Diego Velázquez foi um conhecido
pintor espanhol no século XVII, tendo como principal obra Las Meninas (1656). 360 anos depois, outro Velázquez, Julio, também
espanhol mas treinador de futebol de profissão, vai dando umas pinceladas muito próprias no futebol do
Belenenses.
O
antigo técnico do Villarreal e Bétis, numa das primeiras entrevistas que
concedeu como timoneiro dos azuis do Restelo, já tinha deixado o aviso: para
ele 3x5x2, 4x2x3x1, 4x4x2 e 4x3x3 são apenas números de telefone. O que para
ele importa é a dinâmica coletiva.
Um cliché excêntrico de um jovem treinador
estrangeiro recém-chegado ao campeonato português? Nada disso. Tive a oportunidade
de assistir in loco ao Belenenses-V.
Guimarães (3-3) e, mesmo tentando descortinar exaustivamente qual o sistema
tático utilizado, não o consegui fazer.
Como os gráficos abaixo demonstram, juro ter visto Miguel Rosa a falso ponta-de-lança
numa primeira instância, em 4x2x3x1 [hipótese A]. Depois, com o passar do tempo e dependendo
do posicionamento de Carlos Martins (a falso ponta de lança ou a n.º 10), ora
vislumbrava um 4x1x4x1 com Rosa e Sturgeon nas alas [hipótese B], ora um 4x4x2 losango com
os dois como avançados móveis [hipótese C].
Hipótese C |
Hipótese A |
Hipótese B |
Com tal
desdobramento tático – a chamada dinâmica -, o emblema da cruz de Cristo não dá
grandes referências de marcação aos jogadores adversários, especialmente no
eixo do ataque, com Miguel Rosa, Carlos Martins e Sturgeon a aparecem
alternadamente nessa zona.
Uma pincelada bem à espanhola de Julio Velázquez,
que reproduziu em Belém algo muito utilizado nos colegas de profissão do seu
país, com Pep Guardiola como nome mais sonante. Bem aplicada em campo, essa
dinâmica confunde os adversários, mas a ser trabalhada apenas há um mês… ainda
confunde os próprios jogadores do Belenenses, que ainda vão andando às
apalpadelas para encontrar os melhores terrenos para pisar. Levará algum tempo
a ficar no ponto, mas o campeonato não para, é um autêntico contrarrelógio, e
esse trabalho terá de ser desenvolvido com o comboio em andamento. Que é como
quem diz, à medida que são conquistados pontos.
Mas
este Velázquez, com apenas 34 anos, vai dando outras pinceladas, todas a fazer lembrar o trabalho de compatriotas
noutras paragens. Incutiu na equipa o gosto pela posse, utiliza médios em
quantidade e nesta receção ao Vitória de Guimarães, quando Rafael Amorim se
lesionou e mesmo tendo um central (Gonçalo Silva) no banco, optou por fazer
recuar um médio (Rúben Pinto) para o eixo da defesa. Faz lembrar, salvo as
devidas proporções, os recuos de Mascherano no Barcelona e de Javi Martínez no
Athletic Bilbao, que visavam melhorar a primeira fase de construção das
respetivas equipas.
Julio já
ganha a Ricardo Sá Pinto pela organização e a Lito Vidigal pela ambição na
qualidade do futebol. Veremos se todas as pinceladas somadas chegam para compor
um belo quadro.
Excelente post, que me deixou com água na boca. Ainda não assisti a este "novo Belenenses", mas fiquei curioso.
ResponderEliminarObrigado pelas dicas, vou querer ver esta equipa em campo, brevemente.
Boa análise vejamos se daqui a 3 meses os jogadores não lhe fizeram já a folha devido ao facto de serem obrigados a correr muito mais, principalmente os laterais
ResponderEliminarBoa análise vejamos se daqui a 3 meses os jogadores não lhe fizeram já a folha devido ao facto de serem obrigados a correr muito mais, principalmente os laterais
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