A problemática promessa portuguesa com alcunha de craque espanhol. Quem se lembra de Bakero?
Internacional jovem português jogou na União de Leiria e no Sevilha
Chama-se Orlando José Lemos
Martins, mas no mundo do futebol todos o conhecem por “Bakero”. Lateral/extremo
de baixa estatura (1,66 m) nascido em Felgueiras e formado no Futebol
Clube de Felgueiras, tinha 16 anos quando assim foi apelidado por Jacinto
João, na altura treinador dos guarda-redes, que também batizou o também jogador
felgueirense
e primo de Orlando, Frederico, de “Zamorano” – este em alusão ao antigo
avançado chileno do Real
Madrid.
Embora orgulhoso do nome que os
pais lhe deram, a alcunha pegou. “Já não há hipótese. Se me chamarem Orlando
num treino ou num jogo, já nem olho. Só em casa”, confidenciou ao Record
em junho de 1999, no início de um verão quente para o jogador. Mas já lá vamos… O Bakero original, refira-se, era
José Mari Bakero, médio ofensivo que brilhou com as camisolas da Real
Sociedad, do Barcelona
e da seleção
espanhola nas décadas de 1980 e 1990. O Bakero português não atingiu um
nível tão alto, mas foi, em tempos, uma das grandes promessas do futebol luso. Surgiu na equipa principal do Felgueiras
em 1996-97, então na II
Liga, lançado por Augusto
Inácio, mas foi na temporada seguinte que se conseguiu afirmar, ao ponto de
ter somado as primeiras de dez internacionalizações pelas seleções jovens (uma
pelos sub-20 e nove pelos sub-21). No verão de 1998 transferiu-se para
a União
de Leiria, rescindindo unilateralmente o contrato que o ligava aos felgueirenses
devido a salários em atraso. Na cidade do Lis… explodiu, contribuindo
ativamente para a obtenção de um honroso sexto lugar na I
Liga, numa época em que foi orientado por Mário Reis, tendo atuado em 37
encontros e apontado dois golos em todas as competições.
“Não sou eu quem deve analisar a
minha própria prestação ao longo da época, mas senti isso mesmo. Era muito
importante para mim, depois da maneira como saí do Felgueiras,
fazer uma boa época. Senti que muitas pessoas estavam com algumas dúvidas em
relação ao meu valor e fiz como ponto de honra a grande vontade em provar a
essas pessoas que estavam enganadas a meu respeito. Acho que isso foi
conseguido num clube que fez sensação esta época. Não posso esquecer a
responsabilidade de Mário Reis que muito me ajudou e foi quem apostou
fortemente na minha transferência para Leiria. Esse foi mais um facto que me
levou a estar sempre quase nos limites. Tinha a preocupação de não defraudar as
expectativas que ele próprio depositou nas minhas capacidades. Foi mesmo uma
época positiva”, afirmou na altura. “É com muito agrado que me vejo
envolvido nesta temporada histórica do clube. Comecei mais tarde que os meus
colegas, pois só cheguei ao clube quase no final da pré-época, e nunca pensei
chegar ao primeiro jogo do campeonato e o mister apostar em mim para o onze
titular. Foi mais uma prova da aposta de quem estava convicto do meu potencial
e esse foi o ponto de partida que me deu ainda mais forças. Agarrei a
oportunidade e tentei aguentar sempre esse estatuto de titular. Só mais para o
fim da época, quando faltavam três jogos, é que saí da equipa, mas encarei isso
de uma forma natural, pois é muito difícil um jogador estar ao seu melhor nível
durante uma época inteira. Há sempre uma quebra física e foi o que me
aconteceu, infelizmente na fase mais decisiva da época. Compreendi e aceitei a
decisão de Mário Reis e outra coisa não seria de esperar, pois trata-se de um
treinador que me vai marcar para sempre”, prosseguiu.
No final dessa temporada chegou-se a falar do interesse de Benfica,
Sporting
e FC
Porto, assim como do Paris
Saint-Germain, e foi disputado pelos dois principais empresários
portugueses na altura, José Veiga e Jorge Mendes, com este último a levar a
melhor. Mas o verão de 1999 ficou essencialmente
marcado por uma conturbada transferência para o Sevilha.
