Médio defensivo Hélder Martins renovou contrato com o Sintra Football |
Em entrevista, o centrocampista
luso-angolano
passa em revista o seu trajeto no futebol, que já conta com uma aventura no
estrangeiro, fala da fusão mais mediática de 2020, de racismo e da relação com
o treinador Rui Santos e o presidente Dinis Delgado.
ROMILSON TEIXEIRA - O Sintra
Football, que entretanto se fundiu com o Estrela
da Amadora, anunciou recentemente que o Hélder Martins vai continuar na
equipa em 2020-21. O que o fez renovar contrato?
HÉLDER MARTINS - O que me fez renovar foi o facto
de ser um clube que nos proporciona uma familiaridade para além do que o
futebol nos pode dar. E o facto de no ano passado me terem acolhido bem e este
ano as mesmas pessoas proporcionarem ainda melhores condições para eu melhorar
enquanto jogador e enquanto pessoa.
Com que objetivos individuais e coletivos vai entrar na próxima época?
Tenho objetivos, claro. Mas o meu
principal objetivo é ter uma consistência. Com isto digo jogar regularmente e
continuar a demonstrar o meu valor.
“Mentalidade dos jogadores foi abaixo com saída de Rui Santos”
Na época passada o Sintra
Football começou bem a época, mas depois entrou num ciclo de maus
resultados ao ponto de se encontrar no último lugar da Série
D do Campeonato de Portugal aquando da suspensão das competições devido
à pandemia. O que se passou? Foi a mudança de treinador?
Muito sinceramente penso que
depois da mudança de treinador a mentalidade dos jogadores foi-se um pouco
abaixo, o que proporcionou os maus resultados foi semana após semana darmos
tudo e não conseguirmos bons resultados.
Qual foi a sensação de eliminar o Vitória
de Guimarães na Taça
de Portugal. Como lhe correu o jogo individualmente? Trocou de camisola com
algum adversário?
O jogo correu-me bem. Foi um
sentimento único e fiz o que me competia. No final queria ter trocado de
camisola com algum, mas a emoção foi tanta que acabei por esquecer [risos].
Em 2020-21 vai reencontrar o treinador Rui Santos, que vai voltar ao Sintra
Football. É uma boa notícia? Como é a vossa relação e o que mais admira
no mister?
Sim, foi uma boa notícia, porque
o mister Rui sabe do meu valor e valoriza o meu trabalho. Admiro a inteligência
dele, a forma como gere os jogos e principalmente por ter uma equipa técnica
que dá tudo por tudo porque todos eles amam futebol.
“A minha relação com Dinis Delgado foi a mais próxima que tive com um presidente”
Hélder Martins feliz com regresso do treinador Rui Santos |
Nunca [risos]. A minha relação
com ele até hoje foi a mais próxima que tive com algum presidente desde que
jogo futebol. E uma pessoa acessível, engraçada e sempre disposta a ajudar.
O Hélder Martins cresceu na zona da Linha
de Sintra, numa altura em que o Estrela
da Amadora estava na I
Liga e o Sintra
Football dava os primeiros passos. Que opinião tem acerca da fusão entre
o Sintra
Football e o Estrela
da Amadora?
Acho um projeto bom e que tem
muito potencial resultar. Há pessoas que amam os clubes que se fundiram e que
gostam muito de futebol e isso já é um grande passo para as coisas darem certo.
Teme que o seu lugar no plantel esteja em perigo devido a esta fusão e
ao eventualmente investimento que possa ser feito no reforço do plantel?
Não, não temo. Sempre me guio
pelo trabalho duro e nem quando estou sempre a jogar relaxo, portanto, se tiver
concorrência melhor pois irá ajudar-me a crescer.
“Vai ser uma honra jogar com a camisola tricolor no Estádio do Estrela”
Já se imaginou com a camisola tricolor? Que significado tem para si
jogar pelo sucessor de um emblema histórico como o Estrela
da Amadora?
Vai ser um sentimento de honra,
principalmente o de jogar num estádio como o do Estrela.
Como se descreve como jogador?
Sou um médio defensivo rápido até
para minha estrutura física, muito agressivo, recuperador de bolas e que presa
pelo jogar simples na maioria das vezes e ir buscando confiança para fazer o
mais difícil.
