sábado, 10 de outubro de 2020

Espanhóis no FC Porto. Dieste, o Pizzi original e os meninos de Lopetegui

11 espanhóis representaram o FC Porto antes de Toni Martínez
Contratado ao Famalicão, Toni Martínez vai tornar-se no 12.º jogador espanhol a jogar pelo FC Porto. E uma vez que dois são guarda-redes, pode dizer-se que já dá para formar um onze. Embora a cidade Invicta fique a pouco mais de uma hora da fronteira entre o Minho e Galiza, a presença de nuestros hermanos nos azuis e brancos era praticamente irrelevante até Julen Lopetegui ser contratado para treinador no verão de 2014 e levar para o Dragão uma carrinha de nove lugares cheia de compatriotas.


José Dieste
O primeiro espanhol a jogar de dragão ao peito foi o médio José Dieste, natural de Nóia, na Corunha, e que se notabilizou ao serviço do Deportivo, tendo feito parte da primeira equipa do Depor a sagrar-se vice-campeã espanhola (1949-50).
Depois veio para Portugal, tendo passado por diversos clubes, entre os quais o Tirsense. Ao serviço do FC Porto esteve apenas uma temporada, tendo atuado somente em onze jogos, nove no campeonato e dois na Taça de Portugal.
Depois tornou-se treinador, passou por clubes como Feirense e Vizela, tendo casado com uma mulher de Santo Tirso, onde viveu e veio a falecer.

Em 1972-73 passou pelo FC Porto o avançado Juan Carlos Heredia, que veio a tornar-se internacional espanhol. Porém, quando passou pelas Antas tinha apenas nacionalidade argentina, tendo inclusivamente chegado aos dragões por empréstimo do Rosario Central.

Juan Antonio Pizzi
Quase meio século depois de Dieste, surgiu nas Antas um segundo jogador com nacionalidade espanhola, ainda que, curiosamente, tenha nascido na Argentina: Juan Antonio Pizzi.  
Ponta de lança que curiosamente também passou pelo Rosario Central, notabilizou-se no futebol espanhol entre 1991 e 1998, tendo conquistado o prémio de melhor marcador da Liga Espanhola em 1995-96, ao serviço do Tenerife. Também passou por Valencia e Barcelona e somou 22 internacionalizações e oito golos entre 1994 e 1998.
Já na fase descendente da carreira, quando até já tinha voltado à Argentina para jogar por River Plate e novamente por Rosario Central, foi contratado pelo FC Porto no verão de 2000, aos 32 anos. Utilizado em apenas 16 jogos (só três a titular) até dezembro, aproveitou os 488 minutos em campo para apontar quatro golos, dois ao Campomaiorense e um Alverca no campeonato e outro ao Atlético na Taça de Portugal.
Depois voltou à Argentina para regressar ao Rosario Central.



Quase década e meia depois, no verão de 2014, Julen Lopetegui assume o comando técnico do FC Porto e levou consigo jogadores da sua confiança. Logo em 2014-15, foram sete os jogadores espanhóis a acompanhar o treinador na viagem para a Invicta.

Andrés Fernández
Comecemos pela baliza. Na época anterior, o habitual titular Helton sofreu uma grave lesão e era necessário encontrar um sucessor à altura. Posto isto, foi contratado Andrés Fernández, natural de Múrcia e até então titular indiscutível na baliza do Osasuna.
Porém, no Dragão nunca conseguiu destronar o brasileiro Fabiano Freitas, titularíssimo em 2014-15, época em que o portero espanhol não foi além de quatro jogos (um em cada competição) e outros tantos golos sofridos.
Nas temporadas seguintes foi emprestado ao Granada e ao Villarreal, acabando por rumar ao submarino amarillo a título definitivo em 2017.



