Sporting bateu o Lille em Alvalade no arranque da Champions
Durante cerca de duas décadas o Sporting
foi sendo alvo de chacota e, verdade seja dita, os responsáveis leoninos e a equipa
principal de futebol iam-se metendo a jeito. Lembro-me, assim de repente, do
agregado de 1-12 numa eliminatória com o Bayern
Munique, do 7.º lugar em 2012-13, de vitórias sofridas em Alvalade
diante de adversários modestos que eram parodiadas como se da final da Liga
dos Campeões se tratasse, de uma incapacidade brutal para vender jogadores,
do desaparecimento de Shikabala, do termo casa de banho para descrever o estádio,
dos extensos e recorrentes comunicados de Bruno
de Carvalho, da invasão à Academia e de apontamentos musicais como “Baza
correr com o Paulo
Bento” de Valete e de “Sporting
That I Used to Know” de Diogo Sena.
Agora, “Já não és o Sporting
That I Used to Know” dirão os adolescentes e até jovens adultos que estavam
habituados ao título nacional ser uma miragem logo pelo Natal, às vitórias
morais, aos recordes negativos de distância pontual para o primeiro lugar, a
transferências de jogadores importantes por verbas miseráveis, a um estádio com
uma estética que pouco tinha a ver com o clube e com o que deve ser um recinto
moderno e funcional. Agora, a nova realidade é de recorde de pontos e de
aproximação aos recordes de golos, vendas e contratações cirúrgicas e um Alvalade
cada vez mais moderno, bonito e identificado com o clube.
Durante anos e anos o Sporting
foi um clube cujos jovens jogadores oriundos da formação batiam o pé para sair,
o que motivou algum mal-estar, a dada altura, entre atletas como Miguel Veloso,
João
Moutinho, Rui
Patrício, Adrien
Silva e William
Carvalho e a massa associativa. Agora, alguns desses jogadores têm
manifestado vontade de voltar a Alvalade,
mas sem sucesso, porque o projeto desportivo não encontra espaço para eles. O Sporting
que se viu obrigado a vender Moutinho a um rival e que por tuta e meia se
desfez de titulares como Insúa, Matías Fernández ou Cédric é hoje um clube
recheado de jogadores vendáveis. Há tanta juventude e talento que não é
descabido dizer que é possível encaixar 50 milhões de euros em vendas sem
incluir indiscutíveis no onze de Rúben Amorim, entre Edwards, Nuno
Santos, Daniel
Bragança e outros. Gyokeres, o expoente máximo da equipa, está nas bocas de
meia Europa – basta passar por jornais e páginas de redes sociais de outros países,
como a do jornalista
Fabrizio Romano, para se perceber que o sueco é um fenómeno que já galgou
fronteiras.
Antes, quando o Sporting
competia na Liga
dos Campeões, esperava-se uma participação modesta. Mas nesta terça-feira
os leões
entraram em campo, na receção a uma equipa de uma liga superior, e a expetativa
mesmo entre adeptos rivais era de uma vitória convincente dos verde
e brancos. O que antes seria considerado um ótimo resultado no arranque da
competição acabou por ser falado, no rescaldo, como uma exibição q.b. No fundo,
uma mudança de paradigma. Num dos períodos mais negros da
história do clube, provavelmente no período da presidência de Godinho Lopes, as
redes sociais estavam inundadas de páginas de sátira e de piadas sobre o Sporting.
Uma delas chamava-se Sporting
Comédia de Portugal. Ainda existe, mantendo a tenda de circo no Estádio
José de Alvalade como foto de capa, mas tem uma atividade cada vez mais
residual. Porque este já não é o Sporting Comédia de
Portugal. Este é um Sporting
forte, temido e com ativos valiosos, saúde financeira e aspirações legítimas à conquista do bicampeonato que escapa
desde a década de 1950 e a uma campanha europeia bastante digna. Quem diria, não é?
Até à invasão da Academia, tinham
passado 16 anos sem o campeonato nacional. E três anos depois daquele rombo, o Sporting
voltou a sagrar-se campeão em 2020-21, repetindo a proeza, de forma até muito mais
categórica, em 2023-24. Beneficiando de uma acalmia da
contestação à direção de Frederico Varandas imposta pela pandemia de covid-19 e
tirando enorme proveito da sabedoria e competência de Rúben Amorim, o Sporting
está agora a reaproximar-se dos desígnios de José de Alvalade aquando da
fundação do clube, em 1906, quando o fundador manifestou o desejo de o tornar
num “clube tão grande como os maiores da Europa”.
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