Pauleta e Nuno Gomes tentam passar pela defesa de Andorra |
O primeiro jogo entre a equipa
das quinas e a do Principado teve lugar no Estádio dos Barreiros a 28 de
fevereiro de 2001, na primeira de apenas duas vezes em que vi a seleção
nacional jogar na Madeira – a segunda aconteceu já em março de 2017, também nos
Barreiros, num particular frente à Suécia. Na altura o encontro serviu também
para homenagear Luís Figo, que meses antes tinha vencido a Bola
de Ouro.
Mas mais do que a homenagem, recordo-me do resultado (3-0 favorável a Portugal) e do facto de ter sido o primeiro jogo desde o Euro 2000 em que Portugal pôde contar com Nuno Gomes, Paulo Bento e Abel Xavier, que até então se encontravam castigados pela UEFA na sequência dos incidentes do Portugal-França das meias-finais do torneio europeu. Também foi a primeira vez que o guarda-redes Ricardo, então no Boavista, foi chamado à seleção nacional, na altura orientada por António Oliveira.
Quanto ao jogo propriamente dito,
Portugal entrou praticamente a ganhar, com Luís Figo a inaugurar o marcador nos
30 segundos iniciais, após grande passe em profundidade de Rui Costa. Se não
foi o golo mais rápido de sempre da seleção nacional, andará lá perto.
O golo madrugador fez a equipa
das quinas abrandar, mais aos 35 minutos chegou o 2-0, com Pauleta a nem precisar
de saltar para cabecear para o fundo das redes na sequência de um cruzamento de
Rui Jorge a partir do lado esquerdo.
E logo no início do segundo
tempo, Figo combinou bem com Nuno Gomes e marcou o terceiro e último golo de Portugal.
“A morte em segundos do anão das
montanhas. 22, 23, 24 ou 25 segundos. Quem saberá dizê-lo com segurança? Não
nós, certamente. A maquinaria do relógio, a despeito da sua minúcia suíça, não
teve a precisão do passe de Rui Costa nem a certeza do pontapé de Figo. Meio
minuto, digamos assim, por alto, arredondando as contas, facilitando a missão
de quem escreve e de quem lê. Sabia Portugal que um golo seria, muito
provavelmente, suficiente para ganhar um daqueles jogos fáceis que lhe cabia
não tornar difícil. Mas, havia, para além dessa vitória, obrigatória e
indispensável, o interesse suplementar da festa madeirense e da festa de Figo,
elevado hoje em dia ao lugar mais alto da sua arte e de uma fama que ultrapassa
fronteiras e invade continentes. Numa questão de segundos, o raio de luz que
saiu dos pés direitos abençoados de Rui Costa e Figo parecia querer espalhar
uma luminosidade intensa à noite de alegria dos Barreiros. Escoavam-se sobre a
relva, a caminho do mar, os acordes potentes do “Nessun Dorma” da Turandot com que se ilustrara as imagens do número
sete de Portugal no ecrã líquido instalado por detrás da baliza do golo
madrugador, desenhou-se no espírito de todos o esboço de um resultado
avassalador. E, no entanto, apesar do grito entusiasmante, a pouco e pouco, a
seleção das estrelas deixou-se adormecer, embalada pelo ritmo bailado e manso
do seu futebol musicado”, escreveu o jornal O
Jogo.
Meio ano depois, Portugal
continuava numa luta titânica com República da Irlanda e Holanda pelo
apuramento direto para o Mundial
2002. À entrada para o jogo no terreno de Andorra, neste caso em Lleida, na
Catalunha, a equipa das quinas tinha menos um jogo e três pontos do que os
irlandeses.
Porém, ao contrário do que
aconteceu no encontro dos Barreiros, Portugal sentiu dificuldades para chegar ao
golo. E tanto assim foi que pouco depois da meia hora o selecionador António
Oliveira perdeu a paciência abdicou do central Jorge Costa e lançou o inspirado
avançado Nuno Nomes. E a partir daí tudo mudou.
Três minutos após ter entrado em
campo, aos 36, Nuno Gomes inaugurou ao marcador, de cabeça, na resposta a um
cruzamento de Capucho. Aos 38’, Nuno Gomes assistiu Pauleta para o 0-2. Um
minuto depois, Nuno Gomes voltou a marcar de cabeça, novamente a passe de
Capucho.
Seguiu-se a reação de Andorra,
num lance de bola parada, os tais em que as forças se equilibram. Na sequência
de um canto, Roberto Jonás saltou mais alto do que toda a gente e reduziu para
o 1-3.
Porém, ainda antes do intervalo
Nuno Gomes completou o hat trick, mais
uma vez servido por Capucho, e Rui Jorge apontou o seu único golo ao serviço da
seleção nacional na ressaca de um pontapé de canto.
No segundo tempo o ritmo abrandou,
mas a seleção portuguesa marcou mais dois golos. Sérgio
Conceição fez o sexto após combinação com Nuno Gomes, à beira da hora de
jogo. E ao cair do pano os papéis inverteram-se, com Sérgio
Conceição a cruzar para Nuno Gomes, que chegou ao póquer com um golo de
cabeça.
“Dez minutos demolidores deram gás a um plano bem delineado por António Oliveira, que só não se cifrou numa goleada história porque Portugal já conseguiu melhor nesta fase de apuramento do Mundial. Andorra aguentou estoicamente os primeiros 30 minutos, mas quebrou ante a eficácia de uma linha atacante que, aos 35 minutos, António Oliveira decidiu alargar com a entrada de Nuno Gomes”, resumiu o Diário de Notícias.
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