terça-feira, 21 de julho de 2020

Hélder Martins: “Fusão entre Sintra e Estrela tem muito potencial para resultar”

Médio defensivo Hélder Martins renovou contrato com o Sintra Football
Hélder Martins é filho de pai angolano, mas nasceu e cresceu na Amadora. E quis o destino que o clube que vai representar pela segunda temporada seguida, o Sintra Football, se tivesse fundido precisamente com o Estrela da Amadora, um projeto que conta com a aprovação deste médio defensivo que tem a alcunha de Latón.

Em entrevista, o centrocampista luso-angolano passa em revista o seu trajeto no futebol, que já conta com uma aventura no estrangeiro, fala da fusão mais mediática de 2020, de racismo e da relação com o treinador Rui Santos e o presidente Dinis Delgado.


ROMILSON TEIXEIRA - O Sintra Football, que entretanto se fundiu com o Estrela da Amadora, anunciou recentemente que o Hélder Martins vai continuar na equipa em 2020-21. O que o fez renovar contrato?
HÉLDER MARTINS - O que me fez renovar foi o facto de ser um clube que nos proporciona uma familiaridade para além do que o futebol nos pode dar. E o facto de no ano passado me terem acolhido bem e este ano as mesmas pessoas proporcionarem ainda melhores condições para eu melhorar enquanto jogador e enquanto pessoa.

Com que objetivos individuais e coletivos vai entrar na próxima época?
Tenho objetivos, claro. Mas o meu principal objetivo é ter uma consistência. Com isto digo jogar regularmente e continuar a demonstrar o meu valor.

“Mentalidade dos jogadores foi abaixo com saída de Rui Santos”

Na época passada o Sintra Football começou bem a época, mas depois entrou num ciclo de maus resultados ao ponto de se encontrar no último lugar da Série D do Campeonato de Portugal aquando da suspensão das competições devido à pandemia. O que se passou? Foi a mudança de treinador?
Muito sinceramente penso que depois da mudança de treinador a mentalidade dos jogadores foi-se um pouco abaixo, o que proporcionou os maus resultados foi semana após semana darmos tudo e não conseguirmos bons resultados.

Qual foi a sensação de eliminar o Vitória de Guimarães na Taça de Portugal. Como lhe correu o jogo individualmente? Trocou de camisola com algum adversário?
O jogo correu-me bem. Foi um sentimento único e fiz o que me competia. No final queria ter trocado de camisola com algum, mas a emoção foi tanta que acabei por esquecer [risos].

Em 2020-21 vai reencontrar o treinador Rui Santos, que vai voltar ao Sintra Football. É uma boa notícia? Como é a vossa relação e o que mais admira no mister?
Sim, foi uma boa notícia, porque o mister Rui sabe do meu valor e valoriza o meu trabalho. Admiro a inteligência dele, a forma como gere os jogos e principalmente por ter uma equipa técnica que dá tudo por tudo porque todos eles amam futebol.

“A minha relação com Dinis Delgado foi a mais próxima que tive com um presidente”

Hélder Martins feliz com regresso do treinador Rui Santos
O presidente Dinis Delgado é um autêntico faz-tudo no Sintra Football: presidente, diretor desportivo, speaker, rececionista, chefe de claque, responsável pela comunicação, etc. Alguma vez tinha visto algo assim? Como é a sua relação com ele?
Nunca [risos]. A minha relação com ele até hoje foi a mais próxima que tive com algum presidente desde que jogo futebol. E uma pessoa acessível, engraçada e sempre disposta a ajudar.

O Hélder Martins cresceu na zona da Linha de Sintra, numa altura em que o Estrela da Amadora estava na I Liga e o Sintra Football dava os primeiros passos. Que opinião tem acerca da fusão entre o Sintra Football e o Estrela da Amadora?
Acho um projeto bom e que tem muito potencial resultar. Há pessoas que amam os clubes que se fundiram e que gostam muito de futebol e isso já é um grande passo para as coisas darem certo.

Teme que o seu lugar no plantel esteja em perigo devido a esta fusão e ao eventualmente investimento que possa ser feito no reforço do plantel?
Não, não temo. Sempre me guio pelo trabalho duro e nem quando estou sempre a jogar relaxo, portanto, se tiver concorrência melhor pois irá ajudar-me a crescer.

“Vai ser uma honra jogar com a camisola tricolor no Estádio do Estrela

Já se imaginou com a camisola tricolor? Que significado tem para si jogar pelo sucessor de um emblema histórico como o Estrela da Amadora?
Vai ser um sentimento de honra, principalmente o de jogar num estádio como o do Estrela.