José Ángel
Para o lado esquerdo da defesa chegou José Ángel, natural de Gijón, com o intuito de concorrer com Alex Sandro. “Estou muito feliz, pois trata-se de um grande clube que está a construir uma boa equipa. Sinto um grande entusiasmo e mal posso esperar para começar a treinar para ficar a 100 por cento”, disse à chegada à Invicta.
No currículo tinha passagens bem-sucedidas por Sporting Gijón, AS Roma e Real Sociedad, além de um título europeu pela seleção espanhola de sub-21. Porém, nada disso contou na aventura no Dragão.
Em dois anos no FC Porto, não foi além de um total de 29 jogos (apenas 14 no campeonato). Mesmo quando Alex Sandro saiu para a Juventus, José Ángel foi deixado para trás por Miguel Layún, que embora jogasse com o pé direito era escolha habitual para o flanco esquerdo.
Sem espaço na Invicta, foi emprestado ao Villarreal em 2016-17 e depois rumou ao Eibar a título definitivo.



Iván Marcano
Também o eixo defensivo ganhou sotaque espanhol, por intermédio de Iván Marcano, antigo central de Racing Santander, Villarreal, Getafe, Olympiacos e Rubin Kazan.
Embora se tivesse tornado um elemento importante na história recente do FC Porto, o início da aventura no futebol português não foi nada fácil para este defesa canhoto natural de Santander. Na primeira época viveu na sombra da dupla composta por Maicon e Bruno Martins Indi, mas paulatinamente foi ganhando o seu espaço, relegando não um, mas os dois concorrentes para um plano secundário na temporada seguinte.
Seguiram-se dois anos bastante produtivos ao lado de Felipe, o segundo dos quais (2017-18) já sob o comando técnico de Sérgio Conceição e que rendeu aos dragões o título nacional que já escapava desde 2014.
Valorizado, saiu para a AS Roma, mas voltou no verão de 2019 para atuar ao lado de Pepe. Sofreu uma lesão grave no regresso do futebol pós-confinamento e por isso participou nas derradeiras jornadas do campeonato, mas deu um grande contributo para a conquista da dobradinha.



E em 2014-15 também não faltaram médios, curiosamente dois que levaram Lopetegui ao título europeu de sub-19 em 2012.

José Campaña
Dotado de características mais defensivas, José Campaña chegou ao Dragão bem cotado, emprestado por Sampdoria depois de ter jogado em clubes como Sevilha, Crystal Palace e Nuremberga, mas nunca se impôs perante a concorrência de Casemiro e também de Rúben Neves, que aos 17 anos também começou a ganhar o seu espaço.
Ainda assim, a confiança era grande à chegada à Invicta. “Sabia que não ia ter muitas oportunidades para jogar na Sampdoria e o facto de Julen Lopetegui conhecer-me foi fundamental para vir para o FC Porto. Trabalhámos juntos nas seleções jovens de Espanha e ele já sabe do que sou capaz. Pode tirar o melhor de mim e acredito que posso render muito com ele”, afirmou na altura.
O médio natural de Sevilha não foi além de seis jogos na equipa principal dos portistas e de outros tantos ao serviço da equipa B, pela qual marcou um golo ao Trofense.
Depois voltou a Espanha e a verdade é que tem vindo a ganhar o seu espaço, uma vez que atualmente é titularíssimo no Levante e foi recentemente convocado pela primeira vez para a seleção espanhola “AA”.



