Jordão Cardoso tem sido titular em todos os jogos do Amora |
Despontou no Vianense, passou
pela formação do Rio
Ave e da Académica,
jogou com o lateral portista
Zaidu no Mirandela, experimentou os campeonatos de Chipre e Bulgária, mas é ao
serviço do Amora,
líder da Série H do Campeonato
de Portugal, que o médio ofensivo/extremo luso-angolano
Jordão Cardoso vai brilhando. Em entrevista, o jogador amorense
fala da realidade que encontrou no novo clube, do antigo companheiro de equipa
que agora joga no Dragão e do sonho de representar Angola.
JORDÃO CARDOSO - Sim, estamos a atravessar um bom momento, mas não podemos esquecer que o campeonato começou agora mesmo. Ainda há muito caminho para percorrer, temos uma equipa muito forte e o objetivo é andar nos lugares cimeiros. Para isso temos que ganhar o máximo de jogos possível.
O mister Bruno Dias, apesar de ser um treinador jovem, tem boas ideias sobre como devemos jogar e é muito dedicado, exigente, promove muito a competitividade/intensidade no treino e penso que nós jogadores estamos a dar uma boa resposta face ao que ele nos pede.
Está a ser uma experiencia muito boa. Apesar de jovem o nosso plantel conta com vários jogadores que já jogaram em patamares superiores. Isso, por si só, já é uma responsabilidade acrescida para todos nós. Não seria justo estar a individualizar pois são vários os jogadores que atravessam um bom momento. Mas sim, temos qualidade a nível individual que tentamos diariamente pôr ao serviço do coletivo.
“Amora é um grande clube. Pelos adeptos que tem nem deveria estar nesta divisão”
Jordão Cardoso foi anunciado como reforço do Amora no último verão |
Quais têm sido as primeiras impressões do Amora?
O meu objetivo para esta temporada é somar o máximo de minutos possível, tentando ajudar a equipa a ter sucesso. Quero recuperar a confiança que perdi um pouco na época passada e somar boas exibições para em breve jogar ao mais alto nível.
Sim, desempenho as duas funções. Considero-me um jogador muito trabalhador. Ataco bem, mas também ajudo muito em tarefas defensivas. O meu ponto forte é a transição defesa/ataque a transportar bola. Não tenho por hábito fazer muitos golos, mas faço bastantes assistências e participo constantemente nas jogadas de ataque. A equipa que me contrata pode contar sempre com um jogador que vai desequilibrar na frente, mas que é muito trabalhador e dinâmico.
A minha infância foi bonita e bem vivida. Nasci na cidade de Viana do Castelo e cresci em Darque (na periferia da cidade). Cresci num bairro social, o bairro do Fomento. No fundo, foi lá que eu comecei a construir a minha personalidade e maneira de ser. Foi lá que eu aprendi a jogar futebol, é lá que tenho a maior parte dos meus amigos. Quando se cresce num bairro social o que não falta são crianças para brincar, portanto, tive uma infância feliz.
“Serei eternamente grato ao Vianense”
Começou a jogar no Vianense, clube que chegou a representou enquanto sénior. Quais as principais recordações que tem desse tempo?O Vianense é um clube ao qual serei eternamente grato. É a minha segunda casa a bem dizer. No futebol de formação sempre fui feliz lá, e acima de tudo, bem tratado. Tive várias propostas para sair ao longo da minha formação, mas era ali que me sentia bem e só saí no momento que achei que seria o melhor para mim. O início da minha carreira como sénior foi um pouco complicado, pois inicialmente jogava com pouca regularidade. Uma recordação que me marcará para sempre pela negativa foi ficar fora da convocatória no jogo contra o Benfica para a Taça de Portugal. Não só por ser contra o Benfica, mas também pelo amor que ainda hoje sinto pelo Vianense, que eu queria representar a todo o custo. Ainda assim não guardo mágoa nenhuma, pois foi um clube que sempre me ajudou e nunca me prejudicou.
Foi uma boa aventura. Foi na altura em que decidi sair do Vianense pela primeira vez. Foi uma mudança enorme a nível de competitividade e de profissionalismo. Foi uma experiência que me fez crescer bastante.
“Zaidu está sempre alegre. Não tinha dúvidas que ia atingir este nível”
Jordão Cardoso jogou com Zaidu no Mirandela em 2016-17 |
Em 2016-17 passou pelo Mirandela e teve como companheiro de equipa
Zaidu, atual lateral esquerdo titular do FC
Porto. Como era ele como jogador e pessoa naquela altura? O Jordão
acreditava que ele fosse atingir este nível?