Inicialmente, o jogador decidiu rescindir unilateralmente o contrato que o
ligava aos leirienses,
justificando-se com uma alteração sem aviso prévio das condições previstas para
a renovação do vínculo. Na altura, Bakero garantia que tinha ficado acordado
uma prorrogação por mais três épocas, tendo sido surpreendido com um documento
onde eram referidas quatro temporadas. Apesar dessa discordância assinou “à
pressa” e só depois refletiu sobre a consequência do seu ato, tornando público
o seu desagrado e chegando a apelidar de “traição” a atitude dos responsáveis
da União
de Leiria, com o presidente João Bartolomeu à cabeça.
O cromo de Bakero no Sevilha
O flanqueador apresentou-se em Sevilha
ainda com o imbróglio por resolver, mas as partes lá chegaram a acordo e os andaluzes
pagaram cerca de 200 mil contos (1 milhão de euros), sensivelmente a cláusula
de rescisão prevista no contrato do atleta com os leirienses.
A verdade é que a montanha pariu
um rato, uma vez que Bakero apenas disputou dois jogos oficiais pelos sevilhistas,
um diante do Osasuna para a Taça do Rei em novembro de 1999 e outro frente ao Maiorca
para a liga
espanhola em maio de 2000, numa temporada marcada pela descida de divisão. “Ficou a experiência, que é
sempre importante para um jovem. É claro que um jogador precisa de jogar, não
foi o meu caso, mas pude ao menos participar num campeonato tão competitivo
como o espanhol. Aprende-se muito, no meio de jogadores de grande qualidade”,
afirmou ao Record
em agosto de 2000. “No início receberam-me bem, mas com o decorrer do
campeonato não me apoiaram, não fizeram aquela pressão junto do treinador para
ver as minhas qualidades. Fui uma contratação da direção, não do treinador e
isso não ajudou nada. Quando as coisas correm mal numa equipa, algo deve mudar.
Mas isso não aconteceu em Sevilha, pois a equipa esteve jogos e jogos sem
ganhar e nunca se mudou nada. Continuei a trabalhar com a esperança de ser
chamado, pois os resultados não apareciam, mas infelizmente não aconteceu.
Mentalizei-me que era um ano perdido e comecei a pensar no meu futuro, pedindo
ao meu empresário para encontrar uma solução”, aditou. Sem espaço na Andaluzia, o jogador
foi emprestado a clubes portugueses nas épocas que se seguiram. Em 2000-01 foi cedido ao Marítimo,
somou 29 jogos (16 a titular) e dois golos em todas as provas e ajudou os madeirenses
a atingir a final
da Taça de Portugal, tendo sido suplente utilizado na derrota às mãos do FC
Porto no Jamor (0-2). “Fui muitas vezes utilizado, mas nem sempre a
titular, como naturalmente era o meu desejo”, analisou
o extremo, que ao serviço do emblema
dos Barreiros também foi notícia por uma noitada: “Eu e o Bruno fomos
jantar e não medimos bem a hora. Chegámos tarde a casa e pagámos as
consequências desse ato. Coisas da juventude...”
Já em 2001-02 foi emprestado ao Sp.
Braga, concretizando assim um interesse antigo do treinador Manuel
Cajuda, que na altura procurava um substituto para Luís
Filipe. Até começou a temporada como titular, mas acabou por atuar em
apenas 20 encontros, dos quais 14 como suplente utilizado, chegando ainda a ser
despromovido à equipa B dos bracarenses.
“Não posso dizer que tenha sido uma época muito boa. Não sei dizer porquê, só
sei que sempre tentei dar o meu melhor e procurei ser profissional a cem por
cento”, contou ao Record
em junho de 2002, manifestando-se chocado com a passagem pela equipa B: “Foi
uma decisão que me chocou bastante. Sinceramente, não compreendi as razões e
também não me deram explicação para isso. A prova que fui sempre profissional é
que, passados 15 dias, regressei à equipa principal. Isso é sinónimo de que
mantive a cabeça levantada e nunca virei a cara à luta. Acabar a época na
equipa principal foi uma satisfação.”
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