Ambiente criado pelos adeptos faz de Anfield um estádio mítico |
Anfield é um dos estádios mais
míticos da Europa. Não pela dimensão, até porque apenas tem capacidade para
pouco mais de 50 mil espetadores, mas pela atmosfera criada pelos adeptos do Liverpool,
que galvanizam a sua equipa e tornam o ambiente para o adversário.
Inaugurado em 1884, na altura
para acolher jogos do Everton – até porque o Liverpool
só foi fundado em 1892 –, Anfield já recebeu 13 visitas de equipas portuguesas
em partidas das competições europeias. Apenas uma formação lusa saiu da casa
dos reds
como vencedora, sendo que três alcançaram empates.
26 de novembro de 1969 – 2.ª
mão da 2.ª eliminatória da Taça das Cidades com Feiras
Nas linhas acima foi referido que
apenas uma equipa portuguesa venceu em Anfield e que três empataram, mas houve
uma que perdeu e saiu a sorrir, porque conseguiu passar à eliminatória seguinte,
o Vitória
de Setúbal em 1969-70.
Após terem vencido no Bonfim
por 1-0, com golo de Fernando
Tomé, os sadinos
chegaram a estar a vencer por 2-0 em Liverpool,
com o brasileiro Wágner Canotilho a inaugurar o marcador na conversão de uma
grande penalidade aos 23 minutos e o inglês Geoff Strong a marcar na própria
baliza aos 56’.
Os reds,
então orientados pelo mítico Bill Shankly, reagiram na última meia hora e deram
a volta ao resultado, com golos de Tommy Smith (60’, g.p.), Roy Evans (88’) e
Roger Hunt (90’), mas não à eliminatória, uma vez que o Vitória,
orientado por José Maria Pedroto, beneficiou da regra dos golos fora para
seguir em frente.
“Em Anfield, na 2.ª mão,
estivemos a ganhar 2-0 e eu fiz a jogada do segundo golo, com o Arcanjo. Dei-lhe
a bola e ele continuou a jogada a gritar-me ‘vai, vai, vai’. Passou-me a bola e
fiz um chapéu ao guarda-redes. A bola já tinha entrado quando o Strong tocou na
bola, só que o árbitro e a UEFA continuam a dar o golo na própria baliza.”,
recordou Fernando
Tomé ao Observador em fevereiro de 2018.
“Os adeptos? Caladinhos. Em cima
dos 90 minutos, estávamos a ganhar 2-1. Nos descontos, eles deram a volta e
acabou 3-2. Passámos nós pela regra dos golos fora. Nessa noite, o Vital tinha
um monte de moedas pequenas que não valiam nada no canto da sua baliza. Ele,
coitado, apanhou com tanta moeda. Foi juntando, juntando, juntando e já dizia
que era comprar um presente para o filho. Quando acabou o jogo, nem se
preocupou com as moedas. Foi a correr para o balneário. O pessoal do Liverpool
estava assim pró-zangado”, acrescentou.
15 de março de 1978 – 2.ª mão dos
quartos de final da Taça
dos Campeões Europeus
Nas décadas de 1970 e 1980 o Liverpool
viveu a melhor fase da sua história: campeão europeu em 1976-77, 1977-78,
1980-81 e 1983-84, vencedor da Taça
UEFA em 1972-73 e 1975-76 e campeão inglês em 1972-73, 1975-76, 1976-77,
1978-79, 1979-80, 1981-82, 1982-83, 1983-84, 1985-86, 1987-88 e 1989-90.
Foi com o estatuto de campeão
europeu que os reds,
então comandados por Bob Paisley, defrontaram o Benfica
nos quartos de final da Taça
dos Campeões Europeus em 1977-78. Após um triunfo por 2-1 na Luz, a equipa
inglesa goleou os lisboetas
em Anfield por 4-1: Ian Callaghan (cinco minutos), Kenny Dalglish (17’), Terry
McDermott (77’) e Phil Neal (87’) marcaram para os da casa, Nené para os
forasteiros (24’).
7 de março de 1984 – 1.ª mão
dos quartos de final da Taça
dos Campeões Europeus
Se nos jogos anteriores estavam
Bill Shankly e Bob Paisley no comando técnico do Liverpool,
desta vez era Joe Fagan, numa altura em que os reds
já tinham mais títulos europeus do que o Benfica
(quatro contra três).
Ao contrário do que tinha
acontecido seis anos antes, os ingleses
jogavam a primeira-mão em casa, tendo vencido por um magro 1-0, com golo do
galês Ian Rush aos 66 minutos.
Duas semanas depois, os britânicos
golearam na Luz por 4-1 e sentenciaram a passagem às meias-finais.
24 de outubro de 1984 – 1.ª
mão da 2.ª eliminatória da Taça
dos Campeões Europeus
Sete meses depois, e já com mais
um título europeu no palmarés do Liverpool,
as duas equipas reencontraram-se na Taça
dos Campeões Europeus, mais uma vez com a primeira-mão a ser jogada em
Anfield.
