quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Hoje faz anos o brasileiro que saiu do FC Porto para o Benfica e naturalizou-se português. Quem se lembra de Paulo Pereira?

Paulo Pereira passou quase oito anos no futebol potuguês
Um raro caso de um jogador que saiu diretamente do FC Porto para o Benfica, com um polémico processo de naturalização à mistura que reacendeu o conflito norte-sul.
 
Defesa brasileiro capaz de atuar a central ou lateral e irmão gémeo do mais conceituado Paulo Silas, internacional canarinho que jogou no Sporting, entrou no futebol português em dezembro de 1988 pela porta de um FC Porto em remodelação, na ressaca da conquista do título europeu no ano anterior. Na altura tinha 23 anos e era proveniente dos mexicanos do Monterrey, após ter despontado no modesto São Bento.
 
Com a expetativa não de assumir desde logo a titularidade, mas de assegurar o futuro de uma equipa onde começavam a entrar jovens como Vítor Baía, Domingos, Secretário, Fernando Couto, Rui Jorge, Folha, Jorge Couto ou Jorge Costa, sagrou-se campeão nacional na segunda (1989-90) e na quarta época (1991-92) que passou nas Antas.
 
 
“Foi a única vez na vida que vi um clube mudar tanto de um ano para o outro e ser logo campeão. Todas as equipas têm de fazer renovações, mas normalmente levam dois ou três anos a voltar a ganhar. O FC Porto, cheio de gente nova, trocou praticamente oito ou nove jogadores, mas ganhou logo. Foi incrível. Tanto que depois o Artur Jorge tentou fazer o mesmo o Benfica e já não correu bem”, contou ao Maisfutebol, em abril de 2020, o defesa que venceu ainda uma Taça de Portugal (1990-91) e uma Supertaça Cândido de Oliveira (1991).
 
 
Em 1990-91 fez quase toda a temporada como lateral esquerdo e apresentou números invulgares para um defesa: nove golos. “O FC Porto era muito forte no flanco direito, com o João Pinto e o Jaime Magalhães. Atacava muito por aí e o Artur Jorge pensou num esquema em que poderia ser eu a jogar por ali, porque como o André protegia bem as minhas costas eu aparecia na área a empurrar os cruzamentos da direita. Marquei muitos golos assim…”, recordou.
 
 
Em 1992-93, tendo em conta a limitação de vagas para jogadores estrangeiros, Pinto da Costa pediu-lhe para se naturalizar português. O jogador acedeu e o FC Porto estava convencido que o processo ia para a frente, mas a naturalização ficou bloqueada na burocracia do Estado. A solução encontrada, provisoriamente, foi um empréstimo ao Vitória de Guimarães.
 
Na época seguinte voltou às Antas para conquistar mais uma Supertaça e uma Taça de Portugal, mas a naturalização continuava a não se concretizar, o que motivou a entrada em cena do Benfica, orientado por… Artur Jorge: “Fizeram-me uma proposta e só me pediam que tratasse da desvinculação do FC Porto e exigiam que estivesse naturalizado.”
 
A desvinculação concretizou-se, mas nada de naturalização. Depois de vários meses parado, Toni tentou levá-lo para o Bordéus e chegou a ter voo marcado para França, mas no próprio dia em que estava prevista a viagem recebeu um telefonema de um alto dirigente do Benfica, Gaspar Ramos, a comunicar-lhe que os encarnados iam vender o central brasileiro Paulão e assim libertar uma vaga para estrangeiros. Quem não ficou muito agradado foi Jesualdo Ferreira, adjunto de Toni, que ficou especado no aeroporto à espera do defesa.
 
 
Dois meses após ter chegado à Luz, conseguiu-se a tão desejada naturalização. “Estive dois anos no FC Porto e não conseguiram, no Benfica chegaram dois meses. O Pinto da Costa ficou furioso, usou isso para falar das diferenças de tratamento norte-sul. Foi uma grande confusão, mas eu não tive culpa nenhuma, só queria jogar”, lembrou Paulo Pereira, que atuou 29 vezes e marcou dois golos em ano e meio pelo Benfica, números bastante abaixo dos 124 encontros e 19 remates certeiros ao longo de cinco temporadas de dragão ao peito.
 
 
 
Após quase oito anos em Portugal aventurou-se no futebol italiano, onde representou Génova e Reggina antes de regressar ao Brasil para encerrar a carreira com a camisola do Bragantino, aos 35 anos.
 
 
Após pendurar as botas tornou-se treinador, tendo já trabalhado em clubes como Grêmio e Flamengo enquanto adjunto.



 




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