Sim. Mirandela foi uma boa
passagem para mim. Partilhei balneário com o Zaidu e posso dizer que como
pessoa ele é fantástico, sempre alegre e a tentar pôr toda a gente alegre
também. Era impossível não gostar dele. Como jogador, sim, sabia que ele tinha
potencial para atingir este patamar. Em tao pouco tempo acharia difícil, mas não
tinha duvidas de que ele conseguiria lá chegar. Fico contente por ele.Na minha opinião ele não tem que fazer esquecer ninguém. Ele tem que ser ele próprio e se preocupar única e exclusivamente em que os adeptos admirem o trabalho dele. Em todos os clubes os jogadores vão e vêm, mas as memórias ficam. Assim como se relembrarão do Alex Telles pelo que deu ao FC Porto, torço para que ele faça um excelente trabalho para que se relembrem dele também mais tarde.
A minha ida para o DOXA considero-a agora um pouco precipitada. Após uma boa época a nível individual em Mirandela talvez o melhor teria sido ficar mais uma época, com a possibilidade de jogar e continuar a evoluir. O Wilson Kenidy foi uma pessoa que me ajudou muito e ainda hoje mantenho contacto com ele. Foi uma experiencia que me fez sofrer bastante, mas serviu para amadurecer e me tornar mais forte.
“Benfica Castelo Branco tem tudo para subir, só falta um pouco mais de sorte”
Jordão Cardoso foi orientado por Ilian Illiev no Cherno More |
Em 2018-19 regressou a Portugal para representar o Benfica Castelo
Branco, um clube que há vários anos vem perseguindo o sonho de subir à II
Liga. Como correu a experiência e o que falta aos albicastrenses para
voltarem ao futebol profissional?
Joguei no Benfica Castelo Branco
num ano em que me senti muito feliz. As condições que o clube dá aos jogadores
e a equipa que tínhamos na altura era algo que dava gosto. É um clube que tem
tudo para subir ao futebol profissional, talvez necessite um pouco mais de
sorte nas fases mais decisivas, mas creio que será uma questão de tempo.A ida para a Bulgária foi uma boa decisão da minha parte. Fui numa altura em que me sentia bem e inicialmente as coisas estavam a correr muito bem. Com o passar do tempo a situação começou a alterar-se, na minha opinião não por falta de rendimento, mas sim por falta de oportunidades. Um jogador tem de ter autoconfiança, mas quando não tem a confiança por parte do treinador as coisas tornam-se muito complicadas.
Não só o futebol búlgaro, mas em praticamente todo o lado. Assistimos a atos racistas até nos países mais desenvolvidos. Nunca senti racismo para comigo e penso que será uma minoria, como em todo o lado.
Toda a minha família é angolana, incluindo os meus pais. Apenas eu e o meu irmão nascemos em Portugal e, como tal, temos também nacionalidade angolana. Grande parte da minha família reside em Angola, motivo pelo qual eu visitei o país por duas vezes.
“Estou a trabalhar para ser chamado à seleção angolana”
Jordão Cardoso em ação com a camisola do Mirandela |
Representar Angola
é algo que deseja? Alguma vez foi contactado pela Federação
Angolana?
Sim. Representar a seleção
angolana é o que eu desejo. Iria deixar toda minha família radiante e
repleta de orgulho. Ainda não fui contactado, mas gostava que isso acontecesse.
Estou a trabalhar para isso.Não é fácil acompanhar no país em que resido devido à falta de transmissões televisivas e tudo mais, mas tento acompanhar sempre. Acho que tem evoluído bastante e espero que a tendência seja melhorar ainda mais. A consequência disso é o jogador que atua em Angola hoje em dia ser muito cobiçado na Europa. Fui abordado não oficialmente para rumar ao Girabola neste ano, mas por outros motivos acabou por não acontecer. Gelson Dala é sem dúvida um jogador que admiro muito, mas é um dos muitos bons jogadores com quem a seleção angolana pode contar.
Não é uma situação confortável, mas temos que nos adaptar e, acima de tudo, respeitar as regras. Isso é o mais importante. Se cada um fizer a sua parte, não iremos acabar com o vírus, mas iremos melhorar muito a situação nos países em que vivemos.
Penso que o público nos estádios já deveria ter regressado há mais tempo. Nunca me pronunciei publicamente, mas achei uma tremenda injustiça. Os estádios têm capacidade para milhares de pessoas, e tal como estão a iniciar agora com uma pequena percentagem de ocupação de lugares o mesmo poderia ter sido feito muito antes, visto que assistimos a grandes aglomerações em outros espetáculos, em recintos com muito menos condições.
Não. O futebol é a minha profissão.
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