O gigante das balizas que ajudou o Sporting a voltar a ser campeão. Quem se lembra de Schmeichel?
Schmeichel festejou um campeonato e uma Supertaça em Alvalade
Um gigante pelo tamanho (1,93 m),
mas também pela personalidade, valentia e competência demonstradas ao longo de
mais de duas décadas de carreira. Afinal, Peter Schmeichel foi eleito melhor
guarda-redes do mundo em 1992 e 1993 e um dos melhores dez do século XX para a Federação
Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), tendo ainda sido
votado como o melhor guardião de sempre numa sondagem pública promovida pela Reuters.
Depois de passagens por clubes
modestos da Dinamarca como o Gladsaxe-Hero e o Hvidovre, assinou pelo Brondby
em 1987 e logo nesse ano somou a primeira de 129 internacionalizações pela seleção
principal do seu país, um recorde somente superado por Simon Kjær em 2023. No
ano seguinte disputou a sua primeira fase final, o Euro 1988 – depois esteve
nos Europeus de 1992,
1996 e 2000 e no Mundial 1998. Ao serviço do Brondby ganhou
quatro campeonatos em cinco épocas, mas foram as exibições na caminhada até às
meias-finais da Taça
UEFA em 1990-91 que o catapultaram para uma dimensão superior, tendo sido
contratado pelo Manchester
United de Alex
Ferguson em agosto de 1991. No ano seguinte, já estava de
férias quando a Dinamarca
foi chamada para substituir a Jugoslávia
no Euro
1992, mas mostrou estar em boa forma, ao amealhar várias defesas
importantes durante o torneio, que acabou por ser conquistado pela própria seleção
dinamarquesa. Nas meias-finais, por exemplo, defendeu um penálti do
neerlandês Marco van Basten, a única grande penalidade desperdiçada no
desempate por grandes penalidades entre os nórdicos
e os Países
Baixos, até então detentores do título.
Embalado por essa conquista, não
só ajudou o Manchester
United a ganhar o campeonato inglês pela primeira vez desde 1966-67 como
contribuiu para o início de um período hegemónico dos red
devils em Inglaterra. No total, venceu cinco campeonatos (1992-93,
1993-94, 1995-96, 1996-97 e 1998-99), três Taças de Inglaterra (1993-94,
1995-96 e 1998-99), uma Taça da Liga (1991-92), três Charity Shields (1993,
1994, 1996 e 1997), uma Supertaça Europeia (1991) e sobretudo uma Liga
dos Campeões (1998-99).
Cansado de um calendário de 60
jogos por temporada e à procura de alguma descompressão, numa altura em que já tinha
36 anos, decidiu terminar o seu ciclo no United
após a conquista da Champions
e assinar de forma surpreendente pelo Sporting,
que na altura estava há 18 anos sem ser campeão. “Lembro-me do dia em que assinei
pelo Sporting.
A negociação durou horas. Chegámos finalmente a acordo às quatro da manhã e eu
só pensava em ir para o hotel descansar e pensar no futuro, mas então o
presidente levou-me para uma sala, onde estavam os jornalistas e disse: ‘Assinámos
com o Schmeichel, portanto vamos ser campeões’. Eu fiquei em choque”, recordou durante
uma visita a Lisboa em junho de 2012. Com impacto imediato na equipa,
foi fundamental para a conquista do título em 1999-00, na sua temporada de
estreia em Portugal. “Fizemos quatro pontos em quatro jogos, acho. Mas depois o
treinador [Materazzi] foi despedido, entraram novos jogadores, incluindo o
Vidigal, e vencemos”, lembrou, recordando a noite em que o campeonato foi ganho:
“Viemos do jogo com o Salgueiros
e fomos para Alvalade
onde nos esperavam milhares de pessoas. Começamos a entrar em campo, um a um,
por ordem dos números, por isso eu fui o primeiro. Mas só entraram em campo
três ou quatro jogadores porque os adeptos invadiram o terreno e tivemos que
fugir dali a correr. Lembro-me que estivemos mais de uma hora no balneário a
comemorar..., mas nem tínhamos cerveja, nem champanhe, nem água.”
No verão de 2000 chegou a ter
acordo verbal para voltar ao Manchester
United, mas Alex
Ferguson acabou por decidir contratar Fabien Barthez. Por isso, Schmeichel
ficou em Lisboa mais uma época, venceu a Supertaça
Cândido de Oliveira e… continuou a dar ralhetes a Beto durante os jogos. “A
minha mãe até deixou de ver os jogos porque dizia que ele ralhava mais comigo
do que ela fazia quando eu era pequeno”, confessou o antigo defesa. Apesar de ter chegado a anunciar,
em janeiro de 2001, o desejo de ativar a opção que lhe permitia renovar
contrato por mais um ano, no verão desse ano regressou a Inglaterra, onde
representou Aston
Villa e Manchester
City antes de pendurar as luvas. “Eu diverti-me mesmo, mesmo muito. Fui
embora após dois anos e houve muitas razões para isso. Uma delas foi o novo
centro de estágios, que era demasiado longe [vivia em Birre, Cascais]. Demorar
uma hora e meia, cada manhã, para chegar lá… Isso foi uma grande coisa para
mim. E depois sentia falta de jogar em Inglaterra”, explicou.
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