Tal como em março, Ian Rush foi o
homem do jogo. Desta feita, apontou um hat
trick (44, 70 e 76 minutos). Pelo meio, Diamantino marcou o golo que, na
altura, deu o empate aos encarnados, então orientados pelo húngaro Pál Csernai.
Na segunda-mão, o Benfica
venceu por 1-0, graças a um golo do dinamarquês Manniche, um resultado
insuficiente para virar a eliminatória.
15 de março de 2001 – 2.ª mão
dos quartos de final da Taça
UEFA
O Liverpool
europeu entrou em decadência a partir de 1985, quando perderam com a Juventus
na final marcada pela tragédia de Heysel, e mesmo no plano doméstico os reds
iniciaram em 1990 um longo jejum de três décadas sem conquistar o título
inglês. Mas em 2000-01, sob a orientação do francês Gérard Houllier e com prata
da casa como Jamie Carragher, Steven Gerrard, Michael Owen e Robbie Fowler na
equipa, o histórico
emblema de Merseyside deu sinais de retoma.
Diante do FC
Porto de Fernando Santos, nos quartos de final da Taça
UEFA, houve empate a zero nas Antas, na primeira-mão.
No segundo jogo, o ambiente de
Anfield pesou e o Liverpool
venceu por 2-0. Danny Murphy inaugurou o marcador aos 32 minutos, num lance
polémico, porque ajeitou a bola com o braço antes de atirar de forma
atabalhoada à baliza, e algo caricato, pela forma como Ricardo Silva vai contra
o poste e não consegue evitar o golo. O 2-0 apareceu seis minutos, pela cabeça
do baixinho Michael Owen, na resposta a um grande cruzamento de Steven Gerrard
a partir da direita.
11 de setembro de 2001 – 1.ª
jornada da fase de grupos da Liga
dos Campeões
Num dia trágico para a
humanidade, em que uma série de ataques terroristas levaram a que dois aviões
embatessem contras as Torres Gémeas do complexo empresarial World Trade Center,
em Nova Iorque, o Boavista foi
a Anfield deixar os fervorosos adeptos do Liverpool em
estado de choque.
Nos meses anteriores, os reds de
Gérard Houllier tinham vencido Taça
UEFA, Taça de Inglaterra, Taça da Liga, Charity Shield e Supertaça
Europeia, e contavam ainda com o jogador que haveria de vencer a Bola de
Ouro nesse ano, Michael Owen. No entanto, nada disso inibiu o pistoleiro Elpídio
Silva, que combinou rapidamente com Alexandre Goulart antes de disparar
para o fundo da baliza de Dudek logo aos três minutos.
Owen, a estrela de uma equipa
onde também atuavam jogadores como Sami Hyypia, Dietmar Hamann, Steven Gerrard
e Emile Heskey, empatou aos 29 minutos, mas não evitou uma surpreendente perda
de pontos, em casa, ante os axadrezados de
Jaime Pacheco.
8 de março de 2006 – 2.ª mão
dos oitavos de final da Liga
dos Campeões
Ao sétimo jogo, finalmente uma
vitória de uma equipa portuguesa em Anfield – e a única até agora.
Na primeira-mão, no novo Estádio
da Luz, o Benfica
de Ronald Koeman venceu o Liverpool
graças a um golo de cabeça de Luisão já nos derradeiros minutos, na resposta a
um livre de Petit.
Na partida de Merseyside
esperava-se que os reds
de Rafa Benítez, então campeões europeus em título, exercessem uma forte
pressão na procura da reviravolta. No entanto, foram os encarnados a
agigantar-se, silenciando os ruidosos adeptos ingleses com dois golos
espetaculares. Depois de Simão ter inaugurado o marcador com um remate
colocadíssimo aos 36 minutos, Miccoli fez o 0-2 através de um gesto acrobático
já nos derradeiros instantes (89’).
28 de novembro de 2007 – 5.ª
jornada da fase de grupos da Liga
dos Campeões
Frente a frente, duas equipas que
nos seis anos anteriores tinham vencido tanto a Taça
UEFA como a Liga
dos Campeões – o Liverpool
em 2000-01
e 2004-05, o FC
Porto em 2002-03 e 2003-04.
Depois de um empate a um golo no Dragão
na ronda inaugural, os dois conjuntos entraram para a penúltima jornada em
situações bem distintas. Os portistas,
então comandados por Jesualdo Ferreira, lideravam o grupo e até podiam garantir
desde logo o apuramento para os oitavos em caso de vitória, enquanto os reds
de Benítez, que na época anterior tinham atingido a final, corriam o perigo de
não seguir para a fase seguinte.
