Peyroteo, o “stradivarius” dos Cinco Violinos e o melhor marcador de sempre da I Divisão
Peyroteo marcou 332 golos em 197 jogos na I Divisão
O goleador-mor dos Cinco Violinos
que brilharam no ataque do Sporting
no final da década de 1940 e aquele que é, ainda hoje, o melhor marcador de
sempre da I
Divisão, com 332 golos – mais 13 do que Eusébio
e Fernando Gomes – em 197 jogos, o que equivale a uma impressionante média de
1,69 golos por partida.
Fernando Peyroteo foi um marcador
de golos implacável numa era que não abonou nada a seu favor: ainda não havia
televisão em Portugal nem competições europeias e os Campeonatos do Mundo
tinham sido interrompidos entre 1938 e 1950 devido à eclosão da Segunda Guerra
Mundial. Nasceu em Angola a 10 de março de
1918, mas tinha ascendência castelhana por parte um dos avós, daí o apelido pouco
português. Tornou-se sportinguista
por influência dos irmãos mais velhos, que jogavam no Sporting Clube de
Moçâmedes, e começou a jogar futebol no Atlético Clube de Moçâmedes. Possante, até com uns quilinhos a
mais, cumpriu um programa desenhado pelo professor Ângelo Mendonça para se
tornar mais atlético, tendo praticado ginástica, natação, remo e basquetebol ao
mesmo tempo que se destacava no futebol. Depois de representar Atlético de Moçâmedes
e Académico de Sá da Bandeira, ajudou o Sporting de Luanda a sagrar-se campeão
de Luanda em 1937.
A 26 de junho de 1937, quando
tinha apenas 19 anos, chegou a Portugal acompanhado da mãe, que regressava a
Portugal para tratar de um problema de saúde, e depressa foi reencaminhado por
Aníbal Paciência, um amigo angolano que jogava no Sporting,
para o emblema
leonino. Ainda foi assediado pelo FC
Porto, que lhe ofereceu muito dinheiro, mas a palavra que tinha dada aos verde
e brancos falou mais alto. Em agosto começou a trabalhar às
ordens do treinador Joseph Szabo e desatou a marcar golos e a arrecadar títulos,
tendo assinado um contrato ao nível do teto salarial do clube na altura: 700
escudos por mês. No total, terá faturado por 543 vezes
em 334 encontros oficiais de leão
ao peito entre 1937 e 1949. Em todas as épocas fez mais golos do que jogos, tendo
sido coroado por seis vezes melhor marcador da I
Divisão (1937-38, 1939-40, 1940-41, 1945-46, 1946-47 e 1948-49). Venceu
ainda cinco campeonatos (1940-41, 1943-44, 1946-47, 1947-48 e 1948-49), quatro Taças
de Portugal (1940-41, 1944-45, 1945-46 e 1947-48), um Campeonato de
Portugal (1937-38) e sete Campeonatos de Lisboa (1937-38, 1938-39, 1940-41,
1941-42, 1942-43, 1944-45 e 1946-47). Um período dourado na história leonina,
no qual o “stradivarius” integrou a linha ofensiva que ficou conhecida como os
Cinco Violinos, ao lado de Vasques, Travassos, Jesus Correia e Albano. Foi ainda o primeiro jogador a
marcar no Estádio Nacional, ao inaugurar o marcador numa vitória do Sporting
sobre o Benfica,
por 3-2, que valeu aos verde
e brancos a conquista da Taça Império, uma espécie de percursora da Supertaça,
em 1944. As águias
foram, aliás, uma das vítimas favoritas de Peyroteo, que faturou por 64 vezes
nos dérbis lisboetas.
Em termos de seleção
nacional, viveu uma fase bastante ingrata, sem fases finais, tendo somado
14 golos em 20 internacionalizações entre 1938 e 1949. Haveria de se retirar relativamente
cedo, em 1949, quando tinha 31 anos, para se dedicar em exclusivo a uma loja de
artigos desportivos que abrira em Lisboa, a Casa Peyroteo. Contudo, o negócio
continuou a correr mal e o antigo avançado chegou a voltar a Angola. De regresso a Portugal, foi
selecionador nacional por dois jogos em 1962, tendo promovido a estreia de Eusébio
numa derrota no Luxemburgo. Haveria de morrer ainda jovem,
aos 60 anos, a 28 de novembro de 1978. O Sporting
nunca o esqueceu. Em 1997 foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria
Saudade e em 2018 foi-lhe atribuído, numa decisão aprovada por unanimidade em
Assembleia Geral, a título perpétuo a condição de sócio n.º 9, a camisola que
habitualmente envergava.
O seu sobrinho-neto, José Couceiro, foi treinador, dirigente e candidato à presidência do Sporting.
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