Dez sérvios que jogaram pelo Benfica antes de Radonjic |
Desde há uma década para cá que
se tem tornado comum o Benfica
ter no plantel um jogador acabado cujo nome termina em “ic”. A península
balcânica, nomeadamente a antiga Jugoslávia, há muito que está identificada
como um autêntico viveiro de craques da bola, apesar de essa qualidade
futebolística ser poucas vezes acompanhada pelos resultados das seleções
nacionais.
Os quartos lugares nos
Campeonatos do Mundo de 1930 e 1962 e as presenças em finais (sempre como
finalista vencido) de Europeus em 1960 e 1968, foi o melhor que a antiga
Jugoslávia alcançou. Após a dissolução, a Sérvia continuou a produzir craques
em catadupa, mas ainda não conseguiu marcar presença num Campeonato da Europa
nem passar a fase de grupos de um Mundial.
Milorad Pavic |
O primeiro sérvio no Benfica,
curiosamente, até foi um treinador: Milorad
Pavic. Três vezes campeão da Jugoslávia pelo Estrela Vermelha de Belgrado e
vencedor de duas Taças da Bélgica pelo Standard Liège e de uma Taça do Rei de Espanha
pelo Athletic
Bilbao, assumiu o comando técnico dos encarnados
em 1974-75.
Com jogadores como Bento,
Humberto Coelho, Toni, Shéu, Jaime Graça, Eusébio, Nené, Vítor Baptista, Artur
Jorge, Simões e Jordão no plantel, Pavic sagrou-se campeão nacional e levou as águias
à final da Taça
de Portugal e aos quartos de final da Taça das Taças.
Acabou por ficar na Luz apenas
nessa época, não por falta de resultados desportivos, mas devido à crise
financeira que o clube vivia na altura.
Zvonko Zivkovic |
Mais de uma década após a saída
de Pavic, o ponta de lança internacional jugoslavo Zvonko Zivkovic comprometeu-se com o Benfica
para a época 1986-87.
Proveniente do Partizan e com uma
participação no Mundial 1982 no currículo, viveu na sombra de jogadores como
Rui Águas, Chiquinho Carlos e Manniche, não indo além de onze partidas às
ordens de John Mortimore e nenhum golo para amostra numa temporada em que até
se sagrou campeão nacional.
Em 1993-94, o defesa central/médio defensivo Jovica Simanic integrou o plantel, mas não chegou a jogar oficialmente de águia ao peito. Chegou à Luz proveniente do Estugarda, e depois transferiu-se para o Boavista.
Proveniente do Estrela Vermelha
de Belgrado, disputou 24 jogos (23 a titular) numa temporada em que os encarnados
obtiveram a pior classificação de sempre da sua história, o 6.º lugar.
O internacional jugoslavo
continuou ligado ao clube até ao início de 2005, mas não voltou a atuar em
qualquer partida pela equipa principal.
Ljubinko Drulovic |
Também internacional jugoslavo,
mas como outro tipo de estatuto, Ljubinko
Drulovic reforçou o Benfica
no verão de 2001 após não ter chegado a acordo para renovar pelo FC
Porto, clube em que foi figura ao longo de sete anos e meio. Extremo de
baixa estatura com grande capacidade para ir à linha e cruzar, tinha estado no
Mundial 1998 e no Euro
2000, mas chegou à Luz já na fase descendente da carreira, à beira de
completar 33 anos.
“A minha família queria continuar
em Portugal e a abordagem do Luís Filipe Vieira foi muito correta. Era outro
grande clube, pagava-me aquilo que eu pedira ao FC
Porto e aceitei. Fizeram de mim um dos capitães da equipa e nunca tive
problemas no balneário, fui bem-recebido”, afirmou ao Maisfutebol
em abril de 2019.
Na primeira época integrou,
juntamente com Simão, Zahovic e Mantorras, o quarteto ofensivo habitualmente
titular, tendo disputado 34 jogos (28 a titular) e apontado seis golos em todas
as competições.