Começou a jogar futebol no Agualva e depois no Real
SC. Que memórias guarda desses tempos?
Eram tempos bons, em que uma
pessoa sonhava muito sem saber da realidade real do futebol, mas não tinha as
preocupações que tenho agora, porque só me queria divertir.
Hélder Martins nos tempos em que atuava no Real SC |
As condições, os treinadores e a
zona da Linha
de Sintra ter muita qualidade são os principais fatores
Em 2016 trocou o Real
SC pelo Desp. Chaves. Como surgiu a possibilidade de se mudar para Trás-os-Montes
e como correu a aventura nos valentes transmontanos?
Foi depois do campeonato nacional
de juniores. Destaquei-me na minha equipa, chamaram-me e eu fui. Correu muito
bem, foi o clube onde mais evolui devido aos treinadores que tive lá. E cresci
com homem também.
Em 2018-19 passou pelo futebol espanhol, tendo representado Alcorcón B
e Sp. Uxama. Como correu essa experiência?
A experiencia em Espanha
desportivamente foi um pouco má. Os meus papéis de inscrição atrasaram, depois
tive de esperar para jogar e fui-me abaixo. Mas fiz muitas amizades com pessoas
ligadas ao futebol que estiveram sempre dispostas a ajudar e desportivamente
melhorei certos aspetos que não conseguiria melhorar noutro campeonato.
Quais são as suas raízes em Angola?
A família do meu pai. O meu pai
nasceu em Angola
e a família dele está toda lá.
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Nasci e cresci na Amadora, mas
depois mudei-me para o Cacém. Foi uma infância num bairro social, em que ficava
com a minha avó durante o dia e a minha mãe ia buscar-me ao fim do dia depois
do trabalho. Viver num bairro é especial, pois vês coisas que só verias ali,
aprendes a distanciar-te de certas coisas, mas se vacilares juntas-te a coisas
más.
A Linha
de Sintra é uma zona marcada por inúmeros bairros sociais. Sentiu na pele
algumas dificuldades relacionadas com insegurança e pobreza?
Graças a Deus a minha mãe sempre
fez bem o seu papel e nunca nos deixou faltar nada mesmo estando sozinha,
portanto acho que não me posso queixar disso porque tive tudo o que havia para
ter e nunca me faltou nada.
O que há de mais especial para si na Linha
de Sintra? O que há́ de melhor e único?
As amizades genuínas, e o
ambiente que com pouco conseguimos criar para estarmos sempre bem.
De onde surgiu a alcunha Laton?
O nome Laton (sem o acento)
surgiu pelo facto de eu ser mulato e esse é o termo em Angola
para descrever os mulatos. Laton acabou por ficar visto que muita gente nunca
me trata pelo nome e sim por Laton, até porque eu tive durante muitos anos esse
nome nas redes sociais.
Hélder Martins com a camisola dos espanhóis do Alcorcón |
Não acompanho muito, mas se me
falar de jogadores do campeonato português que fazem parte da seleção
angolana, aprecio Wilson Eduardo, que agora joga pela seleção
de Angola.
Sonha em jogar pela seleção
angolana?
Enquanto jovem quis representar, principalmente
para ter uma experiência internacional, mas enquanto sénior ainda não penso em
representar Angola.
Quem sabe no futuro,
Sempre quis ser futebolista ou tinha outros sonhos em mente? O que faz
além do futebol?
Sim, sempre quis ser futebolista
e de momento só futebol.
Quais são as suas maiores referências?
Felipe
Melo, Fabinho e Casemiro
“Ambiciono assinar o meu primeiro contrato profissional”
Quais são os seus maiores sonhos no futebol e na vida?
Conseguir estabilizar a minha
vida e proporcionar aos meus uma vida sem stress e dar-lhes tudo o que merecem.
No futebol ambiciono assinar o meu primeiro contrato profissional e jogar por
equipas de topo e com claques escaldantes.
Já alguma vez se sentiu vítima de racismo? O que é para si o racismo?
Sim, mas não liguei sequer.
Racismo para mim é um pensamento que passa de geração em geração, mas também
digo que não e só os brancos contra os negros, são todos mesmo.
Entrevista realizada por Romilson Teixeira
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