Óliver Torres
Para missões mais ofensivas no meio-campo chegou Óliver Torres, médio formado no Atlético Madrid e com qualidade técnica reconhecidíssima, mas que não estava a conseguir jogar com regularidade às ordens de Diego Simeone.
Como médio interior ou extremo esquerdo no 4x3x3 de Lopetegui, fez talvez em 2014-15 a melhor temporada da carreira, tendo apontado sete golos em 40 jogos em todas as competições e recebido o prémio de jogador revelação da I Liga portuguesa.
Depois voltou ao Atlético Madrid, mas em 2016-17 regressou ao FC Porto por empréstimo dos colchoneros, tendo assumido uma vez mais um papel de destaque, desta vez no vértice superior do losango de meio-campo do 4x4x2 de Nuno Espírito Santo, tendo participado em 39 encontros e marcado três golos.
“Um dos pontos fundamentais para voltar ao FC Porto foi o facto de tanto o presidente como Nuno me terem dado muita confiança, embora eu sempre quisesse voltar porque sinto o clube como sendo meu. Estou muito feliz no FC Porto e a minha família está encantada. Encanta-me a cidade, as pessoas, o estádio o clube... sou feliz a jogar futebol e no FC Porto ainda mais”, assumiu na altura, numa entrevista à Marca.
No verão de 2017 assinou a título definitivo pelos dragões, que pagaram 20 milhões de euros pelo seu passe, mas, curiosamente, foi a partir desse momento que perdeu protagonismo. Sérgio Conceição apostou quase sempre num meio-campo a dois, com Danilo Pereira e Herrera (e Sérgio Oliveira como principal alternativa). Entre 2017 e 2019 atuou em 67 encontros em todas as competições, mas apenas 38 na condição de titular, tendo apontado dois golos.
No verão de 2019 transferiu-se para o Sevilha por 11 milhões de euros, no culminar de uma desvalorização de quase 50%, mas antes venceu um campeonato e uma Supertaça.
“É um dia de sentimentos contraditórios para mim onde se misturam a tristeza de uma despedida juntamente com a ilusão de continuar a fazer aquilo que mais me faz feliz: jogar futebol. Nunca é fácil despedir-se de um lugar que adoras e que sentes como uma casa. Foram quatro anos especiais. Vivi numa cidade mágica, conheci pessoas incríveis, cumpri o sonho de ser campeão com esta camisola, compreendi toda a mística que rodeia o clube e senti a raça de dragão da minha pele. Mas, acima de tudo, conheci uns adeptos excecionais cujos mesmos sempre me fizeram sentir o seu apoio e carinho e em troca tentei devolver todo esse carinho com dedicação, esforço e trabalho", escreveu nas redes sociais, aquando da despedida.



Para as posições mais ofensivas chegaram dois homens, ambos com selo da seleção principal de Espanha.

Cristian Tello
Cristian Tello, extremo catalão natural de Sabadell, reforçou o FC Porto por empréstimo do Barcelona. Lançado por Pep Guardiola na equipa principal dos blaugrana, viu a afirmação sempre travada por estrelas como Messi, David Villa, Pedro ou Alexis Sánchez e por isso optou por ganhar rodagem no Dragão durante dois anos.
Embora já conhecesse Julen Lopetegui, nunca se impôs verdadeiramente como titular. Apesar da rotatividade imposta pelo treinador, Ricardo Quaresma e Brahimi acabaram por ser os alas que somaram mais jogos e minutos.
Na primeira época de cedência aos portistas disputou 37 jogos (22 a titular) e apontou oito golos e teve como momento de maior brilho o hat trick ao Sporting numa vitória por 3-0 na Invicta.  Na temporada seguinte atuou em 30 partidas e marcou dois golos na primeira metade da temporada, tendo depois colocado um ponto final no empréstimo e rumado à Fiorentina.
“A minha passagem pelo FC Porto deu-me coisas ótimas, experiências gratificantes. Nunca me esquecerei que foi este o clube que me deu uma grande oportunidade quando não jogava tanto como queria no Barcelona. Fez-me sentir importante numa equipa. Estou muito agradecido”, declarou em abril de 2016.



Adrián López
Também para reforçar o ataque foi contratado o asturiano Adrián López, avançado móvel capaz de jogar nas alas, atrás do ponta de lança ou como principal referência ofensiva e que trazia na bagagem muitos minutos de competição ao serviço de um Atlético Madrid, tendo contribuído para conquistas dos colchoneros como Liga Europa (2011-12), Taça do Rei (2012-13) e campeonato (2013-14).
O valor de 11 milhões de euros parecia ajustado para um jogador que até já era internacional espanhol “AA”, porém, só serviu para reforçar o estatuto de um dos maiores flops de sempre da história portista.
Em 2014-15 não foi além de 18 jogos (nove a titular) e um golo. Entretanto foi emprestado ao Villarreal, voltou na primeira metade de 2016-17, mas após nove encontros (três a titular) e sem qualquer golo para amostra foi novamente cedido ao submarino amarillo e depois ao Deportivo da Corunha, onde já tinha jogado no início da carreira.
Como o regressou a Espanha até nem correu mal, voltou ao plantel portista na última época de contrato, em 2018-19. Às ordens de Sérgio Conceição fez a sua melhor temporada nos dragões, tendo apontado seis golos em 25 jogos oficiais (12 a titular). Benfica e AS Roma foram duas das vítimas de Adrián López – os outros quatro remates certeiros foram apontados de uma assentada numa goleada ao Vila Real na Taça de Portugal.
“Foram cinco anos difíceis. A primeira época complicou-se quando tive uma lesão em janeiro”, confessou em julho de 2019, após terminar contrato, em entrevista ao As.



