O bósnio que fugiu da guerra e somou mais de 300 jogos em Portugal. Quem se lembra de Besirovic?
Besirovic representou o Farense entre 1997 e 2001
Nail Besirovic foi um bom médio
ofensivo de baixa estatura (1,69 m) que deixou marca no futebol português na
década de 1990 e no início do século XXI.
Nascido na Bósnia a 22 de julho
de 1967, começou a jogar futebol a nível sénior no Sloboda, na I Divisão da Jugoslávia,
mas a guerra dos Balcãs levou-o a refugiar-se em Portugal e, consequentemente,
no futebol português. Começou por jogar na II
Liga, ao serviço de Estrela
da Amadora, em 1991-92. Seguiu-se uma passagem muito bem-sucedida pelo Académico
de Viseu, ajudando o emblema
beirão a subir da II Divisão B ao segundo
escalão em 1993. Após não conseguir impedir a despromoção
dos viseenses
à II B, manteve-se na II
Liga com a camisola da Académica,
de onde se mudou para o Sp.
Espinho, ajudando os tigres
da Costa Verde a alcançar a subida à I
Liga em 1996. Foi ao serviço do clube
do distrito de Aveiro que se estreou no patamar maior do futebol português,
em 1996-97, tendo marcado logo na estreia, numa receção ao Sporting.
Foi o primeiro de quatro golos (em 32 jogos) que haveria de apontar nessa
temporada, marcada pela despromoção à II
Liga.
Apesar da descida de divisão,
valorizou-se e conseguiu continuar na I
Liga, mas envergando a camisola do Farense.
Ao serviço do emblema
algarvio totalizou 109 jogos e três golos em todas as competições entre
1997 e 2001. “O público está muito em cima do campo, vive o jogo com muita
intensidade, e o estádio, a maneira como está desenhado... nós entrávamos em
campo, sentíamos aquela força que vinha do público e só pensávamos em dar tudo
para corresponder ao apoio que estávamos a receber. Havia ali alguma coisa que
puxava por nós, que nos dava força. Com os grandes então era uma loucura! O Farense
era o único clube do Algarve
na I
Divisão, estava ali a representar toda uma região. Nunca vou esquecer,
também pela união enorme daquele plantel. Em grupo, superávamos tudo!”, recordou
ao portal Quantos
Farenses Somos em março de 2014. “Lembro-me de um jogo com o Rio
Ave na última jornada [época 97/98] em que precisávamos de ganhar para
ficar na I
Divisão e estávamos há quatro ou cinco meses sem receber ordenados, era o
senhor Boronha o presidente. Mas tínhamos uma união que vi em poucos clubes. O
grupo superava tudo. No balneário antes do jogo conversámos, percebemos que só
ganhando e assegurando a manutenção é que poderíamos sonhar em receber o que
estava em atraso, unimo-nos e entrámos em campo para ganhar. E fizemos a nossa
parte, ganhámos 1-0!”, lembrou. Foi durante a passagem pelo São
Luís que se tornou internacional A pela Bósnia
e Herzegovina, tendo participado num particular diante da Macedónia
(1-1) em junho de 1998. Após esses quatro nos leões de
Faro mudou-se para o Leixões,
ajudando o conjunto de Matosinhos, então na II Divisão B, a atingir a final da Taça
de Portugal em 2001-02. Na época seguinte, jogou na Supertaça
Cândido de Oliveira e na Taça
UEFA e ajudou os bebés do Mar a subir à II
Liga. “Foi um convite especial do Carlos Carvalhal, que tinha jogado comigo
no Espinho e estava no início da carreira como treinador. Não podia recusar.
Claro que tive medo, não conhecia o campeonato da II B, mas acabou por correr
tudo bem. Tínhamos uma equipa espetacular. Ao início nunca esperaria aquilo, o
plantel era curto e nem conseguimos subir nesse ano [2001-02], que era o
principal objetivo. Mas depois fomos avançando na Taça,
fomos eliminando equipas da I
Liga e começámos a acreditar, até que ganhámos em Braga nas meias-finais.
Também encontrei lá uma equipa forte, muito unida, com jogadores muito
experientes, e uma grande mística, os nossos adeptos iam a todo o lado. Foi
indescritível ver aquela bancada no Jamor cheia de adeptos do Leixões”,
recordou. Na derradeira temporada da
carreira, em 2003-04, voltou ao Algarve
para representar o Beira-Mar
de Monte Gordo na III Divisão Nacional, tendo pendurado as botas aos 36
anos. O seu filho, Dino Besirovic, nasceu
em Viseu e fez toda a formação em clubes portugueses e chegou a representar o Académico
de Viseu a nível sénior, mas sem o impacto que o pai teve no futebol luso.
Porém, tem prosseguido a carreira no estrangeiro, com algum sucesso, somando já
quatro internacionalizações pela seleção principal da Bósnia
e Herzegovina.
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