O médio que brilhou no Belenenses e subiu por Salamanca e Sevilha. Quem se lembra de Taira?
Taira viveu o auge da carreira no Belenenses e no Salamanca
A carreira de José Américo Taira é
uma história de persistência e superação, de quem nunca baixou os braços
perante as adversidades. O jogador que foi duas vezes dispensado do Belenenses
e jogou dois anos numa equipa que lutava para não descer na antiga II Divisão
Nacional foi o mesmo que atingiu a seleção
nacional e atuou no campeonato
espanhol.
Nasceu em Lisboa, mas cresceu em
Oeiras, sendo o mais velho de três irmãos filhos de um casal composto por um pai
delegado de propaganda médica e uma mãe doméstica. Começou a jogar futebol nas
camadas jovens da Associação
Desportiva de Oeiras, mas foi no Belenenses
que concluiu a formação. Quando transitou para sénior, em
1987, foi dispensado pelo treinador Henry Depireux: “Disse que eu não ia ser
jogador de futebol, que não tinha a mínima capacidade e que podia ir para as
festas e podia divertir-me, porque a minha vida não passava pelo futebol.” Taira iniciou então o seu
percurso no futebol sénior ao serviço do Montijo,
que na altura lutava para não descer na II Divisão Nacional. “Estive lá dois
anos e passados dois anos o Belenenses
vai lá fazer um jogo de apresentação. No início da época, com o John Mortimore,
eu fiz um jogo que pelos vistos foi mais do que razoável e o Belenenses
a seguir assinou comigo um contrato profissional de três anos”, recordou à Tribuna
Expresso em junho de 2019.
Quis o destino que Depireux, cuja
fotografia andou na carteira do médio durante dois anos por uma questão motivacional,
voltasse ao Restelo em 1990-91 para o orientar no Belenenses.
Mais ou menos na mesma altura, teve de cumprir serviço militar obrigatório de
18 meses na Marinha, o que lhe atrasou a progressão na carreira.
Numa fase em que até estava a
jogar com regularidade em Belém, no verão de 1994 recebeu um convite do ídolo
João Alves para assinar pelo Estrela
da Amadora, mas o “luvas pretas” deixou o comando técnico dos tricolores
antes de começar o campeonato e Taira passou praticamente toda a época em
branco na Reboleira.
Contudo, João Alves acabou por ir
para o Belenenses
e levou o médio consigo em 1995-96. “Essa foi a época que, a meu ver, o Belenenses
praticou melhor futebol durante a minha passagem lá. Tínhamos uma equipa
fantástica que se entendia só com a troca de olhares e que tinha uma capacidade
brutal em todas as linhas na defesa”, lembrou.
A ligação entre treinador e
jogador tornou-se tão grande que, na temporada seguinte, Alves foi para o
Salamanca, então na II Liga Espanhola, e voltou a levar Taira consigo. O
técnico até deixou o cargo de forma precoce, mas o centrocampista manteve-se de
pedra e cal na equipa, ao ponto de ter somado a única internacionalização que
tem na carreira nesse período, tendo substituído Oceano nos derradeiros minutos
de uma vitória de Portugal
na Albânia
(0-3) em outubro de 1996, em partida da fase de qualificação para o Mundial
1998.
Ao lado de Pauleta, César
Brito, Catanha, Giovanella,
Ivkovic, Paulo Torres, Agostinho e Nuno Afonso, entre outros, ajudou o
Salamanca a subir à I
Liga Espanhola em 1997 e a manter-se no primeiro
escalão na temporada seguinte – mas sem conseguir impedir a despromoção em
1999. “Foi fantástico ter subido no primeiro ano em Salamanca. Começar a vir de
Madrid em direção a Salamanca pela estrada nacional e a 60 quilómetros haver
adeptos do Salamanca a puxar pela equipa, pelo autocarro, entrar na Plaza
Mayor, que é uma das praças mais bonitas talvez do mundo, as 40 mil pessoas à
espera, subirmos ao balcão estar o presidente da câmara a falar e nós a
pintar-lhe a cabeça com os sprays de cor. São coisas que marcam”, lembrou.
Após o Salamanca falhar o
regresso ao patamar maior do futebol espanhol em 2000, Taira mudou-se para o Sevilha,
ajudando os andaluzes
a ganhar o título de campeão da II Liga Espanhola em 2000-01.
Depois de quase um ano sem jogar,
regressou a Portugal em 2002-03 pela porta do Farense,
então na II
Liga, tendo ainda representado o Oriental
na II Divisão B antes de pendurar as botas.
Após pendurar as botas ainda
chegou a orientar os juniores do Oeiras
entre 2014 e 2016, mas desde 2018 que é diretor desportivo do Belenenses,
tendo somado cinco subidas de divisão consecutivas antes da despromoção à Liga 3
em 2024.
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