Alberto Bueno
Em 2015-16, ainda com Lopetegui no comando técnico, chegaram mais dois espanhóis ao FC Porto. Comecemos pelo menos mediático: Alberto Bueno. Avançado móvel, formado no Real Madrid e com passagens pelas seleções jovens de Espanha, tinha apontado 17 golos na I Liga Espanhola pelo Rayo Vallecano na temporada anterior, o que aguçava o apetite.
No entanto, Alberto nunca conseguiu ser Bueno de dragão ao peito. Tanto assim foi que na primeira época nos azuis e brancos – e a única em que jogou pela equipa principal – não foi além de oito jogos e dois golos, sendo que ambos os remates certeiros foram apontados numa eliminatória da Taça de Portugal diante do Angrense.
Nas épocas seguintes passou por empréstimos não muito bem-sucedidos a Granada, Leganés e Málaga. Em 2018-19 ainda chegou a jogar pelo FC Porto B, mas depois mudou-se a título definitivo para o Boavista.
“No FC Porto sofri bullying diariamente. Não podia integrar os treinos, era obrigado a estar com a equipa B... Tornaram a minha vida muito complicada. Não desejo isto a ninguém. Apostei ao vir para um clube vencedor, mas uma lesão estragou tudo e a partir daí foram só percalços. O clube não me facilitou a vida”, lamentou, em abril de 2019.



Iker Casillas
Por último, mas nem por isso menos importante, uma lenda do futebol mundial: Iker Casillas. Tapado por Keylor Navas e Kiko Casilla no seu Real Madrid, foi forçado a mudar de ares no verão de 2015, com os merengues a disponibilizarem-se para pagar grande parte do salário.
As opções eram muitas, mas San Iker escolheu o FC Porto. Nas primeiras duas épocas no Dragão foi titular indiscutível, mas amealhou alguns erros e não conquistou qualquer troféu, tendo disputado um total de 83 jogos e sofrido 62 golos.
Em 2017-18, já com Sérgio Conceição no comando técnico, é relegado para o banco a meio da temporada, cedendo a titularidade a José Sá, mas recuperou o seu posto na baliza portista e foi a tempo de se tornar num dos esteios da conquista do título que fugia há quatro anos. Nessa época participou em 31 encontros e sofreu 19 golos. “Festejar nos Aliados foi um momento maravilhoso”, confessou.
Na temporada seguinte estava a fazer uma temporada bastante regular até ao dia 1 de maio de 2019, quando sofreu um enfarte no miocárdio que o afastou definitivamente dos relvados à beira de completar 38 anos, quando até já tinha assinado a renovação por mais um ano, com outro de opção. Até então somava 42 jogos e 35 golos sofridos em 2018-19.
“O dragão faz parte deste clube histórico, que ganhou dois títulos da Liga dos Campeões, no antigo e no novo formato. É a minha casa agora e sinto-me muito bem aqui. Só tenho coisas boas a dizer do FC Porto desde que aqui cheguei. É um campeonato diferente, mas fui muito bem tratado desde que cheguei e estou muito feliz por já ter vivido grandes momentos neste clube. No norte de Portugal é Porto, Porto e Porto desde a juventude. Parece que é algo incutido nos jovens”, afirmou ao site da UEFA, em fevereiro de 2019.















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