quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A minha primeira memória de um jogo entre... Partizan e equipas portuguesas

Quaresma de leão ao peito na deslocação do Sporting a Belgrado
O Partizan de Belgrado é um cliente habitual das equipas portuguesas nas competições europeias. O primeiro jogo de sempre da Taça dos Campeões Europeus foi precisamente um Sporting-Partizan no Jamor a 4 de setembro de 1955. E nas décadas seguintes os sérvios voltaram a defrontar os leões e mediram forças com Portimonense, FC Porto e Sp. Braga.
 
Embora já acompasse futebol no último semestre de 2000, quando os dragões eliminaram a então equipa da Jugoslávia na primeira ronda da Taça UEFA, não tenho qualquer memória desse duplo confronto que teve empate em Belgrado (1-1) e vitória portista nas Antas (1-0).
 
O que me recordo bem foi de a formação balcânica visitar o Sporting, também na primeira eliminatória da Taça UEFA, mas em 2002-03. Embora o emblema leonino vivesse uma espécie de ressaca após a conquista do título nacional, devido à ausência de Mário Jardel, ao castigo de João Vieira Pinto e às saídas de jogadores importantes para a vitória no campeonato como André Cruz, Phil Babb e Hugo Viana, o Partizan parecia ser um adversário acessível.
 
Nessa altura, o futebol jugoslavo não vivia propriamente um período pujante. Além de os clubes não chegarem longe nas competições europeias, a seleção não tinha marcado presença no Mundial 2002 e não tinha ido além da fase de grupos no Euro 2000.
 
No plantel, o Partizan tinha vários jogadores internacionais jugoslavos, como os guarda-redes Radovan Radakoviic e Radisa Ilic, os médios Igor Duljaj, Zvonimir Vukic, Sasa Ilic e Goran Trobok, os avançados Ivica Iliev e Danko Lazovic, e internacionais bósnios como o central Branimir Bajic e o lateral esquerdo Nenad Miskovic, além do futuro defesa estorilista Dejan Ognjanovic, o futuro ponta de lança benfiquista e braguista Andrija Delibasic. Nada que devesse assustar o leão.



 
O que é certo é que o Sporting claudicou na primeira-mão, em Alvalade, e sofreu uma surpreendente derrota por 1-3. Na sequência de um canto favorável ao Partizan, o central Hugo antecipou-se a toda a gente e fez autogolo, aos 12 minutos.
 
Um quarto de hora depois, Toñito aproveitou uma autoestrada na defesa jugoslava provocada por um arrastamento de Niculae, que levou um dos centrais consigo para a direita, para se isolar e empatar a partida.
 
Pensava-se que estava aberto o caminho para a vitória leonina, mas foi apenas o Partizan quem voltou a marcar. Aos 37’, Trobok ganhou a Rui Jorge no corredor direito dos balcânicos e cruzou para o coração da área, onde apareceu Delibasic a antecipar-se a Hugo e a recolocar a sua equipa em vantagem. E já na reta final da segunda parte, o central sportinguista voltou a estar em evidência, pela negativa, ao ser batido pelo drible de Miskovic, que cruzou rasteiro para a boca da baliza, onde Iliev fez o 1-3.
 
Na altura não se sabia, mas acabou por ser o último jogo do velhinho Estádio José Alvalade nas competições europeias. Lembro-me de não ter assistido ao jogo, até porque tinha treino a essa hora enquanto jogador das escolinhas do Fabril, mas que fiquei surpreendido com o resultado quando o meu pai me contou.
 
No dia seguinte, o Record mostrou-se bastante crítico para com as opções do treinador do Sporting, o romeno Laszlo Bölöni. “O Sporting perdeu na noite de ontem (1-3) com o Partizan, em jogo da primeira-mão da primeira eliminatória da Taça UEFA, e nada há a contestar em relação ao desfecho, pesado é certo, e dificilmente recuperável dentro de duas semanas, em Belgrado. Foi, se assim quiserem entender, a segunda parte do desastre ocorrido em Paços de Ferreira. Pode dizer-se que os leões não aprenderam com o erro. Mais: que Bölöni tentou provar a sua razão em relação ao problema chamado meio-campo (desta vez com o castigo imposto a Rui Bento, que ficou no banco), mas o mais que conseguiu foi verificar que afinal, se pensar melhor, o problema reside, isso sim, no conceito tático que tenta implementar à equipa. Apostando num 3x3x4, por forma a criar tração dianteira, o treinador do Sporting (ontem, na bancada devido ao castigo da UEFA) inventou uma segunda linha que deveria servir de ligação entre a defesa e o ataque. César Prates (direita), Paulo Bento (meio) e Rui Jorge (esquerda) deveriam servir de harmónio, função, até, pouco complicada, quando o adversário decide que jogar para o empate nem é mau. O problema maior esteve no facto de o Partizan ter (que absurdo!) ambição a jogar fora de casa. Por isso não recuava o suficiente para demorar tempo a estender-se; por isso conseguia ter um meio-campo capaz de ganhar todas as bolas e enfrentar a defesa leonina em velocidade e com a lição estudada”, podia ler-se no jornal desportivo.
 
 
 
No jogo de Belgrado, os papéis inverteram-se: o Partizan, que tinha um pé na segunda eliminatória, não foi tão forte perante os seus adeptos; o Sporting agigantou-se, levou a decisão para prolongamento e só não seguiu em frente porque Niculae mostrou pontaria a mais.
 
Com Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma em simultâneo no onze e o bielorrusso Vitali Kutuzov como principal referência ofensiva, os leões colocaram-se em vantagem logo aos 13 minutos, uma vez mais por Toñito, após passe de Carlos Martins.
 
No início do segundo tempo, Kutuzov fez o 0-2, na recarga a um cabeceamento da sua autoria que fez a bola embater no poste, na sequência de um cruzamento de Rodrigo Tello a partir da esquerda.
 
Delibasic voltou a ser carrasco do verde e brancos quando Delibasic cabeceou para o fundo das redes aos 77’, após cruzamento de Cakar. Porém, o central chileno Contreras empatou a eliminatória praticamente na resposta, a passe de Toñito.
 
Antes do apito final, Niculae acertou no poste e falhou aquele que poderia ter sido o golo do apuramento. Assim sendo, teve lugar um prolongamento em que só o Partizan marcou, e logo por duas vezes: Zivkovic, de cabeça, na resposta a um canto na direita (110’); e Cakar, no seguimento de um contra-ataque (115’).
 
“O Sporting ficou ontem fora da Taça UEFA. Um castigo muito severo depois da magnífica exibição conseguida ao longo de noventa minutos. Mas punição justa para quem abordou de forma tão errada o jogo da primeira-mão. A verdadeira valia do Partizan é esta, a que mostra uma vitória inquestionável dos leões. Mas há duas semanas o Sporting foi tão mau que transformou uma equipa banal (os jugoslavos) num conjunto de craques. Depois, é evidente que fica um amargo muito grande quando se vê a eliminatória ficar pelo caminho devido a um remate fantástico de Niculae ter batido no poste (89') em vez de ir para a baliza. Esse bem teria sido o culminar brilhante de uma noite em que, com equipa equilibrada, Bölöni terá ganho uma estrutura para encarar o resto da época”, escreveu o Record.
 
 
 

Na temporada seguinte, o Partizan participou na Liga dos Campeões e defrontou por duas vezes o FC Porto. Em Belgrado empatou a um golo no arranque da fase de grupos, nas Antas perdeu por 1-2.
 
 











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