Contratado ao Famalicão,
Toni Martínez vai tornar-se no 12.º jogador espanhol a jogar pelo FC
Porto. E uma vez que dois são guarda-redes, pode dizer-se que já dá para
formar um onze. Embora a cidade Invicta
fique a pouco mais de uma hora da fronteira entre o Minho
e Galiza, a presença de nuestros hermanos
nos azuis
e brancos era praticamente irrelevante até Julen Lopetegui ser contratado
para treinador no verão de 2014 e levar para o Dragão
uma carrinha de nove lugares cheia de compatriotas.
José Dieste |
O primeiro espanhol a jogar de dragão
ao peito foi o médio José Dieste,
natural de Nóia, na Corunha, e que se notabilizou ao serviço do Deportivo,
tendo feito parte da primeira equipa do Depor
a sagrar-se vice-campeã espanhola (1949-50).
Depois veio para Portugal, tendo
passado por diversos clubes, entre os quais o Tirsense. Ao serviço do FC
Porto esteve apenas uma temporada, tendo atuado somente em onze jogos, nove
no campeonato
e dois na Taça
de Portugal.
Depois tornou-se treinador,
passou por clubes como Feirense e Vizela,
tendo casado com uma mulher de Santo Tirso, onde viveu e veio a falecer.
Em 1972-73 passou pelo FC
Porto o avançado Juan Carlos Heredia, que veio a tornar-se internacional
espanhol. Porém, quando passou pelas Antas
tinha apenas nacionalidade argentina, tendo inclusivamente chegado aos dragões
por empréstimo do Rosario Central.
Juan Antonio Pizzi |
Quase meio século depois de
Dieste, surgiu nas Antas
um segundo jogador com nacionalidade espanhola, ainda que, curiosamente, tenha
nascido na Argentina: Juan Antonio Pizzi.
Ponta de lança que curiosamente
também passou pelo Rosario Central, notabilizou-se no futebol espanhol entre
1991 e 1998, tendo conquistado o prémio de melhor marcador da Liga
Espanhola em 1995-96, ao serviço do Tenerife. Também passou por Valencia e Barcelona
e somou 22 internacionalizações e oito golos entre 1994 e 1998.
Já na fase descendente da
carreira, quando até já tinha voltado à Argentina para jogar por River Plate e
novamente por Rosario Central, foi contratado pelo FC
Porto no verão de 2000, aos 32 anos. Utilizado em apenas 16 jogos (só três
a titular) até dezembro, aproveitou os 488 minutos em campo para apontar quatro
golos, dois ao Campomaiorense e um Alverca
no campeonato
e outro ao Atlético
na Taça
de Portugal.
Depois voltou à Argentina para
regressar ao Rosario Central.
Quase década e meia depois, no
verão de 2014, Julen Lopetegui assume o comando técnico do FC
Porto e levou consigo jogadores da sua confiança. Logo em 2014-15, foram
sete os jogadores espanhóis a acompanhar o treinador na viagem para a Invicta.
Andrés Fernández |
Comecemos pela baliza. Na época
anterior, o habitual titular Helton sofreu uma grave lesão e era necessário
encontrar um sucessor à altura. Posto isto, foi contratado Andrés Fernández, natural de Múrcia e até então titular
indiscutível na baliza do Osasuna.
Porém, no Dragão
nunca conseguiu destronar o brasileiro Fabiano Freitas, titularíssimo em
2014-15, época em que o portero espanhol não foi além de quatro jogos (um em
cada competição) e outros tantos golos sofridos.
Nas temporadas seguintes foi
emprestado ao Granada e ao Villarreal, acabando por rumar ao submarino amarillo a título definitivo
em 2017.
José Ángel |
Para o lado esquerdo da defesa
chegou José Ángel, natural de Gijón,
com o intuito de concorrer com Alex Sandro. “Estou muito feliz, pois trata-se
de um grande clube que está a construir uma boa equipa. Sinto um grande
entusiasmo e mal posso esperar para começar a treinar para ficar a 100 por
cento”, disse à chegada à Invicta.