No entanto, em 2002-03 perdeu
definitivamente o seu espaço, situação que se acentuou após a chegada do
brasileiro Geovanni em janeiro. Nessa temporada, não foi além de 20 encontros
de águia
ao peito, mas apenas um na condição de titular.
Nemanja Matic |
Depois de Drulovic, os sérvios
que se seguiram no Benfica
já eram mesmo sérvios e não jugoslavos, e chegaram à Luz já com Jorge
Jesus no comando técnico. O primeiro foi Nemanja Matic, na altura um médio desconhecido que pertencia aos
quadros do Chelsea
e que os blues
utilizaram para baixar o preço da contratação de David Luiz em 2011.
Depois de uma primeira época de
aprendizagem em Lisboa, na sombra de Javi García e também de Axel Witsel,
beneficiou da saída do espanhol e do belga para formar uma dupla formidável a
meio-campo com o argentino Enzo Pérez.
Considerado melhor jogador da I
Liga em 2012-13, somou 99 jogos e nove golos de águia
ao peito, tendo conquistado uma Taça
da Liga e participado numa campanha até uma final
da Liga Europa antes de voltar ao Chelsea
em janeiro de 2014, a meio de uma temporada em que os encarnados
ganharam o triplete nacional e chegar
a mais uma final da Liga
Europa.
“Para mim, o Benfica
ficou sempre no coração. Vamos ver o que vai trazer o futuro. Se o Benfica
um dia pensar que precisa de mim outra vez vamos pensar nisso”, afirmou à Sport TV em março de 2021. “Fui aí muito
feliz. O Benfica
é um dos melhores clubes do Mundo. Estava muito feliz aí na equipa, com os
adeptos e com toda a gente no clube. Sempre que tenho tempo gosto de passar por
Lisboa. Também a minha família gosta muito de Lisboa e tem saudades de todos”,
acrescentou.
Lazar Markovic |
Ainda com Matic no plantel, o
plantel benfiquista
recebeu quatro (!) sérvios no verão de 2013. Comecemos pelo que durou menos
tempo no clube, o extremo Lazar Markovic,
contratado ao Partizan por 10 milhões de euros.
Rápido e com grande qualidade no
drible, não se afirmou como um titular indiscutível, mas presenteou os adeptos encarnados
com pormenores deliciosos, tendo amealhado sete golos e seis assistências ao
longo de 49 jogos (30 a titular) em todas as competições. Nessa temporada
venceu campeonato, Taça
de Portugal e Taça
da Liga e ainda contribuiu para a caminhada até à final da Liga
Europa.
“Foi apenas uma época, mas valeu
por várias. A temporada na Luz ajudou-me a amadurecer, a ser mais sério, a
ficar mais forte em termos físicos e ter um maior conhecimento tático. Nunca vou
esquecer aqueles dias em Lisboa, os nossos três troféus e a final da Liga
Europa”, afirmou a um jornal sérvio.
Valorizado, transferiu-se no
final da temporada para o Liverpool,
que pagou 25 milhões de euros pelos seus préstimos. Daí para cá, tem sido dificuldades
de afirmação em quase todos os clubes por onde passou, incluindo o Sporting.
Miralem Sulejmani |
Mais um ano no Benfica
passou Miralem Sulejmani, também um
extremo, contratado a custo zero após terminar contrato com o Ajax.
Apesar das expectativas criadas pelas boas épocas nos Países Baixos, este
jogador formado no Partizan esteve sempre na sombra de outros extremos do
plantel, como Gaitán, Salvio e Markovic.
Em duas temporadas na Luz, não
foi além de 34 jogos e três golos, também por culpa de vários problemas físicos.
Ainda assim, conseguiu associar o seu nome à conquista de dois campeonatos,
duas Taças
da Liga e uma Taça
de Portugal.
No verão de 2015 saiu, sem deixar
grandes saudades, para os suíços do Young Boys, que pagaram três milhões de
euros pelo passe do atacante sérvio.
Filip Djuricic |
Quem também não deixou grandes
saudades foi o médio ofensivo Filip
Djuricic, cujo passe foi adquirido ao Heerenveen por oito milhões de euros
no verão de 2013 com o intuito de suceder a Pablo Aimar no papel de maestro da
orquestra encarnada.
