sexta-feira, 30 de julho de 2021

Zé Pedro: “Quero muito escrever o meu nome na história do Belenenses”

Lateral esquerdo Zé Pedro é reforço do Belenenses
De regresso ao futebol português após dois anos nos Países Baixos, Zé Pedro confessa que já tinha vontade voltar a casa, mas que o convite do Belenenses lhe deu ainda mais força para concretizar essa intenção. Honrado por poder ajudar os azuis do Restelo a reerguerem-se na hierarquia nacional, frisa que quer muito escrever o seu nome na história do clube.
 
Em entrevista, o lateral esquerdo luso-angolano passa em revista uma carreira iniciada nas camadas jovens do União de Tires e que teve como pontos altos a subida do Real SC à II Liga em 2017 e os jogos que realizou no segundo escalão ao lado do agora avançado benfiquista Carlos Vinícius e recorda as abordagens não concretizadas para representar os Palancas Negras.
 
ROMILSON TEIXEIRA - Depois de dois anos no FC Eindhoven, da II Liga Holandesa, o Zé Pedro está de regresso a Portugal para representar o Belenenses, que subiu recentemente ao Campeonato de Portugal. O que o fez voltar ao futebol português?
ZÉ PEDRO - O que me fez voltar a regressar a Portugal foi a vontade imensa de querer voltar para casa. E um convite de um clube como o Belenenses surgir numa altura em que tinha esta vontade foi uma grande força para concretizar esta minha vontade.
 
Embora a jogar no quarto escalão, a história do Belenenses mexeu consigo no momento de tomar esta decisão?
Todos sabemos o que é o Belenenses. Ter a oportunidade de ajudar o clube a voltar onde merece estar é uma grande honra para mim.
 
Que projeto lhe foi apresentado e quais são os objetivos da equipa para 2021-22?
O projeto do Belenenses é público e claro: voltar à I Liga. Por isso, logicamente que o objetivo para esta época é a subida de divisão.
 
Para os adeptos do Belenenses que não o conheçam e que estejam a ler esta entrevista, o que lhes pode dizer em relação a quem é o Zé Pedro e quais as suas características? É um lateral esquerdo e tem 1,83 m…
O Zé Pedro é um jogador quem vem para dar tudo pelo clube. Quero muito escrever o meu nome na história do clube. Considero-me um jogador agressivo, que sabe defender e atacar. Uma das minhas principais qualidades é apoiar muito o ataque e criar situações de golo.
 
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Nasci e cresci em Cascais. A minha infância foi toda ela como tantas outras crianças que sonham um dia ser jogadores de futebol. Ainda cheguei a praticar atletismo em simultâneo com o futebol, mas quando a minha mãe me exigiu escolher nem hesitei e optei pelo futebol.
 

“Em 2014 e 2018 tive abordagens para representar Angola, mas nunca aconteceu”

Embora tenha nascido em Cascais, o Zé Pedro tem nacionalidade angolana. Alguma vez foi contactado pela Federação Angolana? Representar os Palancas Negras é algo que ambiciona?
Em 2014 e 2018 houve pequenas abordagens para representar a seleção angolana, mas acabou por nunca acontecer.
 
Quais são as suas raízes em Angola?
Toda a minha família nasceu em Angola, apenas eu nasci em Portugal. Aliás, apenas a minha mãe, o meu irmão e um tio é que vivem cá em Portugal.
 

“Do União de Tires guardo grandes recordações. É o clube da minha formação”

Zé Pedro quando jogava na formação do União de Tires
Começou a jogar futebol no União de Tires. Que memórias guarda desses tempos?
Do União de Tires guardo grandes recordações, pois foi o primeiro clube em que joguei federado e é o clube da minha formação. Acho que os primeiros toques na bola nunca esquecemos, até porque fiz lá amizades que se tornaram para a vida.
 






“Passagem pelo Sintrense foi extremamente positiva”

Zé Pedro representou o Sintrense entre 2012-13 e 2014-15

Entre 2012-13 e 2014-15 representou os seniores do Sintrense. Que balanço faz do tempo que passou no clube de Sintra?
O meu balanço no Sintrense foi extremamente positivo, pois na minha primeira época lá alcançámos a subida de divisão. Foi onde também vivi pela primeira vez uma vida no futebol muito mais profissional.
 
 

“Toda a gente no Casa Pia me tratou extremamente bem”

Depois mudou-se para o Casa Pia, mas acabou por só ficar alguns meses no emblema de Pina Manique. Como correu essa aventura?
Foi uma aventura curta, mas boa. Toda a gente no Casa Pia me tratou extremamente bem apesar do pouco tempo que lá estive. O Real SC na altura fez me uma proposta muito aliciante e eu não podia recusar.
 

“Subida do Real SC à II Liga foi o ponto alto da minha carreira. Festejámos até não poder mais”

Zé Pedro venceu Campeonato de Portugal no Real SC
Em 2016-17 viveu talvez o ponto alto na carreira ao conquistar o título do Campeonato de Portugal e contribuir para a subida do Real SC à II Liga. Que recordações dessa época e dos festejos no final?
Quando falei na proposta aliciante que o Real SC me fez, estava precisamente a falar no objetivo que tinham de subir à II Liga. Essa preparação começou na época anterior, que foi quando eu assinei contrato.  Foi algo único e sem dúvida o ponto alto da minha carreira. Festejámos até não poder mais e são momentos que vão ficar guardados para sempre.
 