No currículo tinha passagens
bem-sucedidas por Sporting Gijón, AS Roma e Real Sociedad, além de um título
europeu pela seleção espanhola de sub-21. Porém, nada disso contou na aventura
no Dragão.
Em dois anos no FC
Porto, não foi além de um total de 29 jogos (apenas 14 no campeonato).
Mesmo quando Alex Sandro saiu para a Juventus,
José Ángel foi deixado para trás por Miguel Layún, que embora jogasse com o pé
direito era escolha habitual para o flanco esquerdo.
Sem espaço na Invicta,
foi emprestado ao Villarreal em 2016-17 e depois rumou ao Eibar a título
definitivo.
Iván Marcano |
Também o eixo defensivo ganhou
sotaque espanhol, por intermédio de Iván
Marcano, antigo central de Racing Santander, Villarreal, Getafe, Olympiacos
e Rubin Kazan.
Embora se tivesse tornado um
elemento importante na história recente do FC
Porto, o início da aventura no futebol português não foi nada fácil para
este defesa canhoto natural de Santander. Na primeira época viveu na sombra da
dupla composta por Maicon e Bruno Martins Indi, mas paulatinamente foi ganhando
o seu espaço, relegando não um, mas os dois concorrentes para um plano
secundário na temporada seguinte.
Seguiram-se dois anos bastante
produtivos ao lado de Felipe, o segundo dos quais (2017-18) já sob o comando
técnico de Sérgio
Conceição e que rendeu aos dragões
o título nacional que já escapava desde 2014.
Valorizado, saiu para a AS Roma,
mas voltou no verão de 2019 para atuar ao lado de Pepe.
Sofreu uma lesão grave no regresso do futebol pós-confinamento e por isso
participou nas derradeiras jornadas do campeonato,
mas deu um grande contributo para a conquista da dobradinha.
E em 2014-15 também não faltaram
médios, curiosamente dois que levaram Lopetegui ao título
europeu de sub-19 em 2012.
José Campaña |
Dotado de características mais
defensivas, José Campaña chegou ao Dragão
bem cotado, emprestado por Sampdoria depois de ter jogado em clubes como
Sevilha, Crystal Palace e Nuremberga, mas nunca se impôs perante a concorrência
de Casemiro e também de Rúben Neves, que aos 17 anos também começou a ganhar o
seu espaço.
Ainda assim, a confiança era
grande à chegada à Invicta.
“Sabia que não ia ter muitas oportunidades para jogar na Sampdoria e o facto de
Julen Lopetegui conhecer-me foi fundamental para vir para o FC
Porto. Trabalhámos juntos nas seleções jovens de Espanha
e ele já sabe do que sou capaz. Pode tirar o melhor de mim e acredito que posso
render muito com ele”, afirmou na altura.
O médio natural de Sevilha não
foi além de seis jogos na equipa principal dos portistas
e de outros tantos ao serviço da equipa B, pela qual marcou um golo ao
Trofense.
Depois voltou a Espanha
e a verdade é que tem vindo a ganhar o seu espaço, uma vez que atualmente é
titularíssimo no Levante e foi recentemente convocado pela primeira vez para a
seleção espanhola “AA”.
Óliver Torres |
Para missões mais ofensivas no
meio-campo chegou Óliver
Torres, médio formado no Atlético
Madrid e com qualidade técnica reconhecidíssima, mas que não estava a
conseguir jogar com regularidade às ordens de Diego
Simeone.
Como médio interior ou extremo
esquerdo no 4x3x3 de Lopetegui, fez talvez em 2014-15 a melhor temporada da
carreira, tendo apontado sete golos em 40 jogos em todas as competições e
recebido o prémio de jogador revelação da I
Liga portuguesa.
Depois voltou ao Atlético
Madrid, mas em 2016-17 regressou ao FC
Porto por empréstimo dos colchoneros,
tendo assumido uma vez mais um papel de destaque, desta vez no vértice superior
do losango de meio-campo do 4x4x2 de Nuno Espírito Santo, tendo participado em
39 encontros e marcado três golos.
