos e jogadores que Vilarinho tinha prometido. Foi uma grande
confusão. O problema é que no campo foi o mesmo. A equipa não era
suficientemente forte para competir, imediatamente, pelo título. Isso provocou
muita frustração nos adeptos. Obviamente, enquanto jogadores sentimos isso e
percebemos logo que o clube está habituado a ganhar troféus, os adeptos no
passado viram equipas vencedores, com avançados fantásticos, com jogadores
fantásticos.”
Apesar dos bons desempenhos, foi dispensado no final da época. Com mais
dois anos de contrato, foi-lhe indicado para apresentar-se na pré-época da
equipa B em julho de 2001, mas a solução encontrada acabou por ser a
transferência para o Feyenoord.
Em boa hora o fez, porque em 2001-02 viveu talvez a melhor temporada da
carreira, tendo vencido a Taça
UEFA (em casa), contribuindo com oito golos que lhe valeram o prémio de melhor
marcador da prova, e sagrou-se melhor marcador do campeonato
neerlandês, com 24 remates certeiros.
Entre 2003 e 2005 representou o Fenerbahçe,
sagrando-se bicampeão turco, tendo sido convocado para o Euro 2004 e contribuído
para a caminhada da seleção
laranja até às meias-finais.
No ocaso da carreira voltou ao NAC Breda e ao Feyenoord
antes de se despedir dos relvados em maio de 2007, aos 37 anos.
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