Cinco canteranos do Almada que chegaram à seleção A |
Titular esta quinta-feira no primeiro onze escalado pelo novo selecionador nacional Roberto Martínez, na vitória de Portugal sobre o Liechtenstein (4-0) a contar para a fase de qualificação para o Euro 2024,
o defesa central Gonçalo Inácio tornou-se no quinto
jogador com passagem pela formação do Almada Atlético Clube a jogar pela
principal equipa das quinas. Um motivo de orgulho para um clube que milita
presentemente na II Divisão Distrital da AF
Setúbal, mas que até à viragem no milénio foi presença assídua nos
campeonatos nacionais.
António Simões |
O primeiro desta lista restrita é
o antigo extremo esquerdo António Simões,
que brilhou com a camisola do Benfica
durante as décadas de 1960 e 1970. Nascido na Cruz de Pau, concelho do Seixal, mas residente em Almada
desde tenra idade, começou a jogar nas camadas jovens do Almada em 1957-58.
“Eu jogava muito na rua, joguei
uma vez por uma equipa de ciganos num torneio popular. Começaram todos a falar
de mim, foram ter com o meu irmão mais velho para lhe dizer que eu era bom,
diabólico no campo. Porque eu jogava contra os adultos e driblava os homens.
Isto começou a ser falado, os meios eram mais pequenos do que hoje. O scouting da altura eram os sócios dos
clubes que telefonaram a dizer: ‘Atenção que há um miúdo assim, assim’. Comecei
a jogar através de um senhor que foi campeão de Portugal pelo Sporting,
chamado professor Rodrigues Dias, é ele que é o meu treinador no Almada. Tudo
começa aí”, explicou à Tribuna
Expresso em dezembro de 2018.
Ainda chegou a treinar no Sporting,
mas os verde e brancos nunca quiseram pagar os 50 contos [250 euros] exigidos
pelo emblema do Pragal. O Benfica
também não, mas chegou-se à frente com 40 contos [200 euros], proposta que os
almadenses acabaram por aceitar.
Na época de estreia pela equipa
principal dos encarnados, em 1961-62, não só venceu a Taça
dos Campeões Europeus como também acabou por somar os primeiros jogos ao
serviço da seleção nacional A, estrando-se num particular diante do Brasil a 6
de maio de 1962, quando tinha apenas 18 anos e quatro meses. Quatro anos
depois, foi um dos magriços que guiou Portugal ao terceiro lugar no Campeonato
do Mundo de Inglaterra.
João António Galo |
Quase duas décadas depois,
surgiram na formação do Almada dois jovens que viriam a atingir a seleção A. Comecemos
pelo lateral direito Galo, que jogou
pelos juniores do Almada entre 1978 e 1980 e depois pela equipa principal até
1984, sempre na III Divisão.
Depois de uma passagem de dois
anos pelo Atlético,
ingressou no Belenenses
em 1986 e fez parte do melhor período dos azuis
do Restelo no pós-Matateu, com a conquista da Taça
de Portugal em 1988-89 e boas campanhas nas competições europeias.
A 29 de agosto de 1990 acabou
mesmo por disputar um jogo pela seleção nacional, um empate a um golo numa
partida de preparação diante da campeã mundial Alemanha, no antigo Estádio da
Luz. Galo foi rendido ao intervalo por José Carlos, enquanto do outro lado
estavam Andreas Brehme, Lothar Matthäus, Rudi Völler e Jürgen Klinsmann.
Oceano |
Um ano e meio mais novo do que Galo,
o médio defensivo Oceano, nascido em
Cabo
Verde, ingressou nos iniciados do Almada aos 13 anos, a meio da década de
1970. “[Fui lá parar] através dos colegas da escola, que já jogavam juntos lá e
disseram-me para ir fazer os treinos de captação. Fui e fiquei nos iniciados”,
recordou em maio de 2018, em entrevista à Tribuna
Expresso, um jogador que no Pragal atuava como… extremo esquerdo.
“Faço iniciado, juvenil, júnior
e, no meu primeiro ano de sénior, o Almada apresenta-me uma proposta, ainda me
lembro do valor: 17 contos e 500 por mês. Mas eu disse que não aceitava porque
já havia jogadores no Almada a ganhar 25, 30 contos por mês. Disse-lhes que por
20 contos assinava. Como júnior já era titular da equipa, mas eles achavam que
não me davam esse dinheiro. Entretanto apareceu uma proposta do Odivelas,
que me oferecia 26 contos por mês e, no ato da assinatura, dava-me 50 contos.
Ficava rico, multimilionário, com aqueles 50 contos. Avisei o Almada: ‘Têm dois
dias, porque daqui a dois dias eu vou assinar por outro clube’. Passaram dois
dias, o Almada não me disse nada, liguei para o Odivelas
e disse que aceitava a proposta deles. Entretanto, depois, o Almada já me dava
35 contos por mês. Eu ainda não tinha assinado pelo Odivelas,
mas, lá está, por causa da educação que os meus pais me deram, disse: ‘Já dei a
minha palavra ao Odivelas,
por isso não há hipótese nenhuma’. E acabei por ir para o Odivelas.
