terça-feira, 10 de novembro de 2020

A minha primeira memória de… um jogo entre Portugal e Andorra

Pauleta e Nuno Gomes tentam passar pela defesa de Andorra

O primeiro jogo entre Portugal e Andorra remonta a agosto de 1999, ainda eu tinha sete anos e não acompanhava futebol e nem sequer sabia que existia uma nação chamada Andorra. Por isso, o meu primeiro jogo entre ambas as seleções remonta a 2001, quando se defrontaram por duas vezes da fase de apuramento para o Mundial 2002, curiosamente naquela que foi a primeira vez que os andorranos participaram numa fase de qualificação e numa altura que a seleção portuguesa já não competia num Campeonato do Mundo desde 1986.

 

O primeiro jogo entre a equipa das quinas e a do Principado teve lugar no Estádio dos Barreiros a 28 de fevereiro de 2001, na primeira de apenas duas vezes em que vi a seleção nacional jogar na Madeira – a segunda aconteceu já em março de 2017, também nos Barreiros, num particular frente à Suécia. Na altura o encontro serviu também para homenagear Luís Figo, que meses antes tinha vencido a Bola de Ouro.

 

Mas mais do que a homenagem, recordo-me do resultado (3-0 favorável a Portugal) e do facto de ter sido o primeiro jogo desde o Euro 2000 em que Portugal pôde contar com Nuno Gomes, Paulo Bento e Abel Xavier, que até então se encontravam castigados pela UEFA na sequência dos incidentes do Portugal-França das meias-finais do torneio europeu. Também foi a primeira vez que o guarda-redes Ricardo, então no Boavista, foi chamado à seleção nacional, na altura orientada por António Oliveira. 

Quanto ao jogo propriamente dito, Portugal entrou praticamente a ganhar, com Luís Figo a inaugurar o marcador nos 30 segundos iniciais, após grande passe em profundidade de Rui Costa. Se não foi o golo mais rápido de sempre da seleção nacional, andará lá perto.

 

O golo madrugador fez a equipa das quinas abrandar, mais aos 35 minutos chegou o 2-0, com Pauleta a nem precisar de saltar para cabecear para o fundo das redes na sequência de um cruzamento de Rui Jorge a partir do lado esquerdo.

 

E logo no início do segundo tempo, Figo combinou bem com Nuno Gomes e marcou o terceiro e último golo de Portugal.

 

“A morte em segundos do anão das montanhas. 22, 23, 24 ou 25 segundos. Quem saberá dizê-lo com segurança? Não nós, certamente. A maquinaria do relógio, a despeito da sua minúcia suíça, não teve a precisão do passe de Rui Costa nem a certeza do pontapé de Figo. Meio minuto, digamos assim, por alto, arredondando as contas, facilitando a missão de quem escreve e de quem lê. Sabia Portugal que um golo seria, muito provavelmente, suficiente para ganhar um daqueles jogos fáceis que lhe cabia não tornar difícil. Mas, havia, para além dessa vitória, obrigatória e indispensável, o interesse suplementar da festa madeirense e da festa de Figo, elevado hoje em dia ao lugar mais alto da sua arte e de uma fama que ultrapassa fronteiras e invade continentes. Numa questão de segundos, o raio de luz que saiu dos pés direitos abençoados de Rui Costa e Figo parecia querer espalhar uma luminosidade intensa à noite de alegria dos Barreiros. Escoavam-se sobre a relva, a caminho do mar, os acordes potentes do “Nessun Dorma” da Turandot com que se ilustrara as imagens do número sete de Portugal no ecrã líquido instalado por detrás da baliza do golo madrugador, desenhou-se no espírito de todos o esboço de um resultado avassalador. E, no entanto, apesar do grito entusiasmante, a pouco e pouco, a seleção das estrelas deixou-se adormecer, embalada pelo ritmo bailado e manso do seu futebol musicado”, escreveu o jornal O Jogo.

 

Meio ano depois, Portugal continuava numa luta titânica com República da Irlanda e Holanda pelo apuramento direto para o Mundial 2002. À entrada para o jogo no terreno de Andorra, neste caso em Lleida, na Catalunha, a equipa das quinas tinha menos um jogo e três pontos do que os irlandeses.

 

Porém, ao contrário do que aconteceu no encontro dos Barreiros, Portugal sentiu dificuldades para chegar ao golo. E tanto assim foi que pouco depois da meia hora o selecionador António Oliveira perdeu a paciência abdicou do central Jorge Costa e lançou o inspirado avançado Nuno Nomes. E a partir daí tudo mudou.

 

Três minutos após ter entrado em campo, aos 36, Nuno Gomes inaugurou ao marcador, de cabeça, na resposta a um cruzamento de Capucho. Aos 38’, Nuno Gomes assistiu Pauleta para o 0-2. Um minuto depois, Nuno Gomes voltou a marcar de cabeça, novamente a passe de Capucho.

 

Seguiu-se a reação de Andorra, num lance de bola parada, os tais em que as forças se equilibram. Na sequência de um canto, Roberto Jonás saltou mais alto do que toda a gente e reduziu para o 1-3.

 

Porém, ainda antes do intervalo Nuno Gomes completou o hat trick, mais uma vez servido por Capucho, e Rui Jorge apontou o seu único golo ao serviço da seleção nacional na ressaca de um pontapé de canto.

 

No segundo tempo o ritmo abrandou, mas a seleção portuguesa marcou mais dois golos. Sérgio Conceição fez o sexto após combinação com Nuno Gomes, à beira da hora de jogo. E ao cair do pano os papéis inverteram-se, com Sérgio Conceição a cruzar para Nuno Gomes, que chegou ao póquer com um golo de cabeça.

 

“Dez minutos demolidores deram gás a um plano bem delineado por António Oliveira, que só não se cifrou numa goleada história porque Portugal já conseguiu melhor nesta fase de apuramento do Mundial. Andorra aguentou estoicamente os primeiros 30 minutos, mas quebrou ante a eficácia de uma linha atacante que, aos 35 minutos, António Oliveira decidiu alargar com a entrada de Nuno Gomes”, resumiu o Diário de Notícias.


































































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