Como se descreve como jogador?
Sou um médio defensivo rápido até para minha estrutura física, muito agressivo, recuperador de bolas e que presa pelo jogar simples na maioria das vezes e ir buscando confiança para fazer o mais difícil.

Começou a jogar futebol no Agualva e depois no Real SC. Que memórias guarda desses tempos?

Eram tempos bons, em que uma pessoa sonhava muito sem saber da realidade real do futebol, mas não tinha as preocupações que tenho agora, porque só me queria divertir.

Hélder Martins nos tempos em que atuava no Real SC
O Real Sport Clube tem sido um viveiro de craques, tendo passado pelas camadas jovens do clube jogadores como Nani, Garry Rodrigues, Ivan Cavaleiro e Florentino Luís. O que há de especial na formação do clube?
As condições, os treinadores e a zona da Linha de Sintra ter muita qualidade são os principais fatores

Em 2016 trocou o Real SC pelo Desp. Chaves. Como surgiu a possibilidade de se mudar para Trás-os-Montes e como correu a aventura nos valentes transmontanos?
Foi depois do campeonato nacional de juniores. Destaquei-me na minha equipa, chamaram-me e eu fui. Correu muito bem, foi o clube onde mais evolui devido aos treinadores que tive lá. E cresci com homem também.

Em 2018-19 passou pelo futebol espanhol, tendo representado Alcorcón B e Sp. Uxama. Como correu essa experiência?
A experiencia em Espanha desportivamente foi um pouco má. Os meus papéis de inscrição atrasaram, depois tive de esperar para jogar e fui-me abaixo. Mas fiz muitas amizades com pessoas ligadas ao futebol que estiveram sempre dispostas a ajudar e desportivamente melhorei certos aspetos que não conseguiria melhorar noutro campeonato.

Quais são as suas raízes em Angola?
A família do meu pai. O meu pai nasceu em Angola e a família dele está toda lá.

Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Nasci e cresci na Amadora, mas depois mudei-me para o Cacém. Foi uma infância num bairro social, em que ficava com a minha avó durante o dia e a minha mãe ia buscar-me ao fim do dia depois do trabalho. Viver num bairro é especial, pois vês coisas que só verias ali, aprendes a distanciar-te de certas coisas, mas se vacilares juntas-te a coisas más.

A Linha de Sintra é uma zona marcada por inúmeros bairros sociais. Sentiu na pele algumas dificuldades relacionadas com insegurança e pobreza?
Graças a Deus a minha mãe sempre fez bem o seu papel e nunca nos deixou faltar nada mesmo estando sozinha, portanto acho que não me posso queixar disso porque tive tudo o que havia para ter e nunca me faltou nada.

O que há de mais especial para si na Linha de Sintra? O que há́ de melhor e único?
As amizades genuínas, e o ambiente que com pouco conseguimos criar para estarmos sempre bem.

De onde surgiu a alcunha Laton?
O nome Laton (sem o acento) surgiu pelo facto de eu ser mulato e esse é o termo em Angola para descrever os mulatos. Laton acabou por ficar visto que muita gente nunca me trata pelo nome e sim por Laton, até porque eu tive durante muitos anos esse nome nas redes sociais.

Hélder Martins com a camisola dos espanhóis do Alcorcón
Acompanha o futebol angolano? Que opinião tem e quais são os atletas angolanos que admira?
Não acompanho muito, mas se me falar de jogadores do campeonato português que fazem parte da seleção angolana, aprecio Wilson Eduardo, que agora joga pela seleção de Angola.

Sonha em jogar pela seleção angolana?

Enquanto jovem quis representar, principalmente para ter uma experiência internacional, mas enquanto sénior ainda não penso em representar Angola. Quem sabe no futuro,

Sempre quis ser futebolista ou tinha outros sonhos em mente? O que faz além do futebol?
Sim, sempre quis ser futebolista e de momento só futebol.

Quais são as suas maiores referências?
Felipe Melo, Fabinho e Casemiro

“Ambiciono assinar o meu primeiro contrato profissional”

Quais são os seus maiores sonhos no futebol e na vida?
Conseguir estabilizar a minha vida e proporcionar aos meus uma vida sem stress e dar-lhes tudo o que merecem. No futebol ambiciono assinar o meu primeiro contrato profissional e jogar por equipas de topo e com claques escaldantes.

Já alguma vez se sentiu vítima de racismo? O que é para si o racismo?
Sim, mas não liguei sequer. Racismo para mim é um pensamento que passa de geração em geração, mas também digo que não e só os brancos contra os negros, são todos mesmo.


Entrevista realizada por Romilson Teixeira




















Sem comentários:

Enviar um comentário