Na temporada seguinte chegou a estrear-se na II Liga. O que sentiu quando conseguiu jogar numa liga profissional?
Ter-me estreado num campeonato profissional foi o realizar do sonho de criança. Aliás, ser jogador profissional de futebol era o meu grande sonho e foi no Real SC que atingi esse sonho. Ou seja, foi o realizar de dois sonhos num só.
 

“Carlos Vinícius é super humilde. Estávamos sempre na brincadeira”

No Real SC foi companheiro de equipa de Carlos Vinícius, que rapidamente se destacou e foi contratado pelo Nápoles. Como era a sua relação com ele e o que achava deste avançado brasileiro como pessoa e como futebolista? O que sentiu quando viu um antigo companheiro de equipa seu sagrar-se melhor marcador da I Liga e estrear-se na Premier League?
A minha relação com o Vinícius foi e é extremamente boa. Ainda hoje mantemos contacto. Ele é um jogador super humilde e estávamos sempre na brincadeira, visto que somos ambos muito brincalhões. Foi um orgulho ver o que ele alcançou e o que continua a alcançar. Acho que todo o sucesso que está a ter é fruto do seu trabalho e justamente merecido.
 

 

“Ganhei uma autêntica família no Marinhense”

Zé Pedro jogou no Marinhense em 2018 e 2019

Entretanto voltou ao Campeonato de Portugal para representar o Marinhense ao longo de ano e meio. O que achou do clube da Marinha Grande e que balanço faz do tempo que passou nesse emblema do distrito de Leiria?
Foi uma experiência muito boa. Toda a gente no clube e na cidade me recebeu bem. Prova disso é que, ainda hoje, sempre que posso, vou à Marinha Grande para visitar os amigos que lá fiz. Uma autêntica família que ali ganhei.
 

“Tive enorme prazer em conhecer o João Paulo. Ainda joga porque cuida muito bem dele”

No Marinhense foi companheiro de equipa de um antigo jogador de FC Porto, União de Leiria e Vitória de Guimarães, o central João Paulo, que na altura já jogava como ponta de lança. Como era a vossa relação, que atributos o levaram para o eixo do ataque e o que acha que o leva a continuar a jogar futebol aos 40 anos num clube dos distritais da AF Beja, o Castrense?
Sim, joguei com o João Paulo e foi outro jogador que tive um enorme prazer em conhecer e partilhar balneário.
Nesse ano ele jogou tanto a ponta de lança como a central, fazia muito bem as duas posições. Na defesa ele passava experiência, tranquilidade e liderança para todos os jogadores. Por outro lado, no ataque era a sua finalização fria e o saber bem como se posicionavam as defesas adversárias na grande área que fazia com que ele fizesse muitos golos.
O facto de ainda hoje jogar justifica-se com o facto de ele se cuidar muito bem e caprichar no que toca à parte física. E claro, a grande força de vontade que ele tem a nível psicológico é algo fundamental.
 

“Tornei-me muito mais jogador dentro de campo nos Países Baixos

Zé Pedro ao serviço do FC Eindhoven nos Países Baixos
Entre 2019 e 2021 representou o FC Eindhoven na II Liga Holandesa. Como surgiu a oportunidade de ir para os Países Baixos?
Quem me abriu a porta de ir para o FC Eindhoven foi o meu atual agente, Adilson dos Santos, que tem a empresa Adex Management. Mal me falou nesta oportunidade, nem hesitei.
 
Como correu essa aventura e o que achou do futebol holandês? Quais são as principais diferenças entre o futebol português e o holandês?
No geral, foi uma boa experiência, visto que me tornei muito mais jogador dentro de campo e muito mais maduro fora dele. Penso que a maior diferença do futebol holandês para o futebol português é que na Holanda há muitos golos. Mas isso deve-se também ao facto que em Portugal as equipas são muito melhor preparadas no aspeto defensivo.
 

“Fiquem atentos a Kaj de Rooij”

Os Países Baixos são uma das nações que mais talentos de qualidade produz. Há algum jovem jogador ainda a atuar no país cuja contratação recomendaria aos principais clubes portugueses?
Um dos jogadores que para mim terá um grande futuro lá é o Kaj de Rooij, que atualmente está no NAC Breda. Jogou comigo no FC Eindhoven na minha primeira época lá. É sem dúvida um jogador fora de série e tenho a certeza irá atingir os grandes palcos europeus. Fiquem atentos.
 
Tem acompanhado o futebol angolano? Que opinião tem e quais são os atletas angolanos que mais admira? Gostava de experimentar o Girabola?
Acompanho o futebol angolano desde sempre por causa das minhas raízes.
Claro que um dia se houver oportunidade, olharei sempre com bons olhos para a possibilidade de jogar no Girabola. Acho que seria um grande orgulho para a minha família.
Apesar de achar que o futebol angolano ainda tem muito para evoluir, acho que está num bom caminho e cada vez mais se veem jogadores de enorme qualidade a aparecer nos clubes angolanos. Vê-se que é um trabalho que já vem de alguns anos e que certamente irá continuar.
 
 
Entrevista realizada por Romilson Teixeira




 



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