Quaresma de leão ao peito na deslocação do Sporting a Belgrado |
O Partizan de Belgrado é um
cliente habitual das equipas portuguesas nas competições europeias. O primeiro
jogo de sempre da Taça
dos Campeões Europeus foi precisamente um Sporting-Partizan
no Jamor a 4 de setembro de 1955. E nas décadas seguintes os sérvios voltaram a
defrontar os leões
e mediram forças com Portimonense,
FC
Porto e Sp.
Braga.
Embora já acompasse futebol no
último semestre de 2000, quando os dragões
eliminaram a então equipa da Jugoslávia na primeira ronda da Taça
UEFA, não tenho qualquer memória desse duplo confronto que teve empate em
Belgrado (1-1) e vitória portista
nas Antas (1-0).
O que me recordo bem foi de a
formação balcânica visitar o Sporting,
também na primeira eliminatória da Taça
UEFA, mas em 2002-03. Embora o emblema
leonino vivesse uma espécie de ressaca após a conquista do título nacional,
devido à ausência de Mário Jardel, ao castigo de João Vieira Pinto e às saídas
de jogadores importantes para a vitória no campeonato como André Cruz, Phil
Babb e Hugo Viana, o Partizan parecia ser um adversário acessível.
Nessa altura, o futebol jugoslavo
não vivia propriamente um período pujante. Além de os clubes não chegarem longe
nas competições europeias, a seleção não tinha marcado presença no Mundial
2002 e não tinha ido além da fase de grupos no Euro
2000.
No plantel, o Partizan tinha
vários jogadores internacionais jugoslavos, como os guarda-redes Radovan
Radakoviic e Radisa Ilic, os médios Igor Duljaj, Zvonimir Vukic, Sasa Ilic e Goran
Trobok, os avançados Ivica Iliev e Danko Lazovic, e internacionais bósnios como
o central Branimir Bajic e o lateral esquerdo Nenad Miskovic, além do futuro defesa
estorilista
Dejan Ognjanovic, o futuro ponta de lança benfiquista
e braguista
Andrija Delibasic. Nada que devesse assustar o leão.
O que é certo é que o Sporting
claudicou na primeira-mão, em Alvalade,
e sofreu uma surpreendente derrota por 1-3. Na sequência de um canto favorável
ao Partizan, o central Hugo antecipou-se a toda a gente e fez autogolo, aos 12
minutos.
Um quarto de hora depois, Toñito
aproveitou uma autoestrada na defesa jugoslava provocada por um arrastamento de
Niculae, que levou um dos centrais consigo para a direita, para se isolar e
empatar a partida.
Pensava-se que estava aberto o
caminho para a vitória leonina,
mas foi apenas o Partizan quem voltou a marcar. Aos 37’, Trobok ganhou a Rui
Jorge no corredor direito dos balcânicos e cruzou para o coração da área, onde apareceu
Delibasic a antecipar-se a Hugo e a recolocar a sua equipa em vantagem. E já na
reta final da segunda parte, o central sportinguista
voltou a estar em evidência, pela negativa, ao ser batido pelo drible de Miskovic,
que cruzou rasteiro para a boca da baliza, onde Iliev fez o 1-3.
Na altura não se sabia, mas
acabou por ser o último jogo do velhinho Estádio
José Alvalade nas competições europeias. Lembro-me de não ter assistido ao
jogo, até porque tinha treino a essa hora enquanto jogador das escolinhas do Fabril,
mas que fiquei surpreendido com o resultado quando o meu pai me contou.
No dia seguinte, o Record
mostrou-se bastante crítico para com as opções do treinador do Sporting,
o romeno Laszlo Bölöni. “O Sporting
perdeu na noite de ontem (1-3) com o Partizan, em jogo da primeira-mão da
primeira eliminatória da Taça
UEFA, e nada há a contestar em relação ao desfecho, pesado é certo, e
dificilmente recuperável dentro de duas semanas, em Belgrado. Foi, se assim
quiserem entender, a segunda parte do desastre ocorrido em Paços
de Ferreira. Pode dizer-se que os leões
não aprenderam com o erro. Mais: que Bölöni tentou provar a sua razão em
relação ao problema chamado meio-campo (desta vez com o castigo imposto a Rui
Bento, que ficou no banco), mas o mais que conseguiu foi verificar que afinal,
se pensar melhor, o problema reside, isso sim, no conceito tático que tenta
implementar à equipa. Apostando num 3x3x4, por forma a criar tração dianteira,
o treinador do Sporting
(ontem, na bancada devido ao castigo da UEFA) inventou uma segunda linha que
deveria servir de ligação entre a defesa e o ataque. César Prates (direita),
Paulo Bento (meio) e Rui Jorge (esquerda) deveriam servir de harmónio, função,
até, pouco complicada, quando o adversário decide que jogar para o empate nem é
mau. O problema maior esteve no facto de o Partizan ter (que absurdo!) ambição
a jogar fora de casa. Por isso não recuava o suficiente para demorar tempo a
estender-se; por isso conseguia ter um meio-campo capaz de ganhar todas as
bolas e enfrentar a defesa leonina
em velocidade e com a lição estudada”, podia ler-se no jornal desportivo.
No jogo de Belgrado, os papéis inverteram-se:
o Partizan, que tinha um pé na segunda eliminatória, não foi tão forte perante
os seus adeptos; o Sporting
agigantou-se, levou a decisão para prolongamento e só não seguiu em frente porque
Niculae mostrou pontaria a mais.
Com Cristiano
Ronaldo e Ricardo
Quaresma em simultâneo no onze e o bielorrusso Vitali Kutuzov como
principal referência ofensiva, os leões
colocaram-se em vantagem logo aos 13 minutos, uma vez mais por Toñito, após
passe de Carlos Martins.
No início do segundo tempo, Kutuzov
fez o 0-2, na recarga a um cabeceamento da sua autoria que fez a bola embater
no poste, na sequência de um cruzamento de Rodrigo Tello a partir da esquerda.
Delibasic voltou a ser carrasco
do verde
e brancos quando Delibasic cabeceou para o fundo das redes aos 77’, após
cruzamento de Cakar. Porém, o central chileno Contreras empatou a eliminatória praticamente
na resposta, a passe de Toñito.
Antes do apito final, Niculae
acertou no poste e falhou aquele que poderia ter sido o golo do apuramento. Assim
sendo, teve lugar um prolongamento em que só o Partizan marcou, e logo por duas
vezes: Zivkovic, de cabeça, na resposta a um canto na direita (110’); e Cakar,
no seguimento de um contra-ataque (115’).
“O Sporting
ficou ontem fora da Taça
UEFA. Um castigo muito severo depois da magnífica exibição conseguida ao
longo de noventa minutos. Mas punição justa para quem abordou de forma tão
errada o jogo da primeira-mão. A verdadeira valia do Partizan é esta, a que
mostra uma vitória inquestionável dos leões.
Mas há duas semanas o Sporting
foi tão mau que transformou uma equipa banal (os jugoslavos) num conjunto de
craques. Depois, é evidente que fica um amargo muito grande quando se vê a
eliminatória ficar pelo caminho devido a um remate fantástico de Niculae ter
batido no poste (89') em vez de ir para a baliza. Esse bem teria sido o
culminar brilhante de uma noite em que, com equipa equilibrada, Bölöni terá
ganho uma estrutura para encarar o resto da época”, escreveu o Record.
Na temporada seguinte, o Partizan
participou na Liga
dos Campeões e defrontou por duas vezes o FC
Porto. Em Belgrado empatou a um golo no arranque da fase de grupos, nas
Antas perdeu por 1-2.
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