O Liverpool
começou melhor, com o espanhol Fernando Torres a inaugurar o marcador aos 19
minutos. Contudo, Lisandro López fez aos 33’ o golo de um empate que haveria de
resistir até à reta final da partida, quando os britânicos marcaram por mais
três vezes, novamente por Torres (78’) e também por Gerrard (83’) e Peter
Crouch (88’).
8 de abril de 2010 – 2.ª mão
dos quartos de final da Liga
Europa
Quatro anos depois, o reencontro
entre Liverpool
(ainda orientado por Rafael Benítez) e Benfica
(comandado por Jorge
Jesus). Curiosamente, os reds
pareciam mais fragilizados do que em 2006, até porque haveriam de concluir essa
época no 7.º lugar da Premier
League; enquanto as águias, galvanizadas pelo futebol com nota artística de
Jorge
Jesus, aparentavam estar bastante melhor.
Na primeira mão, na Luz, os
encarnados triunfaram por 2-1, com dois golos de grande penalidade da autoria
de Óscar Cardozo na segunda parte (59 e 79 minutos) depois de Agger ter
inaugurado o marcador para os ingleses logo aos 9’.
No entanto, em Anfield viu-se um Liverpool
à moda antiga, a golear por 4-1, com golos de Dirk Kuyt (28’), Lucas Leiva
(34’) e Fernando Torres (59’ e 82’). Pelo Benfica,
que apresentou como novidade (nada bem-sucedida) David Luiz no lado esquerdo da
defesa, voltou a marcar Cardozo (70’).
17 de março de 2011 – 2.ª mão
dos oitavos de final da Liga
Europa
O Liverpool
perdeu algum fulgor à entrada da década de 2010 e, pela primeira vez desde
2003-04, em 2010-11 não participou na Liga
dos Campeões. Antes da eliminatória diante do Sp.
Braga, os reds,
então já orientados por Kenny Dalglish após as saídas de Rafa Benítez e
posteriormente Roy Hodgson, ocupavam o 6.º lugar na Premier
League, a mais de dez pontos dos lugares de acesso à Champions.
Ainda assim, eram claramente favoritos diante dos bracarenses.
Na primeira-mão, no Minho, a
formação orientada por Domingos
Paciência venceu por 1-0, graças a um golo de Alan na conversão de uma
grande penalidade (18 minutos).
Em Anfield, os arsenalistas
resistiram, resistiram… e seguraram um empate a zero, carimbando pela primeira
vez o apuramento para os quartos de final de uma competição europeia.
6 de março de 2018 – 2.ª mão
dos oitavos de final da Liga
dos Campeões
Se no caso do Sp.
Braga de 2011 e do Boavista
de 2001 um empate a zero a Anfield foi o resultado de uma enorme resiliência
num território adverso, no do FC
Porto de Sérgio
Conceição significou apenas uma espécie de jogo para cumprir calendário numa
eliminatória já resolvida.
Na primeira-mão, o Liverpool
de Jürgen Klopp, já com o trio composto por Sadio Mané, Mohamed
Salah e Roberto Firmino a fazer mossa, goleou no Dragão
por 5-0, com um hat trick do senegalês, um golo do egípcio e outro do
brasileiro.
A partida de Anfield foi, por
isso, uma mera burocracia que serviu para dar minutos a alguns jogadores menos
utilizados.
9 de abril de 2019 – 1.ª mão
dos quartos de final da Liga
dos Campeões
Um ano depois, o Liverpool
de Jurgen Klopp e o FC
Porto de Sérgio
Conceição voltaram a medir forças na Liga
dos Campeões, desta feita nos quartos de final e com a primeira-mão a ser
jogada em Anfield.
Os dragões
deram boa imagem e saíram de Merseyside a queixar-se de forma legítima de um
penálti por marcar (mão na bola de Alexander-Arnold) e um pisão de Salah
em Danilo que poderia ter valido o cartão vermelho ao egípcio, mas a verdade é
que aos 26 minutos já perdiam por 2-0, devido aos golos de Naby Keita (5’) e
Roberto Firmino (26’).
24 de novembro de 2021 – 5.ª
jornada da fase de grupos da Liga
dos Campeões
Mais um reencontro entre o Liverpool
de Jurgen Klopp e o FC
Porto de Sérgio
Conceição em Anfield, desta feita na 5.ª jornada da fase de grupos da Liga
dos Campeões, numa altura em que os reds
já tinham o 1.º lugar do grupo garantido e os portistas
tentavam segurar a 2.ª posição.
Embora a formação inglesa tivesse
apresentado jogadores habitualmente menos utilizados, como Neco Williams,
Kostas Tsimikas, Tyler Morton, Oxlade-Chamberlain e Takumi Minamino, conseguiu
alcançar a vitória por 2-0, com dois golos apontados já na segunda parte por
Thiago Alcântara (52’) e Mohamed
Salah (70’).
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