No Almada ficaram ofendidíssimos comigo”, prosseguiu, sobre um episódio ocorrido
em 1982.
Dois anos depois, Oceano assinou
pelo Sporting,
tendo feito o primeiro de 54 jogos pela seleção nacional a 30 de janeiro de
1985, numa derrota caseira ante a Roménia (2-3). Ao longo desse percurso
internacional, que só terminaria em 1998 e que contou com uma participação no
Euro 1996 pelo meio, o centrocampista apontou oito golos.
Edinho |
Cerca de duas décadas depois,
voltou a sair do Pragal um futuro internacional A, desta vez um ponta de lança:
Edinho.
Filho de Arnaldo Silva, que era treinador da formação do Almada, percorreu as
camadas jovens do clube desde os infantis aos juniores – apesar de uma passagem
de um ano pelo Vitória
de Setúbal –, tendo ainda jogado pelos seniores.
“A partir dos nove anos comecei a
gostar mesmo de futebol. O meu pai levava-me, porque era treinador da formação
do Almada. Comecei a ganhar o bichinho e com ele a incentivar-me… Ao sábado
jogava no meu escalão e ao domingo no escalão acima, que era o que ele
treinava. E é curioso, porque com o meu pai nunca fui titular. Chegou uma
altura em que até os pais dos meus colegas diziam que eu tinha de jogar. Mas o
meu pai sempre teve aquele complexo, ‘é meu filho, não posso pôr a jogar, vão
pensar outras coisas’. Só que eu era o melhor marcador, fazia sempre golo e até
o presidente perguntava. Mas o meu pai dizia-lhe: ‘Se a gente precisar ele
depois ajuda, não há problema. Ele está bem’. Mas eu não estava, como é óbvio,
ficava chateado”, contou à Tribuna
Expresso em novembro de 2019.
Em 2000 transitou para a equipa
principal, tendo competido na III Divisão Nacional e na I
Distrital da AF Setúbal antes de se mudar para o Barreirense,
em 2002, tendo protagonizado uma ascensão a pulso na hierarquia do futebol
português, passando por todas as divisões antes de ajudar o Vitória
de Setúbal a ganhar a Taça
da Liga em 2007-08.
Em 2009, quando jogava num dos
principais clubes gregos, o AEK Atenas, fez a estreia na seleção nacional a 31
de março, numa vitória sobre a África do Sul, num jogo particular. Acabou por
somar mais cinco internacionalizações e dois golos, diante de Malta e Camarões.
Gonçalo Inácio |
Agora, foi a vez de Gonçalo Inácio, um defesa central
canhoto nascido em Almada e que iniciou a sua formação nos benjamins do Almada
Atlético Clube em 2010. “Tinha quatro anos quando fui para a escolinha do
Chalana. Depois fui para o Almada, um clube onde aprendi muita coisa”, recordou
ao Diário
de Notícias, em maio deste ano.
Dois anos depois mudou-se para o Sporting,
tendo feito a estreia pela equipa principal em outubro de 2020, pouco tempo
após ter comemorado o 19.º aniversário. Entretanto conquistou a titularidade e
tornou-se um dos esteios do conjunto que em 2021 conquistou campeonato, Taça da
Liga e Supertaça.
Com apenas 13 internacionalizações
pelas seleções jovens – três pelos sub-18, três pelos sub-19, uma pelos sub-20 e seis pelos sub-21 –, teve agora a
possibilidade de se estrear pela seleção A.
Os internacionais jovens e por seleções estrangeiras
Além dos que chegaram à seleção A
de Portugal, o Almada produziu talentos que passaram pelas seleções jovens lusas
ou por seleções estrangeiras.
Também o lateral esquerdo André
Marques (66 internacionalizações dos sub-16 à seleção B), o central Germano (20
dos sub-16 aos sub-21), o médio Tomás Azevedo (sete pelos sub-18), o lateral
direito Rafael Fonseca (sete pelos sub-18), o médio Spencer (seis pelos
sub-18), o lateral Mano (21 dos sub-19 aos sub-21), o médio Paulo Monteiro (cinco
dos sub-21 à seleção olímpica), o lateral esquerdo Rodrigo Rego (29 dos sub-15
aos sub-18), o avançado Nelinho (sete dos sub-18 aos sub-21), o médio Bonacho
(duas pelos sub-15), o guarda-redes Gonçalo Pinto (uma pelos sub-19), o central
Figueiredo (uma pela seleção B) e o avançado Jorge Paixão (sete dos sub-16 aos
sub-18) jogaram de quinas ao peito, mas nas seleções jovens.
Já o avançado Cafú jogou pela
seleção principal de Cabo
Verde, enquanto Jardel Nazaré representa a equipa nacional de São Tomé e
Príncipe.
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