Mas nada fazia prever um título
de campeão do mundo quando este avançado de baixa estatura (1,68 m) começou a
jogar no Industrial de Linhares em 1987, na altura a acompanhar o irmão mais
velho. Também nada o fazia prever quando se mudou para o Tanabi, do interior
paulista, em 1991, e continuava a ser pouco crível quando deu o salto para o Guarani,
na altura um dos principais emblemas do estado de São Paulo, em 1992. Em 1993 foi contratado para o Palmeiras,
então propriedade da Parmalat, e o improvável virou realidade. Logo nesse ano
tornou-se num dos principais goleadores do verdão,
sagrou-se campeão paulista e brasileiro e fez a estreia pela seleção
brasileira em plena Copa América, entrando a 15 minutos do fim numa vitória
sobre o Paraguai
(3-0) na fase de grupos. Foi nessa altura que começou a ser apelidado de
“Capetinha”, palavra brasileira sinónima de traquina. O salto para a Europa tornou-se
inevitável e acabou por acontecer no verão de 1994. Que clube o recebeu? O Benfica,
que na altura tinha acabado de se sagrar campeão nacional e ia disputar a Liga
dos Campeões, mas atravessava algumas dificuldades financeiras.
“Digo muitas vezes que o Benfica
salvou a carreira do Edílson (…) Eu saí do Guarani
para o Palmeiras
em 1993 e era a empresa Parmalat que mandava no clube. Eles queriam montar uma
equipa forte, para ganhar os títulos todos. Fomos campeões nacionais e
estaduais, mas depois chegou o Fredy Rincon, um colombiano danado, e eu perdi
algum espaço. Como a Parmalat patrocinava o Benfica
nessa altura, eles ofereceram-me essa possibilidade e fui um ano para Lisboa,
emprestado”, contou ao Maisfutebol
em janeiro de 2020.
Às ordens de Artur
Jorge atuou em 31 jogos em todas as competições e amealhou 17 remates
certeiros, mas durante essa temporada que passou em Portugal (por empréstimo do
Palmeiras)
não foi chamado ao escrete,
o que só voltou a acontecer assim que regressou ao Brasil. “A equipa tinhas grandes atletas.
Joguei com o melhor guarda-redes que vi em toda a minha vida, o Michel
Preud’homme. E havia outros craques. O João Vieira Pinto, o doidão do Caniggia,
o Vitor
Paneira, todos eles eram jogadores de topo mundial. No início o técnico [Artur
Jorge] estava com medo de apostar em mim. Eu cheguei lá, baixinho, magrinho,
desconhecido, ele olhou para mim e eu percebi que não gostou do que viu”,
recordou o antigo atacante. “Depois tive um jogo da taça contra uma equipa
fraquinha [Marinhense]
e marquei quatro golos. A partir desse jogo, o pessoal do Benfica
percebeu que o magricela sabia jogar futebol”, acrescentou.
Edílson despediu-se da Luz
com quatro golos nos últimos três jogos, sendo que nem teve tempo para grandes
abraços. Após o último encontro voo imediatamente para o Brasil. “Gostei muito
do Benfica
e de Portugal, deixei bons amigos, aprendi a gostar do clube. Acho até que os
adeptos se lembram de mim. Os jornais chamavam-me Pequeno Grande Homem e a
minha despedida foi emocionante. Marquei um golo na Luz
ao Sp.
Braga e saí a correr para o aeroporto, já tinha as malas prontas. Eu tinha
de viajar para o Brasil rapidamente, porque o Palmeiras
ainda me queria inscrever a tempo da final do Paulistão”, lembrou.
O Benfica
quis ficar com o avançado, mas não tinha dinheiro para a compra do passe: “Lembro-me
que os próprios sócios organizaram uma angariação de dinheiro para ajudar na
transferência, mas não foi possível. Tive de voltar ao meu país.”
Pouco depois de regressar ao
Brasil também voltou ao escrete, após quase dois anos de
ausência, mas depressa desapareceu novamente do radar da seleção,
até porque decidiu aventurar-se no futebol japonês ao serviço do Kashiwa
Reysol. Em 1997 voltou ao Brasil para
viver uma das melhores fases da carreira, tendo apontado 47 golos em 152 jogos
pelo Corinthians
ao longo de três anos, tendo conquistado o campeonato brasileiro em 1998 e
1999, o campeonato paulista em 1997 e 1999 e sobretudo o Mundial de Clubes em
2000. No Campeonato do Mundo de Clubes, disputado ao Brasil, esteve em
evidência ao bisar num empate (2-2) com o Real
Madrid, no Morumbi. Nesse mesmo encontro desentendeu-se com o então médio merengue
Karembeu. “Numa conversa informal eu disse que ele não tinha valor para jogar
no Real
Madrid e que ia dar um túnel nele na final. Tive sorte, claro. Dei um túnel
ao Karembeu e marquei golo nessa jogada. Aliás, marquei os dois golos do Corinthians
no jogo. O jornalista que estava a narrar o jogo gritou ‘Muito prazer, eu sou o
Edílson Capetinha!’. Na baliza do Real
estava o Iker
Casillas”, recordou.
Quando representava o timão
voltou à seleção
brasileira e fez parte da qualificação para o Mundial
2002, acabando também por ser chamado para a fase
final, não saindo dos eleitos de Scolari apesar de ter trocado duas vezes
de clube durante esse período: foi para o Flamengo
em 2000 e para o Cruzeiro
em 2001.
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