“Provavelmente podia ter feito uma escolha melhor quando saí do Heerenveen,
naquela altura tinha várias hipóteses de escolha”, confessou no final de 2015,
quando ainda estava vinculado às águias.
Tal como Sulejmani, nunca se
afirmou. Nem com o treinador que o contratou, Jorge
Jesus, nem com aquele que lhe sucedeu, Rui Vitória. Ao longo de quatro anos
de ligação às águias,
não foi além de 24 jogos e dois golos. Pelo meio, esteve emprestado a Mainz, Southampton,
Anderlecht
e Sampdoria.
Em 2017 foi contratado a custo
zero pela Sampdoria e desde então que tem jogado, até com algum sucesso, no
futebol italiano.
“Os adeptos, todas as outras
pessoas no clube, as pessoas à volta do clube... Todos acreditavam em mim, à
exceção do treinador. Mas o que se pode fazer perante isso? No final, não foi
como me prometeram, para ter uma oportunidade”, atirou, sobre a passagem pela
Luz.
Ljubomir Fejsa |
Por último, mas nem por isso menos
importante – antes pelo contrário –, chegou à Luz o médio defensivo Ljubomir Fejsa, já com o intuito de
precaver a saída de Matic, tendo sido contratado ao Olympiacos
por 4,5 milhões de euros.
Por vezes pouco afortunado devido
a problemas físicos, conseguiu ser um dos esteios da equipa quando esteve apto
para a condição, tendo sido peça importante para os títulos do inédito tetra
(2013-14 a 2016-17). Se juntarmos esses quatro campeonatos aos três que tinha
conquistado na Grécia e outros tantos que tinha vencido no seu país ao serviço
do Partizan, Fejsa amealhou dez títulos consecutivos de campeão nacional.
De águia
ao peito, emblema pelo qual conquistaria o título de 2018-19 e também duas Taças
de Portugal, três Taças
da Liga e três Supertaças
Cândido de Oliveira, disputou um total de 169 partidas e dois golos entre
2013 e 2019.
Titularíssimo com Rui Vitoria,
perdeu espaço após a chegada de Bruno
Lage ao comando técnico e acabou por ser emprestado aos espanhóis do Alavés
e posteriormente transferido para os sauditas do Al-Ahli.
“Quando vim ao Museu pela
primeira vez pensei que eram mesmo muitos troféus, não sabia que o Benfica
tinha ganho tanta coisa. Sabia que vinha para um clube grande. Quando ganhámos
o tetra. Fizemos história com este clube. Quando vi o Marquês de Pombal ...
nunca vi uma coisa assim na minha vida, tanta gente a apoiar este clube, foi
incrível. Quando vou na rua, querem sempre falar comigo, tirar fotografias é
normal. Quando cheguei no primeiro dia era assim, portanto passado sete anos é
normal que assim seja. Aqui gosta-se muito de futebol e este clube é muito
grande, aqui e em tudo o mundo. Estou muito orgulhoso do que fiz aqui, posso
dizer que dei tudo por este clube e agradeço aos adeptos porque são os melhores
adeptos que eu vi. Muito obrigado por todo este apoio. A partir de hoje
ganharam mais um grande adepto. Muita sorte para o futuro”, afirmou, numa
entrevista de despedida que concedeu às plataformas digitais do clube.
Luka Jovic |
Menos feliz no Benfica
foi o avançado Luka Jović,
contratado ao Estrela Vermelha em janeiro de 2016, pouco tempos após ter
comemorado o 18.º aniversário.
Tapado por Jonas, Mitroglou e
Jiménez, nunca conseguiu afirmar-se na equipa principal, pela qual jogou apenas
quatro vezes – duas em 2015-16 e outras tantas na época seguinte. Já pelos bês
atuou em 13 partidas e apontou dois golos, o que também não foi propriamente um
registo extraordinário.