“Um dos pontos fundamentais para
voltar ao FC
Porto foi o facto de tanto o presidente como Nuno me terem dado muita
confiança, embora eu sempre quisesse voltar porque sinto o clube como sendo
meu. Estou muito feliz no FC
Porto e a minha família está encantada. Encanta-me a cidade, as pessoas, o
estádio o clube... sou feliz a jogar futebol e no FC
Porto ainda mais”, assumiu na altura, numa entrevista à Marca.
No verão de 2017 assinou a título
definitivo pelos dragões,
que pagaram 20 milhões de euros pelo seu passe, mas, curiosamente, foi a partir
desse momento que perdeu protagonismo. Sérgio
Conceição apostou quase sempre num meio-campo a dois, com Danilo Pereira e
Herrera (e Sérgio
Oliveira como principal alternativa). Entre 2017 e 2019 atuou em 67
encontros em todas as competições, mas apenas 38 na condição de titular, tendo
apontado dois golos.
No
verão de 2019 transferiu-se para o Sevilha por 11 milhões de euros, no
culminar de uma desvalorização de quase 50%, mas antes venceu um campeonato
e uma Supertaça.
“É um dia de sentimentos
contraditórios para mim onde se misturam a tristeza de uma despedida juntamente
com a ilusão de continuar a fazer aquilo que mais me faz feliz: jogar futebol.
Nunca é fácil despedir-se de um lugar que adoras e que sentes como uma casa.
Foram quatro anos especiais. Vivi numa cidade mágica, conheci pessoas
incríveis, cumpri o sonho de ser campeão com esta camisola, compreendi toda a mística
que rodeia o clube e senti a raça de dragão
da minha pele. Mas, acima de tudo, conheci uns adeptos excecionais cujos mesmos
sempre me fizeram sentir o seu apoio e carinho e em troca tentei devolver todo
esse carinho com dedicação, esforço e trabalho", escreveu nas redes
sociais, aquando da despedida.
Para as posições mais ofensivas
chegaram dois homens, ambos com selo da seleção principal de Espanha.
Cristian Tello |
Cristian Tello, extremo catalão natural de Sabadell, reforçou o FC
Porto por empréstimo do Barcelona.
Lançado por Pep Guardiola na equipa principal dos blaugrana,
viu a afirmação sempre travada por estrelas como Messi,
David Villa, Pedro ou Alexis Sánchez e por isso optou por ganhar rodagem no Dragão
durante dois anos.
Embora já conhecesse Julen
Lopetegui, nunca se impôs verdadeiramente como titular. Apesar da rotatividade
imposta pelo treinador, Ricardo
Quaresma e Brahimi acabaram por ser os alas que somaram mais jogos e
minutos.
Na primeira época de cedência aos
portistas
disputou 37 jogos (22 a titular) e apontou oito golos e teve como momento de
maior brilho o hat trick ao Sporting
numa vitória por 3-0 na Invicta.
Na temporada seguinte atuou em 30
partidas e marcou dois golos na primeira metade da temporada, tendo depois
colocado um ponto final no empréstimo e rumado à Fiorentina.
“A minha passagem pelo FC
Porto deu-me coisas ótimas, experiências gratificantes. Nunca me esquecerei
que foi este o clube que me deu uma grande oportunidade quando não jogava tanto
como queria no Barcelona.
Fez-me sentir importante numa equipa. Estou muito agradecido”, declarou em
abril de 2016.
Adrián López |
Também para reforçar o ataque foi
contratado o asturiano Adrián López,
avançado móvel capaz de jogar nas alas, atrás do ponta de lança ou como
principal referência ofensiva e que trazia na bagagem muitos minutos de
competição ao serviço de um Atlético
Madrid, tendo contribuído para conquistas dos colchoneros
como Liga
Europa (2011-12), Taça do Rei (2012-13) e campeonato (2013-14).
O valor de 11 milhões de euros
parecia ajustado para um jogador que até já era internacional espanhol “AA”,
porém, só serviu para reforçar o estatuto de um dos maiores flops de sempre da história portista.
Em 2014-15 não foi além de 18
jogos (nove a titular) e um golo. Entretanto foi emprestado ao Villarreal,
voltou na primeira metade de 2016-17, mas após nove encontros (três a titular)
e sem qualquer golo para amostra foi novamente cedido ao submarino amarillo e depois ao Deportivo da Corunha, onde já tinha
jogado no início da carreira.
