|
Delfim esteve no Marselha entre 2001 e 2006 |
Delfim,
médio internacional português e pontapé-canhão campeão pelo
Sporting
em 1999-00, nunca teve propriamente sorte no que concerne à saúde física
durante a carreira. Ainda de
leão
ao peito, foi operado três vezes ao joelho direito e sofreu uma rutura muscular
que o obrigou a parar cerca de quatro meses. Mas ao serviço do
Marselha
viveu algo ainda pior, um autêntico filme de terror.
Transferido para o
emblema
do sul de França no verão de 2001 por uma verba a ronda os três milhões de
euros, arrependeu-se da mudança pouco depois de aterrar em solo gaulês. “Cheguei
a um clube que naquela altura não tinha minimamente um projeto desportivo. Era
um clube à deriva”, contou à
Tribuna
Expresso em fevereiro de 2018.
Embora não gostasse do idioma, aprendeu
francês rapidamente, tendo sido inicialmente orientado por Tomislav Ivic,
antigo treinador de
FC
Porto e
Benfica
e próximo de Augusto Inácio, que lhe terá dado boas indicações sobre este
centrocampista natural de Amarante.
Depois de uma primeira época
razoável, com 21 jogos e um golo, apesar do 9.º lugar na
Ligue
1, lesionou-se gravemente no arranque da segunda temporada no
Marselha,
em agosto de 2002. “Fiz uma pré-época ao mais alto nível, partimos para o
primeiro jogo do campeonato, jogo esse com o Nantes que era em casa, mas como o
clube estava castigado tivemos que ir jogar a Lyon. Fizemos 380 quilómetros de
autocarro e recordo-me de ter adormecido talvez durante uma hora e meia nesse
trajeto. Acordo com uma contratura lombar clássica, mas que me impossibilitava
de treinar e jogar a 100%. No treino, na véspera do jogo, senti muitas
limitações, falei com a equipa médica e técnica e disse-lhes que não estava em
condições, mas o treinador Alain Perrin quis que eu participasse e que fosse
para o banco de suplentes. Entrei a 14 minutos do fim. Foram os primeiros e
únicos 14 minutos que fiz em três épocas”, recordou o médio.
“Dois dias depois no primeiro
treino pós-descanso fui manipulado de uma forma muito agressiva por parte do
fisioterapeuta/osteopata do clube e que me provocou uma entorse da coluna
vertebral. Depois disso foi um calvário com quatro operações e três anos sem
jogar ao mais alto nível”, prosseguiu, dando conta de uma “torção violentíssima
na coluna” que lhe “provocou dores violentas durante praticamente dois anos”.
Embora essa manipulação tivesse
acontecido em agosto de 2002, foi operado, por três vezes em três meses (entre
outubro de 2002 e janeiro de 2003), a… supostas hérnias inguinais. Um erro de
diagnóstico: “Só fui operado à coluna vertebral a 29 julho de 2003, onze meses
depois da manipulação, ou seja, só nessa altura fui operado à verdadeira causa
da lesão.”
|
Delfim esteve parado entre agosto de 2002 e fevereiro de 2005 |
E a verdadeira causa da lesão só
foi descoberta porque
Delfim,
à revelia do clube, marcou consulta com um neurocirurgião que, mais tarde, o
haveria de operar em
Marselha.
“Ele percebeu logo e disse-me: ‘Infelizmente caíste num ciclo vicioso’”,
lembrou.
Depois dos tais 14 minutos em
campo no
Marselha-Nantes
de 3 de agosto de 2002, o internacional português só voltou a jogar a 13 de fevereiro
de 2005, numa altura em que tinha sido cedido ao
Moreirense.
“Fui emprestado ao
Moreirense
durante quatro meses para perceber se tinha condições ou não de continuar a
carreira ao mais alto nível, com quatro parafusos na coluna. Basicamente é
isso. Fiz a fixação artificial de duas vértebras a L5 e S1. Os resultados, as
respostas foram as melhores possíveis. No
Moreirense
joguei dois meses com Vitor Oliveira como treinador, e nos últimos dois meses
com o
Jorge
Jesus. E percebi que tinha condições para continuar e regresso ao
Marselha
para cumprir a última época que tinha de contrato com o clube”, recordou
Delfim,
que não conseguiu evitar a despromoção dos
minhotos
à
II
Liga.
Em 2005-06 voltou mesmo ao plantel
do
Marselha
e conseguiu disputar 21 jogos e marcar um golo numa equipa que venceu a Taça
Intertoto, chegou aos oitavos de final da
Taça
UEFA e foi finalista vencida da Taça de França. “Apresento-me no início da
época contra as previsões de tudo e todos, porque pensavam que eu estava
incapacitado. E tive o privilégio de encontrar um treinador muito humano (Jean
Fernandez), que desde cedo deu-me espaço para ombrear com colegas que faziam
parte do plantel”, narrou, puxando a cassete atrás.
“Tive a sorte de ter uma equipa
técnica diferente das outras, que me deu espaço, e que me deu prazer de voltar
a vestir a camisola do
Olympique
de Marselha. E nada melhor do que no primeiro jogo que faço a titular foi
na final da Taça Intertoto contra o
Deportivo
da Corunha, disputado em duas mãos e vencemos a taça. Para mim foi
extraordinário, joguei a titular os dois jogos. (…) A vontade de jogar era
tanta, tanta que eu não tinha sensações de incapacidade. Até porque tive de
superar testes na medicina do trabalho, porque o
Olympique
tudo fez para que eu não voltasse a jogar mais. A minha revolta e luta foi tal
que potencializei de tal forma a minha condição física que nos testes a que fui
sujeito na medicina do trabalho nenhum médico foi capaz de me dar como inválido”,
acrescentou.
Sem comentários:
Enviar um comentário