“Eu saí da Sérvia há dois anos
como uma estrela e no Benfica
encontrei um ataque com Mitroglou, Jonas e Raul Jiménez. Em primeiro lugar eu
precisava de tempo para me adaptar ao clube, à liga portuguesa e tudo mais, mas
isso tornou-se difícil porque na minha cabeça era difícil aceitar que não
jogava. Essencialmente esse foi o grande problema. Agora eu tenho a mentalidade
certa: sei que o tempo está a passar, já não sou tão jovem e tenho que mostrar
o meu potencial”, referiu, em entrevista ao jornal Novosti.
Jović contou ainda um episódio em
que deitou tudo a perder numa altura em que “Mitroglou estava em má forma e
Jiménez lesionado”. “Tinha marcado golos na equipa B e feito a melhor semana de
treinos na equipa principal. A dois dias do jogo, o treinador colocou-me a
treinar entre os titulares. O Mitroglou estava nervoso, ouvi-o dizer palavrões
em grego. No final do treino, o Rui Costa disse que tinha de continuar assim,
que conseguia, que estava tudo na minha cabeça.
Ia ser titular, mas decidir ir sair e fiquei até depois da meia-noite.
Os responsáveis do Benfica
viram-me e, claro, já não fui convocado”, afirmou, em entrevista ao Mozzart Sport.
No entanto, os 6,6 milhões de
euros que as águias
investiram na aquisição de Jović tiveram retorno três anos e meio depois,
quando o Eintracht Frankfurt, clube ao qual o atacante esteve emprestado
durante dois anos, o contratou por cerca de 22 milhões. E nesse mesmo verão, em
2019, os alemães venderam o passe do jogador ao Real
Madrid por 63 milhões.
Andrija Zivkovic |
Por último – antes de Radonjic –,
o extremo Andrija Zivkovic assinou
pelo Benfica
no verão de 2016, proveniente do Partizan, a custo zero.
Em quatro anos de águia
ao peito, o jogador sérvio foi intermitentemente utilizado a titular numa das
alas na temporada de estreia, mas conseguiu estabelecer-se no onze inicial no
meio-campo encarnado
em 2017-18, numa altura em que Rui Vitória tinha trocado o 4x4x2 pelo 4x3x3 e
ficado sem o lesionado Krovinovic.
Contudo, na terceira temporada viu a ascensão de Gedson
Fernandes, a contratação de Gabriel e o regresso ao 4x4x2 com Bruno
Lage retirar-lhe novamente espaço.
No verão de 2020, numa altura em
que pouco contava no plantel benfiquista,
rescindiu contrato e assinou pelo PAOK, ao fim de 88 jogos e quatro golos de águia
ao peito. “Depois de 4 anos no Benfica,
chegou a hora de dizer adeus... Quero agradecer a todos os que trabalham no
clube a hospitalidade e o companheirismo! Estou muito feliz por ter tido a
oportunidade de integrar esta família grandiosa e farei parte dela para sempre.
Parto em busca de novos desafios, grandes jogos e vitórias. Amo-vos a todos,
Andrija!”, escreveu nas redes sociais.
Pouco tempo depois, foi carrasco
do Benfica
na terceira pré-eliminatória da Liga
dos Campeões.
Além desta dezena de jogadores, Filip Markovic, Stefan Mitrovic, Uros Matic
e Ivan Saponjic representaram o Benfica
B, ao passo que Emir Azemović jogou
pelos juniores encarnados.
Esquecer Filipovic é imperdoável...
ResponderEliminarFilipovic é montenegrino
ResponderEliminarfaltou o simanic, que esteve no plantel de 93-94.
ResponderEliminarNão chegou a estrear-se, mas é um ótimo reparo, sem dúvida. E só por isso vou editar o texto e mencioná-lo
Eliminarsim, consta que recusou jogar a última jornada, para se sagrar campeão.só referi porque estavam jogadores da b e dos juniores. abraço!
ResponderEliminarTem razão, David.
ResponderEliminarMas não leve a mal o meu engano - ele e o filho ainda estão a trabalhar na seleção Sérvia.
Não foi o único a associar Filipovic à Sérvia. E até é normal que as pessoas associem a malta da antiga Jugoslávia à Sérvia, até a bandeira é muito parecida.
Eliminar