Como o regressou a Espanha
até nem correu mal, voltou ao plantel portista
na última época de contrato, em 2018-19. Às ordens de Sérgio
Conceição fez a sua melhor temporada nos dragões,
tendo apontado seis golos em 25 jogos oficiais (12 a titular). Benfica
e AS Roma foram duas das vítimas de Adrián López – os outros quatro remates
certeiros foram apontados de uma assentada numa goleada ao Vila Real na Taça
de Portugal.
“Foram cinco anos difíceis. A
primeira época complicou-se quando tive uma lesão em janeiro”, confessou em
julho de 2019, após terminar contrato, em entrevista ao As.
Alberto Bueno |
Em 2015-16, ainda com Lopetegui
no comando técnico, chegaram mais dois espanhóis ao FC
Porto. Comecemos pelo menos mediático: Alberto
Bueno. Avançado móvel, formado no Real Madrid e com passagens pelas
seleções jovens de Espanha,
tinha apontado 17 golos na I
Liga Espanhola pelo Rayo Vallecano na temporada anterior, o que aguçava o
apetite.
No entanto, Alberto nunca
conseguiu ser Bueno de dragão
ao peito. Tanto assim foi que na primeira época nos azuis
e brancos – e a única em que jogou pela equipa principal – não foi além de
oito jogos e dois golos, sendo que ambos os remates certeiros foram apontados
numa eliminatória da Taça
de Portugal diante do Angrense.
Nas épocas seguintes passou por
empréstimos não muito bem-sucedidos a Granada, Leganés e Málaga.
Em 2018-19 ainda chegou a jogar pelo FC
Porto B, mas depois mudou-se a título definitivo para o Boavista.
“No FC
Porto sofri bullying diariamente.
Não podia integrar os treinos, era obrigado a estar com a equipa B... Tornaram
a minha vida muito complicada. Não desejo isto a ninguém. Apostei ao vir para
um clube vencedor, mas uma lesão estragou tudo e a partir daí foram só
percalços. O clube não me facilitou a vida”, lamentou, em abril de 2019.
Iker Casillas |
Por último, mas nem por isso
menos importante, uma lenda do futebol mundial: Iker
Casillas. Tapado por Keylor Navas e Kiko Casilla no seu Real Madrid,
foi forçado a mudar de ares no verão de 2015, com os merengues a disponibilizarem-se para pagar grande parte do salário.
As opções eram muitas, mas San
Iker escolheu o FC
Porto. Nas primeiras duas épocas no Dragão
foi titular indiscutível, mas amealhou alguns erros e não conquistou qualquer
troféu, tendo disputado um total de 83 jogos e sofrido 62 golos.
Em 2017-18, já com Sérgio
Conceição no comando técnico, é relegado para o banco a meio da temporada,
cedendo a titularidade a José Sá, mas recuperou o seu posto na baliza portista
e foi a tempo de se tornar num dos esteios da conquista do título que fugia há
quatro anos. Nessa época participou em 31 encontros e sofreu 19 golos. “Festejar
nos Aliados foi um momento maravilhoso”, confessou.
Na temporada seguinte estava a
fazer uma temporada bastante regular até ao dia 1 de maio de 2019, quando
sofreu um enfarte no miocárdio que o afastou definitivamente dos relvados à
beira de completar 38 anos, quando até já tinha assinado a renovação por mais
um ano, com outro de opção. Até então somava 42 jogos e 35 golos sofridos em
2018-19.
“O dragão
faz parte deste clube histórico, que ganhou dois títulos da Liga
dos Campeões, no antigo e no novo formato. É a minha casa agora e sinto-me
muito bem aqui. Só tenho coisas boas a dizer do FC
Porto desde que aqui cheguei. É um campeonato
diferente, mas fui muito bem tratado desde que cheguei e estou muito feliz por
já ter vivido grandes momentos neste clube. No norte de Portugal é Porto,
Porto
e Porto
desde a juventude. Parece que é algo incutido nos jovens”, afirmou ao site da
UEFA, em fevereiro de 2019.
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